• Nenhum resultado encontrado

Os artigos que compõem a categoria Estudo de conhecimentos prévios são trabalhos que analisam os conhecimentos cotidianos dos alunos, relacionados a conhecimentos científicos e suas implicações para o ensino de Ciências.

Identificar os conhecimentos prévios não é tarefa fácil. Não basta conversar com os alunos para compreender o que eles sabem sobre o assunto. Para identificar os saberes que os alunos possuem, é importante que o professor proponha situações-problema, desafios que os obriguem a mobilizar o conhecimento que possuem para resolver tais desafios.

Quadro 8 – lista de artigos da categoria Estudo de conhecimentos prévios

AUTORES ARTIGO PERIÓDICO Ano, vol.,

FORTINI, A.;

AGUIAR JÚNIOR, O. G.

Água na vida cotidiana e nas aulas de Ciências: análise de interações discursivas e estratégias didáticas de uma professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental Investigações em Ensino de Ciências 2011, 16, 3 CASTRO, D. R.; BEJARANO, N. R. R.

O perfil de conhecimento sobre seres vivos pelos estudantes da COOPEC: uma ferramenta para planejar um ensino de Ciências

Revista Ensaio 2012, 14, 3

GARRIDO, L. dos S.; MEIRELLES, R. M. S. de.

Percepção sobre meio ambiente por alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental: considerações à luz de Marx e de Paulo Freire

Ciência & Educação 2014, 20, 3

SCHWARZ, M. L.; HERRMANN, T. M.; TORRI, M. C.; GOLDBERG, L.

“Chuva, como te queremos!”: representações sociais da água através dos desenhos de crianças pertencentes a uma região rural semiárida do México

Ciência & Educação 2016, 22, 3

Fonte: elaborado pela autora.

O trabalho de Fortini e Aguiar Júnior (2011) examinou como uma professora dos anos iniciais estabelece vínculos entre os conhecimentos prévios dos alunos e os eventos presentes no desenvolvimento de uma sequência didática sobre o tema água, para possibilitar aos alunos

uma reelaboração do conhecimento. A análise baseou-se na perspectiva sócio-histórica de Bakhtin para discutir “como são construídos e desenvolvidos os significados mediados pela linguagem e outros meios de comunicação” (FORTINI; AGUIAR JÚNIOR, 2011, p. 531). Para os autores, a escuta atenta, por parte da professora, das palavras e ideias dos alunos sobre o tema estudado, permitiu fazer um levantamento dos conhecimentos prévios, demonstrando que a participação das crianças é essencial para o planejamento e desenvolvimento das atividades. Essa escuta tem uma intencionalidade e, por isso, a professora provoca explicações sobre os conceitos e eventos, evitando dar respostas prontas. Ao retomar as ideias iniciais, usou exemplos e objetos do cotidiano, além de atividades experimentais como mediadores para a construção e reconstrução dos conceitos.

Ao planejar suas aulas, o professor usa uma série de ferramentas, buscando formas de alcançar os objetivos propostos. Neste sentido, o trabalho de Castro e Bejarano (2012) propõe o uso dos conhecimentos prévios dos alunos sobre seres vivos como ferramenta para o planejamento do ensino de Ciências. A pesquisa teve como objetivo levantar os conhecimentos prévios de alunos dos anos iniciais e descrever o contexto de ensino de Ciências na sala de aula das turmas observadas. Para discutir os pontos de vista e dúvidas acerca dos conteúdos espontâneos e científicos apresentados pelos alunos, foi oferecido aos professores desses alunos um curso de formação. Segundo os autores, ao entender o ponto de vista e as dúvidas dos alunos, o professor terá condições de planejar e desenvolver melhor as atividades que atendam as demandas dos alunos. Os professores participantes da pesquisa relataram ter dificuldades em valorizar alguns conteúdos sobre os quais os alunos demonstraram interesse e curiosidade, por falta de conhecimento e por não encontrarem as respostas nos livros didáticos, que satisfaçam as necessidades desses alunos. A distância entre os conhecimentos prévios dos alunos e os conhecimentos escolares, evidenciada na pesquisa, demonstra como é importante o professor incluir, em seu planejamento, esses conhecimentos, experimentos e atividades capazes de ressignificar e auxiliar o desenvolvimento dos conceitos das crianças.

Garrido e Meirelles (2014) buscaram apresentar a percepção de meio ambiente de alunos dos anos iniciais, com referência na Educação Ambiental Crítica. A ideia de percepção nesse estudo é aquela influenciada pelos sentidos e pelas cognições, e construídas a partir de experiências dentro de um contexto histórico e social. As informações foram obtidas a partir de desenhos, entrevistas e gravuras. Os resultados mostraram que alunos dos anos iniciais apresentam concepções naturalistas de meio ambiente, isto é, o meio ambiente é sinônimo de natureza, separada dos contextos social, político e cultural em que o ser humano está inserido. Apesar dessa visão naturalista, os alunos demonstraram percepções mais críticas quanto aos

problemas ambientais presentes em seu cotidiano, quando confrontados com imagens que permitiram associações com problemas ambientais diversos. Ao usar técnicas diversas, a pesquisa trouxe resultados sobre a compreensão que os alunos possuem da realidade, a partir de uma análise multidimensional, conferindo maior validade às informações coletadas.

Partindo do enunciado Desenhe tudo que lhe vem em mente quando falamos em água, Schwarz et al. (2016) verificaram quais são as representações sociais sobre a água apresentadas por crianças residentes no campo. Além da produção de desenhos, os pesquisadores dialogaram com os alunos e professores sobre o tema. A análise das obras foi feita delimitando seus contextos, para identificar qual foi a mensagem que a criança quis comunicar quando pensou na palavra água. Para as autoras, o desenho infantil é uma ferramenta importante para analisar as percepções das crianças sobre o mundo, e constitui um meio eficaz para avaliar o que a criança já sabe ou aprendeu; porém, não consegue explicar verbalmente ou pela escrita. Além de analisar o desenho, as autoras enfatizam a importâncias de considerar a explicação que as crianças fornecem sobre os seus desenhos. Ao analisar as representações sociais das crianças, as autoras puderam identificar as particularidades da região onde essas crianças vivem, os elementos do ambiente, a importância da vida comunitária, além de alguns valores e o forte sentimento de pertencimento e apego ao lugar em que vivem. Esse conhecimento pode ajudar no desenvolvimento de atividades educacionais interventivas adaptadas para estes estudantes.

Os trabalhos incluídos nesta categoria apontam para a importância de planejar aulas que partam dos conhecimentos prévios dos alunos e que considerem o contexto em que estão inseridos. Porém, como existem conteúdos mínimos a serem cumpridos, o professor precisa articular os conhecimentos e interesses dos alunos aos conteúdos escolares. Além disso, nem sempre todos os alunos terão conhecimentos prévios sobre um assunto e, nesse caso, a intervenção do professor será a de apresentar ideias mais gerais para que o processo de investigação se estabeleça.

Em seu planejamento, o professor deve estar comprometido em desenvolver ações que estimulem a participação do aluno e valorizem os seus saberes no processo de ensino- aprendizagem, além de ser coerente nas suas ações em sala de aula e na escolha das atividades pedagógicas.