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Antes de entrar em contato com as escolas, solicitamos previamente, junto à Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), autorização para a realização da pesquisa. De posse das autorizações, entramos em contato com a Escola Azul9 no dia 20 de setembro de 2018; e com a Escola Cinza10, no dia 24 de setembro de 2018. Foi apresentado, para a diretora e a coordenadora pedagógica, o projeto de pesquisa, como o trabalho seria desenvolvido e quem seriam os participantes diretos da pesquisa. A indicação das professoras foi feita pela escola, baseada nas características do projeto e no perfil das professoras. Tivemos uma conversa individual com as professoras indicadas para explicar, em linhas gerais, o projeto e os detalhes de como seriam feitas as observações e a entrevista.

Consideramos importante enfatizar para as professoras que iríamos observar todo o cotidiano da sua prática e que estaríamos presentes em todas as atividades desenvolvidas com os alunos, independente do componente curricular que estivesse sendo desenvolvido.

Começamos as observações no quarto bimestre do ano letivo de 2018; porém, devido à incompatibilidade de horários, não foi possível terminar as observações com o professor da Escola Azul. Por isso, tivemos que retornar à escola no primeiro bimestre de 2019. Como o professor anterior não lecionava mais na escola, foi indicada a professora Kisco11, com quem recomeçamos as observações.

As professoras foram convidadas a participar da pesquisa e aceitaram o convite espontaneamente, concordando com todas as etapas previstas para a obtenção dos dados. Elas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (apêndice A) para a participação nesta pesquisa.

9 O nome da escola é fictício. 10 O nome da escola é fictício. 11 Nome fictício.

A entrada nas salas de aula ocorreu de forma natural. Inicialmente, a professora apresentou a pesquisadora aos alunos, momento em que ela explicou que iria ficar um período acompanhando as aulas para conhecer como a professora trabalhava. Ainda, enfatizou a importância da participação deles no desenvolvimento da pesquisa. Entregou-lhes um convite e uma autorização para que seus pais/responsáveis assinassem (apêndice B).

Após as apresentações, a pesquisadora sentou-se no fundo da sala para acompanhar as atividades desenvolvidas. Nos primeiros dias, a presença da pesquisadora gerou muita curiosidade, mas rapidamente passou a fazer parte do grupo. O relacionamento da pesquisadora com as professoras e alunos foi bastante amistoso e descontraído, gerando laços afetivos ao longo da convivência.

4.1.1 Observação e registro de aulas

A observação é fundamental para o processo de pesquisa qualitativa do tipo etnográfico, estando presente em todas as etapas, da formulação do problema à análise de dados. Porém, sua importância fica mais evidenciada durante a obtenção de dados em campo. Sua maior vantagem está em vislumbrar os fatos diretamente onde acontecem, reduzindo, assim, a subjetividade presente em todo processo de investigação social.

No planejamento das observações, o pesquisador deve escolher, previamente, o foco de análise, delimitando o objeto de estudo, elaborando um plano de análise e objetivos prévios, para realizar uma observação controlada. As autoras Lüdke e André (1986, p. 25) descrevem que, para que a observação seja válida e fidedigna de investigação científica, precisa ser controlada e sistemática, necessitando, para isso, que o observador execute um planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa.

A observação ocorre em um contexto real entre pessoas que agem, comunicam-se e interagem. Por isso, é importante estar ciente que nossa inserção nas salas de aula sempre influenciará sua dinâmica, mesmo que minimamente. Apesar das possíveis influências geradas pela presença do observador, a pesquisa em campo é essencial, pois seria muito difícil compreender a dinâmica do processo sem estar envolvido e participando de forma direta.

Para esta pesquisa, acompanhamos as aulas de duas professoras atuantes no quarto ano do EF da SEEDF. Por meio da observação, acompanhamos a primeira professora do final de setembro ao final de novembro do ano de 2018; e a segunda professora, de março ao final abril de 2019. Não foi planejada nenhuma intervenção por parte da pesquisadora nas aulas. Porém, a partir do momento que os alunos se sentiram à vontade com a pesquisadora, passaram a agir

como se ela fosse uma professora auxiliar, que eles sempre buscavam para tirar dúvidas ou ajudá-los na execução de alguma atividade.

As duas professoras trabalhavam com planejamento semanal e com horários pré- estabelecidos para as aulas de Ciências. Contudo, observar apenas essas aulas não seria suficiente para entender como o ensino de Ciências estava inserido na prática pedagógica dessas professoras. Assim foi estabelecida, junto à orientadora do projeto, a observação de todas as aulas e a participação em todas atividades da turma no período delimitado, independente do componente curricular que estivesse sendo desenvolvido nas atividades. Essas observações proporcionaram contato direto e constante com as professoras e os alunos, além de uma melhor compreensão do objeto de estudo.

Para registrar essas observações, utilizamos um diário de campo. Esse diário de campo é um instrumento escrito aberto, onde registramos as observações quando elas ocorreram. Ele se constitui no “relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 150). Notas de campo detalhadas, precisas e extensivas podem determinar o resultado da pesquisa. Elas estiveram presentes tanto nos momentos de observação quanto nos de reflexão, pois, além de registrar nossas impressões imediatas dos acontecimentos, atividades e conversas, registramos ideias, reflexões, questionamentos e padrões observados.

Além da observação de aulas, tivemos acesso aos materiais curriculares utilizados, avaliações, atividades diárias dos alunos, plano de ensino anual e caderno de planejamento das professoras para tentarmos entender como o ensino ali registrado estava relacionado ao que foi observado nas aulas e aos discursos das professoras.

4.1.2 Entrevista

A entrevista é um instrumento de obtenção de dados não documentais muito utilizada em pesquisas qualitativas. É usada para recolher dados descritivos na fala do entrevistado, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma noção sobre como os sujeitos significam os aspectos pesquisados. É uma forma de interação social, com um diálogo assimétrico, onde uma das partes busca informações e a outra se apresenta como fonte de informação. Para as pesquisadoras Ludke e André (1986, p. 34), “a entrevista permite correções, esclarecimentos e adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas [...] a entrevista ganha vida ao se iniciar o diálogo entre o entrevistador e o entrevistado”.

Dentre as vantagens citadas por Gil (2010), destacamos as grandes possibilidades de respostas obtidas por meio das entrevistas, a maior flexibilidade na adaptação das perguntas a praticamente qualquer tipo de pessoas, e a possibilidade de captar as expressões corporais do entrevistado, a tonalidade de voz e ênfase nas respostas. O autor também destaca algumas desvantagens, como a falta de motivação do entrevistado, o fornecimento de respostas falsas, influência exercida pelo entrevistador sobre o entrevistado, e a influência das opiniões pessoais do entrevistador em relação às respostas do entrevistado. Porém, devido à grande flexibilidade da entrevista, muitas dessas dificuldades podem ser contornadas.

Neste trabalho, adotamos um estilo de entrevista mais aberto, com questões semiestruturadas que foram sendo complementadas conforme necessidade, a partir de um roteiro inicial (apêndice C). Esse modelo de entrevista dá ao pesquisador a oportunidade de esclarecer as respostas sobre o objeto investigado com a inclusão de novas perguntas, e permite que o investigado responda de forma mais flexível e espontânea. Criamos oportunidades para situações de narrativas, a fim de verificar “como os próprios sujeitos estruturam o tópico em questão” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 135).

Ao final do período de observação das aulas, marcamos a entrevista conforme disponibilidade das professoras, de acordo com a conveniência de cada uma, para que se sentissem à vontade e pudessem se expressar livremente. A entrevista foi importante para entendermos a visão que o professor tem da sua prática, e podermos relacionar com o que foi observado. Além das transcrições das entrevistas incluímos, nas análises, informações obtidas durante conversas informais. Esses diversos momentos de trocas de informações, durante ou logo após o desenvolvimento de uma atividade, foram importantes para sanarmos dúvidas que surgiam no momento da observação.