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Os cinejornais da Agência Nacional no Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) e no Portal Zappiens: contribuições para análise, descrição e representação arquivística da informação

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Academic year: 2021

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INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL

ANTONIO LAURINDO DOS SANTOS NETO

OS CINEJORNAIS DA AGÊNCIA NACIONAL NO SISTEMA DE INFORMAÇÕES DO ARQUIVO NACIONAL (SIAN) E NO PORTAL ZAPPIENS: CONTRIBUIÇÕES PARA ANÁLISE, DESCRIÇÃO E REPRESENTAÇÃO ARQUIVÍSTICA DA INFORMAÇÃO

Niterói 2014

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OS CINEJORNAIS DA AGÊNCIA NACIONAL NO SISTEMA DE INFORMAÇÕES DO ARQUIVO NACIONAL (SIAN) E NO PORTAL ZAPPIENS: CONTRIBUIÇÕES PARA ANÁLISE, DESCRIÇÃO E REPRESENTAÇÃO ARQUIVÍSTICA DA INFORMAÇÃO

Dissertação apresentada ao Mestrado do Pro-grama de Pós-Graduação em Ciência da Infor-mação da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Linha de Pesquisa: Fluxos e mediações só-cio-técnicas da informação

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Rosa Inês de Novais Cordeiro

Niterói 2014

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Arquivo Nacional (SIAN) e no Portal Zappiens: contribuições para análise, descrição e representação arquivística da informação / Antonio Laurindo dos Santos Neto. – 2014.

110 f. ; il.

Orientadora: Rosa Inês de Novais Cordeiro.

Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Arte e Comunicação Social, 2014. Bibliografia: f. 89-94.

1. Jornalismo no cinema. 2. Repositório institucional. 3. Política de informação. I. Cordeiro, Rosa Inês de Novais. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Arte e Comunicação Social. III. Título.

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OS CINEJORNAIS DA AGÊNCIA NACIONAL NO SISTEMA DE INFORMAÇÕES DO ARQUIVO NACIONAL (SIAN) E NO PORTAL ZAPPIENS: CONTRIBUIÇÕES PARA ANÁLISE, DESCRIÇÃO E REPRESENTAÇÃO ARQUIVÍSTICA DA INFORMAÇÃO

Dissertação apresentada ao Mestrado do Pro-grama de Pós-Graduação em Ciência da Infor-mação da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Aprovada em: _________________________

Banca Examinadora

___________________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Rosa Inês de Novais Cordeiro (Orientadora) UFF

___________________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Lacy Varella Barca de Andrade UNESA

___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Henrique Marcondes de Almeida UFF

___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho (Suplente) UFRJ

___________________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Sandra Lucia Rebel Gomes (Suplente) UFF

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estudo em um programa de pós-graduação, por isso, agradeço aos encontros que tive com pessoas e instituições durante a minha trajetória profissional e acadêmica.

A minha família que possibilitou a minha mudança para Niterói para estudar na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Aos professores da UFF com quem tive contato desde a faculdade de Arquivologia.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ciência da Informação – PPGCI/UFF.

A professora Rosa Inês de Novais Cordeiro por sua orientação, inspiração, incentivo e paciência.

Aos professores da banca de qualificação e dissertação, que muito contribuíram com críticas e sugestões: Antonio Carlos Amancio da Silva, Carlos Henrique Marcondes e Sandra Lúcia Rebel Gomes.

Aos colegas da UFF que se tornaram amigos especiais: Aluf Elias e Priscila Xavier.

Aos colegas servidores do Arquivo Nacional, especialmente ao Clovis Molinari Jr e ao Marcus Vinícius Pereira Alves por terem me dado oportunidade de trabalhar com imagens em movimento na instituição.

Aos colegas da Área de Imagens em Movimento, da Coordenação de Documentos Audiovisuais e Cartográficos (CODAC) e da Coordenação-Geral de Processamento e Preservação do Acervo (COPRA) do Arquivo Nacional pelo convívio e aprendizado.

Aos colegas do Arquivo Nacional que se tornaram amigos: Beatriz Monteiro, Claudia Teresa, Fátima Taranto, Heliene Nagasava, Mariana Lambert e Mariana Monteiro.

Ao Leonardo Pardi da Cinemateca Brasileira pelo atendimento dedicado durante a pesquisa.

Ao Alan Almeida pelo companheirismo.

Aos funcionários do Starbucks de Icaraí pelo ótimo atendimento e ambiente agradável de estudo.

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"Todo nosso conhecimento inicia com sentimentos" Leonardo Da Vinci (artista e cientista italiano, 1452-1519)

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Pesquisa sobre os cinejornais da Agência Nacional, elaborada a partir da literatura de Ciência da Informação, Arquivologia, Cinema e História. As descrições e as representações documentárias dos cinejornais são analisadas em dois Sistemas de Recuperação da Informação (SRIs): Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) e Portal Zappiens. Apresentam-se as características dos cinejornais e são propostos princípios metodológicos que contribuam para a análise e a representação arquivística da informação dos jornais cinematográficos e, em consequência, na recuperação e no acesso desses filmes no SIAN e no Portal Zappiens. Nos procedimentos metodológicos realiza-se pesquisa bibliográfica, análise dos filmes, verificação dos pedidos de informação enviados à Coordenação de Atendimento à Distância (COADI) do Arquivo Nacional, exame dos comentários publicados pelos usuários do Portal Zappiens e estudo comparativo de três instituições que realizam a difusão de audiovisuais.

Palavras-chave: Cinejornais (Agência Nacional). Indexação de cinejornais. Descrição arquivística de cinejornais. Análise de cinejornais. Cinejornais – Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN). Cinejornais – Portal Zappiens. Cinejornais – Recuperação da informação.

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Research about the newsreels of the Agência Nacional, elaborate from the literature of Information Science, Archival Science, Cinema and History. The descriptions and representations of documentary newsreels are analyzed in two Information Retrieval Systems (SRIs): Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) and Portal Zappiens. Presents the characteristics of newsreels and methodological principles are proposed to contribute to the analysis and archival information representation of newsreels and, consequently, in retrieval and access of these films in SIAN and Portal Zappiens. The methodological procedures carried out literature search, analysis of the films, verification of information requests sent to Coordenação de Atendimento à Distância (COADI) of the Arquivo Nacional, examination of the comments posted by users Zappiens Portal and comparative study of three institutions that perform broadcasting of audiovisual.

Keywords: Newsreels (Agência Nacional). Indexing newsreels. Description of archival newsreels. Analysis of newsreels. Newsreels – Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN). Newsreels – Portal Zappiens. Newsreels – Information retrieval.

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Figura 2 – Cartelas do cinejornal Atualidades Agência Nacional n.º 30 (1963) …...25

Figura 3 – Cartelas do cinejornal Brasil Hoje n.º 250 (1978) …...25

Figura 4 – Cartelas do cinejornal Cine Jornal Informativo n.º 118 …...26

Figura 5 – Estrutura hierárquica da série filmes do Fundo Agência Nacional …...34

Figura 6 – Representação das subséries das imagens em movimento do Fundo Agência Nacional …...35

Figura 7 – Descrição do conteúdo e cartelas do documentário Itaipu Binacional (1979) …..36

Figura 8 – Descrição do conteúdo e cartelas do documentário Transamazônica (1978) …....37

Figura 9 – Descrição do conteúdo e cartelas do cinejornal Brasil Hoje n.º 237 (1978) …...37

Figura 10 – Descrição do conteúdo e cartelas do cinejornal Brasil Hoje n.º 207 (1977) …...38

Figura 11 – Descrição do conteúdo e cartelas do cinejornal Brasil Hoje n.º 169 (1976) …...38

Figura 12 – Cartelas e títulos atribuídos do cinejornal Atualidades Agência Nacional n.º 22 (1963) …...39

Figura 13 – Extrato do campo 3.1.1 – Especificação do conteúdo do Cine Jornal Informativo n. 118 …...49

Figura 14 – Extrato do campo 7.1.1 Termos de indexação do Cine Jornal Informativo n. 118 …...50

Figura 15 – Print screen das informações sobre o cinejornal Brasil Hoje n. 51 (1974) no Portal Zappiens …...54

Figura 16 – Print screen de um comentário sobre o cinejornal Brasil Hoje n. 206 (1977) ....58

Figura 17 – Print screen de um comentário sobre o cinejornal Brasil Hoje n. 134 (1976) …58 Figura 18 – Print screen de um comentário sobre o cinejornal Atualidades Agência Nacional n. 2 (1963) …...58

Figura 19 – Print screen de um comentário sobre o cinejornal Cine Jornal Informativo n. 120 (1968) …...59

Figura 20 – Print screen de um comentário sobre o cinejornal Cine Jornal Informativo n. 147 (1969) …...59

Figura 21 – Extrato de um pedido de informação do ano de 2009 …...61

Figura 22 – Extrato de um pedido de informação do ano de 2010 …...61

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Figura 27 – Extrato da descrição do conteúdo do Noticiario 05-01-1970 Nº 1409A …...64 Figura 28 – Extrato da descrição de conteúdo dividida por título de notícia do Noticiario 05-01-1970 Nº 1409A …...65 Figura 29 – Identidade visual das diferentes redes sociais existentes atualmente no Portal NO-DO …...65 Figura 30 – extrato das orientações do espaço “Ajuda” da Base de Dados Accessus …...67 Figura 31 – Extrato da descrição do conteúdo do filme “Visita da rainha Elizabeth II ao Rio de Janeiro” na Base de Dados Accessus …...68 Figura 32 – Exemplo de como funciona a ferramente “Colabore” na Base de Dados Accessus ...69 Figura 33 – Exemplo de como se apresenta uma notícia no Banco de Conteúdos Culturais (BCC) …...71 Figura 34 – Tela que representa a maneira de como entrar em contato com o Banco de Conteúdos Culturais (BCC) …...72 Figura 35 – Print screen de fotogramas do cinejornal Atualidades Agência Nacional n. 28 (1963). …...78 Figura 36 – Print screen de fotogramas do cinejornal Brasil Hoje n. 1 (1970) …...79 Figura 37 - Print screen de fotogramas do cinejornal Cine Jornal Informativo n. 120 (1968) …...80

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Quadro 2 – Resultado comparativo de termos pesquisados na BRAPCI e no Portal de Periódicos da Capes …...56 Quadro 3 – Resultado comparativo de termos pesquisados na BRAPCI e no Portal de Periódicos da Capes …...56 Quadro 4 – Comparação da quantificação total de cada tipo de cinejornal e os a quantidade de comentários recebidos no Portal Zappiens ...57 Quadro 5 – Classificação dos tipos de comentários postados no Portal Zappiens ...57 Quadro 6 – Pedidos de informação enviados à Coordenação de Atendimento à Distância do Arquivo Nacional ...60 Quadro 7 – Classificação dos pedidos de informação de imagens em movimento enviados ao Arquivo Nacional ...60 Quadro 8 – Comparação de redes sociais “conectadas” com o Portal Zappiens e com o Portal NO-DO ...66 Quadro 9 – Comparação da descrição de conteúdo no Banco de Conteúdos Culturais (BCC), Portal Zappiens e Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) …...71 Quadro 10 – Comparação entre a “especificação do conteúdo” e “termos de indexação” estabelecidos no SIAN com a "narração em off "de um cinejornal ...81 Quadro 11 – Comparação entre a representação arquivística da informação no Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) e no Portal Zappiens ...85

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BRAPCI – Base de Dados Referencial de Artigos e Periódicos em Ciência da Informação BCC – Banco de Conteúdos Culturais

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CGI.br – Comitê Gestor da Internet no Brasil

CIA – Conselho Internacional de Arquivos

CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil CTAv – Centro Técnico Audiovisual

DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda DNI – Departamento Nacional de Informações

DPDC – Departamento Nacional de Propaganda e Difusão Cultural EBN – Empresa Brasileira de Notícias

FIAF - International Federation of Film Archives FIAT – International Federation of Television Archives IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo

ISAAR-CPF – Norma internacional de registro de autoridade arquivística para entidades coletivas, pessoas e famílias

ISAD (G) - Norma geral internacional de descrição arquivística IASA – Internacional Association of Sound and Audiovisual Archives ISDF-Norma internacional para descrição de funções

ISDIAH – Norma internacional para descrição de instituições com acervo arquivístico ISOC – Internet Society

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PRODASEN – Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado Federal

RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa

RTVE.ES – Corporación Radiotelevisión Española SIAN – Sistema de Informações do Arquivo Nacional TIC – Tecnologias de informação e comunicação UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UNESA – Universidade Estácio de Sá

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura Unicamp – Universidade Estadual de Campinas

USP – Universidade de São Paulo

UNISIST – United Nations International Scientific Information URL – Uniform Resource Locator

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1 INTRODUÇÃO …...14

2 MARCO TEÓRICO CONCEITUAL …...18

3 OS CINEJORNAIS DA AGÊNCIA NACIONAL …...30

3.1 ASPECTOS DA HISTÓRIA ARQUIVÍSTICA E TEMÁTICAS RECORRENTES …....33

3.2 DIFUSÃO PARA ACESSO …...41

4 REPRESENTAÇÃO ARQUIVÍSTICA DOS CINEJORNAIS …...44

4.1 SISTEMA DE INFORMAÇÕES DO ARQUIVO NACIONAL (SIAN) …...44

4.2 PORTAL ZAPPIENS …...52

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS …...55

5.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA …...55

5.2 CAMPO EMPÍRICO …...56

5.3 ANÁLISE DOS PEDIDOS DE INFORMAÇÃO ENVIADOS À COORDENAÇÃO DE ATENDIMENTO À DISTÂNCIA (COADI) DO ARQUIVO NACIONAL …...59

5.4 ESTUDO COMPARATIVO SOBRE A DIFUSÃO DE DOCUMENTOS AUDIOVISUAIS …...63

6 ANÁLISE, DISCUSSÃO E RESULTADOS: APONTANDO PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS …...75

7 CONCLUSÃO …...87

REFERÊNCIAS …...89 APÊNDICE A – Seleção dos cinejornais que receberam comentários dos usuários do Portal Zappiens

APÊNDICE B – Categorização dos pedidos de informação enviados à Coordenação de Atendimento à Distância (COADI) do Arquivo Nacional no período de 2009 a 2013

ANEXO A – Artigo de jornal: Todos os planos da nova Agência Nacional

ANEXO B – Tela de apresentação do Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) ANEXO C – Tela de apresentação do Portal Zappiens

ANEXO D – Possibilidades de pesquisa no Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) e no Portal Zappiens

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1 INTRODUÇÃO

O crescimento e a popularização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) e da internet estão suscitando novas maneiras de relacionamentos e prestação de serviços. Pessoas, empresas e instituições estão cada vez mais conectadas em rede e compartilhando suas informações, ampliando com isso a possibilidade de contatos e trocas. É possível perceber cada vez mais a interação homem-máquina em diversos cenários, inclusive nos chamados ambientes de informação como os arquivos, bibliotecas e museus.

As instituições arquivísticas brasileiras estão inseridas nesse contexto e consequentemente estão sofrendo os impactos dessa transformação. A difusão e compartilhamento de seus documentos e atividades passaram a ser tarefas fundamentais para o cumprimento do papel de disseminadoras de informação e conhecimento. A maneira tradicional como são desempenhadas as atividades nos arquivos carece de uma constante avaliação, considerando a dinâmica do ambiente informacional hoje em dia. Percebe-se que as fronteiras entre os arquivistas e os usuários dos arquivos têm diminuído consideravelmente.

As tecnologias de informação e comunicação, mesmo com todas as promessas mágicas, ainda não possuem a capacidade de solucionar todos os anseios dos diferentes usuários de um arquivo. A interferência do fator humano continua sendo de fundamental importância quando o que está em questão é a organização, identificação, descrição, indexação e difusão de documentos arquivísticos. Nos últimos anos houve uma demanda muito grande para a digitalização de documentos, objetivando, principalmente, o acesso. Todavia, é necessário reconhecer que, neste caso, só é possível recuperar aquilo que foi colocado disponível na rede. Depois, é preciso entender que disponibilizar na internet vai muito além da digitalização dos documentos. Não será possível encontrar na rede aquilo que previamente não foi organizado, identificado, descrito e indexado. A digitalização de documentos deve ser encarada como umas das últimas etapas do processamento arquivístico. No caso específico dos documentos audiovisuais, é necessário buscar uma correspondência entre as imagens e sons (juntos ou separados) e os seus significados verbais. O trabalho de análise e representação arquivística das imagens em movimento terão como resultado significados verbais que servirão para a recuperação da informação e consequentemente para o acesso.

O Arquivo Nacional do Brasil consciente da necessidade de promover a difusão da informação arquivística pública na internet firmou um acordo de cooperação

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técnica com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por intermédio do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, no dia 18 de agosto de 2008. O acordo tinha como finalidade a digitalização de obras audiovisuais sob a guarda da instituição (exceto as depositadas em regime de comodato), desde que já telecinadas, para difusão por meio de plataforma virtual na internet no âmbito do Projeto de Conteúdos Digitais do CGI.br. O exemplo pioneiro mostra que muitas das carências financeiras e profissionais das instituições públicas brasileiras podem ser minimizadas com acordos e parcerias para o desenvolvimento de pesquisas e compartilhamento de recursos tecnológicos e informacionais.

Para inaugurar o compromisso entre o Arquivo Nacional e o CGI.br o arquivo de imagens em movimento1 da Agência Nacional foi disponibilizado para acesso no Portal

Zappiens.br. As cópias digitais e as respectivas descrições arquivísticas dos cinejornais, filmetes institucionais, documentários e transmissões de TV podem ser consultadas na plataforma virtual mantida pelo CGI.br na rede mundial de computadores desde o ano de 2010. Como está ocorrendo com a maioria dos portais e sites, o conteúdo do Portal Zappiens2

pode ser compartilhado nas principais redes sociais, ampliando e diversificando o perfil de usuários. O documentário “O comportamento na estrada (1970)”3, por exemplo, foi

compartilhado 95 vezes no Facebook, 5 vezes no Twitter e recebeu 10 comentários dos usuários do portal desde que foi publicado para acesso no dia 23 de março de 2010.

A disponibilização das imagens em movimento da Agência Nacional no Portal Zappiens.br para acesso não foi por acaso. Após consultar os pedidos de atendimento e as requisições de reprodução de documento arquivístico, verificou-se que tais imagens em movimento representam o arquivo audiovisual mais consultado e reproduzido da instituição. Os fragmentos e cópias integrais dessas imagens em movimento são reproduzidos para depois

1 Foi considerada a definição de imagens em movimento estabelecida pela UNESCO na Recomendação sobre a Salvaguarda e a Conservação das Imagens em Movimento, votada por sua Assembléia Geral reunida em Belgrado em 1980: "qualquer série de imagens captadas e fixadas em um suporte (independente do método de captação das mesmas e da natureza do dito suporte – por exemplo, filmes, fitas, disco, etc. - utilizado inicial e ulteriormente para fixá-las) com ou sem acompanhamento sonoro que, ao serem projetadas, dão uma impressão de movimento e estão destinadas à comunicação ou distribuição ao público ou se produzam com fins de documentação; considera-se que compreendem, entre outros, elementos das seguintes categorias: i produções cinematográficas (como filmes de longa metragem, curta metragem, filmes de divulgação científica, documentários e atualidades, desenhos animados e filmes educativos); ii produções televisivas, realizadas por ou para as organizações emissoras; iii produções videográficas (como as contidas nos videogramas) que não sejam mencionadas em i. e ii.” (UNESCO, 1980 apud SOUZA, 2009, p. 6).

2 Zappiens.br é um projeto do Comitê Gestor da Internet no Brasil para divulgação, disseminação e distribuição de conteúdos digitais em língua portuguesa. Disponível em: <http://zappiens.br/portal/home.jsp>. Acesso em: 22 jul. 2013.

3 O comportamento na estrada (1970). Disponível em: <http://zappiens.br/portal/VisualizarVideo.do?

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serem utilizados, principalmente, em documentários, filmes de ficção, programas de TV e trabalhos acadêmicos.

O acordo firmado entre o Arquivo Nacional e o Comitê Gestor da Internet no Brasil segue uma tendência de difusão de acervos na internet. A Cinemateca Brasileira, com patrocínio do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos coordenado pelo Ministério da Justiça, disponibilizou em uma base de dados4 as informações e as imagens

do Acervo Audiovisual Jornalístico da TV Tupi. Na Europa podemos citar iniciativas com propósitos próximos ao acordo mencionado, como, por exemplo, a parceria entre a Filmoteca Española e a Corporación Radiotelevisión Española – RTVE.ES, que possibilitou a disponibilização dos noticiários e documentários NO-DO da época da ditadura franquista.

A partir desta realidade cabe afirmar, que esta pesquisa foi estimulada considerando que existem aspectos das imagens em movimento, em especial dos aspectos formais e de conteúdo dos cinejornais, que ainda não foram levados em conta na descrição arquivística e indexação já estabelecidas e por conta disso o acesso aos conteúdos restringe a sua recuperação/busca ou fica restrito. Portanto, este estudo teve como objetivo a proposição de princípios metodológicos para a representação arquivística do conteúdo dos cinejornais.

Diante disso, e com base na experiência da difusão do arquivo de imagens em movimento da Agência Nacional no Portal Zappiens.br, algumas questões podem e devem ser estudadas, tais como: qual tipo de análise de filmes pode ser aplicada aos cinejornais da Agência Nacional para potencializar os pontos de acesso para seu uso? É possível estabelecer critérios para análise e descrição dos cinejornais? Quais procedimentos da análise documentária são necessários para representar e possibilitar o acesso aos documentos audiovisuais em ambientes digitais? Quais as vantagens e as dificuldades para difundir os documentos audiovisuais na rede mundial de computadores?

Pretende-se também com este trabalho verificar quais são os aspectos comuns aos cinejornais que deverão estar presentes na representação da informação arquivística, abordando a indexação intelectual no esforço homem-máquina, com o intuito de contribuir para a recuperação da informação e, consequentemente, para o acesso no Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) e no Portal Zappiens.

4 A Cinemateca Brasileira coordenou o projeto Resgate do Acervo Audiovisual Jornalístico da TV Tupi, que visava a disponibilização das imagens em movimento na internet. Disponível em: <http://www.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=TUPI&lang=p>. Acesso em: 22 jul. 2013.

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Definições clássicas e históricas da Ciência da Informação e o estado da arte das imagens em movimento na área foi identificado e discutido. Como o objeto de pesquisa, especificamente no que diz respeito a análise dos cinejornais, possui relação com a Arquivologia, Cinema e História, buscou-se também a interlocução teórica com essas três áreas do conhecimento com a finalidade de se realizar uma proposta de descrição e representação arquivística para os jornais cinematográficos. Também levou-se em conta o que já está estabelecido nas normas arquivísticas e nas normas de catalogação da International Federation of Film Archives (FIAF).

As indagações e questões acima foram desenvolvidas nas seções que compõem este trabalho. Começamos com a apresentação e a discussão do “Marco teórico conceitual” (Seção 2), onde selecionamos e incluímos a literatura da Ciência da Informação, Arquivologia, Cinema e História que foram fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa. Em “Os cinejornais da Agência Nacional” (Seção 3) traçamos uma sintética contextualização da produção e exibição de cinejornais no Brasil, com ênfase nos jornais cinematográficos produzidos pela Agência Nacional, alguns “Aspectos da história arquivística e temáticas recorrentes” (Seção 3.1) e maneiras de “Difusão para acesso” (3.2). Na seção 4 discutimos a “Representação arquivística dos cinejornais” com a finalidade de mostrar como os documentos audiovisuais estão sendo contemplados nas normas arquivísticas e nas normas de catalogação da International Federation of Film Archives (FIAF) e sua realização no “Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) (Subseção 4.1) e no Portal Zappiens (Subseção 4.2). Na seção 5 são apresentados os procedimentos metodológicos da pesquisa, assim definidos: a) da pesquisa bibliográfica (Subseção 5.1); b) do campo empírico (Subseção 5.2); c) análise dos pedidos de informação enviados à Coordenação de Atendimento à Distância (COADI) do Arquivo Nacional (Subseção 5.3); e d) estudo comparativo sobre a difusão de documentos audiovisuais na internet (Subseção 5.4). Finalizamos com a “Análise, discussão e resultados: apontando princípios metodológicos” (Seção 6) e com uma “Conclusão” (7) acerca da pesquisa realizada.

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2 MARCO TEÓRICO CONCEITUAL

O marco teórico conceitual do nosso trabalho está pautado em definições fundadoras e históricas da Ciência da Informação. Relaciona-se também com o panorama atual da área, principalmente, nos estudos e pesquisas acerca da representação e recuperação das imagens em movimento. Somando-se as discussões sobre o tema presente na CI, buscamos também na Arquivologia o arcabouço teórico adequado para nossas discussões, visto que o nosso objeto de pesquisa é de natureza arquivística. Sobre a análise de filmes selecionamos as principais referências do Cinema e da História, que poderão contribuir para a representação arquivística dos cinejornais com foco na recuperação da informação.

Começamos com o levantamento e o estudo de referências teóricas da área da Ciência da Informação. Para a finalidade dos nossos estudos chegamos a duas importantes conclusões. Primeiro foi possível perceber que desde o surgimento da área a representação e a recuperação da informação estiveram no centro das discussões. Segundo que a recuperação das imagens, especificamente as imagens em movimento, ainda não mereceu o devido aprofundamento na área. Segundo Cordeiro (2010, p. 235),

As pesquisas na área de Ciência da Informação que contemplam a especialidade da Organização do Conhecimento e da Informação de Imagens, englobam, em seu escopo, os audiovisuais e, entre estes, os filmes cinematográficos, no entanto abordados de forma reduzida na literatura da área. (grifo nosso)

O resultado da investigação realizada na Base de Dados Referencial de Artigos e Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI) e no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) revela que no Brasil ainda não foram desenvolvidos estudos e pesquisas com ênfase na representação arquivística de cinejornais, visando a indexação e a recuperação da informação. Os estudos já desenvolvidos com os cinejornais tiveram como ênfase os aspectos históricos e sociológicos da propaganda política transmitida pelas imagens nas salas de cinema.

O nosso objeto de pesquisa encontra fundamentação teórica em, pelo menos, duas definições clássicas e históricas do que seria Ciência da Informação. A primeira delas surgiu na conferência realizada no Georgia Institute of Tecnology, em 1962, e faz parte da esclarecedora cronologia da área apresentada por Shera e Cleveland (1977, p. 265) no texto History and Foundations of Information Science.

A ciência que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que regem o fluxo de informações, bem como os meios de tratamento da informação para otimizar a acessibilidade e o uso. Os processos incluem a produção, difusão,

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coleta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação e uso da informação. O campo é derivado ou relacionado com a matemática, lógica, lingüística, psicologia, informática, pesquisas operacionais, artes gráficas, comunicação, biblioteconomia, gestão, e alguns outros campos. (tradução nossa).

Desde o surgimento da definição até agora, muitas mudanças sociais e tecnológicas ocorreram, afetando o processamento e uso da informação. Todavia, a definição continua atual e aplicável, visto que ainda hoje continua sendo desafiador estabelecer “os meios para processar a informação para ótima acessibilidade e uso”.

Na concepção de Borko (1968) a Ciência da Informação é “uma ciência interdisciplinar que estuda as propriedades e o comportamento da informação, as forças que dirigem o fluxo e o uso da informação e as técnicas, tanto manuais como mecânicas, de processar a informação visando sua armazenagem, recuperação e disseminação”.

Considerando as duas definições mencionadas acima é possível perceber a questão da representação e recuperação da informação, sobretudo dessa última, que está presente na área desde o seu início por conta da necessidade de tratar as informações de caráter científico e tecnológico. Portanto, a Ciência da Informação se apresenta como um ambiente propício epistemologicamente para a reflexão acerca da representação das imagens em movimento da Agência Nacional.

Borko (1968) há mais de 50 anos já previa a relação da representação da informação com os computadores e os sistemas de informação.

a Ciência da Informação está relacionada com pesquisas que envolvem a representação da informação, tanto em sistemas naturais como artificiais, no uso de códigos para a transmissão eficiente de mensagens e no estudo de dispositivos e técnicas para o processamento da informação, tais como os computadores e os sistemas de informação.

Verifica-se que desde o surgimento da Ciência da Informação a questão da recuperação da informação esteve presente nas definições da área e a tendência é de ampliação, principalmente, com o nível acelerado do desenvolvimento e aprimoramento de novas tecnologias de informação e comunicação (TICs). Saracevic (1996, p. 45) acredita que a recuperação da informação foi uma das responsáveis pelo desenvolvimento da Ciência da Informação.

[…] o trabalho com a recuperação da informação foi responsável pelo desenvolvimento de inúmeras aplicações bem sucedidas (produtos, sistemas, redes, serviços). Mas, também, foi responsável por duas outras coisas: primeiro, pelo desenvolvimento da CI como um campo onde se interpenetram os componentes científicos profissionais. Certamente, a recuperação da informação não foi a única responsável pelo desenvolvimento da CI, mas pode ser considerada como principal; ao longo do tempo, a CI ultrapassou a recuperação da informação, mas os problemas principais tiveram origem aí e ainda constituem seu núcleo. Segundo, a recuperação

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da informação influenciou a emergência, a forma e a evolução da indústria informacional. Novamente, a recuperação da informação não foi o único fator, mas o principal. Como a CI, a indústria da informação atualmente não é apenas recuperação da informação, mas esta é o seu componente mais importante.

As novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) fizeram e fazem com que uma nova postura seja adotada, sobretudo quando o foco está no usuário, quem pesquisa e usa a informação. O exercício da cidadania, que está sendo comumente relacionado ao acesso à informação, também tem sido estimulado por leis e pelos meios de comunicação. As instituições detentoras de acervos precisam estar preparadas para atender os anseios dos cidadãos nesse novo contexto.

O crescimento da Internet como meio de disponibilização de informação/conhecimento, sob as mais diferentes formas – documentos, imagens, hiperdocumentos, – reforça ainda mais a importância da representação para suportar atividades de descoberta/identificação de informações, avaliação e uso. Estas atividades são essenciais para que o conhecimento, tornado assim disponível, possa ser acessado e se torne operacional. (MARCONDES, 2001, p. 67).

O objeto de estudo, especificamente no que diz respeito a análise dos cinejornais, possui relação com a Arquivologia, Cinema e História, portanto, a natureza interdisciplinar da Ciência da Informação proporciona um ambiente apropriado para discutir a representação de imagens em movimento, visando a recuperação da informação. Além disso, possui relação com a Ciência da Computação, já que a utilização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) como um meio, uma interface, tem proporcionado o acesso a esses documentos digitais.

É importante salientar que os cinejornais da Agência Nacional integram um fundo arquivístico da principal instituição de arquivo do Brasil e, portanto, o tratamento técnico realizado nos documentos seguiu normas, técnicas e padrões arquivísticos reconhecidos e praticados internacionalmente. Entretanto, as peculiaridades do campo arquivístico não impedem a identificação de relações com outros campos, especificamente com a Ciência da Informação, na qual as pesquisas sobre representação e recuperação da informação encontram-se seus fundamentos.

Para Saracevic (1996, p. 56) “desde os primórdios da CI, a noção de eficácia (por exemplo, a comunicação eficaz do conhecimento, o acesso eficiente aos recursos informacionais, a relevância e utilidade da informação, a qualidade da informação...) tem sido uma preocupação central”. No século XXI essa noção continua presente na área. A utilização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) para processamento, armazenamento e

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difusão de documentos cresce a cada dia com o barateamento dos preços dos equipamentos e com a disseminação de sistemas e programas de recuperação da informação.

As vantagens das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) e as teorias e técnicas da Ciência da Informação e da Arquivologia podem contribuir para organização e representação dos documentos audiovisuais.

[…] a Ciência da Informação irá favorecer (e poderá ser favorecida com) estudos que coloquem em discussão os impactos que as redes e sistemas de informação virtual vêm causando nas áreas com as quais faz fronteira, sendo a arquivologia uma delas. O enquadramento de acervos arquivísticos no âmbito da internet exigirá, por parte do campo arquivístico, a incorporação de novos princípios conexos com as transformações ocorridas nos processos de produção, gestão e difusão da informação. (MARIZ, 2012, p. 14).

O cenário atual, onde a internet proporciona diferentes maneiras de contatos e relacionamentos, uma maior interação entre usuários e arquivistas precisa ser estimulada. Também pode-se aproveitar para manter um constante diálogo com outras áreas do conhecimento, com a finalidade de contribuir para a identificação de conteúdo e organização dos arquivos que possuem cinejornais.

Estudos mais recentes da área da Ciência da Informação apontam para o desenvolvimento de pesquisas com foco nos documentos multimídias e nas novas necessidades de informação colocadas a partir do uso da internet como forma de interação entre os arquivos e os seus usuários. Hertzum (2003) no artigo Requests for information from a film archive: a case study of multimedia retrieval, analisou os pedidos de informação dirigidos ao Deutsches Filminstitut (DIF), Frankfurt, Alemanha. Para o autor (2003, p. 169)

O aumento da disponibilidade de materiais multimídia é acompanhada por uma necessidade de técnicas de indexação que apoiem uma recuperação eficaz. Isso exige pesquisa sobre técnicas de recuperação multimídia e estudos empíricos sobre por que, quando e como as pessoas buscam material multimídia. (tradução nossa).

Ainda no panorama internacional destacam-se os trabalhos desenvolvidos por Peter Enser acerca da recuperação da informação, com ênfase na recuperação da informação visual. O autor (2008) no artigo The evolution of visual information retrieval, apresentou um breve panorama do desenvolvimento da teoria e prática da recuperação da imagem na era digital e defendeu a investigação da recuperação da informação baseada no conteúdo.

Em 2012 foi publicado um conjunto de trabalhos de pesquisa relacionados com a indexação e a recuperação de informações não-textuais (Introduction to indexing and retrieval of non-text information, 2012). De acordo com Neal (2012, p.1), organizadora da

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publicação, o crescimento do número de documentos não-textuais colocados on-line está colocando uma tarefa desafiadora para a indexação e a recuperação da informação.

Destaca-se na publicação o artigo de La Barre e Cordeiro (2012, p. 234-262), That obscure object of desire: Facets for film access and discovery, que utilizou o recurso da análise fílmica e de facetas5 para identificar maneiras de melhorar o acesso às imagens em

movimento. As autoras (2012, p. 235) esclarecem que o

Acesso à informação é um tema predominante em biblioteconomia e ciência da informação. Criação de acesso a recursos de informação envolve os processos básicos de tradução, análise e representação. Prática corrente na criação de simples representações documentais, muitas vezes inclui informações sobre codificação de conteúdo e indicações de como e onde o conteúdo está disponível. (tradução nossa)

Cordeiro (2010, p. 88) explica a importância da representação documentária e o papel do indexador como mediador entre os documentos, os usuários e os Sistemas de Recuperação de Informação.

Quando o indexador analisa um documento de forma individual, pode-se acreditar que o parâmetro a ser considerado é a interseção entre o universo de documentos e o universo de usuários e, de forma menos intensa, o universo da unidade organizacional, além dos critérios estabelecidos na política de indexação. O indexador irá usar um parâmetro hipotético de possíveis perguntas/interesses de usuários para tal universo de documentos. Diante disto, verifica-se que alguns princípios norteiam a análise do indexador, considerando a representação (indexação) e a recuperação das informações.

A representação da informação6 é que poderá garantir a sua disseminação e

utilização. Daí é fundamental o trabalho de descrição e indexação dos documentos arquivísticos, independentemente do gênero, com foco no usuário. Inseridos nesse contexto também estão os cinejornais. De acordo com Cordeiro e Amâncio (2005, p. 94),

A indexação de qualquer documento é um procedimento redutor do conteúdo total de uma fonte de informação, inclusive o filme, mas a prática da indexação, tendo como base a tentativa de analisar o filme mediante o seu potencial informativo, potencializa [e] possibilita o acesso aos fragmentos do filme e viabiliza a tomada de decisão do usuário sobre a necessidade [d]o acesso e uso do filme.

Outro aspecto que deve ser observado no domínio da representação documentária é o estabelecimento de políticas de indexação, pois nos parece que existe uma grande dificuldade em estabelecer tais diretrizes nas instituições. Essa dificuldade pode ser ainda maior quando está em questão um fundo documental arquivístico, visto que diferentes

5 Ver também outro trabalho das autoras acerca da análise de facetas e filmes: CORDEIRO, Rosa Inês Novais de; La Barre, Kathryn. Análise de facetas e obra fílmica. Informação & informação (UEL. Online), v. 16, p. 180-201, 2011. Ainda, as autoras (2012, 240), comparam os pontos de acesso descritos e fornecidos por quatro ambientes informacionais de imagens em movimento: IMDb – Internet Movie Database (USA/UK); Moving Image Archive (USA); Porta Curtas (Brasil); BBC Motion Gallery (UK).

6 Também denominada com tratamento temático da informação (TTI), análise documentária, indexação e representação documentária.

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gêneros documentais (textuais, iconográficos, cartográficos, audiovisuais) podem integrar esse mesmo fundo. Uma das características dos documentos arquivísticos é a relação orgânica que eles possuem. Entretanto, essa relação orgânica muitas vezes não é percebida e nem aplicada quando o conjunto documental de um fundo é muito grande. Cada gênero documental é tratado tecnicamente de forma específica e a descrição e a indexação são feitas com base em metodologias próprias (ad hoc) e não em uma política institucional de indexação. A partir de uma visão otimista, podemos identificar algumas iniciativas de indexação, mas dificilmente uma política clara e estabelecida. O tratamento arquivístico integrado dos diferentes gêneros documentais deve levar em conta as especificidades de cada um.

As imagens, assim como as histórias, nos informam e o reconhecimento do texto

imagético como documento nos sinaliza a necessidade de lançarmos mão de metodologia de análise que nos orientem no trabalho de leitura, uma vez que as imagens operam de maneira fragmentária, delimitadas por enquadramentos e pontos de vista onde as informações se encontram em meio a signos e símbolos de naturezas distintas. É nesse sentido que as imagens apresentam vestígios visuais na recomposição material do passado em aspectos triviais do cotidiano, como vestimentas, arranjos domésticos, etc., o que torna importante ressaltar ainda uma vez a distância entre a imagem e a realidade, voltando a questão da representação como contexto intrínseco a qualquer imagem do passado e à necessidade de consideramos sempre o contexto social externo do qual ele é produto. (MUNIZ, 2010, p. 133).

O trabalho de representação da informação carece de leituras e interpretações apuradas, levando-se em conta as diferentes formas de apresentação das imagens. Um filme de ficção possui uma estrutura narrativa e uma intenção diferente de uma atualidade cinematográfica. Deve-se atentar, portanto, para a interpretação das imagens em movimento dentre dos seus contextos específicos de produção e intenção. Cordeiro (1996, p.3) defende que

a interpretação da imagem consiste, em última instância, em tentar ler o seu significado. É, neste momento, que criador e destinatário irão se encontrar/conhecer. Contar um filme é fazer uma interpretação, uma decodificação por parte de quem o conta.

O esforço então concentra-se na tentativa de encontrar o significado da imagem. A interpretação desse significado é que servirá de base para o desenvolvimento da descrição do documento, seja ele textual, iconográfico ou uma imagem em movimento. Cordeiro (1996, p.5) também diz o que mais importa para a área da representação da informação é

[…] conhecer o potencial informativo do filme, as várias interpretações e os aspectos comuns à interpretação (as semelhanças e diferenças) e que levam a distinguir

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possíveis variáveis a serem aplicadas à análise/leitura/interpretação de filmes e sua documentação em grandes acervos. Isto permite, também, detectar possíveis segmentos/categorias de usuários, e de como estes olham e se interessam pelo uso desta informação.

Por mais que os documentos já estejam organizados, arranjados, descritos e disponibilizados, sempre será necessário avaliar os procedimentos e as metodologias utilizados em um contexto anterior. Os fatos registrados nos cinejornais da Agência Nacional ainda permanecem presentes na memória de grande parte dos cidadãos brasileiros. Esses fatos foram identificados, descritos e representados durante as décadas de 80 e 90 na seção de filmes do Arquivo Nacional. Entretanto, os documentos de arquivo não são estanques e nem limitados. Sempre serão passíveis de novas análises.

Em qualquer estágio, a informação sobre os documentos permanece dinâmica e pode ser submetida a alterações à luz de maior conhecimento de seu conteúdo ou do contexto de sua criação. Em especial, sistemas de informação automatizados podem servir para integrar ou selecionar, como exigido, elementos de informação, e atualizá-los ou alterá-los. (ISAD (G), 2000, p. 11).

José Inacio de Melo Souza (2003), em artigo que relata a experiência do trabalho com cinejornais, esclareceque a fragmentação dos temas e assuntos dos cinejornais é um dos obstáculos para a leitura histórica do documento fílmico. Para o autor (2003, p. 46) “os vários tópicos cobertos por um número de cinejornal levado semanalmente às telas pedem uma complexa abordagem de enunciados descontínuos e separados no tempo e no espaço.”

A fim de mostrar a diversidade de apresentação do formato do conteúdo dos cinejornais, cabe ilustrar algumas situações. Por exemplo, o cinejornal Brasil Hoje n.º 7 (1971)7 é composto por quatro assuntos diferentes: “Semana da Asa”, “Caribé”, “História” e

“Cidade Teatro”.

Figura 1: cartelas com os títulos das notícias do cinejornal Brasil Hoje n.º 7 (1971)

Fonte: Brasil Hoje, n.º 7, 1971

7 O cinejornal pode ser consultado no Portal Zappiens. Disponível em: <http://zappiens.br/portal/VisualizarVideo.do?

_InstanceIdentifier=0&_EntityIdentifier=cgiUg3ipJVNsgDx1pylhLyEZHR_JlaQrgWZchktsbpseLU.&idReposit orio=0&modelo=0>. Acesso em: 30 maio 2013.

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Geralmente os cinejornais apresentam mais de uma notícia, mas também podemos encontrar outros que tratam de assuntos específicos. Isso pode ser verificado, por exemplo, no cinejornal Atualidades Agência Nacional n.º 30 (1963)8, que foge do formato

atualidade ao apresentar o episódio “Manhã na roça” do cineasta Humberto Mauro, na edição especial do Brasil Hoje n.º 250 (1978)9, que foi inteiramente dedicado ao Teatro Municipal do

Rio de Janeiro e no Cine Jornal Informativo n.º 11810, que cobriu a visita da Rainha Elizabeth

II ao Brasil.

Atualidades Agência Nacional n.º 30 (1963)

Figura 2: cartelas do cinejornal Atualidades Agência Nacional n.º 30 (1963).

Fonte: Portal Zappiens.

Brasil Hoje n.º 250 (1978)

Figura 3: cartelas do cinejornal Brasil Hoje n.º 250 (1978).

Fonte: Portal Zappiens.

8 O cinejornal pode ser consultado no Portal Zappiens. Disponível em: <http://zappiens.br/portal/VisualizarVideo.do?

_EntityIdentifier=cgibfGBwIMim2Ah1gwsrByVIDvSW01X9SnNgcm7_VvNNqk.&_InstanceIdentifier=0&idR epositorio=0>. Acesso em: 31 mar 2014.

9 O cinejornal pode ser consultado no Portal Zappiens. Disponível em: <http://zappiens.br/portal/VisualizarVideo.do?

_InstanceIdentifier=0&_EntityIdentifier=cgi6LYTOZVZ2W0hyENYpirmiOmrzSDhEcsUBHUtyIGWKnI.&idR epositorio=0&modelo=0>. Acesso em: 30 maio 2013.

10 O cinejornal pode ser consultado no Portal Zappiens. Disponível em: <http://zappiens.br/portal/VisualizarVideo.do?

_InstanceIdentifier=0&_EntityIdentifier=cgiqRW56xRInsJhsEGMcF1wuaAl1op8YcFGd1CYOynw2Og.&idRe positorio=0&modelo=0>. Acesso em: 31 mar 2014.

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Cine Jornal Informativo n.º 118

Figura 4: cartelas do cinejornal Cine Jornal Informativo n.º 118.

Fonte: Portal Zappiens.

Teóricos do Cinema e também da História já desenvolveram análises de filmes direcionadas para o interesse das suas respectivas áreas. A Ciência da Informação pode se valer da interlocução com estas áreas para procurar estabelecer uma análise específica para a representação dos conteúdos de cinejornais, visando a recuperação da informação em ambientes digitais.

Além disso, deve-se considerar os trabalhos e discussões que são realizadas no âmbito do Comitê de Normas de Descrição do Conselho Internacional de Arquivos (CIA) e da Comissão de Catalogação e Documentação da International Federation of Film Archives (FIAF)

Para começar as reflexões sobre análise de filmes, para os objetivos desta pesquisa, foram levantados e estudados alguns trabalhos importantes e consolidados na área de cinema. Aumont e Marie, teóricos do cinema, entre outros, (2011, p. 11), declararam que

[...] analisar um filme, mesmo enquanto obra artística, é no fundo uma actividade banal, pelo menos de maneira não sistemática, que qualquer espectador, por pouco crítico, e distante do objecto, pratica a dado momento da sua visão. O olhar com que se vê um filme torna-se analítico quando, como a etimologia indica, decidimos dissociar certos elementos do filme para nos interessarmos mais especialmente por tal momento, tal imagem ou parte da imagem, tal situação.

Logo, a análise, no sentido mais amplo, seria uma atividade cotidiana. Qualquer espectador estaria apto a realizá-la. Contudo, a análise de um filme visando à recuperação da informação vai exigir um olhar mais analítico e criterioso.

Corroborando com essa ideia, Vanoye e Goliot-Lété (1994, p. 12) defendem a análise como um exame técnico. O filme não seria apenas visto, mas revisto e examinado.

Analisar um filme não é mais vê-lo, é revê-lo e, mais ainda, examiná-lo

tecnicamente. Trata-se de uma outra atitude com relação ao objeto-filme, que, aliás,

pode trazer prazeres específicos: desmontar um filme é, de fato, estender seu registro perceptivo e, com isso, se o filme for realmente rico, usufruí-lo melhor.

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Marc Ferro (2010, p. 90), no domínio da História, estabeleceu três aspectos para a análise das “atualidades cinematográficas (cinejornais)”. O primeiro aspecto é a “crítica da autenticidade”, depois a “crítica de identificação” e por último a “crítica de análise”. Esses aspectos também podem ser observados pelo analista que visa a representação da informação do conteúdo dos cinejornais. Ainda, o autor (2010, p. 98) alerta para a sedução que as imagens podem provocar.

As imagens fornecem uma espécie de energia de informação, que convém domar como se faz com um animal. Somos tomados pela força das imagens, dos discursos ou da música, não é possível, portanto, passar diretamente a um discurso de tipo magistral, pois esse tipo de discurso não 'colaria'.

O analista, portanto, deverá buscar um certo distanciamento do “encantamento” que as imagens podem provocar. As imagens devem ser submetidas ao analista e não o contrário. A tarefa não é fácil e nem simples. Os trabalhos já desenvolvidos nas áreas do cinema e da história, mediante a interlocução com a Ciência da Informação e a Arquivística, poderão dar o embasamento teórico necessário para a identificação de atributos e características que devem ser observados durante a análise de um cinejornal.

Vanoye e Goliot-Lété propõem uma diferença entre o espectador normal e o analista (1994, p. 18). A distinção entre um e outro foi esquematizada pelos autores em forma de um quadro comparativo. Cordeiro (2010), usando a comparação dos autores citados, observa que a atividade do analista pode ser cotejada com a do indexador quando ele realiza a leitura técnica do filme a ser representado no serviço de informação.

Quadro 1: comparação entre espectador normal e analista.

Espectador normal Analista

Passivo, ou melhor, menos ativo do que o analista, ou mais exatamente ainda, ativo de maneira instintiva, irracional.

Ativo, conscientemente ativo, ativo de maneira racional, estruturada.

Percebe, vê e ouve o filme, sem desígnio particular.

Olha, ouve, observa, examina tecnicamente o filme, espreita, procura indícios.

Está submetido ao filme, deixa-se guiar por ele. Submete o filme a seus instrumentos de análise, a suas hipóteses.

Processo de identificação. Processo de distanciamento.

Para ele, o filme pertence ao universo do lazer. Para ele, o filme pertence ao campo da reflexão, da produção intelectual.

Prazer Trabalho

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Resumidamente, ainda conforme os autores (1994, p. 18), o “analista e espectador 'normal' não receberiam portanto o filme da mesma maneira, pois o primeiro busca precisamente distinguir-se de forma radical do segundo, não se deixa dominar como o último pelo filme.”

Além das imagens em movimento (com ou sem som), o elemento sonoro também pode ser analisado. Jan Asmund Jakobsen relatou sua experiência com os cinejornais noruegueses durante o Congresso da Federação Internacional de Arquivo de Filmes, em 1993. Na oportunidade chamou a atenção para a importância do elemento sonoro.

Os meus próprios interesses, preocupações e experiências levam-me a recomendar, aos que estão planejando fazer pesquisas no mesmo campo, que sempre anotem a narração em off do início ao fim, uma vez que o texto falado domina o conteúdo, na medida em que se torna o fator principal da narrativa. (JOKOBSEN, 1996, p. 91). (tradução livre).

Barnier (2011, p. 57) esclarece que, geralmente, o som audiovisual é dividido em diálogos, músicas e ruídos. Podemos acrescentar no caso específico dos jornais cinematográficos a narração em off, visto que as imagens em movimento dos cinejornais da Agência Nacional, quase sempre, eram conduzidas por esse tipo de narração. Apesar de contribuir para o entendimento do que está sendo visto, não se deve atribuir à narração em off uma responsabilidade descritiva do conteúdo de um jornal cinematográfico.

Já vimos que o analista de filmes deve estar atento às imagens em movimento e ao som. Todavia, isso não parece ser suficiente. As imagens e sons oferecem múltiplas possibilidades de análise. Portanto, é necessário estabelecer critérios a partir de alguns princípios e práticas. Aumont e Marie (2011, p. 39) defendem a fixação de três princípios para a análise de filmes:

A. Não existe um método universal para analisar filmes.

B. A análise de um filme é interminável, pois seja qual for o grau de precisão e extensão que alcancemos, num filme sempre sobra algo de analisável.

C. É necessário conhecer a história do cinema e a história dos discursos que o filme escolhido suscitou para não os repetir; devemos primeiramente perguntar-nos que tipo de leitura desejamos praticar.

A análise de um filme com o objetivo de representá-lo por meio da descrição de conteúdo e termos de indexação pode gerar uma certa angústia. Como bem disseram Aumont e Marie (2011, p. 39), “a análise de um filme é interminável”. Logo, é necessário

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fixar a análise do filme na perspectiva da representação arquivística da informação. Para Fillion (1998, p. 239)

Seja como for, é ilusório pensar que a descrição, mesmo a mais detalhada, possa substituir a própria obra. Como para qualquer outro suporte, as várias informações que contêm os documentos cinematográficos obrigam inevitavelmente a efectuar uma escolha, informações essas que devem facilitar a recuperação e reduzir as longas horas de busca e de visionamento.

As escolhas serão diferentes dependendo do objetivo da análise fílmica e representação da informação. As escolhas de um analista que trabalha em um banco de imagens certamente não serão as mesmas de um analista que trabalha em uma instituição arquivística. Como já mencionado anteriormente, os documentos arquivísticos de um mesmo fundo, independentemente do suporte e do gênero, possuem uma relação orgânica e são organizados de maneira com que essa relação possa ser percebida.

As imagens em movimento devem ser lidas e interpretadas com critérios técnicos para que suas representações possam fazer sentido e consequentemente possam ir ao encontro das necessidades dos mais variados tipos usuários. Também é necessário pensar que tudo isso faz parte de um processo que não se esgota com a disponibilização dos documentos e das suas respectivas representações em sistemas de recuperação de informação e na web. Estamos diante de uma realidade viva e em transformação.

As argumentações e as referências citadas nesta parte do trabalho demonstram que a análise dos cinejornais da Agência Nacional no SIAN e no Portal Zappiens, que são meios de acesso e recuperação da informação, está, portanto, bem recepcionada nas reflexões e nas questões epistemológicas fundadoras e atuais da Ciência da Informação. Além disso, pode-se perceber que o aspecto interdisciplinar da área possibilita o diálogo com a Arquivologia, Cinema e História.

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3 OS CINEJORNAIS DA AGÊNCIA NACIONAL

Apresentamos um breve histórico da produção e exibição de cinejornais no Brasil, com ênfase nos jornais cinematográficos produzidos pela Agência Nacional. Destacamos também os esforços para a organização, preservação e disponibilização para acesso de um importante patrimônio audiovisual brasileiro.

Convém, antes de mais nada, esclarecer o que significa um cinejornal a partir de uma definição estabelecida em um dicionário especializado.

CINEJORNAL – Noticiário produzido especialmente para apresentação em cinemas. É geralmente um filme de curta-metragem. É geralmente um filme de curta-metragem, periódico, e exibido como complemento de filmes em circuito comercial. Diz-se também atualidades ou jornal da tela. (BARBOSA; RABAÇA, 1978, p. 94).

Isto posto, é recomendável ir ao cenário histórico da produção cinematográfica para se conhecer o contexto de produção e exibição dos jornais cinematográficos. Os autores Vanoye e Goliot-Lété (1994, p. 23) entendem que “analisar um filme é também situá-lo num contexto, numa história. E, se consideramos o cinema como arte, é situar o filme em uma história das formas fílmicas.” Nesse sentido, pretendemos nos próximos parágrafos contextualizar a produção e a exibição de cinejornais, com ênfase nos cinejornais produzidos pela Agência Nacional.

Os primeiros jornais cinematográficos, mais conhecidos como atualidades e cinejornais, apareceram no início das primeiras experiências cinematográficas. Os próprios irmãos Lumière (1909) experimentaram na Europa o uso desse tipo de curta-metragem informativo nos espaços que começavam a exibir filmes. De acordo com Capuzzo (1986, p. 17), “os primeiros filmes eram registros de curta duração sobre autoridades, fatos jornalísticos e alguns espetáculos de variedades”, estrutura bem próxima do que seria um jornal cinematográfico.

Assim como o próprio cinema, não demorou muito para que um cinejornal passasse a fazer parte da programação das salas que projetavam os primeiros filmes no Brasil. De acordo com o verbete “cinejornal” da Enciclopédia do Cinema Brasileiro (Ramos; Miranda (Org.) 2000, p. 133-134), Francisco Serrador, em 1910, produziu o Bijou Jornal para ser exibido em São Paulo, e Arnaldo e Cia. trouxe a marca da Pathé para a cidade do Rio de Janeiro. Nos anos posteriores outras empresas e companhias, como Cinédia, Atlântida, Primo Carbonari, também começaram a produzir cinejornais no país.

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A partir da década de 1930, por meio do Decreto n.º 21.240, de 4 de abril de 1932, passava a ser obrigatória a exibição de curtas-metragens de caráter informativo. O artigo15 do decreto estabelecia “a instituição permanente de um cinejornal, com versões tanto sonoras como silenciosas, filmado em todo o Brasil e com motivos brasileiros, e de reportagens em número suficiente, para inclusão quinzenal, de cada número, na programação dos exibidores.” Nessa época informativos produzidos por particulares, que recebiam incentivos do governo, eram exibidos nas salas de cinema antes do filme que estava em cartaz.

A primeira experiência do Estado na produção direta de cinejornais tem início em 1938 no Departamento Nacional de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC), que depois se transformou em Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). O DIP foi criado em 1939, no governo do então Presidente Getúlio Vargas, compreendendo os setores de divulgação, radiodifusão, teatro, cinema, turismo e imprensa. O Cinejornal Brasileiro produzido nessa época funcionou como um importante meio de propaganda da Era Vargas.

O Departamento de Imprensa e Propaganda começa a produzir documentários e jornais cinematográficos, e com a produção oficial institucionalizada as produtoras independentes perdem boa parte do seu mercado. Além da concorrência desigual, têm de enfrentar censura sistemática. Alguns produtores e cinegrafistas conseguem transformar-se em funcionários públicos, filmando diretamente para o DIP, ou para suas agências estaduais, mas a maior parte marginalizada. (GALVÃO; SOUZA, p. 472-473).

Com a publicação do Decreto-Lei n.º 7.582, de 25 de maio de 1945, o DIP é substituído pelo Departamento Nacional de Informações (DNI). Nesse decreto a Agência Nacional aparece como parte integrante do novo departamento ao lado da Divisão de Imprensa e Divulgação, com a Seção de Biblioteca; Divisão de Radiodifusão, com a Seção de Discoteca; Divisão de Cinema e Teatro, com a Seção de Filmoteca; e Divisão de Turismo; A Agência Nacional tinha um caráter meramente informativo e atuava na distribuição de noticiário e serviço fotográfico à imprensa da Capital e dos Estados.

O DNI existiu por menos de dois anos, sendo extinto pelo Decreto-Lei n. 9.788, de 6 de setembro de 1946. Entretanto, a Agência Nacional ficava mantida, subordinada diretamente ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Permanecia com a função “meramente informativa das atividades nacionais em todos os setores competindo-lhe ministrar ao público, aos particulares, às associações e à imprensa tôda sorte de informações sôbre assuntos de interêsse da nação, ligados à sua vida econômica, industrial, agrícola,

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social, cultural e artística.”11 Ficava incumbida de manter o jornal cinematográfico de caráter

noticioso e o boletim informativo radiofônico de irradiação para todo o país. Tinha como objetivo a divulgação dos atos oficiais e também a divulgação das realizações do governo federal por meio de imagens em movimento, registros fotográficos e gravações em áudio. Funcionou até 1979, quando passou a se chamar Empresa Brasileira de Notícias (EBN).

A partir da década de 1970 começa a diminuir a produção e exibição dos informativos cinematográficos nas salas do Brasil. De acordo com o verbete cinejornal (2000, p. 134), da Enciclopédia do Cinema Brasileiro,

A partir da década de 70, os cinejornais tornaram-se anacrônicos. O crescimento do número de televisores presentes nos lares brasileiros associado ao jornalismo produzido cada vez mais próximo do tempo real foram dois fatores que empurraram o cinejornal para fora do mercado. O terceiro foi o número cada vez maior de alfabetizados com acesso a jornais e revistas.

O jornal O Estado de São Paulo, do dia 26 de setembro de 1976 (ANEXO A), publicou um artigo sobre os planos da Agência Nacional. Os cinejornais seriam substituídos por documentários coloridos sobre o Brasil. As mudanças foram anunciadas pelo diretor da Agência Nacional na época, o jornalista Arnaldo Cavalcanti Lacombe. Na matéria do jornal o diretor “informou que toda a produção de cinejornais acaba de ser suspensa para iniciar, em breve, a serie de documentarios coloridos sobre o País, eliminando-se, assim, os filmes ruins, com iluminação e textos deficientes e divulgação de notícias superadas”.

No Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) estão cadastrados 145 (cento e quarenta e cinco) documentários, que datam dos anos 20 até os anos 80. A maior concentração está na década de 70, onde se pode verificar a existência de 106 (cento e seis registros). Tal constatação confirma a intenção dos novos rumos da Agência Nacional apontada pelo jornalista Arnaldo Cavalcanti Lacombe. Vale ressaltar que nem todos os documentários foram produzidos pela Agência Nacional. Encontra-se, por exemplo, na subsérie do SIAN o “Funeral de Rui Barbosa” (título atribuído), que foi produzido pela Brazilian Film. Os temas dos filmes da década de 70 eram os mais diversos possíveis. Iam desde “Agricultura no Rio Grande do Sul”, de 1974 até “Cidades mineiras do barroco”, de 1977.

É importante observar não apenas a produção de cinejornais, mas, sobretudo, a permanência dos cinejornais em instituições públicas. Percebe-se com isso a manutenção das

11 Art. 3º do Decreto-lei nº 9.788, de 6 de setembro de 1946. BRASIL. Decreto-lei nº 9.788, de 6 de setembro de 1946. Extingue o Departamento Nacional de Informações e dá outras providências. Disponível em:

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ideias comprometidas com as intenções do poder dominante. A seleção e a preservação de alguns acervos em instituições públicas acabam atribuindo valor a certos documentos em detrimento de outros. Para Le Goff (p. 535)

o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores. (grifo nosso)

Uma análise básica dos cinejornais da Agência Nacional revela a clara intenção de passar uma ideia de exaltação e prosperidade do Brasil. Ainda segundo Le Goff os monumentos são construídos com a intenção de lembrar e comemorar o que na maioria das vezes possui relação com o poder. Percebe-se, portanto, uma monumentalização12 dos

cinejornais, visto que o mesmo Estado produtor de cinejornais também é responsável pela preservação e acesso a esses documentos. Diante disso é de fundamental importância entender o contexto de produção e exibição dos cinejornais. Os motivos que levaram a diminuição até a completa paralisação da produção também merecem um destaque.

3.1 ASPECTOS DA HISTÓRIA ARQUIVÍSTICA E TEMÁTICAS RECORRENTES

A história arquivística dos cinejornais da Agência Nacional começa em 1982, quando a maior parte do arquivo de imagens em movimento foi recolhida ao Arquivo Nacional (em anos anteriores foram recolhidos os outros gêneros documentais como textos e fotografias). A história do arquivo de imagens em movimento da Agência Nacional está intimamente relacionada com o início das atividades de processamento técnico e preservação de documentos audiovisuais no Arquivo Nacional.

Mas, se uma seqüência enigmática de onze fotogramas, do final do século XIX, é o marco inaugural do cinema no Arquivo Nacional, não constitui entretanto um acervo. Para justificar a criação de uma seção de filmes, no início dos anos de 1980, durante a primeira fase de modernização institucional, foi preciso que uma montanha de latas de filmes produzida pelo governo (os cinejornais da Agência Nacional), ameaçada de destruição, fosse transferida para a antiga sede do Arquivo, também na Praça da República. A partir daqueles dias, um intenso programa de adaptação foi implementado. Técnicos estão sendo formados e preparados, um exercício permanente de atualização; espaços de guarda foram criados, tudo visando o novo desafio. (MOLINARI, 2003, p. 6).

12 Não é intenção neste trabalho desenvolver a temática monumentalização dos documentos. Para maiores esclarecimentos consultar: LE GOFF, J. “Documento/monumento”. In: ________. História e memória. São Paulo: Unicamp, 1990, p. 535-550.

Referências

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