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UM ESTUDO SOBRE A PRIMEIRA PROPOSTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA DA REDE

REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CURITIBA

2. A FORMAÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CURITIBA E O CONTEXTO DOS PROGRAMAS

2.3. UM ESTUDO SOBRE A PRIMEIRA PROPOSTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA DA REDE

MUNICIPAL DE ENSINO DE CURITIBA

Conforme apontamos, o primeiro programa de ensino e aprendizagem das disciplinas escolares na Rede Municipal de Ensino de Curitiba (RMEC) foi apresentado pela Secretaria de Educação e Cultura (SEC/PR). Tal programa, entretanto, não foi formalizado na forma de currículo; os documentos que caracterizam o referido programa são os manuais que eram utilizados para a orientação da docência, identificados como “Manual do Professor Primário do Estado do Paraná”.

O conjunto de manuais da Secretaria de Educação e Cultura (SEC/PR) era organizado em séries e disciplinas. O programa de Matemática, por exemplo, era formado por um rol de conteúdos e oferecia aos professores algumas orientações para o seu trabalho em sala de aula, caracterizando a disciplina Matemática como uma ferramenta essencial à instrumentalização dos alunos para a resolução de problemas:

O ensi no da mat e mát i c a na escol a pr i már i a vi sa f or necer aos al unos os i nst r u ment o s bási cos par a a par t i ci pação na vi da e m soci edade e, por c onse gui nt e, dot á -l os d e conheci ment os ut i l i zá vei s na r esol ução dos pr obl emas co m q ue i r ão se def r ont ar na vi da pr i m ár i a... ( D OC. 65)79.

Tal concepção, dando uma função instrumental para a Matemática, remete para a Tendência Empírico-Ativista; segundo a descrição apresentada por Fiorentini. O autor indica que a referida tendência possui como suporte os pressupostos da Pedagogia Ativa, que surgiu em “oposição à escola clássica tradicional”, a qual

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_DO C. 65: Ensi no Pr i már i o no Par aná , Pr ogr a ma de Mat e mát i ca; Manual do Pr of essor ; 1. ª a 4. ª Sé r i e. Cur i t i ba: Secr et ar i a de Educação e Cul t ur a do Est ado do Par aná ( S EC/ P R) , 1 963.

d e s c o n s i d e r a v a a i m p o r t â n c i a d a “ n a t u r e z a d a c r i a n ç a e m desenvolvimento, sobretudo suas diferenças e características biológicas e psicológicas” (FIORENTINI, 1995, p. 8)80.

Essa concepção, em seu auge de difusão, ocasionou uma mudança na relação pedagógica: o professor não era mais o elemento fundamental do ensino e, assim, assumiu a função de f acilitador ou orientador do aprender escolar; o aluno, nesse contexto, ocupou um lugar de destaque no processo de ensino e aprendizagem, de sujeito passivo do ensino foi transformado em um sujeito ativo de sua aprendizagem.

Logo, sob os princípios da referida concepção, o professor devia “aproveitar todas as situações reais que” eram apresentadas “no desenvolvimento dos programas e atividades escolares para ensinar matemática em situação real” (DOC. 65)81. Por isso, a metodologia de ensino orientava para a realização de atividades em grupo, explorando materiais concretos e permitindo a formação de um ambiente propício à aprendizagem; pois:

Dewe y, gr a nde educa dor a mer i cano, di sse: “nove déci mos daquel es que não gos t am da mat e mát i ca o u daquel es que não sent e m apt i dão p ar a essa admi r á vel ci ênci a deve m t al desgr aça ao ensi no qu e [ r eceber am] no pr i n cí pi o”... ( DO C. 67)82.

Em função dessa af irmação, observamos que, com a intenção de impedir mais desgraças e erradicar concepções negativas em relação à Matemática, transformando o processo de ensino e

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_DA R IO, Fi or ent i ni . Al guns modos de ver e conceber o Ensi no d a Mat emát i ca no Br asi l . – O aut o r apr esent a sei s t endênci as par a o pr ocess o de ensi no e apr endi za ge m da di sci pl i na Mat emát i ca: F or mal i st a Cl ássi ca, E mp í r i co -At i vi st a, For mal i st a Moder na, T ecni ci st a, Const r ut i vi st a e Sóci o -Et nocul t ur a l i st a.

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_DO C. 65: Ensi no Pr i már i o no Par aná , Pr ogr a ma de Mat e mát i ca; Manual do Pr of essor ; 1.ª a 4.ª Sér i e. Cur i t i ba: Secr et ari a de Educação e Cul tur a do Est ado do Par aná ( S EC/ P R) , 1 963.

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_DO C. 67: Ensi no Pr i már i o no Par aná , Pr ogr a ma de Mat e mát i ca; Manual do Pr of essor ; 2. ª Sér i e. Cur i t i ba: Secr et ar i a de Educação e Cul t ur a do Est ado do Par aná ( SE C/ PR) , 196 3.

aprendizagem da disciplina em algo mais agradável para os alunos e mais proveitoso em sua vida cotidiana, os referidos manuais indicavam para os professores a utilização dos seguintes recursos em suas aulas:

( a ) a “motivação” porque, assim, as crianças seriam mantidas interessadas e prontas para receber os ensinamentos que estavam sendo propostos;

( b ) a “objetivação” porque, oferecendo um apoio concreto, os alunos poderiam compreender de maneira clara o porquê das coisas;

( c ) a “comparação” porque, por meio de tal recurso, os alunos seriam levados a adquirir e a generalizar os conceitos da Matemática.

O uso desses recursos era justificado pelo fato de que “pesquisas, observações e experiências realizadas provam que a aprendizagem da criança se processa através do que ela vê, ouve, manuseia e compara” (SEC/PR, 1993). Sob tal pressuposto, podemos apontar que “o conhecimento matemático emerge do mundo físico e é extraído pelo homem através dos sentidos” (FIORENTINI, 1995, p. 9); e, dessa maneira:

O pr of essor i nt el i gen t e, cônsci o da [ ...] r esponsabi l i dade que l he f oi at r i buí da, pr ocur ar á at ender as di f er enças que há ent r e seus al unos , t or nando se us en si na ment os mai s assi mi l á vei s, at r a vés de at i vi dades var i ada s e de mat er i al concr et o... ( DO C. 6 7)83.

Em resumo, a Rede Municipal de Ensino de Curitiba (RMEC), sob as proposições do Programa de Matemática da Secretaria de Educação e Cultura (SEC/PR):

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_DO C. 67: Ensi no Pr i már i o no Par aná , Pr ogr a ma de Mat e mát i ca; Manual do Pr of essor ; 2. ª Sér i e. Cur i t i ba: Secr et ar i a de Educação e Cul t ur a do Est ado do Par aná ( SE C/ PR) , 196 3.

( a ) det ermin av a qu e os alu nos ap rendi am fazendo e, p or is so, o ensi no d ev ia v al oriz ar as açõ es d e p esq uisa e d es co bert a, ex plorando ativi d ad es d e ex p eriment ação e resol u ção de pro blemas;

( b ) com preendi a q ue, po r meio d a vis u alização e d a manip ulação de o bjetos o u po r m eio d a realiz ação de ativi dades práti cas, os alun os d es en vol viam su as abs traçõ es e generalizaçõ es , induti va ou int uitiv ament e;

( c ) não se preocupava de forma rigorosa com as estruturas internas da construção matemática, pois sua preocupação maior era proporcionar aos alunos situações de aplicação dos conceitos estudados.

O papel da pesqui s a no sei o desse i deár i o, por t ant o, consi st i r i a, de um l ad o, e m i n vest i gar o que a cr i ança pensa, gost a, f az e pode f a ze r ( suas pot enci al i dades e di f er enças) ; e, de out r o, e m d esenvol ver at i vi dade s ou mat er i ai s pot enci al ment e r i cos que l eve m os al u nos a apr ender ludicamente e a descobrir a Matemática a partir de ati vi dades experi ment ais [...], possibilitando o desenvol vi ment o da cr i at i vi dade. Ou sej a, o cent r o de gr a vi dade da qual i dade do ensi no desl oca -se d o cont eúdo par a o al uno e as at i vi dades e/ ou pr obl e mas heur í st i cos... ( F IO RE NT IN I, 1995, p . 12) .

Nesse sentido, dimensionando um caráter pragmático ao processo de ensino e aprendizagem da disciplina Matemática, o professor devia proporcionar aos alunos situações que lhes permitissem explorar aplicações práticas, justamente, em função da diretriz de “ensinar a matemática em situação real” (DOC. 66)84. Eis, por exemplo, uma orientação fornecida aos professores sobre o trabalho com numeração (DOC. 67)85:

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_DO C. 66: Ensi no Pr i már i o no Par aná , Pr ogr a ma de Mat e mát i ca; Manual do Pr of essor ; 1. ª Sér i e. Cur i t i ba: Secr et ar i a de Educação e Cul t ur a do Est ado do Par aná ( SE C/ PR) , 196 3.

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_DO C. 67: Ensi no Pr i már i o no Par aná , Pr ogr a ma de Mat e mát i ca; Manual do Pr of essor ; 2. ª Sér i e. Cur i t i ba: Secr et ar i a de Educação e Cul t ur a do Est ado do Par aná ( SE C/ PR) , 196 3. p. 81.