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ESTUDO DE CASO DOS SETORES CULTURAIS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE E NO MUNICÍPIO DE NATAL.

O presente capítulo se dedica a expor e analisar a pesquisa de campo

realizada com os grupos artísticos e culturais do estado do Rio Grande do Norte e da cidade de Natal, que recebem recursos financeiros tanto por meio do fomento direto (verbas de editais) quanto do indireto (renúncia fiscal). Para a construção do capítulo, foram entrevistados ainda os gestores dos órgãos responsáveis pela gestão das políticas culturais locais, além de produtores culturais que lidam corriqueiramente com as nuances dessas políticas, além de empresários que promovem o patrocínio dos projetos aprovados pelas leis.

No primeiro subcapítulo, trataremos sobre as instituições culturais locais, ressaltando a importância destas em face da produção cultural, bem como destacaremos as suas principais atribuições e objetivos. No segundo, será feita uma análise sobre as leis de incentivo à cultura local, que são a Lei Estadual Câmara Cascudo (n° 7.799/1999) e a Lei Municipal Djalma Maranhão (n° 4.838/97). Será feito um levantamento quanto aos números de ambas as leis, analisando desde a quantidade de projetos inscritos, aprovados e captados até os valores disponibilizados pelo poder público para a renúncia fiscal, tomando como lócus temporal os anos de 2012 a 2015. Por fim, traremos a pesquisa empírica realizada com os grupos, produtores e gestores culturais locais, bem como com as empresas patrocinadoras dos projetos aprovados, a fim de entender as suas percepções quanto ao modelo de financiamento em análise.

5.1 – As instituições culturais locais 5.1.1 – Fundação José Augusto (FJA)

A Fundação José Augusto tem por finalidade promover o desenvolvimento sociocultural e científico do Estado, mediante colaboração com o Poder Público. A

101 esta é de competência o estímulo, desenvolvimento, difusão e documentação das atividades culturais do Estado e o desenvolvimento de pessoal para a ampliação das atividades prioritárias ao processo de difusão cultural. A FJA desenvolve um plano editorial visando, sobretudo, a promoção do autor potiguar e nordestino; promovendo investigações científicas em todos os campos de conhecimento; além da restauração, conservação e manutenção de monumentos históricos e artísticos do Estado, bem como a manutenção e documentação dos bens culturais móveis e imóveis do Estado. Mais recentemente, entrou no plano de metas e missões da FJA a criação de um programa de bibliotecas públicas em todos os municípios do Estado. Atualmente, é de competência do referido órgão a gestão do Plano Estadual de Cultura, sob a legislação da Lei Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura Estadual. (www.cultura.rn.gov.br)

5.1.2 – Fundação Cultural Capitania das Artes (FUNCARTE)

A Fundação Cultural Capitania das Artes (FUNCARTE) é o órgão responsável pela gestão das políticas culturais no âmbito do município de Natal. Inclui nestas políticas o Programa Djalma Maranhão de Incentivos Fiscais para Projetos Culturais, o Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FIC), bem como alguns editais de fomento direto específicos para cada uma das vertentes culturais e artísticas observadas pelas demandas do município, conforme veremos adiante. Na Capitania das Artes, funciona ainda a Secretaria de Cultura de Natal (SECULT), de onde emanam todas as decisões e deliberações acerca do fomento, incentivo e financiamento cultural no âmbito do município. É na Funcarte que são geridas todas as políticas de fomento à cultura em âmbito municipal, sejam relacionadas ao fomento indireto, por intermédio do Programa Djalma Maranhão, ou ainda através dos editais de fomento direto específicos lançados pelo órgão.

102 As leis de incentivo à cultura, conforme mencionado em outra oportunidade, funciona atualmente como a base do financiamento cultural em todo o país. Desta maneira, O estado do Rio Grande do Norte, bem como o município de Natal, desenvolveram suas próprias legislações culturais, alcançando números relevantes e avaliações positivas no que tange o financiamento e a gestão cultural local, ponto que será tratado em detalhes mais adiante. Assim, explanaremos agora sobre as legislações culturais locais, respectivamente, a Lei Câmara Cascudo, correspondente ao financiamento cultural no âmbito do Estado do Rio Grande do Norte, e a Lei Djalma Maranhão, em atuação no Município de Natal, destacando suas principais características, áreas de abrangência, números de projetos financiados e valores de investimentos nos últimos cinco anos, recorte temporal proposto pela presente pesquisa.

5.2.1 – Lei Câmara Cascudo (n° 7.799/1999)

Seguindo a tendência de consolidação, promoção e ampliação dos recursos destinados ao setor cultural, amplamente promovida por meio da Lei Sarney e consolidada através da promulgação da Lei Rouanet, o Estado do Rio Grande do Norte implementou, em 30 de dezembro de 1999, o Programa Estadual de Incentivo à Cultura Câmara Cascudo, publicada sob o número 7.799/99. Sancionada pelo então governador Garibaldi Alves Filho, foi responsável pela instituição das normas e procedimentos necessários à habilitação de projetos culturais aptos a captar recursos financeiros através da renúncia fiscal em âmbito estadual, bem como a captação de patrocínio perante a iniciativa privada para o financiamento dos projetos aprovados. Igualmente à Lei Rouanet, a Lei Câmara Cascudo trouxe em seu rol de partes integrantes da relação jurídica as figuras do proponente e do patrocinador, considerando-se o primeiro como a “pessoa física ou jurídica, domiciliada no País, diretamente responsável pelo projeto cultural a ser beneficiado pelo incentivo” (RN, 1999), e o segundo enquanto o “estabelecimento inscrito no Cadastro de Contribuintes do Imposto sobre operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de

103 Comunicação do Estado do RN, que venha a patrocinar projetos culturais aprovados pela Comissão Estadual de Cultura” (RN, 1999). Para que seja possível a execução deste patrocínio, o patrocinador deve obrigatoriamente ser pessoa jurídica geradora do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), posto que deste será deduzido o valor de 2 (dois) por cento para que seja financiada a proposta cultural previamente aprovada por lei. Quanto a isso, dispõe a lei:

Art. 14. O Patrocinador que apoiar financeiramente projetos aprovados pela Comissão Gerenciadora poderá abater até o equivalente a 2% (dois por cento) do valor do ICMS a recolher, num período único ou em períodos sucessivos, até atingir o limite máximo de 80% (oitenta por cento) do valor dos recursos transferidos. (RN, 1999, p. 9).

No que tange o rol de possíveis grupos e iniciativas culturais beneficiados pelos incentivos fiscais que são regulamentados pela lei, o legislador foi taxativo quando dispôs que as áreas de abrangência seriam as expostas adiante:

I - a promoção do incentivo ao estudo, à edição de obras e à produção das atividades artístico-culturais nas seguintes áreas: a) artes cênicas, plásticas e gráficas;

b) cinema e vídeo; c) fotografia; d) literatura; e) música;

f) artesanato, folclore e tradições populares; g) museus;

h) bibliotecas e arquivos;

II - a aquisição, manutenção, conservação, restauração, produção e construção de bens móveis e imóveis de relevante interesse artístico, histórico e cultural;

III - a promoção de campanhas de conscientização, difusão, preservação e utilizações de bens culturais;

IV - a instituição de prêmios de diversas categorias, nas áreas indicadas no inciso I deste artigo. (RN, 1999, p. 4).

104 O Programa Cultural Câmara Cascudo é uma política que, segundo o seu artigo 2° inciso XII, foi desenvolvida com a finalidade de promover o incentivo à pesquisa, ao estudo, à edição de obras e à produção das atividades artístico-culturais; aquisição, manutenção, conservação, restauração, produção e construção de bens móveis e imóveis de relevante interesse artístico, histórico e cultural, campanhas de conscientização, difusão, preservação e utilização de bens culturais e instituição de prêmios em diversas categorias. O seu organograma oficial conta com a seguinte estrutura:

XIV - Comissão Gerenciadora: Comissão Estadual de Cultura (CEC), composta por nove membros, dentre os quais um representante da Secretaria de Tributação (SET), presidida pelo Diretor-Geral da Fundação José Augusto;

XV - Secretaria Executiva da CEC: exercida por servidor da FJA, designado pelo presidente da CEC. (RN, 1999, p. 4)

No momento da propositura do projeto, o proponente do mesmo, que não necessariamente deve ser algum artista envolvido com o projeto, tendo em vista a crescente popularização do trabalho de assessoria jurídico-cultural para este fim, deverá preencher a sua proposta de incentivo em duas vias e protocolá-las na Secretaria Executiva da Lei, obedecendo o prazo limite que é estipulado anualmente e, via de regra, conta sempre com algumas prorrogações. A Secretaria receberá as propostas e prontamente analisará o aspecto formal destas, a fim de diminuir o máximo possível as discrepâncias entre as propostas e o que é exigido em lei, tendo em vista que, em muitos casos, os proponentes dos projetos não são necessariamente profissionais devidamente preparados e habilitados para tal fim. O projeto cultural financiado pela Lei Câmara Cascudo deverá, obrigatoriamente, incluir, total ou parcialmente, recursos humanos, materiais, técnicos e naturais disponíveis no Estado do Rio Grande do Norte, com vistas à promoção dos seus produtos desenvolvidos. O lançamento do produto financiado pela lei deve se dar dentro dos limites do Estado, devendo obrigatoriamente ser veiculada a marca oficial do Programa Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura “em toda divulgação relativa ao projeto incentivado, conforme o Manual de Aplicação à disposição dos proponentes na Secretaria Executiva da Comissão Estadual de Cultura (CEC)” (RN, 1999, p. 5). Desta feita, todo o material resultante do financiamento da lei deve ser

105 apresentado à secretaria executiva da Comissão Estadual de Cultura, a fim de que seja obtida a devida autorização para a divulgação. Sendo assim, o uso indevido da marca da Lei Câmara Cascudo, ou aquele em que o projeto não se enquadre em todos os requisitos dispostos na letra da lei resultarão no impedimento de o proponente captar, no ano seguinte, os recursos ligados ao Programa.

Habilitado o projeto e após a divulgação da listagem dos projetos aprovados na Lei, através do Diário Oficial do Estado, o proponente está apto a retirar junto à Fundação José Augusto (FJA) o seu Certificado de Enquadramento, que é o documento comprobatório de aprovação, e somente de porte deste os projetos poderão dar início à busca pelas pessoas jurídicas que irão lhes patrocinar. No que tange o referido certificado, a lei expressa:

§ 2.° O Certificado de Enquadramento correspondente será expedida até 90 (noventa) dias, contados da data de inscrição do projeto, salvo se ocorrer necessidade de diligência, conforme a alínea “a” do inciso II do art.5.° deste Regulamento.

Art.7.° O Certificado de Enquadramento, emitido nos termos do item 3, alínea “a”, inciso III, ao art.5.°, terá validade dentro do exercício do ano fiscal (1.° de janeiro a 31 de dezembro) previsto para a realização do projeto, não sendo permitida sua prorrogação. (RN, 1999, p. 8).

A lei determina ainda uma série de vedações e proibições aos possíveis patrocinadores culturais. Assim, é vedada a habilitação do patrocínio quando o contribuinte – pessoa jurídica – se encontra em situação de irregularidade perante o fisco estadual (RN, 1999, p. 10). Para efeitos da lei, considera-se a situação irregular quando observadas as seguintes hipóteses:

I - constar indicação, no Cadastro de Contribuinte do ICMS, da existência de sócio irregular, na forma do Regulamento do ICMS, aprovado pelo Dec. 13.640, de 13 de novembro de 1997;

II - constar, em seu nome ou em nome de empresas coligadas ou controladas, registro de débitos inscrito na Dívida Ativa do Estado, ajuizado ou não, salvo se houver sido dada garantia do crédito na forma da lei;

III - constar parcelamento de débitos com interrupção de pagamento de sua responsabilidade ou de empresas controladas ou coligadas;

106 IV - haver cometido ilícitos fiscais capitulados na legislação própria do ICMS, ou ter atentado contra a ordem econômica e tributária. (RN, 1999, p.11).

Quando executado o projeto, a lei exige que haja a prestação de contas, dentro do prazo de 30 (trinta) dias, podendo ser parcial ou global, que deverá ser apresentada à Comissão da lei, constando a discriminação detalhada dos recursos recebidos e dispensados para o projeto, de modo que englobe a totalidade dos recursos transferidos. A prestação de contas deverá ser entregue em formulário próprio da lei, disponível no site da Fundação José Augusto, órgão gestor da política cultural em âmbito estadual. Nesta devem ser anexados, além da comprovação do material de divulgação utilizado, “resumos jornalísticos, os comprovantes originais de notas fiscais ou recibos de cada pagamento efetuado, extrato bancário demonstrando as movimentações financeiras, demonstrativos das receitas e despesas, indicando a natureza e origem destas e comprovante de encerramento da conta corrente” (RN, 1999, p. 12). Nos casos em que o valor utilizado no projeto seja inferior ao depositado em conta pelo patrocinador, deverá o proponente devolver ao Estado a diferença do valor, sob pena de figurar na lista de inadimplentes do Estado, resultando no recebimento do processo por parte da Controladoria do Estado e, posteriormente, do Tribunal de Contas.

A burocratização que a lei em comento exige – que apenas copia o modelo da legislação principal da qual se inspirou – é indiscutivelmente um dos pontos principais pelos quais se observa uma quantidade tão vultuosa de projetos inscritos e não habilitados, ou habilitados e não captados, ou ainda captados e executados, mas com as contas reprovadas pela tríade Fundação José Augusto, Secretaria de Tributação e Controladoria do Estado, tendo em vista que, na grande maioria dos casos, os grupos culturais não contratam um serviço especializado para a elaboração e captação de seus projetos. Desta feita, percebe-se o aumento da adesão do discurso de que as políticas de fomento à cultura, seja em nível federal, estadual ou municipal, servem muito mais como instrumento de medo por parte da fração social que a utiliza do que propriamente como um mecanismo responsável pelo aumento da produção, fruição e consumo do produto cultural desenvolvido nacionalmente. Este é um dos pontos fortes da discussão atual que exige, principalmente por parte dos setores culturais e artísticos, uma série de mudanças

107 nos escopos das leis – seja na Rouanet, na Câmara Cascudo ou na Djalma Maranhão – tendo em vista que a burocratização do acesso a estas se encontra cada vez maior, além de que os percentuais de renúncia fiscal disponibilizados para o investimento no setor da cultura há muito não correspondem à realidade da produção cultural contemporânea, que conta com um crescimento cada vez maior.

5.2.1.1 – Os projetos culturais habilitados na Lei Câmara Cascudo nos últimos 04 anos

A Lei Câmara Cascudo teve sua promulgação no ano de 1999 e passou a vigorar a partir dos anos 2000. Desde então, é tida como o principal mecanismo responsável por fomentar a produção cultural e artística em âmbito estadual. A presente pesquisa se preocupou em levantar os dados relacionados à execução da lei nos últimos 04 (quatro) anos, posto que desde então vem se observando um aumento considerável da quantidade de projetos habilitados e, principalmente, da quantidade de empresas que vem ampliando e investindo em seus setores de comunicação e marketing e, consequentemente, se mostram mais abertas para o patrocínio cultural, visando o retorno de imagem positivo que isto pode lhes proporcionar. Assim, o recorte temporal que propomos passa a contar a partir do ano de 2012 até 2015, levando-se em consideração que os projetos habilitados no ano de 2016 para serem executados no ano fiscal de 2017 até o momento ainda não tiveram liberados sequer os Certificados de Enquadramento.

Quadro n° 1: Os projetos culturais habilitados na Lei Câmara Cascudo (2012-2015).

Ano Principais municípios Empresas patrocinadoras Projetos inscritos Projetos aprovados Valor total da renuncia Valor total captado 2012 Natal, Parnamirim, Mossoró, São Miguel do Gostoso. Cosern, Oi, Ambev, Petrobras, Telemar. 34 27 R$ 4.906.471,00 R$ 2.652.426,00 2013 Natal, Parnamirim, Cosern, Oi, Ambev, 41 31 R$ 5.170.600,00 R$ 3.256.710,00

108 São Miguel do Gostoso. Telemar, Cabo Telecom. 2014 Natal, Mossoró, São Miguel do Gostoso. Cosern, Oi, Ambev, Telemar, Cabo Telecom, Alesat Combustíveis. 46 37 R$ 5.760.900,00 R$ 3.610.990,00 2015 Natal, Parnamirim, Mossoró. Cosern, Telemar, Três Corações Alimentos S/A, Claro Telefonia. 34 27 R$ 5.100.000,00 R$ 3.763.880,00 Fonte: Fundação José Augusto.

No ano de 2012, percebeu-se na Lei Câmara Cascudo a participação muito expressiva da Companhia de Serviços Elétricos do RN (Cosern Neoenergia) no patrocínio dos projetos aprovados, uma vez que somente ela apoiou a quantidade significativa de dezesseis projetos aprovados, dentre os quais, alguns dos principais produtos culturais do Rio Grande do Norte, como é o caso do Festival Música Alimento da Alma (MADA) e do festival Fest Bossa Jazz, além da temporada anual da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte (OSRN). Sozinha, a COSERN investiu mais de 02 milhões de reais em seu Edital Cultural (informações precisas mais adiante) no ano de 2012.

No ano de 2013, percebemos em comparação ao de 2012 um aumento do valor do teto da renúncia fiscal, aumentando de R$ 4.906.471,00 para R$ 5.170.600, o que demonstra uma maior receptividade do poder público para com a causa cultural, muito embora o valor total da renúncia não signifique o valor total captado, dados os gargalos que o modelo de política em questão enfrenta em face à iniciativa privada. Ademais, no ano de 2013 percebemos ainda uma adesão, ainda que tímida, do número de empresas interessadas em patrocinar o setor da cultura, como é o caso da Alesat Combustíveis e da Tim Celular, que juntas patrocinaram o Halleluya, festival de música católica promovido pela Associação Shallom. Mais uma vez, em 2013 a COSERN Neoenergia assume o papel de maior financiadora da cultura no RN, tendo patrocinado dezessete projetos no ano, com um valor total de renúncia fiscal investido estimado em R$ 3.240.000,00.

No ano de 2014, podemos perceber a manutenção da cidade de São Miguel do Gostoso como um dos principais municípios menores a conseguir aprovar e

109 captar na íntegra o seu projeto, que é a Mostra de Cinema de Gostoso. Em todos os anos de sua execução, a Mostra conta com o patrocínio cativo da Cosern Neoenergia, que em seu edital preza pelo patrocínio a projetos cultuais que sejam capazes de fomentar a economia da cidade em que se localiza. Em 2014, a empresa cedeu a quantia de R$ 250.000,00 apenas para a Mostra de Cinema de Gostoso, além de mais R$ 2.400.800, 00 para projetos que dialogam com os mais variados eixos da economia da cultura, com uma atenção especial para o patrocínio de R$ 500.000,00 para o Carnaval Multicultural de Natal no ano de 2014.

No ano de 2015, as médias entre os valores disponibilizados para a renúncia fiscal e os que de fato foram captados permaneceram na média dos demais anos, com a ressalva de que neste ano percebeu-se uma quantidade significativa de projetos religiosos aprovados, captados e executados, como foi o caso do Oratório de Santa Luzia e o Festival de Teatro da Comunidade Católica Shallom. Pode se perceber ainda que, em comparação com os anos anteriormente estudados, as empresas que patrocinam esse tipo de projeto são as mesmas, com atenção especial para a maior aderência da Três Corações Alimentos S/A e a Alesat Combustíveis. Mais uma vez, a Cosern Neoenergia ocupa o posto de principal financiadora cultural do RN, tendo patrocinado a quantia recorde de dezenove projetos, em um montante financeiro estimado em R$ 2.983.000,000.

5.3 – Lei Djalma Maranhão (n° 4.838/97)

No âmbito do Município de Natal, os setores culturais contam com a direção da Lei Djalma Maranhão (n° 4.838/97) para gerir os seus fazeres culturais, que deu base legal para que fosse promulgado o Programa Municipal de Cultura. Instituído pelo Decreto n° 6.906 de 20 de fevereiro de 2002, o Programa Municipal de Incentivos Fiscais a Projetos Culturais Djalma Maranhão teve sua origem na lei anteriormente citada, que inaugurou a negociação de troca de descontos em impostos pelo financiamento cultural por parte das pessoas jurídicas devedoras de IPTU e ISS, considerando duas partes atuantes para que

110 se configure a relação jurídica que pela lei será regida: a figura do Empreendedor, como sendo a pessoa, física ou jurídica, diretamente responsável pelo projeto cultural habilitado pelo incentivo, sendo obrigatório o domicílio deste no município de Natal há pelo menos três anos; e a do Incentivador, entendida como a pessoa jurídica inscrita no Cadastro de Contribuintes do Imposto sobre a Prestação de Serviços (ISS) ou no Cadastro do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que venha a apoiar os projetos culturais previamente aprovados pela Comissão Normativa da Lei Djalma Maranhão, no âmbito das modalidades de Doação, Patrocínio ou Investimento. A utilização dos recursos da lei, por parte de pessoas físicas ou jurídicas, será o equivalente a até 20% dos débitos tributários de ISS e IPTU a vencer, e ainda de até 25% dos débitos já vencidos referentes a esses tributos. No que tange as modalidades de financiamento anteriormente descritas, as mesmas foram dispostas em lei da seguinte maneira:

a) Doação: transferência, em caráter definitivo e livre de ônus, feita pelo Incentivador ao Empreendedor, de recursos financeiros, para a realização do projeto cultural, sem fins lucrativos, em que não haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, observando o limite do imposto

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