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3 RELAÇÕES PÚBLICAS, GESTÃO E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

3.2 Estudos de relações públicas na universidade brasileira

Segundo Chaparro (2009, p. 9), o crescimento físico, teórico e estratégico da atividade de relações públicas alcançou os meios acadêmicos em meados da década de 1930, em que as universidades de Yale, Harvard e Columbia criaram cadeiras da matéria e começaram a formar especialistas na carreira, que, a princípio, nas estruturas do ensino ficou vinculada ao campo da Administração.

Dos Estados Unidos, a atividade de relações públicas chegou ao Canadá, em 1940. Seis anos depois entrou na Europa, através da França, por iniciativa da Esso Stanard e da Shell. Em 1950, já existiam agências e/ou departamentos de relações públicas em pelo menos mais sete países do velho continente: Holanda, Inglaterra, Noruega, Itália, Bélgica, Suécia e Finlândia.

De acordo com Chaparro (2010, p. 10), na Alemanha, dizimada pela guerra e convalescente do trauma nazista, regime sob o qual a propaganda teve uso científico, a primeira agência de especialistas em relações públicas só surgiria em 1958. “A experiência europeia se caracterizou pelo predomínio da divulgação propagandística, a confirmar uma vocação de origem, que relações públicas jamais rejeitaram, a de ser linguagem de propaganda, assumindo-o como essência de sua natureza”.

Para Oliveira (2012, p. 215), as relações públicas podem ser consideradas um campo de conhecimento estruturado e consolidado, tanto na sua perspectiva teórica quanto na profissional, reconhecendo que: “Isso se deve à árdua tarefa de professores e pesquisadores brasileiros em construir um corpus teórico consistente para fundamentar e configurar a prática profissional”. Ele esclarece que:

Para pensar esse campo, é preciso entendê-lo como constituinte da gestão que trabalha os processos relacionais e estratégicos das organizações, além de considerar seu papel técnico-instrumental de apoio às ações organizacionais. Sem pretender abranger todos os processos da gestão organizacional, as relações públicas atuam como área “meio” e seu objetivo é o “fazer” pautado pela fundamentação teórica, pela pesquisa e pelo planejamento, no sentido de validar o negócio, integrando áreas, criando relações com atores interno e externos, construindo sentidos dentro e fora das organizações (OLIVEIRA, 2012, p.215).

De acordo com este autor, podemos observar que o campo das relações públicas tem avançado significativamente na contemporaneidade e, progressivamente, adquire autonomia acadêmica, devido ao seu amadurecimento conceitual e ao seu reconhecimento como uma área de conhecimento e uma profissão da comunicação.

Conforme menciona o autor, o fato de o curso de graduação em Relações Públicas ter surgido atrelado à área de Administração, no Brasil, provocou certo estranhamento em estudiosos e pesquisadores da comunicação.

De acordo com Kunsch (1997, p. 48), a primeira iniciativa foi realizada em 1953: “Um curso sobre relações públicas ministrado pelo professor norte-americano Eric Carlson, na Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas. Somente na década de 1960 foi instituído o primeiro curso universitário de Relações Públicas”.

Observamos que esse antecedente histórico refletiu na aceitação das relações públicas no meio acadêmico e também nos fundamentos norteadores da produção científica da área. A maioria dos textos produzidos até o início do século XXI carregou, por muito tempo, as referências dos estudos organizacionais, esquecendo - se do olhar comunicacional, fundamental para o entendimento da relação das organizações com a sociedade, que é o campo de atuação do profissional de relações públicas. Esse descaso com o que acontecia no campo teórico da comunicação pode ser considerado como uma das causas do estranhamento com as questões que versavam sobre as relações públicas (OLIVEIRA, 2012, p. 216).

Este autor afirma que até o final dos anos 1970, as relações públicas ainda não eram claramente identificadas e reconhecidas como um saber aplicado da área de comunicação pelos estudiosos da área: “Quando não havia negação, havia dúvidas. Em vez de transformarem essa dúvida em investigação, os pesquisadores, de maneira geral preocupados com a questão midiática, ignoravam esta questão, vista por eles como não sendo de sua competência” (OLIVEIRA, 2012, p. 216).

No entanto, podemos evidenciar que, hoje, esse estranhamento se encontra superado. A área está consolidada, respeitada e fundamentada pela pesquisa no campo da Comunicação. Grande parte dos estudiosos se preocupa em dialogar com a epistemologia da comunicação, e isso tem refletido nas produções, além de promover um amadurecimento científico das relações públicas e de incentivar sua expansão. Aos poucos, a comunidade reconhece o esforço dos professores e pesquisadores em aprofundar as reflexões e a importância de articular os conhecimentos produzidos no meio acadêmico com o mundo do trabalho. (OLIVEIRA, 2012, p. 216).

Identificados como os anos da mudança, o estudioso destaca que a década de 1990 é também marcada pela institucionalização da pós-graduação stricto sensu, oportunidade em que a produção científica se torna mais epistemológica; buscam-se caminhos teóricos e metodológicos que permitem entender a sociedade e as organizações. “Neste momento, ampliam-se os estudos sobre a comunicação no contexto organizacional e surgem os

primeiros trabalhos com essa perspectiva, caracterizando-se como campo de estudos. Assim, a comunicação organizacional surge atrelada às relações públicas”.

Ainda de acordo com o autor, existe uma interdependência e uma similaridade entre relações públicas e comunicação organizacional, apesar de não serem iguais. As duas têm algo em comum: as organizações como espaço de atuação profissional e de cruzamento de fundamentos epistemológicos.

3.2.1 Consolidação do modelo de relações públicas no Brasil

Segundo Chaparro (2010, p. 11), no serviço público federal, o modelo de relações públicas foi consolidado, teórica e estrategicamente, no I Seminário de Relações Públicas do Poder Executivo, realizado de 30 de setembro a 5 de outubro de 1968, no Rio de Janeiro.

Além dos técnicos da AERP, participaram do seminário equipes de comunicação de 16 ministérios, da Agência Nacional, das estações oficiais de rádio e do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - IBOPE, bem como dirigentes da Associação Brasileira de Relações Públicas - ABRP, que teve importante papel na formulação técnica do projeto delineado no documento final do encontro.

Naquele seminário que contou com a participação de importantes nomes da comunicação brasileira foram debatidos os seguintes temas:

a) Organização e funcionamento dos serviços de relações públicas nos órgãos da administração federal;

b) Normas de trabalho entre diferentes serviços de relações públicas dos órgãos da administração federal e os veículos de comunicação social;

c) Diretrizes de relações públicas no Governo; d) Promoção institucional do Governo;

e) Imagem do Governo e opinião pública.

Com relevantes contribuições prestadas ao desenvolvimento das pesquisas e estudos da comunicação organizacional, conceitos e análises das relações públicas, Kunsch (2009) aponta que há caminhos abertos para novas pesquisas acadêmicas sobre o tema tratado e sugere uma maior divulgação dos estudos concluídos e em andamento na área da comunicação, visto que os meios acadêmicos brasileiros carecem de estudos nessa área.