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PARTE I – MARCO TEÓRICO

Capítulo 4 – A Síndrome da desistência ou burnout

4.4. Estudos sobre burnout em estudantes universitários

Com base num levantamento dos estudos realizados na última década, com o auxílio de metabuscadores (SciELO, Google Acadêmico, Portal Periódicos CAPES, Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo – USP e Sistema de Publicação Eletrônica de Teses e Dissertações da Universidade de Brasília – UnB), constatou-se que diversos trabalhos científicos dentro do campo temático da síndrome de burnout já foram produzidos

134 (Benevides-Pereira, 2002; Formighieri, 2003; Gil-Monte, 2003; Maslach & Jackson, 1985; Oliveira, 2008; Robayo-Tamayo, 1997).

Todavia, como o foco desta tese são os cadetes (policiais e bombeiros) do Curso de Formação de Oficiais (CFO) do Centro de Educação da Polícia Militar da Paraíba (CEPMPB), e sendo estes graduandos do nível superior, optou-se por relacionar, nesta seção, apenas pesquisas realizadas com estudantes, tanto no Brasil quanto no exterior. Algumas destas investigações são relacionadas a seguir.

O estudo realizado por Aranda, Pando, Velázquez Brizuela, Acosta e Reyes (2003) teve como objetivo determinar a prevalência da síndrome de burnout, assim como analisar sua possível relação com a presença de fatores psicossociais no trabalho, em alunos da pós- graduação do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Guadalajara, no México. Para tanto, os autores fizeram uso dos seguintes instrumentos de avaliação: um questionário sócio-demográfico, a Escala de Avaliação Maslach Burnout Inventory (MBI) para avaliar a síndrome e o Guia para Identificação de fatores psicossociais para identificar a presença de fatores psicossociais negativos na área de trabalho.

O número total de alunos matriculados nos diversos programas de pós-graduação foi de 54 estudantes, sendo 46,3% mulheres e 53,7% homens, com idade média de 35,9 anos. Deste total, 94,4% trabalhavam em alguma posição de gestão, principalmente nas instituições de saúde. Faz-se uma ressalva neste ponto, pois verifica-se que este fato se assemelha ao estudo realizado nesta tese de doutorado, posto que os cadetes militares, apesar de serem estudantes, também prestam serviço de segurança pública à sociedade paraibana.

135 Segundo Aranda et al. (2003), a prevalência encontrada para a síndrome de burnout foi de 56,9%. As diferenças estatisticamente significativas foram obtidas, sobretudo, entre os dados sociodemográficos com a presença de fatores psicossociais negativos no trabalho, bem como na área que avalia a presença de fatores psicossociais "dependentes do sistema de trabalho" com a dimensão "exaustão emocional" da Escala de Maslach (p = 0,0366). Diante dos resultados encontrados, estes autores salientam que é de suma preocupação, por parte das organizações, melhorar o estado de saúde física e mental dos seus trabalhadores, com vistas a uma melhor qualidade de vida do trabalhador.

Sem levar em consideração o fato de já estar (ou não) realizando atividades de caráter profissional, Martínez e Pinto (2005) optaram por estudar uma amostra de 1.988 estudantes universitários da Espanha e Portugal, e observaram os níveis de burnout experimentadas pelos alunos nas três dimensões desse construto: exaustão emocional, cinismo ou distância mental de estudos e eficiência acadêmica.

Os resultados desta investigação mostraram que existem diferenças nos níveis de burnout em função da variável gênero, pois obtiveram nos estudantes do sexo masculino pontuações de burnout significativamente mais elevadas nas dimensões de exaustão e cinismo, e inferiores na dimensão da eficiência acadêmica. Em relação às variáveis acadêmicas, as estudantes do sexo feminino recebem pontuações favoráveis, já que obtiveram um melhor desempenho, têm melhores perspectivas de sucesso e são menos propensas a abandonar os estudos.

Sobre a relação entre os níveis de burnout e as variáveis acadêmicas, as autoras observaram que a exaustão e o cinismo se relacionaram positivamente com a tendência ao abandono e negativamente com o desempenho e as expectativas de sucesso; embora os

136 níveis elevados de eficácia estivessem positivamente relacionados com o desempenho acadêmico e expectativas de sucesso e negativamente com a tendência a negligenciar.

Martínez e Pinto (2005) também identificaram que as relações estabelecidas em nível preditivo mostraram duas das variáveis de burnout (o cinismo e a eficácia acadêmica) como preditoras de variáveis acadêmicas. Sendo assim, observaram que altos níveis de cinismo predizem uma grande tendência a abandonar os estudos; especialmente no caso dos homens. Por sua vez, a situação do elevado grau de cinismo, combinado com a baixa eficácia, são preditores de sucesso; embora os níveis elevados de eficácia estivessem positivamente relacionados com o desempenho acadêmico e as expectativas de sucesso e negativamente com a tendência a negligenciar.

Ainda no campo de estudo que aborda a relação entre o burnout e as características sócio-demográficas dos participantes, destaca-se o estudo realizado por Dórea (2007), em sua dissertação de mestrado, cujo objetivo foi o de avaliar os valores de cada dimensão da síndrome de burnout entre 703 estudantes de medicina, utilizando, como instrumentos, o MBI-SS - Maslach Burnout Inventory – Student Survey (uma adaptação do MBI-GS) e um questionário sócio-demográfico.

Os resultados da pesquisa apontaram a existência de escores médios/altos para exaustão emocional, médios/baixos para descrença e médios/altos para eficácia profissional. Quanto à exaustão emocional, foram verificados maiores valores com significância estatística em alunos a partir do 5° período (p<0,000), internos (p<0,000), mulheres (p<0,004), estudantes insatisfeitos com o curso (p<0,001), com maiores gastos mensais (p<0,015) e com maior carga semanal de estudo (p<0,010).

137 O grupo que representava os estudantes insatisfeitos com o curso apresentou valores significativos para descrença (p<0,000) quando comparados aos alunos satisfeitos. Como conclusão, apesar da amostra não ter atingido os critérios diagnósticos do burnout (altos escores de exaustão emocional e descrença e baixos escores de eficácia profissional), os resultados chamaram a atenção para médias elevadas em exaustão emocional, considerada a primeira das dimensões a emergir, fato identificado, por alguns autores, como potencial risco futuro de desenvolver a síndrome de burnout.

Conforme verificado neste estudo, o período letivo no qual o estudante está vinculado influencia no surgimento do burnout. Desta feita, traz-se a tona a investigação conduzida por Tarnowski e Carlotto (2007) que objetivou avaliar a existência de diferenças nas dimensões da síndrome de burnout em estudantes de início e final de um curso de Psicologia de uma universidade particular, localizada na região metropolitana de Porto Alegre. A amostra foi formada por 33 alunos ingressantes (primeiro ano do curso) e 33 concluintes de curso (último ano do curso). Os instrumentos de pesquisa utilizados foram o MBI-SS (Maslach Burnout Inventory–Student Survey) e um questionário para caracterização da amostra. A aplicação dos instrumentos foi realizada em salas de aula intencionalmente selecionadas.

Os resultados identificaram que os alunos de final de curso apresentam diferença estatisticamente significativa com relação à dimensão de Exaustão Emocional, ou seja, apresentam maior sentimento de desgaste que os colegas de início de curso. Nas dimensões de Descrença e Eficácia Profissional, não foram identificadas diferenças significativas. Diante disto, as autoras ressaltam que os resultados apontam para a necessidade de

138 intervenção em alunos de final de curso no sentido de prevenir a síndrome de burnout na vida profissional.

Conforme visto nesta seção, os estudos conduzidos por diversos autores adotaram diferentes tipos de medidas, principalmente aquelas cujo foco principal está voltado ao contexto dos estudantes. Sendo assim, a seção a seguir destaca as principais medidas de burnout que são utilizadas pela literatura e suas características específicas.