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CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, EPISTEMOLÓGICOS E

2.2 Fundamentos metodológicos da pesquisa

2.2.3 O estudo de caso

Nesse horizonte teórico esta pesquisa qualitativa se caracteriza como estudo de caso. Esta escolha se dá porque o estudo de caso é a uma das formas mais apropriadas para se examinar acontecimentos contemporâneos (YIN, 2005). Para o autor o estudo de caso tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões e o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados. Esta pesquisa realiza a análise do caso específico da UEPG no contexto da política de cotas, abarcando as peculiaridades, potencialidades e fragilidades das ações que esta universidade proporciona para o aluno cotista.

Stake (apud ANDRÉ, 2005, p. 29) defende que “[...] a decisão de realizar um estudo de caso é muito mais epistemológica do que metodológica”. Ele explica que a opção pelo estudo de caso permite ao pesquisador entender um caso em particular, considerando seu contexto e complexidade.

Um estudo de caso investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando, e os limites entre o fenômeno e o contexto, sendo que estes não estão claramente definidos (YIN, 2005). O método de estudo de caso permite uma investigação que preserva as características universais e significativas dos acontecimentos da vida real.

Merrian (1988, apud ANDRÉ, 2005) explica porque o conhecimento produzido através do estudo de caso é diferente de outros métodos de pesquisa. A autora coloca quatro razões para sua afirmação. A primeira delas é o fato de o conhecimento produzido pelo estudo de caso ser mais concreto, uma vez que encontra eco na experiência dos pesquisadores, pois é menos abstrato e mais vivo concreto e sensório. Na segunda razão diz ser mais contextualizado, pois as experiências estão arraigadas num contexto, e afirma que o estudo de

caso propicia um conhecimento menos formal, derivado tipicamente de outros tipos de pesquisa. A terceira razão a autora atribui pelo conhecimento ser mais voltado para a interpretação do leitor, ela afirma que os leitores trazem para os estudos de caso experiências e compreensões próprias e particulares. Por fim, atribui razão ao fato de que esse conhecimento é baseado em populações de referência determinadas pelo leitor. Explicitando, no processo de leitura os leitores fazem uma generalização do tema, trazendo o tema para seu contexto, uma vez que eles sempre têm certa população em mente. Isso propicia a participação do leitor que, diferentemente da pesquisa tradicional, pode estender a generalização para populações de referência.

Stenhouse (apud ANDRÉ, 2005) define que os estudos de caso podem ser classificados como etnográfico, avaliativo, educacional e ação. No estudo de caso etnográfico um único caso é estudado em profundidade, e se utiliza de métodos como a observação participante. Pode-se dizer que chama atenção para a compreensão dos atores envolvidos no caso e oferece explicações sobre padrões causais ou estruturais aos participantes.

No estudo de caso avaliativo um único caso ou um conjunto de casos é estudado em profundidade com o propósito de fornecer aos atores informações que os auxiliem a julgar o mérito de políticas ou programas. O propósito deste tipo de estudo é fornecer aos atores envolvidos no processo avaliado (administradores, professores, pais, alunos etc.) as informações necessárias e/ou que o pesquisador julgue necessário que possam auxiliar no processo de implantação/recontextualização das políticas e programas.

O estudo de caso educacional é utilizado quando os pesquisadores estão preocupados com a compreensão da ação educativa. Este ainda visa contribuir para a construção de teorias e reflexões para a melhoria das práticas educacionais. O estudo de caso-ação procura contribuir para o desenvolvimento do caso em estudo, por meio da informação que possa guiar a revisão ou o aperfeiçoamento da ação.

Segundo esta concepção, a presente pesquisa se caracteriza como um estudo de caso avaliativo, uma vez que buscará compreender como uma política vem se implementando cotidianamente, visando produzir resultados que ofereçam a possibilidade de adaptação de tal política.

É considerando essa perspectiva que “[...] os estudos de caso têm um lugar de destaque na pesquisa de avaliação” (YIN, 2005, p. 34), sendo que existem pelo menos cinco aplicações diferentes do estudo de caso neste contexto de avaliação. Para Yin (2005) a aplicação mais importante é explicar os vínculos e suas causas nas intervenções da vida real, considerando que tem elevada complexidade para as estratégias experimentais ou as que são

comumente utilizadas em levantamentos. “Na linguagem da avaliação, as explanações uniriam a implementação do programa com efeitos do programa” (YIN, 2005, p. 34). A segunda aplicação que o autor traz é a descrição de uma interferência e o contexto na vida real em que ela ocorre. Em terceiro lugar, os estudos de caso têm a possibilidade de ilustrar certos tópicos dentro de uma avaliação, mas atendo-se ao modo descritivo. Em sua quarta aplicação, pode ser empregada de forma a explorar aquelas situações nas quais a intervenção avaliada não apresenta um conjunto de resultados simples e claro, exigindo mais do processo de pesquisa. Por fim, Yin diz que o estudo de caso pode ser uma ‘meta-avaliação’, ou seja, o estudo de um caso de avaliação.

Qualquer que seja a aplicação, o pesquisador ocupa um papel com elevada importância, uma vez que é ele que define as questões que serão avaliadas. Nesta investigação será utilizada a primeira aplicação de avaliação proposta pelo autor, considerando que a partir deste trabalho espera-se realizar uma discussão que ofereça subsídios teóricos para a reflexão sobre uma política pública.