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Capítulo 4. O autoconceito dos alunos e os comportamentos de profissionalidade

4.1. Estudos acerca da relação entre o autoconceito dos alunos e os

Hoje em dia ensinar é difícil e os professores têm de enfrentar uma complexa e árdua tarefa que não se restringe aos aspectos formativos em contexto de sala de aula, mas inclui aspectos de gestão e de relações humanas no âmbito da escola (Carlgren, 2002). Desta forma, o professor funciona como agente mediador entre o indivíduo e a sociedade e o aluno como aprendiz social. A complexidade da tarefa do professor não se reduz ao que envolve a sua função formadora em relação aos alunos que tem ao seu cuidado. Assim, surge a necessidade de uma exigência maior na formação pessoal permanente.

Ser professor é viver na complexidade, no desafio permanente da melhoria, na multidimensionalidade do agir e do pensar, na interrogação constante que a sociedade do conhecimento lhe coloca. É nesta sociedade do conhecimento e da informação que nascem novos desafios para a construção da profissionalidade docente (Hargreaves, 2004), progressivamente pautada por critérios que, de modo algum, podem ignorar o humano e o profissional. Por outro lado, em termos educacionais, Hagemeyer (2004) refere que é importante que o professor tenha em conta a forma como o aluno encara uma determinada tarefa que está relacionada com aquilo que lhe é apresentado e com aquilo que já sabe. Deste modo, os alunos

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constroem representações sobre a própria situação didáctica e sobre si-mesmos onde podem surgir pessoas competentes ou, na situação oposta, como pessoas sem habilidades ou com poucas capacidades (Jacob, 2001). Quer isto dizer que, quando alguém pretende aprender e aprende, a experiência vivida oferece-lhe uma imagem positiva de si-mesmo e fica reforçado o seu autoconceito, o que sem dúvida, constitui uma boa bagagem para continuar a enfrentar os desafios que lhe surjam. O autoconceito é influenciado pela forma como decorre o processo de aprendizagem e pelos resultados obtidos nessa situação de aprendizagem que influi, por sua vez, sobre a forma de encarar essa mesma situação e, em geral, como refere Rogers (1987), sobre a forma de nos comportarmos, de interagirmos e de estarmos no mundo.

O autoconceito (Fierro, 1990) inclui um amplo conjunto de representações que formamos acerca de nós próprios e que englobam aspectos corporais, psicológicos e sociais. Coll (2001) salienta que o autoconceito forma-se no decurso das experiências da vida e através das relações interpessoais que se estabelecem com “outros significantes” (família, professores, amigos). No decurso das interacções que vai vivendo, o aluno vai elaborando uma visão a partir da interiorização das atitudes e percepções que os outros têm a seu respeito. Desta forma, as atitudes vividas na relação interpessoal vão criando um conjunto de atitudes pessoais em relação a si-próprio.

Coll e Miras (1990) observam que as representações que os professores formam dos seus alunos (o que pensam deles, as capacidades e intenções que lhes atribuem) funcionam como um “filtro” para interpretar os seus comportamentos e valorizá-los e contribuem para gerar expectativas que podem modificar a actuação dos alunos. Nas representações que os alunos formam sobre os professores têm um papel importante os factores afectivos: a disponibilidade revelada em relação ao aluno, o respeito e o afecto que lhe transmitimos, a capacidade de nos mostrarmos acolhedores e positivos constituem eixos em torno dos quais constroem uma representação dos professores (Estrela, 1997). Estas representações mútuas que se estabelecem constituem um elemento essencial para compreender a forma como o sujeito se vê a si-próprio e a relação que estabelece com as outras pessoas. Por outro

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lado, as representações dos professores são um factor importante no desenvolvimento da personalidade do aluno (Super, 1990). No desenvolvimento da sua identidade, o aluno à medida que analisa o que faz junta ao seu parecer o juízo que os outros fazem de si e do que por si é feito (Jacob, 2001). Assim, os alunos vão construindo a sua auto-imagem e o seu autoconceito.

Oliveira e outros (1999) refere que, durante a vida profissional de um professor é importante, cada vez mais, este estar atento aos aspectos pessoais dos alunos: o que o aluno expressa na aula, o seu trabalho individual e as suas actividades de grupo. Isto vai reiterando que o conhecimento se faz e emerge de situações da vida do dia-a-dia. O professor, sujeito social, enreda-se numa teia de expectativas e de representações, que faz parte de um tecido social, cultural e histórico e que influencia a sua forma de pensar e agir (Ryan e Cooper, 1984). O professor, a partir da observação dos seus alunos nos primeiros contactos e de informações indirectas de outros professores, pais e directores de turma, constrói uma representação inicial dos mesmos. As expectativas positivas por parte dos professores favorecem a aprendizagem dos alunos (Alves, 1995). Alves (1995) refere, ainda, que para haver mudanças nas representações há necessidade de uma profunda modificação das expectativas sobre o rendimento escolar por parte dos professores.

A informação proporcionada pelos professores representa uma importante fonte para o desenvolvimento e crescimento do autoconceito (Scott, Murray, Mertens e Dustin, 1996). Estes autores referem que os professores fazem com que o aluno se veja como uma pessoa competente ou incompetente, inteligente ou inábil, aceite ou rejeitada, constituindo-se, além disso, uma referência que servirá como ponto inicial para estruturar a imagem de si-mesmo sobre “o que é”, “o que vale” e “aquilo a que pode aspirar”. Contudo, nem todos os membros destes contextos têm a mesma relevância, nem sequer a mesma pessoa em distintas idades (Lacasa e Martin, 1990). A escola e, por isso, os professores, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de novas habilidades e oportunidades de comparação social (Garma e Elexpuru, 1999). As informações que o aluno recebe

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dos professores em relação aos seus trabalhos e resultados escolares desempenham um papel substancial na formação do autoconceito escolar (Simões e Serra, 1987).

Se as expectativas do aluno sobre si-mesmo forem positivas, as representações do professor afectá-lo-ão muito menos. Muñoz (2001) considera que o professor deve exercer o papel de mediador no processo de desenvolvimento e no fortalecimento do autoconceito, assim, estará a possibilitar ao aluno a busca do seu desenvolvimento. Surge a necessidade imediata de mudanças que facilitem a reversão de um quadro de atitudes negativas quanto à experiência escolar e em relação a si-próprio. Para Patrício e Sebastião (2004), as atitudes dos professores estão relacionadas com o “fazer bem feito” a sua actividade. Para tal, urge que professores reavaliem criticamente o impacto da experiência de fracasso sobre alunos cujas condições de vida não são, por si só, facilitadoras. Assim, a construção de uma profissionalidade docente reflexiva afirma-se, cada vez mais, como um imperativo da formação de professores (Muscella, 1992). Para além dos requisitos emergentes da especificidade do conteúdo disciplinar que lecciona, ao professor exigem-se hoje competências profissionais mais vastas. Ryan e Cooper (1984) referem a importância dos professores propiciarem experiências que favoreçam a auto-confiança e o senso de competência pessoal do aluno.