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RESUMO DAS IDEIAS CHAVE DA REVISÃO DA LITERATURA

CAPÍTULO III – REVISÃO DA LITERATURA

3.3 RESUMO DAS IDEIAS CHAVE DA REVISÃO DA LITERATURA

Podemos retirar da revisão da literatura algumas ideias chave resultantes da adoção do novo regime da mensuração subsequente do goodwill, à luz das IFRS, e que se poderão sintetizar nos seguintes pontos:

Alto grau de complexidade e de detalhe (Carlin et al., 2007);

• Incumprimento generalizado das normas (Petersen e Plenborg, 2010);

Custos e riscos associados às difíceis tarefas de preparação das DF (Seetharaman et

al., 2006; Carlin et al., 2007);

Elevados montantes de goodwill e valores mais baixos do que os espectáveis de ativos intangíveis identificáveis (Forbes, 2007);

• Dúvidas sobre os ganhos de transparência e rigor relativamente ao modelo contabilístico anterior (Seetharaman et al., 2006; Carlin et al., 2007; Forbes, 2007; Jahmani et al, 2010); e

• Baixos níveis de divulgação das matérias que as normas exigem explicações de maior detalhe (Carvalho et al., 2008, 2010; Carlin et al., 2007, Petersen e Plenborg, 2010) .

Fica por se perceber, ainda, as razões de níveis tão altos de incumprimentos das normas e de divulgações tão pobres, sugerindo alguns autores que isso se deve a uma adaptação das normas à realidade das suas estruturas económicas e organizacionais ou a dificuldades na transposição da teoria à pratica (Petersen e Plenborg, 2010), ou ainda, a falta de experiência da aplicação do novo regime o que apenas o futuro poderá confirmar (Carlin et

al., 2007) .

Contudo, os mesmos autores em 2010, realizaram um novo estudo às maiores empresas Australianas e da Nova Zelândia com valores cotados em bolsa, três anos após, portanto, a realização do estudo que levantou a hipótese do incumprimento generalizado das normas se dever a falta de experiência na implementação e execução do intrincado processo da mensuração do goodwill.

A conclusão retirada é a mesma: o incumprimento generalizado das IFRS, em especial na falta da divulgação exigida pelas normas em matérias que entendem da maior relevância, como a taxa de desconto utilizada no cálculo da quantia recuperável. Alegam que tal situação carece de uma atenção redobrada das entidades normalizadoras, em tudo o que diz respeito aos problemas de qualidade dos relatos financeiros, da confiabilidade das avaliações do goodwill e do estatuto a ser conferido às DF elaboradas à luz das IFRS. Petersen e Plenborg (2010), argumentam que da análise às empresas dinamarquesas, os maiores erros e inconsistências encontrados na abordagem dos testes de perdas por imparidade do goodwill são os seguintes:

• O número de UGC é inferior ao número de segmentos operacionais;

A falta de testes de imparidade ao nível de grupo, quando o goodwill e ativos corporativos não foram alocados a um nível mais baixo que o nível de grupo;

• Erros no cálculo da taxa de desconto antes de impostos;

• Incorporação incorreta do risco sistemático nos fluxos de caixa ou na taxa de desconto; e

Não poderíamos deixar de referir o único artigo que encontrámos na revisão da literatura que, em contra ciclo com todas as conclusões empíricas analisadas, apresenta evidências que a abordagem das imparidades do goodwill de acordo com as IFRS, produz efeitos positivos na avaliação das empresas. Este estudo, realizado a uma amostra de 528 observações anuais retiradas das 500 maiores empresas com valores cotados do United

Kingdom (UK), nos períodos de 2005 e 2006, demonstrou que existe uma relação negativa

entre a divulgação das perdas por imparidade do goodwill e o valor de mercado, o que sugere que os investidores entendem estes reportes de perdas divulgados pela gestão, como informação útil e fiável para a avaliação das suas empresas ( AbuGhazaleh et al., 2012). Esta conclusão é em tudo contrária aos resultados retirados de um estudo realizado por Li e Sloan (2011), cujas evidências claramente indicam que a contabilização do goodwill à luz das SFAS produz divulgações que não refletem integralmente o subjacente benefício económico daquele ativo, que as imparidades do goodwill são reiteradamente diferidas, e sobretudo, que os anúncios das imparidades do goodwill provocam insignificantes reações nos mercados, comparadas com a magnitude dessas imparidades.

Além disso, referem os autores que a SFAS 142 não cumpre com os objetivos, uma vez que não consegue que a gestão divulgue informação privada acerca dos fluxos de caixa futuros e que os diferimentos reiterados das imparidades do goodwill condicionam os firmes propósitos do FASB em produzir informação mais fiável e transparente, pela deterioração permanente do desempenho operacional das entidades.

Depois de efetuada a revisão da literatura, reforçamos a nossa convicção que as normas internacionais de contabilidade relativas ao tratamento do goodwill são complexas e de difícil aplicação e monitorização. Elas tentam regular e criar linhas de orientação que permitam mensurar e reconhecer uma realidade complexa, fundada na imaterialidade, dimensão que, pela natureza humana, é tão incompreensível quanto irrepresentável.

Patrimonializar ativos cujos valores dependem de fatores não mensuráveis como a confiança de mercados e investidores, o futuro desempenho dos RH, a volatilidade dos mercados de capitais, entre outros, será como ensaiar a reprodução quantificada e qualificada dos “estados de alma”, num determinado momento, de cada um de nós.

CAPÍTULO IV – INVESTIGAÇÃO – ESTUDO DE CASO

4.1 - INTRODUÇÃO

Com a adoção das IAS/IFRS, o referencial contabilístico português sofreu profundas alterações. Uma dessas alterações diz respeito ao tratamento contabilístico do goodwill, em especial à sua mensuração subsequente.

Pretende-se neste estudo analisar e avaliar em concreto, se os procedimentos prescritos na IAS 36, relativos à realização dos testes de imparidade do goodwill, estão a ser adequadamente aplicados na prática, e se não estão, que razões de base justificam o incumprimento.

Pretendemos saber, também, e de acordo com a abundante literatura internacional baseada em estudos empíricos e amplamente divulgada, se os comportamentos discricionários da gestão permitidos pela IAS 36, neste processo relativo às imparidades do goodwill, são corroborados no nosso estudo.

Neste contexto, delineámos no início deste trabalho como meta a atingir, traçar uma perspetiva sob um ponto de vista prático, da realização dos testes de imparidade do

goodwill e dos graus de cumprimento das normas adotadas nessa matéria, meta que a ser

atingida, justificará a sua realização.

É nossa convicção que este estudo pode assumir um papel de relevo na investigação em Portugal nesta matéria, dado a componente de pioneirismo que indelevelmente o marca, e poderá constituir um ponto de partida para futuras pesquisas, em torno da qualidade dos testes de imparidade do goodwill.

De facto, enquanto em termos internacionais se têm realizado estudos empíricos sobre a temática relativa à realização de testes de imparidades do goodwill e das dificuldades e grau de cumprimento dos profissionais que os realizam (e.g., Massoud e Raiborn, 2003; Poll, 2004; Carlin et al., 2007; Petersen e Plenborg, 2010 e Biancone 2011), essa realidade é bem diferente no nosso país, constituindo o nosso trabalho o primeiro passo na investigação do tema em contexto real, condição que acaba por constituir mais uma fonte de forte motivação para a sua realização.