• Nenhum resultado encontrado

A seguir ser´a apresentada uma avaliac¸˜ao da urna eletrˆonica segundo Cybis [CYB 98], desenvolvida pelo Tribunal Superior Eleitoral do Brasil para as eleic¸˜oes municipais brasileiras de 1996. Esta atividade foi realizada pelo LabUtil, Laborat´orio de Utilizabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina e esteve organizada em trˆes etapas principais: inspec¸˜ao ergonˆomica, ensaios de interac¸˜ao e an´alise estat´ıstica dos resultados das eleic¸˜oes de 1996 comparados aos de 1992.

Testes de usabilidade foram realizados com cegos e idosos. De acorco com [CYB 98]:

“Deve-se notar que, em relac¸˜ao ao voto manual no Brasil, o voto eletrˆonico apresenta diferenc¸as estruturais, tais como:

• O eleitor n˜ao pode mais escrever o nome ou apelido do candidato, ou mesmo desenhar na c´edula eleitoral em papel. No caso de analfabetos, o desenho de uma vassoura poderia ser considerado v´alido para re- presentar um candidato propondo em sua campanha, a vassoura como s´ımbolo da proposta de limpar a administrac¸˜ao p´ublica.

• O eleitor n˜ao pode mais escolher a ordem das votac¸˜oes (por exemplo, votar primeiro para vereador e depois para prefeito).”

123

7.2.1

Inspec¸˜ao Ergonˆomica

Esta avaliac¸˜ao se refere aos aspectos cognitivos das telas, seq¨uˆencia e informac¸˜oes nelas apresentadas (interface do software). Algumas informac¸˜oes sobre as alterac¸˜oes ou permanˆencia dos aspectos no ano de 2002 foram acrescentados.

De acordo com Cybis [CYB 98]:

“A conduc¸˜ao do dispositivo era insuficiente na medida em que o eleitor poderia ter dificuldades em saber onde ele se encontrava no processo de voto e o que ele deveria fazer neste momento.”

Em 2002, por exemplo, esse problema ´e ainda mais acentuado, devido ao grande n´umero de candidatos a serem votados.

“A falta de feedback era outro problema do dispositivo, que n˜ao previa, ao final do processo de voto, o fornecimento de um resumo informativo dos votos realizados pelo eleitor.”

Em 2002, a impressora acoplada `a urna forneceu esse resumo do voto (somente em algumas sec¸˜oes para teste).

“A protec¸˜ao contra os erros dos usu´arios era particularmente fraca no m´odulo de voto para a cˆamara municipal. Se, por exemplo, em vez de digitar o c´odigo 97601, o eleitor digitasse 9760 e pressionasse a tecla “CONFIR- MAR”, seu voto seria considerado para a legenda correspondente ao n´umero 97. De fato, se ele tivesse esta intenc¸˜ao, bastaria digitar o n´umero 97. O sis- tema informatizado poderia detectar que n˜ao era esta a intenc¸˜ao do eleitor e oferecer-lhe uma segunda chance. Este seria o comportamento esperado de um sistema adequadamente informatizado.”

Em 2002 n˜ao teve alterac¸˜ao nesse sentido.

“Existiam tamb´em problemas com o significado dos c´odigos e denomi- nac¸˜oes empregadas nas instruc¸˜oes sobre as teclas e em certas mensagens na tela. Assim, imagina-se que “CORRIGIR” e “CONFIRMAR” tenham um sentido bastante preciso para os profissionais de inform´atica e para os in´umeros usu´arios habituados `as novas tecnologias. Entretanto, elas podem ser fonte de confus˜ao para a populac¸˜ao tecnologicamente sens´ıvel.”

7.2.2

Ensaios de Interac¸˜ao

No estudo [CYB 98] foram realizados ensaios com os seguintes grupos: • Grupos de cegos com conhecimentos do dispositivo;

• Grupo de cegos sem conhecimento do dispositivo; • Grupo de pessoas idosas.

7.2.3

An´alise dos Resultados e Recomendac¸˜oes

A an´alise do estudo [CYB 98] foi a seguinte:

• “Para os cegos: Em termos de ergonomia f´ısica, o posicionamento das inscric¸˜oes em braille entre as teclas ´e inadequado, deveria ser colocada diretamente sobre elas”; desde 1998 as inscric¸˜oes j´a est˜ao sobre as teclas, como recomendado. ”Pode- se concluir que o sistema de urna eletrˆonica s´o permite aos treinados em braille e na urna, a realizac¸˜ao do voto sem erros. Para todos os outros, o n´umero de erros cometidos ´e excessivo e o tempo m´edio ´e muito elevado (3 minutos) em relac¸˜ao `a tarefa a realizar.”

• “Para os idosos: A utilizac¸˜ao de um sistema tela-teclado n˜ao lhes parece natural, a chance de sucesso para o idoso analfabeto era evidentemente nula. Aqui, a tecla “CONFIRMAR” se coloca como um obst´aculo real para a maior parte dos idosos.”

7.2.4

An´alise Estat´ıstica

O estudo foi realizado em sete cidades do Estado de Santa Catarina, escolhidas de modo que as populac¸˜oes de eleitores informatizados e manuais se eq¨uiva- lessem em n´umero (entre 35.000 e 210.000 habitantes). Assim, foi poss´ıvel apreciar as distribuic¸˜oes dos votos em 1992 e medir sua evoluc¸˜ao para 1996. Resultados da an´alise estat´ıstica, de acordo com Cybis [CYB 98]:

• “Nas cidades com urna eletrˆonica houve um forte aumento de votos nas legendas (65,73%), enquanto que houve uma forte diminuic¸˜ao neste tipo de voto nas cidades n˜ao informatizadas (-55,45%).

• Nas cidades com urna eletrˆonica houve uma forte diminuic¸˜ao dos votos em branco (-41,72%), enquanto que houve uma aumento significativo (33,42%) neste mesmo tipo de voto nas cidades com voto manual.”

125

7.2.5

Propostas de Soluc¸˜oes

Novamente s˜ao apresentadas as propostas de acordo com [CYB 98] e algumas informac¸˜oes sobre as alterac¸˜oes da urna de 2002 foram acrescentados.

“Para os cegos, a falta de vis˜ao deve ser compensada por outras mo- dalidades sensoriais, baseada na audic¸˜ao e no toque, pois menos de 15% dos cegos praticam o braille. Uma s´ıntese vocal, conduzindo e fornecendo feedback para a interac¸˜ao atrav´es de um fone de ouvido.”

Em 2002, foi acrescentado o sistema de ´audio com fone de ouvido. “O teclado da urna poderia prever, por exemplo, o bot˜ao da esquerda, de anulac¸˜ao, de forma quadrada, o do centro, para o voto em branco, redondo e o da direita, para confirmar, triangular.

Deveria-se inverter o contraste “caractere x fundo”, prevendo fontes maiores e elas sim, brilhantes. Ainda, se deveria pensar em um sistema mecˆanico ou informatizado de ampliac¸˜ao da tela (lupa).”

Aqui pode-se enfatizar que a ergonomia do visor de cristal l´ıquido n˜ao ´e muito boa, muitas pessoas tˆem dificuldade em visualizar as informac¸˜oes.

“As pessoas idosas, mostram que os principais problemas encontrados se referem `a memorizac¸˜ao, `a velocidade de execuc¸˜ao e `a falta de compreens˜ao para com a necessidade de validac¸˜ao de entradas.

As eleic¸˜oes de 1998, foram bem mais complexas, assim como a de 2002, onde foram realizadas votac¸˜oes para presidente, governador, senador, depu- tado federal e deputado estadual encadeadas em uma mesma sess˜ao de voto, uma barreira adicional ´e colocada pela forma pouco l´ogica da seq¨uˆencia das votac¸˜oes. Mesmo assim, foi diminu´ıdo o n´umero de sess˜oes eleitorais, aumentando em conseq¨uˆencia, o n´umero de eleitores por urna eletrˆonica. Verificou-se a ocorrˆencia de filas imensas e o prolongamento da jornada elei- toral bem al´em das 17 horas, outro fator adverso esteve presente na interac¸˜ao com a urna eletrˆonica, a press˜ao temporal.”