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01 Na: muita gente que esTÁ (.) in relAtionship, 02 tem namoRAdos (.) mas não gOstam de namorados;

2.4 Estudos sobre identidade e categorias de pertencimento

2.4.2 Estudo de identidade como categorias de pertencimento

Para orientar os estudos de identidade como parte do estudo de categorias de pertencimento, constata-se que os aprendizes, como membros de uma cultura, ordenam conhecimentos categoricamente de acordo com suas percepções e interpretações do mundo social e as organizam em coleções de categorias. Consequentemente, compreende-se a identidade como uma questão de pertencimento, ou seja, o que o aprendiz de PLE observa ter em comum com os outros aprendizes na interação em sala de aula e o que o diferencia dos demais por uma constatação dos conhecimentos linguísticos e culturais nas práticas sociais.

A presente pesquisa contribui no entendimento de como a fala-em-interação é moldada pelo gerenciamento das categorias de pertencimento e por atividades a partir de ações dos membros competentes na interação comunicativa. Já que essas categorias são relacionadas à experiência, ao conhecimento ou à competência dos participantes, reflete-se sobre a aprendizagem de PLE no que se refere a que modo aprendem a participar das práticas de fala-em-interação na sala de aula, e como essas experiências podem contribuir para a participação em esferas sociais. A sala de aula de PLE é visivelmente um local de negociação das identidades dos participantes representado pela categorização de co-pertencimento baseado na conduta durante a fala-em-interação.

Assim, a negociação identitária se dá nas interações por meio de questões de pertencimentos culturais. Vale ressaltar que há características relevantes por certos membros de uma categoria e as análises das interações dos aprendizes de PLE mostram que, ao aprender a nova língua-cultura, eles utilizam práticas de categorização aceitáveis para estabelecer uma relação de interação e compreensão entre o professor e os outros aprendizes.

Quando foi professor de Antropologia e Sociologia na Universidade da Califórnia, Sacks realizou pesquisas em colaboração com Harold Garfinkel, Schegloff e Jefferson estabelecendo os pressupostos teóricos e metodológicos da Análise da Conversa (AC). Sacks ampliou seus estudos sobre a compreensão prática de categorização de pertencimento no âmbito do uso da linguagem em interação e desenvolveu as análises de “Mecanismos de Categorização de Pertencimento”, MCP, ou Membership Categorization Analysis, MCAs em seu livro Lectures in Conversation (SACKS, 1992).

O MCP refere-se a um princípio organizador de categorias, como exemplificado por Sacks ao MCP “família”, que abrange as categorias “bebê”, “mãe”, “pai”, “filhos”. Sacks investiga como as pessoas percebem e se relacionam em sociedade e como as pessoas se categorizam em grupos com o objetivo de prever o comportamento dos mesmos, agregando noções e ideias a comportamentos cotidianos, como por exemplo, na história do bebê que chora e a mãe o pega no colo. Pegar um bebê no colo pode ser interpretado como uma norma ou atividade cotidiana realizada pela mãe, pois, quando ele chora, logo a mãe o pega no colo. Ações de ordem diversas conectam-se e definem o pertencimento a diferentes categorias como o exemplo do “bebê”, permitindo a aceitabilidade social de uma categoria. A categoria ‘bebê chorando’ é observada como uma atividade categoricamente conectada, category-bound activity (SCHEGLOFF, 2007, p. 470-471).

Sacks intitulou de Pn-adequadas, Pn-adequate21, as categorias de uma coleção que

podem ser classificadas por qualquer membro de uma população sendo indefinida ou descaracterizada. Isso implica apontar que “qualquer um que pode ser categorizado por alguma categoria de um dispositivo – diga-se, feminino - pode ser categorizado por uma categoria diferente de um dispositivo diferente - 45 anos de idade pertencente ao MCD de idade”22 (SCHEGLOFF, 2007, p. 468). Logo, as categorias de pertencimento são unidades

organizacionais e cada conjunto de categorias classifica uma população, sendo assim, as Pn- adequadas são organizações de afiliações e coleções que servem para categorizar qualquer membro de qualquer população.

Seguindo o conceito de Sacks, observa-se que, para que os participantes de uma categoria sejam incluídos ou não a um determinado grupo, é necessária uma adequação, ou seja, ações de similaridades que podem definir uma pessoa como pertencente a um grupo conforme o contexto interacional. Logo, conclui-se que as categorias Pn-adequate são aplicáveis a qualquer pessoa se adequando a dispositivos de categorizações, como por exemplo, sexo ou idade. Para o analista, pertencer a uma das categorias não é garantia entre os membros de que se tornará relevante na interação. Em outras palavras, os dispositivos podem ter propriedades específicas para ocasiões específicas, a categorização de membros sugere a seleção desses dispositivos.

21 Dispositivo de categorização de população. (SACKS, 1992, p. 40)

22 “anyone who can be categorized by some category from one device – say, female – can be categorized by a different category from a different device – say ‘45-year old’ from the MCD ‘age’” (SCHEGLOFF, 2007, p. 468)

Schegloff afirma que “a produção do mundo pelo participante foi ela própria informada por esses dispositivos de categorização particulares”23 (SCHEGLOFF, 2007, p.

475). Assim, a análise de como os participantes constroem e negociam as categorias na fala- em-interação contribui para o entendimento de como o conhecimento de senso comum é acionado e sustentado pelos aprendizes na sala de aula de PLE a partir da invocação dessas categorias. Essa análise contribui para a reflexão sobre o entendimento das identidades que os participantes em interação na sala de aula de PLE assumem, e sobre a compreensão das relações de participação na fala-em-interação produzidas pelo gerenciamento das categorias de co-pertencimento.

O conhecimento do senso comum se organiza pela categorização de co-pertencimento, ou seja, diz respeito ao compartilhamento de conhecimentos e expectativas dos participantes na realização das atividades sociais e das ações de suas expectativas. Por ser um dispositivo de controle social (SACKS, 1992, p. 42), as categorias de co-pertencimento lidam com práticas aplicáveis que são gerenciadas pelos membros da sociedade. Assim, os participantes na fala-em-interação acionam categorias de um estoque de conhecimento e os recriam nas suas realizações, mostrando o entendimento e a organização da ordem social. Na sala de aula de PLE, investiga-se como os participantes gerenciam o entendimento da organização das categorias em coleção e como classificam as categorias não nomeadas diretamente na fala, como por exemplo, a categorização sobre a cultura chinesa, fato mencionado e concordado por todos os participantes (aluna norte-americana, Na, aluno colombiano, Co, e professor de PLE, Br) na interação da filmagem 1 (parte 02) de que os chineses são péssimos motoristas, aspecto relevante a essa cultura.

Sequência 5: 2015VINaCo08((12:50-13:19))

01 Na: ahm quais são os estereÓtipos que VOcês têm, 02 nos estAdos unidos sobre as pessOas da CHIna. 03 T: (1.0)

04 Na: aham MUIto sImples;

05 deriir diri condUzir (.) eles RUim; 06 Co: [((ri)) ]

07 Na: [HA sIm,]