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Capítulo III. Revisão de literatura

3.2. O S CICLOS POLÍTICO ORÇAMENTAIS NA A DMINISTRAÇÃO L OCAL

3.2.2. Estudos apicados à realidade portuguesa

A realidade portuguesa também tem sido alvo de alguns estudos, podendo ser destacados, de entre outros de Marta (2000), Baleiras & Costa (2004), Coelho (2004), Veiga & Veiga (2004, 2005, 2007), Coelho et al. (2006) e Aidt et al. (2009) que passaremos, de seguida, a apresentar de forma mais detalhada.

Em relação ao estudo de Coelho et al. (2006), dado ter como único objetivo verificar a evidência do ciclo político-económico ao nível do emprego local, realçamos apenas que

os autores encontram essa evidência para duzentos e setenta e cinco municípios portugueses, para o período de 1985 a 2000.

Marta (2000) apresenta um estudo onde afere a possibilidade da existência de ciclos partidários e oportunistas, em vinte e quatro municípios portugueses, entre os anos de 1977 e 1997. Utilizou como variável dependente as despesas de capital per capita. Para além de algumas variáveis políticas incluiu também no modelo a variável de transferências de capital per capita. As conclusões evidenciaram a existência de um ciclo político-económico em relação às despesas de capital, não se verificando evidência em relação à existência de ciclos partidários.

Os estudos de Veiga & Veiga (2005, 2007) procuraram testar a existência de ciclos político-económicos, em duzentos e setenta e oito municípios portugueses, para o período compreendido entre 1979 e 2001. Foram testadas hipóteses relativas aos saldos de execução orçamental de vários tipos de despesas e ao nível do emprego. Tendo os autores enquadrado o trabalho na linha de investigação dos ciclos político-económicos, consideramos que ele pode ser considerado no âmbito dos ciclos político-orçamentais, dado que testa fundamentalmente variáveis orçamentais. As conclusões dos dois estudos apresentados estão em consonância com um outro, elaborado pelos mesmos autores (Veiga & Veiga, 2004) e que apresentava o mesmo objetivo, neste caso para o período de 1979-2000.

No que se refere às variáveis orçamentais, (Veiga & Veiga, 2004, 2005, 2007) testam o saldo de execução orçamental, as despesas de investimento de forma agregada e vários dos seus componentes, como sejam aquisição de terrenos, habitações e outros edifícios, construções diversas, material de transporte, maquinaria e equipamento e outros investimentos. Introduziram também no modelo variáveis dummy para ano de eleição, presidente de um partido de direita, municípios do litoral, categoria populacional, maioria na assembleia municipal e recandidatura. Os resultados demonstram, quanto ao saldo de execução orçamental, uma forte evidência de ciclos oportunistas, em relação ao ano de eleições. Neste sentido, os autores constataram que no ano de eleições se verifica um aumento do défice, do total da despesa, das despesas de capital e das de investimento. Em relação às despesas de investimento constataram, de entre outros aspetos, o seguinte: existe um aumento no ano de eleições, nos que as antecedem e em anos de eleições legislativas; evidência de eleitoralismo nas componentes mais visíveis

pelo eleitorado; o facto de o partido do presidente deter maioria na assembleia municipal não afeta significativamente o montante; e evidência de que os presidentes de partidos de esquerda são mais oportunistas do que os de direita.

Na mesma linha de investigação de Veiga & Veiga (2004, 2005, 2007) o trabalho de Coelho (2004) tenta responder às seguintes questões: “Ocorrem ciclos político-

económicos no poder local em Portugal? Existe evidência de efeitos oportunistas nos resultados económicos locais e nos instrumentos de política utilizados pelo poder local? Observam-se efeitos partidários nos resultados económicos e/ou nos instrumentos de política económica locais?” (Coelho, 2004:2). O âmbito de aplicação da investigação foi ao conjunto dos 86 municípios portugueses que fazem parte da Nomenclatura de Unidades Territoriais (NUTS) nível II17, do Norte, para o período de 1979 e 2000. Tal como em Veiga & Veiga (2004, 2005, 2007), o estudo incidiu fundamentalmente na análise de variáveis orçamentais, de entre as quais se destacam: despesas totais, despesas correntes, despesas de capital, saldo de execução orçamental, despesas de investimento e seus componentes (habitações, outros edifícios, construções diversas, entre outros). O modelo econométrico integra também variáveis dummy relacionadas com os partidos políticos, ano eleitoral, categoria de população, entre outras. Os autores estimaram regressões sobre os valores agregados do saldo e das despesas municipais, e sobre as componentes das despesas correntes, de capital e de investimento. Constataram que ocorrem ciclos políticos oportunistas em todas as rubricas, não existindo evidência de efeitos partidários. O ano eleitoral e o que o antecede, fundamentalmente neste, são os que mais evidenciam comportamento oportunista. Quanto às várias componentes da despesa, verificaram-se também efeitos significativos de manipulação oportunista, fundamentalmente nas despesas de investimento; habitação; outras despesas em outros edifícios; total de construções diversas; viadutos, arruamentos e obras complementares; e viação rural. No cômputo geral o autor corroborou as conclusões de Veiga & Veiga (2004, 2005, 2007), considerando que existe evidência significativa quanto à ocorrência de ciclos oportunistas nos instrumentos de política e nos resultados económicos, nos municípios portugueses.

Baleiras & Costa (2004) avaliaram a existência de ciclos político-económicos num universo de 30 municípios portugueses, para o período de 1977-1993. A variável dependente utilizada no modelo foi o total das despesas com investimentos per capita, dado que os autores consideram que os presidentes dos municípios terão, neste tipo de despesas, a possibilidade de estabelecer o calendário de execução. Para a operacionalização do modelo definiram variáveis dummy relacionadas com o período eleitoral, possibilidade de reeleição e maioria do partido do presidente na assembleia municipal. Os autores concluíram que existem ciclos político-económicos, traduzido na forma como os presidentes dos municípios gerem as despesas de investimento. Assim, constataram que as despesas de investimento per capita são maiores em períodos pré- eleitorais, sendo que esta evidência está a diminuir à medida que aumenta a maturidade democrática. Realçam também o facto de o partido do presidente do município ter a maioria na assembleia municipal, potenciar o aumento das despesas de investimento18. Aidt et al. (2009) introduziram uma nova hipótese relacionada com os ciclos político- orçamentais, que está relacionada com a possibilidade de o comportamento oportunista influenciar a distância, ao nível do resultado eleitoral, entre os dois partidos mais votados. Utilizam variáveis orçamentais como despesas totais, correntes, de capital e de investimento. O modelo integra ainda outras variáveis, tais como recandidatura do presidente, partido de direita, de entre outras. De realçar a introdução de uma variável, que permite cumprir com o principal objetivo do estudo, isto é a margem de vitória do partido que ganha as eleições em relação ao segundo mais votado. As conclusões principais do estudo foram as de que a magnitude do comportamento oportunista aumenta a margem de vitória, e que a margem de vitória da eleição anterior pode diminuir esse comportamento. Além disto, os políticos que têm uma margem de vitória pequena, bem como os que não se recandidatam, têm mais propensão para atuar de forma oportunista. Por último, obtiveram evidência de que os partidos de direita têm um comportamento menos oportunista.

Face ao exposto, podemos concluir que a evidência empírica obtida nos vários estudos aplicados à realidade portuguesa têm apresentado resultados consonantes com da

18 Como os autores fizeram a análise considerando dois períodos 1977-1985 e 1986-1993, verificam que é no

literatura internacional, evidenciando-se também o comportamento oportunista dos políticos.