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5.2 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO DAS PROFESSORAS

5.2.1 O Planejamento

O planejamento é parte essencial da prática pedagógica do professor. É no planejamento que o docente traça os objetivos que quer alcançar, cria condições para a aprendizagem significativa, além de prever atividades que tornem suas aulas mais dinâmicas e atraentes para os alunos. É planejando que o professor desenvolve, a partir da identificação das características e das dificuldades de sua turma, as atividades que serão usadas no ensino dos conteúdos disciplinares. Nesta perspectiva, o planejamento norteia a prática docente em sala de aula. Segundo Libâneo (2013, p. 245),

O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos de sua organização e coordenação em face dos objetos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. O planejamento é um meio para se programar as ações docentes, mas é também um momento de pesquisa e reflexão nitidamente ligado à avaliação.

O autor traz os objetivos de aprendizagem como foco da prática pedagógica, ao afirmar que “os objetivos educacionais são uma exigência indispensável para o trabalho docente, requerendo um posicionamento ativo do professor em sua explicitação, seja no planejamento escolar, seja no desenvolvimento das aulas” (LIBÂNEO, 2013, p. 134). Nesta mesma direção, para Zabala (1998), os objetivos são o ponto de partida da prática pedagógica e o meio pelo qual o professor pode conduzir o ensino visando à aprendizagem dos alunos.

A complexidade da sala de aula exige que o professor esteja preparado para atender as diversas demandas que podem surgir durante o desenvolvimento de suas aulas. Nesse sentido, é importante que o planejamento contenha um conjunto de atividades que possibilitem atender, de forma flexível, as especificidades de seus alunos (ZABALA, 1998).

Para adaptar as aulas às necessidades dos alunos, é importante que as situações de aprendizagem favoreçam as diversas formas de interação, além de um planejamento que contemple atividades que possibilitem a produção de diferentes produtos e condutas. Desenvolver atividades em pequenos grupos ou individualmente, que permitam atenção

individualizada ao aluno, possibilita ao professor conhecer o processo que cada aluno segue para resolver um problema (ZABALA, 1998).

Durante o período de observação da prática das professoras, identificamos as diversas atividades que cada uma desenvolveu no ensino dos diferentes componentes curriculares. Perguntamos às professoras como era feito o planejamento das aulas e quais documentos norteavam o trabalho pedagógico. Tanto Briana quanto Kisco relataram que, no início do ano, ocorreu a reunião de planejamento anual em que, entre outras decisões sobre o ano letivo com todos os profissionais de educação da escola, o grupo de professoras do quarto ano, junto com o coordenador pedagógico, definiram a divisão dos conteúdos a serem trabalhados em cada bimestre letivo.

As professoras afirmaram que o Currículo em Movimento da Educação Básica do Distrito Federal (CMEB) e o PPP da escola foram os documentos norteadores para a definição dos conteúdos. Infere-se, pela fala das professoras, que durante o planejamento anual, a principal preocupação foi determinar em qual período do ano seriam trabalhados os conteúdos presentes no currículo, dispensando pouca atenção a como ensinar esses conteúdos.

Na Escola Cinza havia planejamento semanal coletivo e individual. No planejamento coletivo, os professores de cada ano – primeiro ao quinto ano – junto com o coordenador pedagógico, definiam semanalmente quais conteúdos seriam trabalhados e que atividades seriam desenvolvidas. Após definição dos conteúdos, as professoras elaboravam os materiais que seriam reproduzidos para serem entregues aos alunos nas aulas. De acordo com a professora Briana, as pesquisas para a elaboração desse material eram feitas principalmente em diferentes livros didáticos e sites com conteúdos educacionais.

A partir planejamento coletivo, a professora Briana planejava individualmente como os conteúdos e as atividades seriam trabalhados na sua turma. Briana relata que

[...] todos os dias eu sento, planejo a aula, planejo atividade, tento visualizar como que eu vou dividir a turma, como que eu vou dividir as atividades, principalmente quando é uma turma que nem essa, que a do ano passado só tinha 15 alunos, então assim, eu sabia qual era o problema, e era um só. Um, dois, no máximo. O restante você conseguia. Agora, essa turma desse ano não. É uma turma muito, como é que eu vou dizer? Muito heterogênea mesmo, muito diferente. Então eu tenho algumas que tem um grau de dificuldade muito grande, não deveria tá no quarto ano e que eu tento fazer outro planejamento. Como eu tenho aluno que, se eu deixar no ritmo da turma, eles se perdem e chega a ser sacanagem com eles, né. Então, assim, eu tento fazer uma mudança (PROFESSORA BRIANA, grifo nosso).

Diante desse relato, surgiu a questão: será que existe turma homogênea? Toda turma é heterogênea, pois um grupo de alunos pode ter maior ou menor condição de acompanhar as mesmas atividades propostas por um professor. Assim, não há por que se falar de turma

heterogênea, pois todas elas o são. O importante é o professor adaptar suas aulas com maior ou menor frequência, de acordo com o perfil da sua turma, pois em um grupo de alunos haverá sempre heterogeneidade nos ritmos de aprendizagem, nos interesses, nas formas de aprender, nas relações com o saber e na capacidade em compreender e assimilar novos conhecimentos.

Em relação ao planejamento das aulas de Ciências, a professora Briana relatou que segue o mesmo processo de planejamento, mas tenta incluir aulas práticas. Entretanto, apesar de afirmar a importância da prática no Ensino de Ciências, alegou que, por conta do nível de heterogeneidade da turma, não conseguiu desenvolver atividades práticas com muita frequência. Além da falta de espaços e materiais para este fim, a professora falou sobre a falta de apoio da escola no desenvolvimento dessas atividades.

Na Escola Azul, o planejamento coletivo ocorreu apenas na elaboração do plano anual, durante a reunião de planejamento, no início do ano letivo. Segundo a professora Kisco, a escola deixa a critério dos professores a forma como irão desenvolver os conteúdos ao longo dos bimestres. Entretanto, há um acompanhamento da coordenação pedagógica ao longo do bimestre, e culmina com reunião coletiva para avaliar o desenvolvimento das atividades e para traçar novas ações pedagógicas para sanar os problemas encontrados.

Os professores têm liberdade para definir as atividades que vão realizar para o ensino dos conteúdos curriculares definidos no CMEB, de que maneira e em que momento. Dessa forma, há espaço para que a docente possa planejar momentos para trabalhar outros aspectos que achar relevantes, além dos conteúdos obrigatórios e dos projetos da escola. Ao mesmo tempo que a professora tem liberdade e autonomia dentro de sala de aula, ela trabalha em equipe, pois o relato de experiências e resultados nas reuniões coletivas bimestrais permite a troca de ideias entre a equipe pedagógica. No trabalho pedagógico coletivo, os professores podem compartilhar ideias, articular conteúdos, planejar projetos e buscar soluções para as dificuldades encontradas.

A partir do planejamento coletivo e das especificidades de seus alunos, a professora Kisco planeja individualmente suas aulas e as atividades que serão desenvolvidas. Apesar das atividades propostas serem as mesmas para toda a turma, observamos que a professora tinha o cuidado em adaptá-las para as necessidades de cada aluno, diminuindo ou aumentando as dificuldades, permitindo maior tempo para a resolução de exercícios e provas quando necessário, dando maior suporte individualizado para os que demonstravam mais dificuldade, entre outros. Dessa forma, os alunos recebiam a ajuda que necessitavam de acordo com suas particularidades.

Além de respeitar as especificidades de seus alunos, Kisco tinha o cuidado de planejar atividades diversificadas, o que possibilita ao aluno exercitar diferentes competências. As atividades propostas incluíam aulas expositivas, saídas de campo, demonstrações de fenômenos, produção de desenhos, trabalho em grupo, atividades individuais, resolução de exercícios e projetos. Essa diversidade de atividades favorece diferentes graus de compreensão e níveis possíveis de realização pelos alunos.

Para o planejamento das aulas expositivas, a professora Kisco buscava usar principalmente o livro didático. Porém, ela não se limitava ao livro específico da disciplina. Em mais de uma ocasião ela usou texto do livro de Português para trabalhar Ciências, História e Geografia, além de livros literários e pesquisas na internet para aprofundar o conhecimento presente nos livros. Segundo seu relato, ela busca planejar as aulas de forma mais interdisciplinar possível, tentando amarrar uma aula com a outra.

Além das aulas expositivas, a professora Kisco planejou atividades de campo, aproveitando o espaço da unidade de conservação Jardim Botânico, que fica próxima à escola, para observação e culminância de atividades desenvolvidas em sala de aula. Os objetivos dessas atividades estavam relacionados a conteúdos já trabalhados em sala de aula. Para o planejamento das atividades externas, a professora contava com a contribuição dos alunos para definir todo o planejamento da atividade. Comunicava previamente os objetivos da atividade aos alunos para que soubessem o que se esperava deles no decorrer do processo. Explicar o significado da atividade e seus objetivos é uma maneira de tornar a atividade atrativa para o aluno, condição indispensável para se sentirem motivados a alcançar as aprendizagens objetivadas pelo professor (ZABALA, 1998).

Kisco também destacou que costuma incluir, em seu planejamento, palestras feitas por convidados externos. Para o primeiro bimestre, houve uma palestra sobre sensoriamento remoto, ministrada por um doutorando em Geografia. Foi explicado o que é sensoriamento remoto e sua utilidade, e demonstradas imagens de diferentes tipos de mapas. Foram utilizadas, também, imagens de satélite advindas do programa Google Earth da região da escola, para que os alunos pudessem identificar a localização da escola.

Com essa atividade, a professora possibilitou aos alunos conhecerem o uso prático do conteúdo estudado. A presença do especialista aumentou a curiosidade e o interesse dos alunos pelo conteúdo. Além de trazer o conteúdo de forma mais aprofundada com a presença de especialistas, a professora possibilita aos alunos a oportunidade de conhecer profissionais de áreas diversas.

Para as palestras, Kisco também convidava os pais que tinham interesse em falar sobre algum assunto de interesse das crianças. A segunda palestra foi sobre cultura indígena, ministrada por uma mãe de aluno que relatou sua visita a uma aldeia indígena, demonstrando fotos e objetos adquiridos durante a visita. Como cultura indígena é um conteúdo trabalhado todos os anos, os alunos puderam reconhecer diversas referências presentes nas fotos, como objetos, vestimenta, moradia.

Kisco nos relatou que busca envolver os pais nas atividades da escola ou no desenvolvimento de atividades de casa. Por exemplo, foi solicitado aos alunos que construíssem um boneco Cabeça de alpiste com os pais (tarefa de casa). Para garantir que a atividade fosse feita, a professora forneceu os materiais (comprados por ela) necessários para a confecção do boneco (meia, alpiste e serragem). Dos 18 alunos, apenas oito entregaram a atividade.

A coordenação coletiva é o momento propício para trocar experiências e traçar novos caminhos para os desafios encontrados diariamente em sala de aula. Essa responsabilidade não deve ficar apenas para a professora. A escola, por meio da equipe pedagógica, pode auxiliá-la no planejamento e oferecer formação continuada que vá ao encontro tanto das necessidades das professoras, quanto da escola. É importante que a professora se sinta amparada pela escola na sua busca de melhorar o ensino, por meio de um trabalho pedagógico coletivo que a ajude em seu planejamento e no cotidiano de sala de aula.