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Capítulo III. Revisão de literatura

3.2. O S CICLOS POLÍTICO ORÇAMENTAIS NA A DMINISTRAÇÃO L OCAL

3.2.1. Estudos de âmbito internacional

A maioria dos estudos internacionais analisam o comportamento das despesas e das receitas, tendo sido vários os autores que obtiveram evidência empírica que lhes permitiu comprovar a existência de ciclos político-orçamentais.

Um dos primeiros trabalhos enquadrados nesta linha de investigação foi o de Rosenberg (1992). O autor estudou dez cidades israelitas entre 1964 e 1982, na tentativa de testar duas hipóteses fundamentais: por um lado se as despesas dos períodos pré-eleitorais seriam superiores às dos pós-eleirorais e, por outro lado, se existia assimetria intertemporal nas despesas caso o político decidisse não se recandidatar. Para a validação das hipóteses dividiu a sua análise em dois períodos, sendo o ano eleitoral o ponto intermédio. Os resultados permitiram-lhe constatar que as despesas dos períodos pré-eleitorais eram superiores às dos períodos pós-eleitorais. Por outro lado, contrariando a abordagem tradicional dos ciclos político-económicos, comprovou que os políticos no governo, que decidiram não se recandidatar aumentaram mais as despesas do que os que decidiram fazê-lo.

Blais & Nadeau (1992) prosseguiram o caminho do estudo da existência de ciclos político-orçamentais nos governos locais. Neste sentido, analisaram dez províncias do Canadá, para o período de 1951 até 1984. Para o efeito, estudaram cinco variáveis principais: despesas totais, despesas sociais, despesas com estradas, despesas com a

agricultura e o excedente/défice orçamental. Os autores dividiram o período de estudo em quatro grupos, seguindo a metodologia de Alesina (1988). O primeiro período corresponde ao ano de eleição, existindo depois o ano pós-eleitoral, o ano correspondente ao meio do período de governação e por fim o ano pré-eleitoral. Como conclusões, Blais & Nadeau (1992) referem a existência de um ciclo, mesmo que de pequena amplitude, verificando-se que no ano de eleições o total das despesas aumenta 1%, refletindo-se também no défice. O ciclo apresenta características oportunistas e, ao mesmo tempo, ideológico-partidárias. Em relação às variáveis analisadas constatam que é nas despesas sociais e com estradas que o ciclo é mais notório. Por último, evidenciam que o comportamento oportunista entre os governos das províncias canadianas, não apresenta diferenças em função da ideologia política, do tempo de duração dos mandatos e do facto de ter sido reeleito ou eleito pela primeira vez.

Bhattacharyya & Wassmer (1995) também estudaram a estrutura das despesas e receitas em função do ciclo eleitoral, neste caso das dez cidades mais populosas dos Estados Unidos da América (EUA). Assumiam que os políticos no governo, atuam para maximizar os seus objetivos de longo prazo, sendo que as preferências dos eleitores podem funcionar como restrições à atuação dos mesmos. Os resultados sustentam a ideia de que existe um comportamento oportunista dos políticos, sendo que o período eleitoral faz com que existam diferenças ao nível da política fiscal (receitas/despesas). Na tentativa de comprovar se o comportamento político, dos governos (dez províncias canadianas) estaria relacionado com o calendário eleitoral, também Bradford (1998) abordou os ciclos político-económicos e político-orçamentais, tendo por base um comportamento oportunista dos políticos. Confirmou a hipótese da existência de um ciclo político-orçamental, mas sem evidência estatística de que seria oportunista. Assim, constatou que durante o período eleitoral, as despesas aumentam, através da transferência para as famílias e empresas, mas não pela aquisição de bens e serviços. Verificou também que existia uma alteração na execução das várias componentes da despesa.

O comportamento oportunista foi também estudado para as Comunidades Autónomas espanholas, por Serralde Miguez (2000), que centrou o seu trabalho nos instrumentos, e não nos resultados da ação política, pois considerava que existem fatores que não são controlados, de forma absoluta, pelos políticos. Assim, estudou mecanismos político-

orçamentais, considerando que o seu conhecimento permitira relacioná-los com os resultados económicos. Neste sentido, avaliou a evolução da despesa de forma agregada e desagregada (despesas totais não financeiras, despesas de funcionamento, investimento real, transferências e despesas financeiras). Este estudo apresenta uma particularidade relacionada com o estudo da despesa em quatro fases de execução orçamental: orçamento inicial, orçamento final, obrigações assumidas e pagamentos líquidos. Os resultados demonstraram que existia o fator eleitoral na evolução das despesas, o que comprovou a existência de um ciclo político-orçamental. Tendo por base as fases de execução orçamental, realça-se o facto de, ao nível da despesa total, se constatar um aumento no ano pré-eleitoral, na execução do orçamento, mantendo-se a tendência no ano eleitoral, com maior significado no orçamento inicial.

Pettersson-Lidbom (2003), no âmbito de um estudo aplicado a duzentos e oitenta e oito municípios suecos, entre 1974 e 1978, também utilizou as despesas para estudar a existência do ciclo político-orçamental, tendo, para além disso, estudado os impostos. O autor utilizou três etapas para comprovar as suas hipóteses. Na primeira testou a existência de ciclos eleitorais relacionados com a política fiscal. De seguida tentou perceber se os ciclos dependiam dos resultados das eleições. Por último averiguou se o sucesso eleitoral fazia diminuir a carga fiscal. Tendo por base a metodologia definida, o autor concluiu que no ano pré-eleitoral as despesas aumentavam e os impostos diminuíam. Após as eleições, os políticos reeleitos procediam aos devidos ajustamentos, pois constatava-se que as despesas diminuíam e os impostos aumentavam, em relação ao ano eleitoral.

Ainda na mesma linha de investigação, Eslava (2005) também relaciona os ciclos eleitorais com a realização das despesas, em mil e cem municípios colombianos (1987- 2000), tentando, neste caso, comprovar a alteração na composição das mesmas. O autor confirma a hipótese de que os eleitores compensam eleitoralmente, o aumento de despesas com infraestruturas, educação e saúde.

Tellier (2006) aborda a mesma temática, pelo que estuda as províncias canadianas, no período de 1983 a 1995. O autor pretendia analisar as despesas, tendo por base o ciclo político e eleitoral. Os resultados permitiram validar a hipóteses de que a ideologia política interfere na realização das despesas. Constataram então que os governos de

esquerda apresentavam valores superiores de despesas, comparados com os do centro e direita. Estes aspetos evidenciaram a existência de ciclos político-orçamentais.

A realidade brasileira, no caso específico dos municípios de São Paulo, entre os anos de 1989 e 2001, foi também investigada por Sakurai & Gremaud (2007). O objetivo do estudo foi o de avaliar se o comportamento das despesas está sujeito a fatores de ordem política, tendo em consideração o calendário eleitoral e a postura dos partidos políticos que governaram. Os autores concluíram que existia uma influência estatisticamente significativa da variável “ano eleitoral” sobre o comportamento da despesa, tendo verificado que os investimentos diminuíram, aumentando a despesa corrente. Destacaram ainda que não existia evidência de que o comportamento descrito estivesse relacionado com aspetos ideológico-políticos.

Sakurai & Menezes-Filho (2010) prosseguiram com o estudo no âmbito dos municípios brasileiros. Neste sentido, utilizaram dados de mais de dois mil e quinhentos municípios, para o período de 1989 a 2005, tentando avaliar a hipótese da existência de um comportamento oportunista dos políticos, em relação às despesas, receitas e situação fiscal. Os resultados obtidos permitiram concluir que nos anos de eleições existia um aumento das despesas correntes e uma diminuição das receitas fiscais, o que indiciava e existência de um ciclo político-orçamental.

Em suma, concluímos que, tendo por base os estudos apresentados, existe evidência empírica da ocorrência de ciclos político-orçamentais, associados, em muitos casos, a um comportamento oportunista dos políticos, fundamentalmente no que respeita às despesas e receitas.