• Nenhum resultado encontrado

69

E

STUDO DE INVESTIGAÇÃO

-

AÇÃO

:

“D

ESPORTO

E

SCOLAR NO COMBATE À

O

BESIDADE

Luís Ribeiro.

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

Resumo

O presente estudo pretende verificar o impacto das sessões de treino do Desporto Escolar de futsal na aptidão física do aluno; particularmente associada à saúde. A amostra é constituída por seis rapazes do sexo masculino com idades compreendidas entre os 10 e 12 anos, pertencentes à equipa de Desporto Escolar de Futsal, de uma escola do concelho do Porto. Foram utilizados baterias de exercícios aeróbios com bola para a programação dos treinos e a bateria de testes Fitnessgram, (testes de Índice de Massa Corporal , perímetro da cintura, resistência aeróbia (vaivém) e força (flexões e abdominais)). Para análise estatística foi adotado o Paired Sample t-test. Os resultados apresentam uma ligeira aproximação dos alunos à Zona Saudável da Aptidão Fsica, com melhorias significativas na composição corporal e na Aptidão Física.

Palavras-chave: DESPORTO ESCOLAR, OBESIDADE, APTIDÃO FÍSICA,

71

Introdução

Segundo os dados provenientes da Organização Mundial de Saúde (OMS), em Portugal, 39,4% dos Portugueses são pré-obesos e 14,2% obesos, o que revela que metade da população se encontra com valores de Índice de Massa Corporal (IMC) superiores a 25. Este aumento dos níveis de obesidade nestes últimos anos, resultante principalmente do aumento do sedentarismo e da má alimentação, reforça a necessidade de aplicar e criar programas de exercício físico, que estimule estilos de vida saudável. Pois, importa combater este problema, que acarreta consigo uma panóplia de doenças e limitações para os seus portadores.

Centrando a atenção nos nossos alunos verifica-se que, há também um aumento da prevalência da obesidade infanto-juvenil, documentada em inúmeros países (Lissau et. al, 2004), sendo também considerada uma doença de proporções pandémicas (Roth et. al, 2004). Esta representa um grave problema de saúde pública e o seu avanço só poderá ser travado com rigorosas medidas de intervenção e de prevenção.

Em Portugal, a percentagem de prevalência de excesso de peso é de 15% (Janssen et al, 2005). E, segundo um estudo da autoria de Padez, Mourão, Moreira e Rosado (2005), realizado em crianças entre os 7 e os 9 anos, o excesso de peso afeta cerca de 31,6% desta população, resultado este que coloca Portugal entre os países da União Europeia com taxas mais elevadas de obesidade infantil.

A obesidade está associada a um excesso de gordura corporal/tecido adiposo, tanto em crianças como adultos, resultando num balanço energético positivo (consumo calórico superior ao gasto) (Rodriguez, 1993). De um modo geral, podemos afirmar que obesidade é a quantidade percentual de gordura corporal ou massa gorda acima da qual o risco de doença aumenta (ACSM, 1995). Para avaliar os níveis de gordura corporal, são utilizados vários métodos, no entanto, o IMC (relação peso/altura) e a percentagem de massa gorda (calculada através de pregas cutâneas) são os métodos mais utilizados

72

na prática clínica (Cardoso, 2000). Assim, de forma a promover o desenvolvimento de um estilo de vida saudável e o desenvolvimento das capacidades condicionais e coordenativas, procurando situa-los na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF) é necessário proporcionar, nas aulas de EF e DE, condições aos alunos para o trabalho e melhoria da ApF.

Ao longo dos tempos, o conceito de AF tem sofrido algumas alterações e de acordo com Maia et al. (2001), a ApF tem duas vertentes, uma mais relacionada com o rendimento desportivo-motor, em que são avaliadas um conjunto diversificado de capacidades (força, velocidade, resistência, flexibilidade), e outra, mais relacionada com a saúde, que são habitualmente avaliadas através da flexibilidade, da força, da capacidade cardiorrespiratória e da composição corporal3 tal como incide o meu estudo. Maia e Lopes (2002), definem a ApF relacionada com a saúde, como um estado caraterizado pela capacidade de realizar as tarefas diárias com vigor, sendo que estas estão associadas a um baixo risco de desenvolvimento de doenças hipocinéticas. As causas desta doença estão normalmente associadas a fatores genéticos, ambientais e demográficos, ((in)atividade física e comportamentos alimentares). No entanto, considera-se que a sua principal causa, prevalece devido a fatores sociais e ambientais e não do foro genético (Mota & Sallis, 2002). Com efeito, é importante modificar alguns hábitos de vida menos saudáveis adotados nos dias de hoje (hábitos alimentares e comportamentais (atividade física)).

Segundo a OMS, como prevenção, deverão ser realizados pelo menos 60 min por dia de atividade física moderada a vigorosa. Se observarmos as crianças e adolescentes em contexto escolar, poderemos concluir que este meio poderá contribuir significativamente para o cumprimento das recomendações da OMS, prevenindo os excessos de peso.

Neste enquadramento, no meu entendimento, o DE pode ser reconhecido como um meio interventivo e preventivo da obesidade dos alunos

3

Refere-se às diferentes componentes químicas do corpo humano, tais como peso corporal, massa gorda e perímetro da cintura.

73

na escola, afigurando-se importante verificar qual o impacto das sessões de treino na ApF do aluno, particularmente associada à saúde.

Com este estudo pretendo alertar todos os Profissionais de Desporto e Saúde, mais concretamente os Professores de EF das nossas escolas, para a importância que o DE assume no combate ao sedentarismo e na mudança de hábitos e costumes relativos à prática desportiva. É na escola que tudo começa e é lá que as crianças e adolescentes passam a maior parte do seu tempo, por isso, o seu desenvolvimento depende de todas as experiências que lá vivenciam. Com a minha participação ativa no DE de futsal, procurei que os alunos adquirissem gosto pelo desporto e percebessem a importância que a atividade física poderá ter nas suas vidas, ajudando-os a melhorar os níveis da sua ApF associada à saúde.

Objetivo

O presente estudo tem como objetivo verificar o impacto das sessões de treino do DE de Futsal, na ApF associada à saúde dos alunos.

Procedimentos Metodológicos

Caraterização da Amostra

A amostra foi constituída por 6 alunos do sexo masculino, de uma escola do concelho do porto, com idades compreendidas entre os 10 e os 12 anos.

74

No quadro 1 são representados dados relativos à idade, à altura, ao peso e ao IMC dos alunos participantes.

Quadro 1 – Número de alunos, média de idades e desvio, média de alturas e desvio, média de pesos e desvio, média de IMC e desvio

(N) Mínimo Máximo Média Desvio Padrão

Idade 6 10 12 10,83 0,752

Altura 6 141 155 150 5,585

Peso 6 48 75 62,66 9,288

IMC 6 24.1 31,2 27,86 1,517

Metodologia de Recolha

Foram efetuados 3 momentos de avaliação (inicial, intermédia e final) à composição corporal, à força muscular e à resistência muscular. A avaliação intermédia, serviu para averiguar a veracidade do processo, ou seja, verificar se os procedimentos adotados, estavam ajustados.

Para a recolha de dados relativos à composição corporal foi utilizada uma balança digital (peso e percentagem de massa gorda) e uma fita métrica(perímetro da cintura). Relativamente à força muscular e à resistência muscular foi utilizada a resistência aeróbia (vaivém) e força (flexões e abdominais). Estes testes permitem averiguar o número de repetições que o aluno executa, sendo que, quanto maior o número de repetições, melhoro nível de ApF apresentado. O programa de treinos focou-se numa bateria de exercícios aeróbios com bola, que permitissem o aumento da atividade aeróbia com intensidade moderada e vigorosa.

Ao longo de 13 semanas, o grupo de futsal foi submetido a 3 sessões de treino semanais com a duração de 1h. Este programa teve início no dia 3 de

75

fevereiro e terminou no dia 30 de abril. A sessão de treino da minha responsabilidade decorria às quartas-feiras, na qual tinha oportunidade de intensificar os exercícios aeróbios com bola e incidir particularmente, sobre os alunos com obesidade. Às segundas-feiras e sextas-feiras, o treino era da responsabilidade da professora de desporto escolar da equipa de futsal, na qual eu ficava responsável por realizar sessões complementares com os alunos identificados com obesidade.

Metodologia de Análise

Para análise dos dados foi utilizada a Estatística Descritiva e Inferencial, que comporta a descrição e comparação dos dados nos três momentos de avaliação (inicial, intermédio e final). Para o efeito, recorreu-se às frequências absolutas (n) e relativas (%), bem como, à média e desvio padrão, como medidas de tendência central e dispersão, respetivamente com utilização do programa IBM SPSS Statistics 21®, considerando um valor de significância de p<0,05. Para a comparação de resultados da avaliação inicial, intermédia e final dos participantes, recorreu-se ao t-teste de amostras emparelhadas (Paired Sample t-test).

No quadro 2 podem ser observados os valores de corte do IMC

(adaptado de Cole et al., 2000), para definir o sobrepeso e obesidade em rapazes, com idades compreendidas entre os 10 e 12 anos. Neste quadro, o valor da esquerda, representa o limite inferior da ZSApF e o da direita o limite superior.

76 Quadro 2 – Valores de corte de IMC inicial

IMC Rapazes

10 15,3 21,0

11 15,8 21,0

12 16,0 22.0

Assim, partindo dos valores de IMC, exposto acima, no quadro 3, são apresentados os valores relativos à avaliação inicial do IMC, 6 alunos identificados acima da ZSApF.

Quadro 3 – Valores recolhidos do IMC para situar os alunos na ZSApF

Alunos Idade Peso(kg) Altura(m) IMC ZSApF

1 12 48 1,41 24,1 Pré-obesidade 2 11 61 1,46 28,6 Obesidade 3 10 75 1,55 31,2 Obesidade 4 10 60 1,53 26,6 Pré-obesidade 5 11 62 1,50 27,6 Pré-obesidade 6 11 70 1,55 29,1 Obesidade

Ao analisar o quadro 3 são caraterizados os alunos, relativamente à ZSApF, idade, Peso, Altura e IMC. Verifiquei, efetivamente o IMC elevado dos alunos e, nesse sentido, ao longo do estudo, trabalhei na evolução destes fatores.

No quadro 4 são apresentados os valores médios relativos ao IMC, Força (Abdominais e Flexões), Perímetro da Cintura (Pc) e Resistência (Vaivém), dos seis alunos, nos 3 momentos de avaliação (inicial, intermédia e final). Pretende-se com estes dados verificar se houve ou não melhorias ao

77

nível da composição corporal (IMC e Pc) e da ApF (Vaivém, abdominais e flexões).

Quadro 4 – Resultados obtidos sobre a composição corporal e ApF

Composição Corporal Média % N Desvio Padrão T P

IMC Inicial 27,86 2,40 39,31 IMC Intermédio 27,50 2,87% 6 2,13 42,64 ,00 IMC Final 27,06 2,58 37,34 PC Inicial 96,66 6,02 39,31 PC Intermédio 96,00 1,55% 6 5,51 42,64 ,01 PC Final 95,16 6,24 37,34

Aptidão Física Média % N Desvio Padrão T P

Vaivém Inicial 12,00 4,24 6,92 Vaivém Intermédio 12,50 8,53% 6 4,32 7,08 ,01 Vaivém Final 13,16 5,03 6,40 Abdominais Inicial 13,50 1,87 17,67 Abdominais Intermédio 14,66 17,33% 6 2,42 14,83 ,00 Abdominais Final 16,33 2,42 16,51 Flexões Inicial 2,66 2,73 2,39 Flexões Intermédio 3,16 39,26% 6 2,92 2,65 ,05 Flexões Final 4,38 2,42 4,38

Ao analisarmos o quadro 4, verificamos que os valores de significância das cinco variáveis revelam diferenças significativas (p≤5), em somente as flexões atingem um nível de significância igual a 0,05. Os níveis de significância obtidos (IMC p=0,00; Pc p=0,01; vaivém p=0,01; abdominais p=0,00) são reveladores da eficácia dos treinos de Futsal na ApF dos alunos, embora os valores relativos de IMC (2,87%) sejam pouco representativos da aproximação dos alunos à ZSApF.

Discussão dos Resultados

Através dos dados obtidos, é possível verificar melhorias significativas em todos os fatores da composição corporal e da ApF. Pois, foi possível observar evoluções significativas nos valores médios de todas as variáveis (IMC 2,87%, Pc 1,55%; vaivém 8,53%; abdominais 17,33%; flexões 39,26%),

78

com valores de significância relevantes (p≤5). A maior evolução recaiu sobre a força (flexões), eventualmente pela maior incidência desta capacidade nos treinos, embora, se verifique evolução significativa nas outras capacidades (resistência) e composição corporal. É importante ressalvar as melhorias ao nível das repetições dos exercícios de ApF, cuja diferença poderia ser ainda mais significativa se o número de treinos fosse superior.

Desta forma, é possível afirmar que as sessões de treino do DE tiveram um impacto positivo na ApF associada à saúde dos alunos. Com este estudo é possível afirmar que o DE pode assumir um papel essencial, no combate à obesidade, particularmente na modalidade de futsal. Pois, além dos benefícios da sua prática, o futsal parece reunir grande empatia com os alunos, sendo uma modalidade que alicia os jovens a praticar desporto com regularidade combatendo assim, o sedentarismo.

Frente a estes resultados parece ser essencial que se continue a motivar os alunos a praticar DE, de forma a criar hábitos de vida saudáveis, que perdurem ao longo das suas vidas.

Como forma complementar, durante os três meses de aplicação do programa, muito centrado em exercícios aeróbios, fui falando individualmente com os alunos, tentando procurar e criar uma relação próxima com eles, afim de os motivar para as sessões futuras. Esta relação professo-aluno revelou ser uma influência positiva no envolvimento dos alunos neste programa. Além disso, fazer um controlo regular do seu aproveitamento escolar, ajudava os alunos a serem mais disciplinados com as suas responsabilidades, nomeadamente no treino de DE de Futsal.

A avaliação das variáveis num momento intermédio, permitiu fazer um controlo regular do processo e verificar se as estratégias utilizadas sortiam efeitos. Ao constatar esse facto, através da melhoria significativa de algumas variáveis, mantive a mesma linha de exercícios, intensidade de treino, motivação e organização. Este controlo de regulação do processo permitiu na avaliação final obter resultados positivos, tal como se verificou.

Importa ainda referir, a necessidade das próximas investigações atenderem a outros fatores, que não foram controlados no presente estudo,

79

designadamente a alimentação dos alunos participantes (equilibrada e saudável). Pois, apesar de ter falado com eles sobre estas questões, não houve um controlo desta variável.

Conclusão

Após a aplicação das sessões de treino de futsal e a comparação dos resultados obtidos, entre a avaliação inicial, intermédia e final, verifica-se que as sessões de treino foram aplicadas de forma eficaz, tendo conseguido resultados positivos (melhoria da ApF e Composição corporal). Estes dados positivos, refletem a motivação com que os alunos se apresentavam em cada treino com o objetivo de melhorar os seus resultados. Obviamente, que o seu gosto pela modalidade contribuiu para a presença constante nos treinos ajudando na sua evolução. As condições disponibilizadas pela escola para a prática da modalidade são bastantes boas, sendo um fator de motivação para a integração de muitos alunos na equipa.

Para investigações futuras, deixo algumas recomendações, nomeadamente ao nível do aumento da amostra da análise de dados, tendo em conta a diversidade nas caraterísticas da amostra (sexo e idade).

80

Referências Bibliográficas

American College of Sports Medicine. (1995). Guidelines for Exercise Testing

and prescription (5ª ed.): Lea & Febiger.

Cardoso, J. D. (2000). Doenças Metabólicas e Exercício Físico. In A. M. Pinto (Ed.), Saúde e exercício Físico. Coimbra: Quarteto Editora.

Fragoso, I., & Vieira, F. (2000). Morfologia e Crescimento. Cruz Quebrada: Edições FMH.

Janssen, I., Katzmarzyk, P. T., Boyce, W. F., Vereecken, C., Mulvihill, C., Roberts, C., et al. (2005). Comparison of overweight and obesity prevalence in school-aged youth from 34 countries and their relationships with physical activity and dietary patterns. Obesity Reviews:

An Official Journal Of The International Association For The Study Of Obesity, 6(2), 123-132.

Lissau I, Overpeck MD, Ruan WJ, Due P, Holstein BE, Hediger ML. (2004). Body mass index and overweight in adolescents in 13 European countries, Israel, and the United States 5. Arch Pediatr Adolesc Med,158(1):27-33.

Maia, J., Lopes, V. (2002). Estudo do Crescimento Somático, Aptidão Física,

Actividade Física e Capacidade de Coordenação Corporal de Crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico da Região Autónoma dos Açores. Porto,

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto e Direcção Regional de Educação Física e Desporto da Região Autónoma dos Açores.

Maia, J., Lopes, V.P. & Morais, F.P. (2001). Actividade Física e Aptidão Física

Associada à Saúde. Um Estudo de Epidemiologia Genética em Gémeos e suas Famílias Realizado no Arquipélago dos Açores. Porto. Editores

FCDEF-UP/Direcção Regional de Educação Física e Desporto da Região Autónoma dos Açores.

81

Mota, J., & Sallis, J. (2002). Actividade Física e Saúde. Factores de Influência

da Actiidade Física nas Crianças e Adolescentes Editores S.A. Campo

das Letras.

Padez, C., Mourão, I., Moreira, P., & Rosado, V. (2005). Prevalence and risk factors for overweight and obesity in Portuguese children. Acta

Paediatrica (Oslo, Norway: 1992), 94(11), 1550-1557.

Rêgo, C. (2011). Crianças Obesas Comprometem Qualidade de Vida e a Expectativa da Vida. Ciência Hoje Consult. 14 de julho de 2009, disponível em http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=33276&op=all

Rodríguez, M. (1993). Prevención y tratamiento de la obesidad. Alimentacion

infantil (2ª ed.). (p.189-200) Madrid: Dias Santos.

Roth J, Qiang X, Marb n SL, Redelt H, Lowell BC. (2004). The obesity pandemic: where have we been and where are we going? Obesity Research 2004;12 S88-S101

WHO. Physical Activity and Young People. Recommended levels of physical activity for children aged 5 - 17 years:. Word Health Organization

Consult. 27 de Junho de 2011, disponível em

http://www.who.int/dietphysicalactivity/factsheet_young_people/en/index. html

Documentos relacionados