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ESTUDOS ABORDANDO AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE

CAPÍTULO 5. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E VIOLÊNCIA URBANA

5.3. ESTUDOS ABORDANDO AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE

VIOLÊNCIA

Na última década, os estudos sobre representações sociais da violência passaram a ter mais destaque no Brasil, tendo como principais recortes as suas manifestações contra crianças, adolescentes, mulheres e idosos nos contextos da família, escola, na cidade e no campo (Ribeiro, 2011). O Núcleo de Pesquisas Aspectos Psicossociais de Prevenção e Saúde Coletiva – NPAPPSC da Universidade Federal da Paraíba vem desenvolvendo estudos nas áreas da Psicologia, Educação e da Saúde, com ênfase, entre outros temas, no fenômeno da violência no contexto escolar, assim como a violência nos espaços urbanos direcionada aos grupos minoritários, como crianças, adolescentes, jovens, mulheres e idosos. De modo geral, a produção do núcleo tem permitido reunir um considerável panorama de conhecimento sobre a violência e suas relações com a qualidade de vida no contexto escolar e na comunidade.

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Estudos que abordaram as representações sociais da violência elaboradas por crianças e adolescentes no contexto escolar evidenciaram uma associação do construto de interesse (violência escolar) a outros construtos, tais como a depressão, afetos, autoimagem corporal, preconceitos ligados à pertença étnica/racial e identidade de gênero (Lima et al., 2013; Araújo et al., 2012). Já pesquisa abordando as representações sociais da violência elaboradas por mulheres apontam que esta é representada como algo inexplicável que destrói a harmonia do casal e a convivência familiar. De modo geral, as representações das mulheres associam a violência a sentimentos como tristeza, medo, preocupação e impotência (Fonseca et al., 2012). Nesta tela, os resultados evidenciaram que a violência correlacionou-se negativamente com a qualidade de vida em todos os contextos estudados (Lima et al., 2013; Ribeiro & Coutinho, 2011a; Araújo et al., 2012).

Outras pesquisas apontam que a prevenção e o enfrentamento da violência estão intimamente ligados às representações sociais sobre este fenômeno elaboradas por profissionais das mais diferentes áreas de atuação, entre eles, profissionais da saúde (Araújo et al., 2013; Silva Filho & Claudino, 2013; Cavalcanti, Gomes, & Minayo, 2006), da área do direito (Branco & Tomanik, 2012), da educação (Bernardini & Maia, 2009) e da segurança pública (Almeida & Santos, 2013).

Entre as pesquisas que tiveram como foco as representações sociais sobre violência contra a pessoa idosa, encontra-se o estudo realizado por Saraiva e Coutinho (2012) com o objetivo de apreender as representações sociais da violência, dos maus-tratos e da negligência contra os idosos, divulgadas em artigos do jornal a Folha de São Paulo, publicados de janeiro de 2001 a novembro de 2008. Os resultados da pesquisa revelaram que a difusão das RS foi ancorada em um posicionamento atitudinal da mídia, que abordou os fenômenos da violência e do envelhecimento como decorrentes do aumento populacional e do crescimento da violência social. No segundo polo de difusão das

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representações sociais sobre a violência contra os idosos, aparecem diluídos os aspectos vivenciais no âmbito doméstico e no âmbito das instituições de longa permanência para os idosos. A voz do idoso, o principal protagonista da norma protetora dos seus direitos, fica pouco evidente, levando a inferir a sua exclusão do foco da atenção da mídia impressa. Os resultados mostraram que, na veiculação das representações sociais da violência contra o idoso no jornal pesquisado, transparece a deliberação de publicar notícias que privilegiam uma visão demográfica e epidemiológica do envelhecimento e da violência, aliada à valorização das personalidades científicas e políticas.

Pesquisa realizada por Araújo e Lobo Filho (2009) identificou as representações sociais de idosos de Fernando de Noronha (PE) acerca da violência na velhice. Os dados apontaram que a violência contra idosos foi objetivada em expressões como abandono, negligência, agressão física e desrespeito. As medidas preventivas contra a violência na velhice foram representadas pelas expressões: denúncia, punição, políticas públicas e cuidados. Pôde-se perceber no conjunto de dados apreendidos, que o fato dos idosos estarem inseridos num arquipélago distante do cotidiano agitado da vida continental, não possibilitou diferenças significativas quando comparada ao estado atual da arte sobre a forma de representar a violência na velhice.

O estudo desenvolvido por Araújo et al. (2013) identificou e comparou as representações sociais da violência na velhice entre agentes comunitários de saúde e os profissionais de saúde inseridos na Estratégia Saúde da Família. Verificou-se nos dados obtidos tanto nos profissionais de saúde quanto nos agentes comunitários de saúde a visualização de casos de violência na velhice em sua pratica profissional. Estes atores sociais revelaram em suas RS objetivações da violência contra idosos que perpassam por elementos como: negligência, abuso e maus-tratos. As falas dos participantes médicos, na faixa etária entre 31 a 40 anos revelaram que suas representações sociais acerca dos maus-

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tratos na velhice abrangem atos ou omissões que produzem dano ou perigo para a saúde do idoso, incluindo a negação de alimentos, de assistência médica, de vestuário e dano físico ou mental. Entre os profissionais dentistas com idade entre 51 a 66 anos prevaleceram em suas falas as representações sociais sobre o papel dos profissionais no que se refere à prevenção da violência contra os idosos. As RS foram ancoradas no aspecto referente à importância do papel exercido pelo profissional de saúde no que tange à identificação e à notificação de maus-tratos, além de outras ocorrências em caso de suspeita de violência contra o idoso. Observou-se também que a maioria dos profissionais de saúde não se sente capacitada para identificar e encaminhar devidamente os casos de maus-tratos contra o idoso. Muitas vezes, a situação é denunciada, no entanto, ao retornarem às suas casas, os idosos são maltratados novamente, gerando medo e apreensão.

Apesar do avanço nos estudos, segundo Araújo e Lobo Filho (2009), sabe-se que ainda no início deste século a produção científica sobre violência contra a pessoa idosa é bastante insipiente e necessita de volume de dados fidedignos e preditivos que possam fornecer embasamento a formulação de políticas de prevenção e fiscalização de casos que envolvam o abuso de qualquer natureza que possua como vítima uma pessoa idosa. Por isso, um dos objetivos da presente tese é identificar as representações sociais de pessoas idosas sobre a violência urbana.

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