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7. Metodologia de classificação dos tipos de investigação e respetivos desenhos de estudo

7.1. Dimensões de classificação dos tipos de investigação/estudos

7.1.5. Investigação primária e investigação secundária

A classificação dos estudos científicos e respetivos desenhos de estudo em ciências médicas, de uma forma genérica, seguindo Röhrig et al. (2009) e Kapoor (2016), divide-se primariamente em: investigação primária e investigação secundária. Segundo estes autores a investigação primária constitui a investigação propriamente dita como por exemplo estudos clínicos/experimentais, enquanto a investigação secundária consiste no estudo, análise e consolidação de investigações previamente existentes, como é o caso das revisões, revisões sistemáticas e meta-análises.

Sintetizando, a investigação primária engloba as investigações/estudos propriamente ditos. Nesta, o investigador recolhe informação sobre a questão a investigar, através da elaboração de experiências ou consulta de bases de dados/fontes de informação, com o objetivo de gerar dados baseando-se na práxis. A informação obtida é sujeita a tratamento, com o fim de dar resposta ou avançar/constituir conhecimento relativo à questão de investigação. Quanto à investigação secundária, esta recorre a estudos já existentes e a informação previamente formulada pelos mesmos, utilizando-a nos seus propósitos.

7.1.5.1. Investigação Primária

Dentro da investigação primária existem três divisões principais na classificação dos estudos/investigação: investigação básica, investigação clínica, e investigação epidemiológica (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016).

A investigação básica divide-se em: teórica e aplicada; a investigação clínica e investigação epidemiológica dividem-se em 2 ramos: investigação experimental ou intervencional e investigação observacional ou não intervencional (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016).

7.1.5.1.1. Investigação Básica

Por investigação básica, entende-se investigações que incidem num plano fundamental do conhecimento. Representam um tipo de investigação que se dedica a constituir teorias, investigar, descobrir, compreender fenómenos e princípios através dos quais a natureza e o universo operam a nível fundamental.

A investigação básica intervém mediante experiências em animais, estudos no âmbito celular, genética, bioquímica, fisiologia e desenvolvimento de materiais (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016).

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Este ramo da investigação primária divide-se em duas categorias: investigação básica aplicada e investigação básica teórica (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016). Os campos de investigação relativos à investigação básica teórica e aplicada estão descriminados na figura 3.

Embora bem definidos conceptualmente, na prática é por vezes difícil diferenciar os diferentes tipos de investigação básica aplicada, sendo frequente a coexistência das suas subclassificações e noções no mesmo estudo (por exemplo: alguns estudos celulares são também estudos bioquímicos).

7.1.5.1.2. Investigação Clínica

A Investigação clínica agrega estudos no âmbito de diagnóstico, prognóstico, terapêutica, manifestações clínicas e farmacológicas de fármacos, os seus efeitos, farmacocinética, farmacodinâmica, fornecendo evidências da sua segurança, eficácia e aplicabilidade (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016). Esta vertente de investigação também abrange o estudo de aparelhos/máquinas, procedimentos cirúrgicos e psicoterapêuticos (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016).

A investigação clínica divide-se em dois grupos: estudos experimentais ou intervencionais e estudos observacionais ou não intervencionais (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016).

7.1.5.1.2.1. Investigação clínica experimental/intervencional

Como a investigação clínica remete geralmente para estudos relacionados com terapêutica, testes a fármacos e respetivos efeitos em pacientes, a investigação clínica experimental consiste frequentemente nos chamados “clinical trials” (ensaios clínicos), (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016; Thrusfield 2018).

A palavra “trial” é normalmente utilizada como sinónimo de experimentação epidemiológica. A experimentação epidemiológica é frequentemente conduzida num contexto clínico, com o objetivo de avaliar qual o tratamento melhor para determinada doença. Este tipo de estudos é conhecido por “clinical trials” (Rothman 2012).

Os testes clínicos consistem em estudos sistemáticos em espécies ou categorias de espécies, nos quais o objetivo é investigar procedimentos e efeitos de profilaxia ou terapêutica. Em medicina veterinária incidem tanto sobre a melhoria de processos produtivos, como melhoria relativamente a estados de doença. Nos seus procedimentos podem ser investigados técnicas cirúrgicas, modificações de maneio, alterações na abordagem de doenças e administração de fármacos com intuito profilático ou terapêutico. Quando são executados com fins de estudo de efeitos de fármacos, os testes clínicos incidem principalmente sobre farmacocinética e farmacodinâmica (Thrusfield 2018).

Os testes clínicos, quando aplicados ao estudo de administração de fármacos, são classificados cronologicamente em quatros fases: estudos clínicos fase I, fase II, fase III e fase IV (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016; Thrusfield 2018).

Os tipos de desenho de estudo e metodologia utilizada na investigação clínica experimental/intervencional são abordados em pormenor no ponto 7.2.1.1.

Os desenhos de estudo/modelos de investigação relativos à investigação experimental/intervencional são transversais ao contexto epidemiológico e clínico.

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7.1.5.1.2.2. Investigação clínica observacional/não intervencional

Estudos clínicos observacionais/não intervencionais, são normalmente realizados através da observação de pacientes perante determinada terapia ou procedimento, o qual é orientado pelos clínicos que acompanham/tratam o caso e não pelos investigadores interessados em estudar os casos ou matérias envolvidas (Röhrig et al. 2009).

Exemplificando, em estudos observacionais clínicos de terapêutica, em que os investigadores pretendem comparar dois tipos de abordagem terapêutica diferente, estes procuram pacientes que estejam a fazer determinada terapia sob aconselhamento do clínico que acompanha o caso, que nada tem a ver com a investigação, e comparam com outros pacientes sujeitos a uma terapia diferente na qual o clínico que a orienta, de igual forma, nada tem a ver com a investigação (Röhrig et al. 2009).

Dentro dos estudos clínicos, o grupo de estudos observacionais abrange: estudos de terapêutica, estudos de prognóstico, estudos de diagnóstico, estudos observacionais relativos à utilização de fármacos, análise de dados secundários, estudos série de casos, e estudos relato de casos (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016).

Os tipos de desenho de estudo e metodologia utilizada na investigação clínica observacional/não intervencional são abordados em pormenor no ponto 7.2.1.2.

Os desenhos de estudo relativos à investigação observacional/não intervencional são transversais ao contexto epidemiológico e clínico.

7.1.5.1.3. Investigação Epidemiológica

A investigação epidemiológica estuda/investiga a distribuição de doenças em determinada população, a sua frequência, as suas alterações ao longo do tempo e respetivas causas/fatores de risco (Röhrig et al. 2009).

Tal como a investigação clínica, a investigação epidemiológica desdobra-se nas categorias: investigação experimental/intervencional e investigação observacional/não intervencional (Röhrig et al. 2009; Kapoor 2016).

7.1.5.1.3.1. Investigação epidemiológica experimental/intervencional

Estão descritos vários tipos de investigação dentro do campo da epidemiologia. Um deles é a investigação epidemiológica experimental (Thrusfield 2018).

A epidemiologia experimental em veterinária consiste em observar e analisar dados relativos a grupos de animais passíveis de ser selecionados, nos quais os investigadores conseguem alterar/manipular fatores associados a esses mesmos grupos. Uma das componentes com grande importância na abordagem experimental consiste na capacidade de controlo sobre os grupos de indivíduos envolvidos (Thrusfield 2018).

Este tipo de investigação dá-se nos moldes descritos no ponto 7.1.1.1.

Os modelos de investigação experimental podem basear-se no indivíduo, no grupo, ou ser multinível (descrito no ponto 7.1.3.).Todos os estudos experimentais abrangidos e classificados neste trabalho enquadram-se na categoria de estudos experimentais baseados no indivíduo.

Dentro da categoria “investigação experimental” existem diferentes tipos de desenhos de estudo. Estes são descritos no ponto 7.2.1.1.

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7.1.5.1.3.2. Investigação epidemiológica observacional/não intervencional

Tal como a investigação epidemiológica experimental/intervencional, estudos observacionais observam e analisam dados relativos a grupos de animais passíveis de ser selecionados, no entanto, os investigadores não têm a possibilidade de manipular as variáveis em estudo e fatores associados (ver ponto 7.1.1.2.). Por não permitirem controlo sobre as exposições e circunstâncias que envolvem os fenómenos observados nos indivíduos de estudo, a sua validade é inferior aos estudos experimentais (Christley and French 2018).

Os estudos epidemiológicos observacionais/não experimentais/não intervencionais, podem ser: analíticos ou descritivos (consultar ponto 7.1.2); longitudinais ou não longitudinais/transversais (ver ponto 7.1.4); basear-se no indivíduo, no grupo ou ser multinível (descrito no ponto 7.1.3). Todos os estudos observacionais abrangidos e classificados neste trabalho são baseados no indivíduo.

A investigação observacional inclui vários tipos de desenhos de estudo. Estes são descritos no ponto 7.2.1.2.