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5. PERCURSO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.1 ESTUDO 1

Para o alcance dos objetivos propostos, a primeira parte do estudo (Estudo 1) pretendeu caracterizar os Centros Pop participantes, as ações desenvolvidas, especialmente no que tange às práticas voltadas à inclusão produtiva das pessoas em situação de rua acompanhadas, a perspectiva desses equipamentos acerca dessa dimensão do acompanhamento, seus significados e as dificuldades na sua concretização, o que foi apreendido através da aplicação de questionário semiestruturado com os coordenadores dos referidos equipamentos (APÊNDICE A).

Os questionários são um instrumento de coleta de dados, que contemplam questões/perguntas ordenadas, geralmente respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador (OLIVEIRA et al, 2016). A escolha desse instrumento de coleta deveu-se a três motivos: o grande número de possíveis participantes, a facilidade de aplicação e a impossibilidade de deslocamento da pesquisadora a cada um dos locais onde tais sujeitos pudessem ser localizados/acessados.

Entendendo que o planejamento da coleta de informações implica também no planejamento de questões que correspondam aos objetivos pretendidos, sua sequência etc., (MANZINI, 2003), foi elaborado um roteiro para envio e adequação por juízes. Desse modo, uma primeira versão do questionário a ser utilizado no Estudo 1 foi enviado à especialistas técnicos e/ou acadêmicos com acúmulo de conhecimento e experiência na área de políticas para população em situação de rua.

Foram convidados sete especialistas, sendo que cinco aceitaram. Desses, dois cientistas sociais, pesquisadores da temática e ex-trabalhadores de Centro Pop; um psicólogo, ex-trabalhador de Centro Pop e pessoa com vasta experiência profissional de atuação junto à população em situação de rua e duas terapeutas ocupacionais,

professoras universitárias e pesquisadoras da temática da população em situação de rua e/ou inclusão no/pelo trabalho.

A cada juiz, foi enviada mensagem por correio eletrônico com breve orientação acerca da tarefa esperada, bem como dois arquivos de cada questionário, sendo um no formato Microsoft Word, passível de orientações e registros das mesmas, bem como um no formato Portable Document Format (PDF), em que o arquivo original mantinha-se na sua integridade inicial, servindo de documento balizador para as possíveis mudanças, alterações e sugestões. Com todos os juízes, foi acordado prazo de devolução das suas contribuições, sendo que a pesquisadora manteve-se disponível a cada um durante todo o processo.

De posse da listagem dos Centros Pop do estado de São Paulo, que responderam ao Censo SUAS no ano de 2015, publicado em 2017 (SÃO PAULO, 2017)25, num total de 58 unidades, distribuídas em 50 municípios, realizou-se contato telefônico com cada equipamento, a partir dos dados disponibilizados nas páginas oficiais de cada município e também dos dados obtidos a partir das informações levantadas na planilha disponibilizada pelo Censo SUAS que serviu de referência para o início dos contatos. Esse primeiro contato teve o intuito de verificar as informações/dados de contato dos equipamentos assim como a melhor forma de acesso aos coordenadores de cada unidade, obter seus endereços eletrônicos bem como informar-se sobre pré-requisitos específicos para realização de pesquisa em cada um dos municípios. Já naquele momento, alguns equipamentos solicitaram o envio da proposta de pesquisa, ocasião em que foi enviada uma síntese do projeto e seus objetivos.

Após aprovação pelo Comitê de Ética, em Agosto/2017, os contatos foram de fato efetivados entre os meses de Outubro e Dezembro/2017, com envio de esclarecimentos acerca do projeto e da Carta de Autorização que deveria ser preenchida, assinada e devolvida digitalizada também por correio eletrônico aos pesquisadores.

25Essa publicação está disponível em

http://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/documentos/1502.pdf. A Base de Dados, no formato Microsoft Excel, também pode ser obtida a partir do link http://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/portal.php/monitoramento.avaliacao estando sob o título “Base de Dados Censo SUAS Centro Pop” (ano 2015). Acesso em 22 Set. 2019.

Após apresentação da Pesquisa aos coordenadores dos Centros Pop encontrados, eram solicitados os endereços de e-mail para que fossem enviados os documentos, sendo questionada a necessidade de outros além do projeto e carta de autorização (APÊNDICE B). Nos casos positivos, foi providenciada documentação extra, de acordo com as demandas individuais. Em alguns casos, os coordenadores passaram contatos telefônicos e/ou eletrônicos de outros profissionais responsáveis pela autorização, sendo estes de Secretarias e Diretorias ligadas à Assistência Social, para os quais foi redirecionado o convite. Sendo respondidos os e-mails, os contatos passaram a ser feitos por meio eletrônico. Na ausência de resposta, foram enviadas solicitações de confirmação do recebimento e novo contato telefônico nos casos de abstenção, sendo por vezes obtidos novos contatos para autorização e reiniciado o processo desde a apresentação da Pesquisa e convite para participação. Assim, foram participantes dessa fase coordenadores de 13 Centros de Referência Especializados para População em

Situação de Rua do estado de São Paulo/SP. Os participantes foram selecionados a

partir dos seguintes critérios de inclusão: Ser coordenador de Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua há pelo menos 6 meses; aceitar participar do estudo e preencher o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Após o término dos contatos, tivemos o seguinte panorama, apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 – Devolutiva obtida a partir dos contatos com os municípios que possuíam

Centro Pop no Estado de São Paulo, a partir dos dados do Censo SUAS 2015.

Desfechos dos contatos Quantidade

Não retornaram o contato* 16

Aceitaram mas não participaram** 12

Recusaram 03

Solicitaram entrega presencial 03

Não existia/Fechou 03

Participaram efetivamente da pesquisa 13

Total 50

Fonte: Autor (2020)

*após, no mínimo, três tentativas telefônicas e envio de dois e-mails;

**Deram devolutivas positivas acerca de uma possível participação, mas ou não enviaram a autorização ou não responderam o formulário eletrônico enviado.

O envio foi previamente acordado com os participantes e foi feito por meio da elaboração do questionário semi-aberto na Plataforma Google Forms®26, que permite o envio do formulário pela internet, através de um endereço de e-mail. No corpo do questionário, foram encaminhados o TCLE. (APÊNDICE C), assim como orientações para o preenchimento do material.

No que se refere à Análise dos Dados, aqueles referentes aos protocolos de identificação pessoal e profissional e de identificação dos equipamentos foram analisados descritivamente. No que se refere aos questionários semiestruturados foi realizada a Análise de Conteúdo, que constitui importante ferramenta metodológica nas pesquisas de abordagem qualitativa (MINAYO, 1993), uma vez que permite apreender o real significado das mensagens, sejam elas escritas ou faladas. Nesse estudo, foi utilizado para análise o método proposto por Bardin (2008).

Para Bardin (2008), a Análise de Conteúdo compreende um conjunto de técnicas que objetivam obter indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos ao conteúdo da mensagem. Uma dessas técnicas é a Análise Temática, que implica na descoberta dos núcleos de sentido contidos na comunicação e cuja presença ou frequência de aparição pode ter algum significado para o objetivo analítico eleito (BARDIN, 2008).

De acordo com a autora

[...] a noção de tema, largamente utilizada em análise temática, é característica da análise de conteúdo (...) o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura. O texto pode ser recortado em ideias constituintes, em enunciados e em proposições portadores de significações isoláveis (BARDIN, 2008, p.131).

Assim, o tema, tomado como unidade de registro, representa uma forma de recorte no nível do sentido que não costuma estar explícito, já que tal recorte está sujeito ao nível de análise que se faz. Nesse sentido, realizar a análise temática pressupõe a descoberta de núcleos de sentido contidos na comunicação (BARDIN, 2008).

A organização da Análise de Conteúdo leva em conta três diferentes momentos: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados obtidos e sua interpretação (BARDIN, 2008). A análise temática implicou, portanto, na leitura

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Um participante desejou envio por sedex, o que foi feito, bem como envio de envelope selado para devolução, entretanto, não obtivemos o retorno desse questionário.

exaustiva do material oriundo dos questionários semiestruturados, a fim de que fosse apreendido o conteúdo global dos mesmos. Na sequência, foi realizada a identificação dos temas significativos, que emergiram do processo sistemático de leitura, utilizando como referência os objetivos preestabelecidos nessa pesquisa. Por fim, os temas identificados foram agregados, dando origem às categorias.