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4. AS TECNOLOGIAS SOCIAIS E O TERCEIRO SETOR

4.3. Casos sobre tecnologias sociais

4.3.1. Análise da tecnologia social – Bola Pra Frente

4.3.1.2. Estudo da tecnologia social

A tecnologia social do Instituto Bola Pra Frente está associada ao conjunto de projetos que a organização promove no território. Sendo assim, é feita uma descrição dos três principais projetos sociais do Instituto que dão origem à tecnologia social.

Para estimular o desporte educacional, o Instituto criou o projeto Craque de Bola

e de Escola (DOS SANTOS, 2008). Nele, crianças são estimuladas à educação

conforme praticam atividades esportivas como o futebol, futsal, vôlei, handebol, atletismo e basquete.

O projeto Craque de Bola e de Escola trabalha com a equação “esporte +

educação” e tem como lema a frase “aprendendo a vencer nos campos da vida”. O público beneficiário deste projeto são as crianças de seis a nove

anos. O Craque de Bola e de Escola tem como objetivos despertar o interesse em aprender e apoiar a alfabetização, evitando a evasão escolar. Cada criança

é impulsionada a se tornar um “craque” também na escola, sendo motivada a

dar continuidade aos estudos e buscar o seu desenvolvimento integral (DOS SANTOS, 2008, p. 97).

Uma das inovações do Craque de Bola e de Escola assenta-se sobre a pedagogia dialógica e representativa em relação aos beneficiários. A cada dia, o professor elege ou

sorteia uma criança para exercer a função de “capitão” (DOS SANTOS, 2008). A

criança escolhida veste uma braçadeira e ajuda o educador com a organização das atividades pedagógicas e esportivas. Esse processo de responsabilidade-representativa, apesar de embrionário, desenvolve estímulos a independência e, além disso, refina o senso de compartilhamento diante da metodologia educacional. As outras crianças, de certa forma, sentem-se parte integrante da organização, pois vivenciam a experiência do capitão em função da similaridade etária e em relação à origem comunitária. Em resumo, todas as crianças são passíveis de exercer a posição de capitão, fortalecendo um senso de representatividade coletiva (DOS SANTOS, 2008).

O Craque de Bola e Escola é construído em quatro momentos: (1) aquecimento; (2) esquema de jogo; (3) jogo e (4) mesa redonda. Segue a descrição das quatro etapas segundo a descrição de Susana Moreira dos Santos:

O “aquecimento” é o primeiro passo a ser dado pelo educador. É o momento

de estimular o educando a falar sobre a sua vida e sobre suas experiências na família e na escola, dando ao educador a oportunidade de conhecer melhor as crianças e adolescentes e de levantar possíveis conflitos na comunidade. Este momento inicial tem muita relevância para o trabalhador social, pois, muitas vezes, o educando pode ter problema para se concentrar nas atividades em virtude da violência na sua comunidade ou mesmo dentro da sua própria família (DOS SANTOS, 2008, p. 121).

O “esquema do jogo” cumpre objetivos importantes na metodologia do

Instituto, trabalhando aspectos como autonomia, empoderamento e disciplina. Para Paulo Freire, é indispensável a constituição democrática da disciplina, mediada pelo diálogo (DOS SANTOS, 2008, p. 123).

O esquema de jogo é executado com base numa moldura pendurada na sala de atividades, onde o nome de cada criança é acompanhado por um espaço em branco para depositar uma autorreflexão em relação às atividades propostas no dia. O “jogo” define- se diante dos seguintes parâmetros:

Uma vez definido o “esquema do jogo”, é hora de “entrar em campo” para realizar as atividades pedagógicas, específicas de cada projeto. Estas atividades são feitas a partir dos campos pedagógicos. (...) Cada projeto tem o seu campo pedagógico específico, de acordo com a faixa etária e estratégia educacional utilizada. Todos os campos são compostos de ícones básicos e mais atividades personalizadas, de acordo com o foco do projeto. O campo do Craque de Bola e de Escola, além dos ícones básicos, tem o alfabetário e a calculadora, uma vez que este projeto concentra-se no apoio à alfabetização das crianças de seis a nove anos (DOS SANTOS, 2008, p. 123-124).

Mesa redonda: Após a aplicação dos campos pedagógicos, as aulas são

concluídas com a “Mesa Redonda”. Nesta atividade, os educandos fazem um círculo e debatem sobre o “Jogo”. A “Mesa Redonda” foi elaborada visando

à socialização e a auto-avaliação (“placar”), por isso a importância de sentarem em círculo para haver uma visão geral do grupo, onde possam se relacionar (DOS SANTOS, 2008, p. 131).

O mesmo método é aplicado aos projetos ARTilheiro e Campeão de Cidadania, porém a ação não é restrita ao auxílio educacional. No ARTilheiro, crianças e adolescentes, de até 14 anos de idade, são incentivados à arte e cultura, sendo intermediados por ações esportivas.

O ARTilheiro tem como objetivo estimular a criatividade e a liberdade de expressão, incentivar as manifestações artística e o acesso a bens culturais, bem como promover a valorização da própria cultura. Considerando que esta é uma das faixas etárias com maior vulnerabilidade, com o início da adolescência, o Instituto Bola Pra Frente utiliza as diversas formas de expressão, proporcionadas pelo teatro, dança, música, vídeo e artesanato, para ampliar a visão de mundo dos educandos, valorizando o autoconhecimento e contribuindo para a construção da identidade, dos valores morais e éticos e do pensamento crítico (DOS SANTOS, 2008, p. 98).

Por fim, o projeto Campeão de Cidadania visa qualificar adolescentes e jovens para o mundo do trabalho. Com base nisso, o Bola Pra Frente ajuda a avaliar as competências dos beneficiários e reforçar aspectos profissionais, tais como noções administrativas, informática, métodos de entrevista e empreendedorismo.

A metodologia do Campeão de Cidadania busca a aproximação entre teoria e prática por meio de uma visão psicopedagógica que estimule o desafio e a participação no processo de apropriação do conhecimento. Os adolescentes têm aulas de português, matemática, inglês, orientação para o trabalho, qualidade em atendimento, legislação trabalhista, gestão organizacional, informática, além de atividades como palestras, jogos empresariais, visitas às empresas, elaboração do currículo e as atividades comuns a todos os projetos - educação física, educação artística, educação ambiental, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e atualidade (DOS SANTOS, 2008, p. 99).

Além desses três projetos, o Instituto Bola Pra Frente também trabalha aspectos relacionados à saúde, meio ambiente e religiosidade (DOS SANTOS, 2008). No entanto, todas essas atividades são relacionadas ao desenvolvimento da cidadania individual e coletiva – sempre integrados às atividades desportivas. A tecnologia social do Bola Pra Frente pode ser centralizada, conceitualmente, sobre dois elementos interdependentes: juventude e inclusão social. Em seguida, abre-se margem para os resultados almejados que visam à ampliação da cidadania e da atitude solidária. A tecnologia social torna-se prática ao incorporar os eixos temáticos e as atividades esportivas, sendo estas relacionadas aos demais temas.