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7. Metodologia de classificação dos tipos de investigação e respetivos desenhos de estudo

7.2. Classificação e nomenclatura dos desenhos de estudo

7.2.1. Investigação primária

7.2.1.2. Desenhos de estudo em investigação observacional/não intervencional

7.2.1.2.8. Estudo de caso(s) (case study)

Estudos “estudo de caso” (case study) consistem em investigações do tipo descritivo (Sayre et al. 2017; Christley and French (2018), direcionados para o estudo profundo de eventos ou fenómenos em contexto natural (Crowe et al. 2011; Heale and Twycross 2018).

Podem ser descritos como investigações intensivas e sistemáticas, incidindo em apenas um indivíduo [estudo de caso-único (single-case study)], grupo de indivíduos/casos [estudo de casos múltiplos (multiple-case study)], comunidade, entre outras unidades, sobre as quais se examina com profundidade dados relativos ao assunto determinado/variáveis em questão (Heale and Twycross 2018); examinam fenómenos complexos no seu ambiente natural aumentando a compreensão dos mesmos (Heale and Twycross 2018).

Este tipo de investigação, ao recolher dados/informação tanto de cariz qualitativo (mais frequentemente) como quantitativo, permite levantar, condensar e estruturar informação relativa aos fenómenos de interesse, em questões científicas mais claras e estreitas, facilitando assim o caminho para o seu estudo, investigação e formulação de teorias respetivas, sendo os designados “estudo de casos múltiplos” (multiple-case studies), os mais eficazes neste processo (Heale and Twycross 2018).

Metodologicamente, estudos de caso iniciam-se com a definição de um ou mais casos e pesquisa de informação respetiva aos mesmos ou às variáveis de interesse. Neste processo, recorre-se à leitura de revisões, relatos, entre outras fontes de informação, que servem para uma compreensão básica dos casos/tema de investigação e de orientação no desenvolvimento do estudo (Heale and Twycross 2018). Posteriormente, analisa-se e interpreta-se os dados obtidos e por último divulga-se o trabalho feito (Crowe et al. 2011).

São um modelo de investigação que naturalmente se segue aos estudos “relato de casos”.

7.2.1.2.8.1. Notas e considerações sobre os estudos “estudo de caso(s)” (case

study)

À semelhança dos estudos “série de casos” e “relato de caso”, não existe apenas uma definição ou noção consensual do que são “estudos de caso” (case studies), (Crowe et al. 2011; Heale and Twycross 2018).

Num estudo realizado por Crowe et al. (2011) são apresentadas as seguintes descrições ou definições para “estudos de caso” (case studies):

-consistem no processo de aprendizagem relativamente a determinado caso e no produto da respetiva aprendizagem [segundo Stake (1995), citado por Crowe et al. (2011, p.4)];

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-concentram-se de forma intensiva num fenómeno único em contexto real [segundo Yin (1999), citado por Crowe et al. (2011, p.4)];

-são investigações em que o número de variáveis de interesse ultrapassa as fontes de dados [segundo Yin (1994), citado por Crowe et al. (2011, p.4)];

-investigação empírica que investiga um fenómeno contemporâneo em profundidade no seu contexto real, especialmente quando as fronteiras entre o fenómeno em estudo e respetivo contexto não são evidentes [segundo Yin (2009), citado por Crowe et al. (2011, p.4)];

-são estudos de fenómenos que ocorrem em contexto limitado [segundo Miles and Huberman (1994), citado por Crowe et al. (2011, p.4)];

-estudo aprofundado relativo a um caso particular [segundo Green and Thorogood (2009), citado por Crowe et al. (2011, p.4)];

-tipo ou classe de fenómenos com interesse científico, os quais, investigadores escolhem estudar com o propósito de desenvolver teorias relativamente às causas das semelhanças ou diferenças entre os casos desse mesmo tipo/classe de fenómenos [segundo George and Bennett (2005), citado por Crowe et al. (2011, p.4)].

Outros autores não referidos por Crowe et al. (2011):

-Christley e French (2018) referem que “estudos de caso” são um tipo de investigação descritiva que fornece descrições de fatores ou aspetos relativos a um único caso. Se esta forma de investigação se referir a um grupo de casos, designa-se “série de casos”;

-Röhrig et al. (2009) dão a entender que o modelo de estudo “single case study” é o mesmo dos estudos “série de casos”, diferindo apenas no número de indivíduos que englobam (“série de casos” envolvem maior número de indivíduos que “single case study”). Descrevem estes modelos de investigação como descritivos, sem grupo controlo, apropriados para o estudo de doenças raras ou situações incomuns;

-Sayre et al. (2017)dão a entender os termos “série de casos” e “estudo de casos” são sinónimos; definem “relato de casos” e “série de casos” ou “estudo de casos” como estudos descritivos que investigam indivíduos em ambiente clínico natural/real; retratam características novas, fora do comum, atípicas, identificadas em pacientes/indivíduos; com potencial para gerar novas questões de investigação. Descrevem estudos “relato de caso” como estudos que geralmente incluem três indivíduos ou menos; descrevem “série de casos” ou “estudo de casos” como modelos de investigação que envolvem múltiplos indivíduos.

-Heale e Twycross (2017) referem que “estudos de caso” podem ser definidos como investigações intensivas relativas a um indivíduo, grupo de indivíduos, ou outros, cujo intuito é generalizar os resultados a várias unidades de estudo;

-Alpi e Evans (2019) descrevem “estudos de caso” como modelos de investigação que incorporam dados de várias índoles, combinando-os de forma criativa. Exploram fenómenos ligados no espaço e no tempo; recorrem a diversas metodologias de estudo para explicação da complexidade dos fenómenos que estudam. Comparam este modelo de investigação com os estudos “relato de caso”, explicando que, enquanto metodologia de investigação qualitativa, “estudos de caso” são mais complexos que estudos “relato de caso”.

À semelhança dos estudos “relato de caso” e “série de casos” verifica-se que para alguns autores o número de indivíduos envolvidos é tido em consideração como uma das condições necessárias à classificação das investigações como “estudos de caso”. Christley e French (2018) entendem que é precisamente o número de indivíduos em estudo que distingue estudos “série de casos” de “estudos de caso”. Pelo contrário, Sayre et al. (2017) entendem que “estudos de caso” (case study) e estudos “série de casos” (case series) são a mesma coisa. Estes autores descrevem estudos “relato de caso” como estudos que englobam

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geralmente três ou menos pacientes e “estudos de caso” como investigações que abarcam múltiplos pacientes.”

Como explicado no ponto: 7.2.1.2.7.1, no método de classificação de estudos proposto neste trabalho, estudos “série de casos”, “relato de caso(s)” e acrescentando-se agora os estudos “estudo de caso”, são modelos de investigação completamente distintos, sendo o número de indivíduos envolvido nos mesmos irrelevante para a sua distinção e definição.

Embora com algumas diferenças, de forma geral a noção de “estudo de caso” de Heale e Twycross (2018), Crowe et al. (2011) e autores referidos no trabalho de Crowe et al. (2011) referido atrás, é minimamente consensual relativamente à ideia de que este modelo de investigação tem como objetivo central estudar/explorar fenómenos/casos de forma aprofundada no seu contexto natural/real. Assim, no método de classificação de estudos aqui proposto, a definição deste modelo de investigação apoia-se nessa mesma ideia.

A designação/classificação “estudos de caso”, designa investigações descritivas, relativas a um indivíduo (estudo de caso-único) ou vários indivíduos (estudo de casos múltiplos), onde se estuda de forma aprofundada fenómenos de interesse científico, com o objetivo de acrescentar conhecimento, formular hipóteses, teorias, consolidar e estruturar informação, estudando os fenómenos/casos em investigação sem isolamento da realidade e circunstâncias que os envolvem.

Este tipo de investigação, de um ponto de vista teórico e em abstrato, ganha pertinência não só, mas também, nas etapas de investigação que se seguem à elaboração e divulgação de estudos “relato de caso(s)”.