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Selecionamos três experiências de difusão de documentos audiovisuais na internet para serem comparadas com os cinejornais da Agência Nacional no Portal Zappiens, com o objetivo de conhecermos as ferramentas disponíveis para a interação do usuário com o portal e sites. Assim, começamos descrevendo a parceria entre a Filmoteca Española e a Corporación Radiotelevisión Española - RTVE.ES que possibilitou a disponibilização dos noticiários e os documentários NO-DO na internet, depois apresentamos sucintamente a base de dados Accessus do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) e terminamos com o Banco de Conteúdos Culturais (BCC), que é um resultado do trabalho realizado pela Cinemateca Brasileira e pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv).

A experiência com os noticiários e documentários NO-DO na internet é aqui que mais se aproxima dos cinejornais da Agência Nacional no Portal Zappiens. O NO-DO e a Agência Nacional eram empresas, respectivamente, dos governos da Espanha e do Brasil. Tinham como finalidade a cobertura e divulgação dos atos e atividades de seus governantes. Os noticiários, na maioria das vezes, foram instrumentos de propaganda política. Segundo Castro (2012, p. 12) “o enfoque na Propaganda Política como forma de expressão do poder e de sua consciência de identidade nos permite enxergar parte das demandas de uma época, através dos conteúdos produzido”.

O NO-DO foi criado no ano de 1942 durante a ditadura do General Francisco Franco. Após uma parceria entre a Filmoteca Espanhola e RTVE.ES todas as imagens do maior fundo audiovisual da Espanha foram disponibilizadas para acesso por meio da internet. As imagens em movimento do NO-DO possuem uma grande identificação com as imagens da Agência Nacional, pois são noticiários cinematográficos, como se pode observar nas cartelas da figura 26. A outra relação está no conteúdo, visto que a maior parte dos cinejornais que serão analisados cobrem os governos dos ditadores militares brasileiros.

Figura 26: cartelas dos Noticiarios NO-DO.

Fonte: Portal NO-DO.

A descrição do conteúdo dos Noticiarios y documentales cinematográficos é apresentada de duas maneiras. Na primeira delas é descrito um breve resumo das imagens. figura 27). Na segunda maneira o conteúdo é dividido por notícias, com a indicação do time- code de cada uma delas. (figura 28).

Noticiario 05-01-1970 Nº 1409A27

Primeira maneira

Figura 27: extrato da descrição do conteúdo do Noticiario 05-01-1970 Nº 1409A.

Fonte: Portal NO-DO.

27 O noticiario pode ser consultado no Portal NO-DO. Disponível em: <http://www.rtve.es/filmoteca/no- do/not-1409/1487064/>. Acesso em: 7 abr. 2014.

Segunda maneira

Figura 28: extrato da descrição de conteúdo dividida por título de notícia do Noticiario 05-01-1970 Nº 1409A.

Fonte: Portal NO-DO.

A segunda maneira direciona o usuário para uma notícia específica. Com a divisão e indicação do time-code de cada notícia não é necessário assistir o noticiario na íntegra, facilitando a pesquisa pelo conteúdo.

O Portal NO-DO oferece uma gama maior de opções de compartilhamento em redes sociais (figura 29 e quadro 8) dos seus vídeos em relação ao Portal Zappiens. Entretanto, isso não parece ser uma desvantagem muito relevante, já que o portal brasileiro está conectado com duas redes sociais bem populares no país: Facebook e Twitter.

Figura 29: identidade visual das diferentes redes sociais existentes atualmente no Portal NO-DO.

Quadro 8: comparação de redes sociais “conectadas” com o Portal Zappiens e com o Portal NO-DO.

Portal Zappiens Portal NO-DO

Twitter Facebook

Não possui conexão Google +

Não possui conexão Tuenti

Não possui conexão Menéame

Não possui conexão Delicious

Não possui conexão Envio por e-mail

Diferentemente do Portal Zappiens, o Portal NO-DO não oferece um espaço destinado para os comentários dos usuários. O contato com a Filmoteca Espanhola, onde estão depositadas as matrizes e cópias dos noticiários e documentários, pode ser realizado por meio de um correio eletrônico: cooperacion.filmoteca@mcu.es.

Outra experiência que possui pontos de contatos com o Portal Zappiens é a do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). O CPDOC é um dos mais importantes centros de pesquisa e documentação do Brasil. Reúne manuscritos, impressos, fotos, discos, filmes e fitas sobre a história recente do país, com destaque para arquivos pessoais de homens públicos. As informações sobre os documentos e grande parte do acervo estão disponíveis na base de dados Accessus, que pode ser acessada por meio da internet. Os usuários podem realizar suas buscas pelo tipo dos documentos (“textual”, “audiovisual”, “livro/folheto”, “capítulo de livro”, “exemplar periódico”, “artigo periódico”), por assunto, título, autor e data de produção.

Partindo do assunto “visita da Rainha Elizabeth II ao Brasil”, que está presente nos cinejornais da Agência Nacional, realizamos uma busca simples na base de dados Accessus pela palavra-chave “Rainha Elizabeth”, seguindo uma das recomendações do espaço “Ajuda”.

Figura 30: extrato das orientações do espaço “Ajuda” da Base de Dados Accessus.

A nossa busca resultou em um total de 16 ocorrências. Selecionamos um documento audiovisual para exemplificar como as informações sobre um filme estão registradas e estruturadas na base de dados Accessus. É possível notar três grandes áreas para a descrição de um documento. Na área de “Identificação” estão descritas informações sumárias como: notação, gênero documental, título, data de produção, quantidade e descrição física. A área “Arquivo” relaciona o documento a um fundo específico. Por último a área “Resumo” é dedicada ao conteúdo do documento.

Figura 31: extrato da descrição do conteúdo do filme “Visita da rainha Elizabeth II ao Rio de Janeiro” na Base de Dados Accessus.

Fonte: Base de Dados Accessus do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC).

Destaca-se na base de dados a ferramenta “Colabore”, que tem por objetivo a melhoria da qualidade das informações disponíveis no portal. Por meio do “Colabore” Os usuários podem enviar correções e/ou novas informações sobre determinado item documental. É recomendável que os usuários enviem a fonte utilizada para que os técnicos do CPDOC possam confirmar a exatidão das informações para posterior incorporação.

Figura 32: exemplo de como funciona a ferramente “Colabore” na Base de Dados Accessus.

Fonte: Base de Dados Accessus do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC).

A ferramenta “Colabore” proporciona um diálogo constante entre os usuários e os técnicos responsáveis pelo tratamento técnico de um arquivo. Por meio de um acompanhamento sistemático as informações sobre um determinado documento poderão ser enriquecidas. Os usuários poderão contribuir, principalmente, com informações sobre pessoas, lugares, eventos e datas.

O Portal Zappiens pode receber contribuições dos usuários por meio de um campo destinado a comentários. Entretanto, não funciona como uma ferramenta para a melhoria da qualidade das informações. O “Colabore” do CPDOC é um bom exemplo a ser avaliado pelo Arquivo Nacional. Uma verificação sistemática do que tem sido postado poderá enriquecer as informações sobre os cinejornais. Lembrando que a digitalização e disponibilização de documentos na internet não é o fim. Um constante diálogo com os usuários deve ser uma nova atividade a ser incorporada. Além de elogios e sugestões, alguns

comentários apontam para equívocos que precisam ser corrigidos, como pode ser verificado no Apêndice A.

Por último apresentamos brevemente o Banco de Conteúdos Culturais (BCC), que foi viabilizado pelo Ministério da Cultura e o Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do trabalho realizado pela Cinemateca Brasileira e pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv). A finalidade do Banco de Conteúdos Culturais é a disponibilização de conteúdo cultural na internet. Atualmente o conteúdo do site está dividido em cinco (5) blocos:

FILMES: Atlântida, Vera Cruz, Silenciosos e Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE) CARTAZES: Nacionais e Estrangeiros

FOTOS: Galerias

TV TUPI: Telejornalismo, Roteiros de telejornalismo e Telenovelas

PROJETOS ESPECIAIS: Encontros transversais e Arquivo para uma obra-acontecimento O conteúdo do telejornalismo da TV Tupi é o exemplo que mais se aproxima dos cinejornais, visto que tanto o primeiro quanto o segundo possuem caráter noticioso. O que difere, basicamente, um do outro é o meio de veiculação da notícia. Realizamos, portanto, uma pesquisa básica pela palavra “Pelé”, sem especificação de data, no espaço do banco de conteúdos destinado ao acervo audiovisual jornalístico da TV Tupi. A busca resultou em 140 reportagens que traziam a palavra “Pelé”, que podia estar configurada nos campos “assunto”, “identidades”, “descritores primários” e “descritores secundários”.

Abaixo segue um exemplo de como as informações sobre uma reportagem da TV Tupi estão estruturadas no Banco de Conteúdos Culturais.

Pelé dá autógrafos28

Telejornal:? Data: 31/12/1969

Descritores primários: Futebol

Identidades: Pelé; Nascimento, Edson Arantes do Número de entrada: 18305-10

28 O vídeo pode ser consultado no Banco de Conteúdos Culturais. Disponível em: <http://www.bcc.org.br/tupi/detalhe/44890>. Acesso em: 10 fev. 2014.

Figura 33: exemplo de como se apresenta uma notícia no Banco de Conteúdos Culturais (BCC).

Fonte: Banco de Conteúdos Culturais (BCC).

Por meio de um quadro comparativo podemos perceber que a representação da informação dos cinejornais da Agência Nacional no Portal Zappiens é bem parecida com a representação das notícias da TV Tupi no Banco de Conteúdos Culturais.

Quadro 9: comparação da descrição de conteúdo no Banco de Conteúdos Culturais (BCC), Portal Zappiens e Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN).

Banco de Conteúdos Culturais Portal Zappiens e Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN)

Telejornal:? Brasil Hoje n. 6 (1971)

Título Pelé dá autógrafos O REI PELE

Descrição do conteúdo

Não tem [Comemoração do 87º aniversário de Três Corações, MG e inauguração de uma estátua do jogador Pelé]

Data 31/12/1969 1971

Representantes da

informação Descritores primários: Futebol / Identidades: Pelé; Nascimento, Edson Arantes do

Termos de indexação: Futebol; Nascimento, Edson Arantes do; Três Corações (MG).

Não foi possível identificar a existência de um vocabulário controlado. A pesquisa básica que realizamos levou a concluir que a recuperação da informação está

baseada em palavras que constam no título, assunto, descritores primários e secundários e também em datas e número de entrada.

A interação dos usuários com o Banco de Conteúdos Culturais pode ser realizada por meio do ícone “contato”.

Figura 34: tela que representa a maneira de como entrar em contato com o Banco de Conteúdos Culturais (BCC).

Fonte: Banco de Conteúdos Culturais (BCC).

No campo “categoria” estão listados os possíveis tipos de assuntos que os usuários podem enviar: exibição, cartazes, filmes, fotos, pesquisa de imagens, problemas no site, licenciamento de imagens TV Tupi e outros. Todavia, não foi possível constatar se a ferramenta de “Contato” contribui para a melhoria da “qualidade das informações”.

Ressaltamos que as iniciativas apresentadas demonstram que a internet e as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) contribuíram para uma importante mudança na maneira de difundir e proporcionar o acesso às imagens em movimento em diferentes ambientes de informação. De acordo com Edmondson (2013, p. 125),

As novas tecnologias ampliam rapidamente as possibilidades de consulta pela Internet a base de dados, a documentos sonoros e visuais (mediante autorização do titular dos direitos de autor) e essas possibilidades criam, em contrapartida, novas demandas. O catálogo tradicional está em processo de mudança. O texto das

entradas enriquece-se com ícones, imagens e sons. Também é possível realizar pesquisas simultâneas em múltiplas bases de dados. Esses sistemas, cada vez mais aperfeiçoados, revolucionarão as práticas de catalogação e de acesso dos arquivos audiovisuais, e oferecerão ao usuário maiores possibilidades e opções.

Cada vez mais o perfil dos usuários dos arquivos se diversifica. A internet tem possibilitado diferentes tipos de pesquisas. Alguém que busca uma imagem, no Google por exemplo, poderá chegar até a uma instituição arquivística. Há alguns anos o relacionamento dessas instituições era muito mais frequente com usuários especializados e pesquisadores acadêmicos. Hoje em dia um adolescente que “navega” pela rede mundial de computadores poderá conhecer um outro universo.

Os exemplos mostram que existe uma necessidade real de se estabelecer novos tipos de relacionamentos. Os arquivos, bibliotecas e museus precisam estar preparados para atender as diferentes demandas colocadas pelos seus usuários e pelo público em geral. Podem assumir um papel importante na mediação de trocas de informações e conhecimento. De acordo com Weinberger (2007, p. 147)

À medida que as pessoas se comunicam on-line, a troca de ideias torna-se parte de um conhecimento digital público vibrante e significativo – em vez de conversar por alguns momentos com um pequeno grupo de amigos ou colegas, cada pessoa tem, potencialmente, acesso a um público universal de interlocutores. Como um todo, essa troca de ideias cria também uma forma de saber que jamais esteve disponível antes; como a subjetividade, tem raízes em pontos de vista e paixões individuais que lhe conferem autenticidade.

O autor continua dizendo que “agora podemos constatar que o saber não está na nossa cabeça, está entre nós. Emerge do pensamento público e social e ali permanece[...]” ( WEINBERGER, 2007, p. 147). Essa constatação afeta diretamente os tradicionais ambientes de informação, que durante muito tempo foram espaços privilegiados de saber e conhecimento. Tanto o que foi concebido ao longo da história, quanto o que está sendo produzido nos dias atuais, podem circular de uma nova maneira.

Deve-se levar em conta que a difusão de documentos na internet gera novas demandas. As ferramentas de contato disponibilizadas precisam ser bem gerenciadas. No Portal Zappiens, por exemplo, o campo destinado aos comentários deveria ser constantemente verificado para saber quais são as dúvidas, interesses, críticas e problemas encontrados pelos usuários. As ferramentas oferecidas para o contato devem ser vistas como espaços reais de intercâmbio de informação e conhecimento. Os usuários podem se tornar colaboradores em potencial. É preciso salientar que a difusão na internet não é o final. Pelo contrário. Pode

gerar novos desafios e demandas. Uma relação de diálogo pode trazer alguns benefícios, como a melhoria das descrições arquivísticas e pontos de acesso.

6 ANÁLISE, DISCUSSÃO E RESULTADOS: APONTANDO PRINCÍPIOS

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