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Incluímos, na categoria Estudos de concepções de professores, artigos que trouxeram pesquisas cujo objetivo foi analisar concepções de professores dos anos iniciais, formados ou

em formação, sobre conhecimentos científicos, letramento científico, importância do ensino de Ciências, materiais curriculares, além de fatores limitantes para a prática do ensino de Ciências nos anos iniciais.

Assim como o contexto do aluno e seus conhecimentos prévios influenciam diretamente o processo de ensino-aprendizagem, a conduta do professor em sala de aula também tem papel determinante. Os aspectos da formação do professor, valores, experiências prévias, condições contextuais, conhecimento de conteúdo e concepções sobre Ciências e sobre o ensino de Ciências são aspectos que influenciam em sua prática pedagógica e, consequentemente, na forma como o aluno vai aprender.

Quadro 9 – Lista de artigos da categoria Estudos de concepções de professores

AUTORES ARTIGO PERIÓDICO Ano, vol.,

FERNANDEZ, P. M.;

SILVA, D. O. e

Descrição das noções conceituais sobre os grupos alimentares por professores de 1ª a 4ª série: a necessidade de atualização dos conceitos

Ciência & Educação 2008, 14, 3

RAMOS, L. B. C.; ROSA, P. R. S.

O ensino de ciências: fatores intrínsecos e extrínsecos que limitam a realização de atividades experimentais pelo professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental

Investigações em Ensino de Ciências

2008, 13, 3

LANGHI, R.; NARDI, R. Formação de professores e seus saberes disciplinares em Astronomia essencial nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Revista Ensaio 2010, 12, 2

NIGRO, R. G.; AZEVEDO, M. N.

Ensino de Ciências no Fundamental 1: perfil de um grupo de professores em formação continuada num contexto de alfabetização científica

Ciência & Educação 2011, 17, 3

SILVA, M. D.; GONÇALVES, F. P.; MARQUES, C. A.

Práticas pedagógicas em Ciências da Natureza nos anos iniciais do Ensino Fundamental com estudantes cegos

RBPEC 2015, 15, 3

PIZARRO, M. V.; BARROS, R. C. S. N.; LOPES JUNIOR, J.

Os professores dos anos iniciais e o ensino de Ciências: uma relação de empenho e desafios no contexto da implantação de Expectativas de Aprendizagem para Ciências

RBPEC 2016, 16, 2

Fonte: elaborado pela autora.

A escola não é apenas o local onde aprendemos conteúdos curriculares: nela, construímos valores morais, sociais, culturais e científicos. Nesta perspectiva, Fernandez e Silva (2008) fizeram um estudo sobre os conhecimentos conceituais de grupos alimentares com professores dos anos iniciais, além de caracterizar as principais fontes de consulta que esses professores utilizam no planejamento de atividades sobre nutrição humana. Para os autores, a forma como o professor entende a nutrição humana é importante, pois a escola é um agente de

promoção de hábitos alimentares saudáveis, e o professor sendo participante desse processo pode influenciar positiva ou negativamente nas escolhas alimentares de seus alunos. Os livros didáticos de Ciências foram apontados pela pesquisa como a principal fonte de informação para o ensino da nutrição humana, mas manuais técnicos de alimentação e profissionais de saúde também foram citados. Como os livros didáticos tendem a ser usados como o principal material de consulta, e que ainda “reforça equívocos, estereótipos e mitificações com respeito às concepções de Ciências” (FERNANDEZ; SILVA, 2008, p. 459), as autoras reforçam a importância de a escola buscar profissionais de saúde para contribuir no ensino de nutrição, além de professores atualizados que tenham condições de promover ações de saúde e educação que envolvam toda a comunidade escolar.

Atualmente, as propostas curriculares têm dado maior ênfase ao ensino investigativo, sendo as atividades experimentais uma das diversas formas de ajudar o aluno a desenvolver sua capacidade investigativa. Para Ramos e Rosa (2008), são diversos os fatores que dificultam o professor a trabalhar com experimentação em suas aulas. Procurando analisar quais são esses fatores, os autores buscaram, nas declarações dos professores e nos livros didáticos usados por esses profissionais, as razões de realizarem tão poucas atividades experimentais no cotidiano das suas aulas de Ciências. Os resultados apontam para a falta de apoio da instituição, a falta de orientação pedagógica, a ausência de planejamento coletivo, o pouco preparo em cursos de formação inicial e continuada como os principais fatores mencionados pelos professores para não utilizarem a experimentação de forma sistemática em suas aulas. Os professores participantes assumem que seus alunos aprendem mais com atividades experimentais; porém, não oferecem essas atividades aos seus alunos regularmente. O estudo aponta, como um caminho para contornar esse quadro de escassez de experimentação nos anos iniciais, a oferta de um planejamento coletivo na escola, que possibilite a troca de ideias entre professores, coordenadores e especialistas, que promova o conhecimento científico e apresente opções de materiais curriculares mais acessíveis para o desenvolvimento da experimentação.

Para oferecer formação para os professores, é importante entender antecipadamente suas necessidades. O trabalho de Langhi e Nardi (2010) fez o levantamento das concepções alternativas de um grupo de docentes para responder se os cursos de formação os habilitam a abordar, em sua prática, os conteúdos essenciais de Astronomia. Os resultados apontaram para a necessidade de melhoria na qualificação docente em relação a saberes disciplinares e metodológicos específicos para o ensino de Astronomia, pois mesmo nos conteúdos essenciais os professores têm demonstrado muitos erros conceituais. Segundo os autores, há muitos conteúdos de Ciências que os professores não compreendem perfeitamente e acabam

desenvolvendo suas aulas baseadas em suas concepções prévias ou apenas repetindo o que está no livro. Dessa forma, podem reforçar concepções equivocadas dos alunos, transformando esse conhecimento prévio em um obstáculo para a aprendizagem significativa.

O trabalho de Nigro e Azevedo (2011) buscou verificar qual a importância que um grupo de professores dos anos iniciais atribui ao ensino de Ciências, comparado ao ensino de outras disciplinas; que objetivos atribuem ao ensino de Ciências; e o quanto se sentem preparados para ensinar Ciências. Os resultados demonstraram que os professores priorizam o ensino de leitura e escrita em detrimento de conteúdos, como os de Ciências. Esses professores atribuem, ao ensino de Ciências, objetivos relacionados principalmente à educação ambiental e ao ensino- aprendizagem de conceitos. Os professores participantes da pesquisa sentem-se seguros quanto às suas práticas, mas indicaram a necessidade de formação específica em Ciências para superarem suas defasagens quanto ao domínio conceitual desta disciplina.

A partir do relato de professores, Silva, Gonçalves e Marques (2015) buscaram entender como ocorre o ensino de Ciências para alunos com cegueira nos anos iniciais, buscando mapear as compreensões e ações relacionadas às práticas pedagógicas dos professores participantes. Os resultados demonstram que os professores participantes, em sua maioria, acreditam na ideia de compensação biológica, isto é, a aluno cego desenvolveria melhor a audição e o tato devido à cegueira. Para os autores, essa ideia pode induzir os professores a planejar atividades que valorizem o tato e a audição, principalmente no que se refere à adaptação de materiais curriculares. Outro aspecto destacado foi a importância da interação entre o aluno cego, o professor e os alunos videntes, de modo a fortalecer as aprendizagens e valorizar as diferenças. Por fim, os participantes destacaram a importância da colaboração entre diferentes profissionais, principalmente entre o professor e o professor especialista em Educação Especial. Essa interação, para os autores, pode ajudar o professor titular da turma a desenvolver novas formas de ensinar Ciências para alunos cegos como, por exemplo, auxiliar na produção de materiais adaptados.

Pizarro, Barros e Lopes Junior (2016) buscaram conhecer as percepções de professores sobre seus conhecimentos em alfabetização científica, os aspectos relevantes da sua formação para trabalhar os conteúdos de Ciências nos anos iniciais, quais atividades acreditam estimular o letramento científico, e de que forma avaliam as aprendizagens dos alunos. Os resultados, obtidos a partir da aplicação de um questionário, demonstram que os professores possuem conhecimentos sobre alfabetização científica de acordo com a definição acadêmica. Porém, esses professores admitem que o pouco conhecimento de conteúdo dificulta o desenvolvimento de atividades satisfatórias para o ensino de Ciências, e que necessitam de formação continuada.

Para os autores, é importante oferecer, aos professores, um espaço onde seus conhecimentos são valorizados, e avançar para o desenvolvimento de novas concepções sobre ensino, aprendizagem e avaliação em Ciências.

Uma ação de formação docente para os professores dos anos iniciais precisa, portanto, levar em consideração não apenas o que se acredita que eles não sabem, mas especialmente o que eles têm feito de relevante e que pode ser aprimorado para contribuir com a alfabetização científica dos alunos nos anos iniciais de escolaridade (PIZARRO; BARROS; LOPES JUNIOR, 2016, p. 434).

Os autores destacam o papel do estado em oferecer formação para os professores em áreas específicas, para que eles tenham condições de planejar aulas com atividades de ensino que atendam a currículos que são apoiados em expectativas de aprendizagem.

As concepções sobre um assunto, assim como a falta de conhecimento do conteúdo específico, podem determinar como o professor irá abordar um campo do conhecimento em sala de aula. Mesmo que não possua conhecimento aprofundado, o professor precisa de uma base para possibilitar aulas estimulantes aos seus alunos, que incentive a criatividade, a observação e o questionamento, e que o ajude a ampliar seus conhecimentos prévios e favoreça uma postura crítica sobre o mundo.