• Nenhum resultado encontrado

01 Na: muita gente que esTÁ (.) in relAtionship, 02 tem namoRAdos (.) mas não gOstam de namorados;

2.4 Estudos sobre identidade e categorias de pertencimento

2.4.1 Identidade e face

John J. Gumperz e Jenny Cook-Gumperz, em Introduction: language and the communication of social identity (1982), definem a identidade como o resultado de processos de identificação com determinadas comunidades de fala, ou seja, as diferentes identidades sociais são construídas a partir de aspectos culturais, linguísticos e sociais negociados por cada indivíduo em um evento interacional. Na interação intercultural, os significados sociais construídos e negociados diferenciam um participante do outro. Uma pessoa pode negociar

18 “Learning a foreign language is more than acquiring a set of grammatical, lexical, and phonological forms of language. More importantly, it is a ‘reconstruction of selves’” (ZACHARIAS, 2010, p. 27).

sua identidade social de acordo com categorizações que sustentam a interação e podem ser gerenciadas por indivíduos a fim de atingir objetivos na interação.

Ressalta-se que a negociação de pertencimento na interação face a face ocorre quando os professores e aprendizes de PLE tornam relevantes as suas identificações em relação a uma identidade social. A interação intercultural, foco de análise desta pesquisa, é uma situação em que os falantes usam e negociam suas identidades, onde não somente negociam formas de participação social, mas também linguagens, fornecendo categorizações pertinentes a cada momento na interação. Nesse sentido, destaca-se que a negociação de identidades dos participantes é dinâmica e criativa, pois eles negociam constantemente construções sociais a partir de categorizações de pertencimento. A dinamicidade dessas relações no evento intercultural é destacada nas relações em que um participante adota tanto traços do grupo interacional, identificando-se com uma determinada identidade social, como adota características de outra identidade cultural.

Gumperz e Cook-Gumperz (1982) afirmam que o comportamento das pessoas é gerenciado por normas sociais que especificam papeis dos indivíduos além de maneiras próprias de se expressarem a partir de observações de condutas sociais. Assim, conforme os autores, a interação face a face é o que leva a negociação de identidades pelos participantes em interação, ou seja, a relação social de um indivíduo constitui a sua experiência interacional, refletindo nas categorizações identitárias dos mesmos.

Helen Spencer-Oatey (apud BARGIELA-CHIAPPINI E HAUGH, 2009) sugere que face e identidade sejam similares, visto que ambos se relacionam como auto-imagem de uma pessoa e em uma análise de dados dentro da perspectiva da face emergem aspectos como: preocupação dos participantes sobre a auto-apresentação, a identidade atribuída na sensibilidade da face e metas interacionais na interação. Percebe-se que um falante mantém ou realça a face do participante quando realiza atitudes interacionais e, seguindo essa premissa, observa-se que Spencer-Oatey (2009, p. 138 e 139) apresenta duas abordagens teóricas para o estudo da identidade na interação face a face: self-aspect e self-presentation. O modelo de self-aspect de identidade propõe que o auto-conceito de uma pessoa leva a crenças sobre suas próprias características e habilidades pessoais, sendo que cada pessoa percebe e avalia seus próprios aspectos de formas diferentes.

Spencer-Oatey, em Theories of Identity and the Analysis of Face (2007), explora o conceito de face e confirma que as teorias sobre identidade podem oferecer uma análise para esse conceito. Assim a autora define a teoria do conceito de self: “uma interpretação de

dinâmica multifacetada que contém crenças sobre os atributos, bem como memórias episódicas e semânticas sobre o eu. Essa interpretação funciona como um esquema, controlando o processamento de informações auto-relevantes” (SPENCER-OATEY, 2007, p. 4).19 A pesquisadora afirma que as pessoas se diferem em relação a seus atributos percebendo

e avaliando seus próprios aspectos de várias formas diferentes. Dessarte, a identidade individual refere-se à auto-definição como um aspecto único, no qual a identidade coletiva refere-se à auto-definição de uma pessoa como um membro de um grupo, ou membro de uma categoria de pertencimento.

Dentre os três níveis de representação de identidade proposta por Marilynn Brewer e Wendi Gardner (1996), individual, interpessoal e de grupo, as pessoas têm a possibilidade de construir e negociar suas identidades por meio das interações sociais. Elas não apenas interagem com elementos de suas personalidades, de relacionamentos e de grupos coletivos, mas negociam e constroem com o resultado das identidades desenvolvidas e emergidas através da interação. Assim, as identidades (co)construídas nas interações têm a função de ajudar as pessoas a terem senso de pertencimento, a localizarem-se em seus mundos sociais, e a fornecerem autorrespeito e auto-estima (SIMON, 2004).

Seguindo essa perspectiva, Robert Arundale confirma que a identidade é situada em um âmbito individual e a face no fenômeno interacional, pois:

Face [....] não é equivalente a identidade. Tanto os relacionamentos como a identidade surgem e são sustentados na comunicação, mas uma relação e, portanto, a face é um fenômeno dinâmico enquanto a identidade é um fenômeno individual (e muito mais amplo). (ARUNDALE, 2005, p. 8) 20

A face das pessoas pode ter atributos individuais, associações relacionais e afiliações coletivas, sendo assim, a face é percebida na interação social e cognitiva. Dessa forma, observa-se as negociações das identidades sociais como (co)construídas e (co)sustentadas nas práticas de conversa face a face. A atividade de fala sustenta as observações dos participantes que, a cada momento, apresentam o seu envolvimento no que está sendo dito ou feito dentro de categorizações de co-pertencimento.

19 “A multi-faceted, dynamics construal that contains beliefs about one’s attributes as well as episodic and semantic memories about the self. It operates as a schema, controlling the processing of self-relevant information.” (SPENCER-OATEY, 2007, p. 4)

20 Face [....] is not equivalent with identity. Both relationships and identity arise and are sustained in communication, but a relationship, and hence face, is a dynamic phenomenon whereas identity is an individual (and much broader) phenomenon. (ARUNDALE, 2005, p. 8)