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CAPÍTULO III – REVISÃO DA LITERATURA

4.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

4.2.2 Metodologia de investigação

4.2.2.1 Estudo de caso exploratório

Segundo Vieira (2002) o estudo exploratório, procura explorar um problema, ou uma situação, para dele se obter uma melhor compreensão, servindo-se de métodos bastante amplos e versáteis, tais como: pesquisas em fontes secundárias (bibliográficas, documentais, etc.), levantamentos de experiência, estudos de casos selecionados e observação informal (in loco).

Como referem Mattar e Auad (1997), o estudo exploratório é apropriado para o esclarecimento de práticas e procedimentos pouco conhecidos, possibilitando uma investigação do tema de modo a aprofundar o conhecimento. Referem ainda os autores que, numa investigação exploratória, não há preocupação com a representatividade da amostra, porque não se pretende generalizar os resultados mas, antes, garantir a sua qualidade.

Como se depreende, a pesquisa baseada em estudos exploratórios, é composta de descrições precisas da situação em análise e tenta descobrir as relações existentes entre os elementos componentes da mesma. Assim, o estudo exploratório parece-nos ser a metodologia de investigação mais adequada a adotar na nossa pesquisa.

Dado tratar-se do primeiro estudo realizado em Portugal sobre esta temática e que procura compreender um procedimento não suficientemente esclarecido quanto á sua aplicação prática, i.e., a aplicação dos testes de imparidade do goodwill, a metodologia que melhor se adequada à realização da investigação é a de um estudo exploratório.

Os estudos empíricos realizados em Portugal, são obras de inegável qualidade técnica e científica, levadas a cabo por proeminentes investigadores e que constituem obras de referência na nossa escassa literatura sobre as imparidades do goodwill (Rodrigues, 2003; Carvalho, 2003; Carvalho et al., 2008; Carvalho et al., 2010; Carvalho, C., Rodrigues, A. M., Ferreira, C., 2012). Contudo, o facto de estes estudos se limitarem à análise documental dos elementos das empresas estudadas, consubstanciadas nos seus relatórios e contas, constitui um forte handicap na obtenção de conclusões mais sustentadas e definitivas.

O nosso estudo, para além da análise documental, composta pelos relatórios e contas dos grupos estudados, estende-se também numa perspetiva prática em torno da realização dos testes, que permita entender que procedimentos efetivamente são necessários para a sua realização, os que representam maiores dificuldades, que profissionais se envolvem no processo e que tempo é despendido para a sua realização.

A recolha de dados através de entrevistas aos principais responsáveis pela realização dos testes de imparidade do goodwill, representa um inestimável acréscimo de qualidade, completude e relevância na obtenção da informação pretendida.

Tratando-se este trabalho de uma pesquisa exploratória, o método que vamos usar na sua realização consubstancia-se num estudo de caso, confinado à análise dos dados de duas empresas, numa base maioritariamente de índole qualitativa, mas complementada com o recurso a dados quantitativos sempre que a sua utilização permita uma melhor compreensão do objeto em estudo.

Conforme refere Ponte (2006), o estudo de caso tem como objetivo compreender com o máximo de profundidade possível, o “como” e os “porquês” de determinado fenómeno ou acontecimento, procedendo-se à sua identificação e à descrição das suas características próprias, incidindo especialmente sobre os aspetos que interessam ao investigador. Para o autor, o estudo de caso desenrola-se em torno de uma situação bem determinada, de contornos específicos e num contexto devidamente circunscrito, no sentido de fornecer ao investigador todo um conjunto de informações que lhe possibilite a sua integral compreensão.

Assim, o estudo de caso consiste num método de investigação, centrado no estudo e na análise de um fenómeno no seu contexto real, procurando-se avaliar as decisões tomadas, o porquê da tomada dessas decisões e que resultados se obtiveram (Segatto, 1996).

Deste modo, o estudo de caso é a metodologia adequada quando, num contexto real de trabalho, o investigador se limita a observar o fenómeno em estudo, sem qualquer intervenção que possa alterar os resultados do mesmo, procurando compreender a fundamentação e pressupostos para o desenvolvimento do processo, os meios e procedimentos empregues para a obtenção dos resultados e as suas consequências.

O regime de imparidades do goodwill é um fenómeno complexo e recente, de difícil compreensão pelos stakeholders das DF. A única fonte de obtenção de dados publicamente disponível é limitada aos relatórios e contas das empresas, cuja informação relativamente aos requisitos de divulgação exigidos pelas normas é muitas vezes incompleta, inconsistente, ou mesmo inexistente. Neste contexto, o método de investigação apropriado

é o estudo de caso, que se serve, para além da análise documental, de outras importantes ferramentas, tais como, a observação, a indagação e as entrevistas aos preparadores e responsáveis pela realização dos testes.

Tratando-se de um estudo de caso, a investigação foi realizada em apenas duas empresas, uma com valores cotados e outra sem valores cotados, que preparam contas consolidadas e que reconhecem goodwill nos seus ativos. A consolidação de contas é um requisito indispensável, dado que, os grupos de empresas que a efetuam (exigível apenas em determinadas condições consignadas na lei21) registam as diferenças de consolidação ou

goodwill, resultantes das aquisições de outras empresas em processos CAE. É

precisamente sobre o tratamento contabilístico dessas diferenças de consolidação ou

goodwill (positivo) que o nosso trabalho se irá focar, no que respeita à sua mensuração

subsequente.

Ambas as empresas-mãe consolidam contas por obrigação legal, e pertencem a grupos não financeiros, desenvolvendo os seus objetos sociais nas áreas da indústria transformadora, tendo apenas uma delas as suas ações admitidas à cotação na Bolsa de Valores de Lisboa (BVL).

Para uma melhor perceção da dimensão e caracterização dos grupos analisados, fornecemos alguns dados relativos ao período de 2012, sendo que os primeiros apresentados em cada item dizem respeito ao grupo com valores cotados e os valores monetários se encontram expressos em milhares de euros (K.€):

Volume de negócios: 481.000; 461.000 – Gastos com o Pessoal: 84.000; 58.000 – Ativo Liquido Total: 976.000; 680.000 – GW: 18.000; 192.000 – GW/ALT: 1,94%; 28,26% - N.º de empregados: 3.051; 2.062.

Não são prestadas mais informações dos grupos, tais como, número de empresas incluídas no perímetro de consolidação, localidade da sede social, áreas das atividades desenvolvidas, entre outras, por questões de confidencialidade de dados e como medida da sua proteção.

A seleção das empresas não foi tarefa fácil. Primeiro tivemos a necessidade de, através de um trabalho de pesquisa preliminar, aceder às DF do maior número de grupos empresariais possível e de entre eles, selecionar os que reconheciam goodwill nos seus balanços. Depois, iniciámos os contactos por telefone, no sentido de nos ser concedida uma reunião com os responsáveis pela realização dos testes de imparidade do goodwill nesses grupos, para presencialmente nos podermos apresentar, e que nos proporcionasse a possibilidade de explicarmos o âmbito e o objetivo do nosso trabalho. Foi-nos quase sempre indicado como responsável pela prestação das informações pretendidas o diretor financeiro, mas, em abono da verdade, nunca conseguimos promover essa reunião. Geralmente, após várias tentativas telefónicas, era-nos facultado o endereço eletrónico do diretor financeiro, com quem de imediato entrávamos em contacto, por essa mesma via. A maioria dos grupos empresarias, por uma ou outra razão declinou a nossa pretensão, sendo a justificação mais usada, o período de férias, que acaba por fazer sentido, pelo facto de uma parte substancial dos contactos, se ter realizado nos meses de julho, agosto e setembro. De alguns grupos, contudo, nunca obtivemos qualquer resposta às nossas pretensões, ficando implícita a ideia que as dificuldade na seleção das empresas se deve à complexidade da matéria objeto de estudo e aos altos graus de subjetividade associados.

Após meses de contactos, conseguimos que se abrissem as portas de dois grupos. A nossa intenção, de resto conseguida, era a de realizar o estudo em duas realidades diferentes: num grupo com valores cotados e noutro sem valores cotados, tentando perceber se, a necessidade de prestação de mais informação e a um número maior de entidades por parte do grupo com valores cotados, para além da sua maior dimensão, significaria a produção de relatos e divulgações financeiras de maior detalhe e qualidade.

Como neste tipo de estudo, não se pretende a recolha de dados de uma amostra representativa de uma população, nem esse é um dos requisitos dos estudos exploratórios, cuja preocupação não é a de generalizar os resultados, mas a qualidade da amostra (Mattar e Auad, 1997), sentimos que com estes dois grupos reuníamos condições para a sua realização. O objetivo do estudo prende-se com a observação no terreno de todos os procedimentos e técnicas usadas na realização dos testes de imparidade do goodwill e o grau de cumprimento dos requisitos exigidos pelas normas, no contexto circunscrito às

práticas específicas das duas empresas, que constituem, como mencionámos, a nossa amostra.