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PARTE I – MARCO TEÓRICO

Capítulo 1 – Contextualizando a formação militar dos cadetes

1.4. Reflexões Críticas

O termo “militar” foi, por diversas vezes, utilizado nesta contextualização do ambiente de formação dos cadetes. Todavia, faz-se necessário esclarecer que tal nomenclatura não se aplica apenas aos policiais e bombeiros. Por isso, julgou-se por bem

49 estabelecer uma distinção entre os tipos de bombeiros existentes e também diferenciar o profissional policial militar dos demais tipos de policiais que prestam serviço à sociedade brasileira (ou seja, o policial federal, o policial civil e a polícia do Exército).

Inicialmente, em relação aos bombeiros, destaca-se que existem duas categorias distintas: o bombeiro militar e o bombeiro civil. Como algumas pessoas costumam confundir as atribuições pertinentes a tais categorias, esclarece-se que para se tornar um bombeiro militar é preciso prestar concurso público e passar por um curso de formação (como é o caso do CFO-BM). Já os bombeiros civis atuam na prevenção e no combate ao Incêndio em empresas, em hospitais, nas indústrias, nas instalações portuárias e aeroportuárias, em reservas florestais, nos municípios ou, ainda, como voluntários. Cabe aos bombeiros apagar incêndios, resgatar pessoas em situação de perigo, fornecer assistência nos desastres naturais e fiscalizar prédios para evitar acidentes, além de realizar o resgate aquático.

Quanto às características dos vários tipos de policiais que salvaguardam a sociedade brasileira, estas podem ser, resumidamente, visualizadas na Tabela 2, a seguir:

50 Tabela 2

Características dos diversos tipos de policiais

Tipo de Policial Características específicas

Polícia Militar Assim como a Civil, é estadual; é

responsabilidade pelo policiamento

preventivo, realizando ronda ostensiva em todas as suas modalidades: policiamento motorizado e a pé; policiamento florestal,

de trânsito urbano e rodoviário;

policiamento escolar, em praças desportivas e radiopatrulhamento aéreo. É um órgão regido pelo militarismo e os policiais militares são considerados pela Constituição como força auxiliar e de reserva do Exército. Logo, os policiais militares são responsáveis por prevenir as condutas criminosas e zelar pela ordem pública.

Polícia Federal É responsável pela investigação de crimes

de escala nacional, que afetam o país como um todo, ou seja, combate os crimes de interesse da União. Além disso, exerce as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras, impedindo a entrada de armas, drogas ou contrabando. Em última instância está subordinada ao(à) Ministro(a) da Justiça, nomeado(a) pelo(a) Presidente da República.

Polícia Civil Cada estado tem uma Polícia Civil. Ela é

responsável pela investigação e elucidação dos crimes praticados em seu território, elaboração de Boletins de Ocorrência de qualquer natureza, expedição de Cédula de Identidade e expedição de Atestado de Antecedentes Criminais e de Residência. Também é de sua competência fiscalizar o funcionamento de determinadas atividades comerciais e autorizar a realização de grandes eventos. Ou seja, investiga homicídios, roubos e sequestros em seus estados.

Polícia do Exército Realiza atividades tais como: segurança de

autoridades, posto de bloqueio e controle de vias urbanas, investigações e perícias, bombas e explosivos, entre outras.

51 Em se tratando, especificamente, do ambiente acadêmico do Centro de Educação da PMPB, destaca-se que a instituição abriga alunos pertencentes a dois tipos de corporações militares: a Polícia Militar (PM) e os Bombeiros Militares (BM). Assim como observado em outras instituições de ensino superior militar, a exemplo da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), ao ser matriculado no Curso de Formação de Oficiais (PM ou BM), o candidato sujeita-se à legislação militar e recebe o título de “cadete”, que mantém até o final do curso, quando então recebe a patente de “aspirante a oficial” (Castro, 2004), com exceção daquele que consegue a primeira colocação no curso, que, ao se formar, já recebe a patente de “tenente”.

Devido a esta “premiação”, os cadetes esforçam-se ao máximo para conquistarem as melhores notas, em seus cursos específicos, no decorrer dos três anos na academia. E isso, certamente, os conduz a uma verdadeira competição interpessoal. A partir daí, será formada uma escala de méritos individuais, provados através de exames (avaliações).

Verifica-se, portanto, que a educação militar procura transmitir valores meritocráticos, não deixando de enfatizar a competição. Mas ela

tende a ser muito rigorosa quanto ao fato de que a competição tem de ocorrer de acordo com conjuntos de regras específicas e claras. (...) É importante enfatizar que os militares são, possivelmente, o grupo que mais intensamente prega a competição interna (...) (Castro, 2004, p. 51).

Destaca-se, ainda, que durante a fase inicial ou de adaptação dos cadetes ao regime militar (a “semana zero”), os mesmos são induzidos a realizarem atividades em que a aprendizagem forçada é o elemento principal (França, 2012). Desta forma, os cadetes passam a obedecer regras e a se submeterem ao regime de sanções e recompensas próprias do cotidiano da formação militar. Além disso, durante esta etapa, os cadetes recebem um

52 nome, que passam a adotar na vida institucional e que vai acompanha-los por toda a carreira profissional, também conhecido como o “nome de guerra”.

Infelizmente os cadetes não têm a opção de opinar sobre a escolha do nome, sendo, em alguns casos, motivo de rejeição momentânea pelos mesmos. Segundo Goffman (2007, p. 27), “a perda de nosso nome é uma grande mutilação do eu”.

Nesse sentido, faz-se, portanto, necessário evidenciar que não são apenas as características intrínsecas que devem ser observadas durante a fase de formação do futuro policial / bombeiro militar. É preciso destacar o aspecto relacional existente entre o corpo discente (cadetes) e o ambiente educacional (academia militar), advertindo que a instituição tem uma forte responsabilidade sobre as consequências na saúde mental do alunado. Desta forma, este estudo pretende discutir, entre outros aspectos, se as crenças de autoeficácia dos cadetes militares podem estar contribuindo para o enfrentamento dos desafios e problemas provenientes do ambiente de trabalho (cuja discussão será apresentada no capítulo 2 desta tese).

Além disso, os aspectos extrínsecos, ou seja, aqueles relativos ao ambiente no qual os militares são formados e estão inseridos cotidianamente, deixam-nos (muitas vezes) predispostos a determinadas síndromes (tal como a de burnout, que será discutida no capítulo 3) diante de fatores estressores. Conforme França (2012, p. 76),

com o passar dos dias, os alunos vão incorporando as exigências do cotidiano de formação policial militar e passam a seguir todas as prescrições. Mas, muitos deixam transparecer que não aceitam as regras a que são submetidos e criam “resistências” (...) a essas regras que funcionam como “táticas” (...) para aprenderem a enfrentar o cotidiano do curso, especialmente o relacionamento com os cadetes mais antigos, com a equipe de coordenadores e com todos os superiores hierárquicos que circulam pelo CE diariamente.

53 Em outras palavras, segundo este autor, as exigências que passam a ser impostas aos cadetes do CFO (sejam PM ou BM) criam um ambiente social imerso de obrigações e deveres. Sendo assim, evidencia-se a importância de se compreender as razões pelas quais alguns destes profissionais conseguem lidar de maneira eficaz com os problemas rotineiros (fontes de estresse) e outros não conseguirem atingir suas metas diárias, culminando num colapso (Lima, 2009).

Os próximos capítulos ajudarão a compreender melhor as teorias que embasarão as análises dos dados coletados nesta investigação conduzida a partir da participação dos cadetes do CFO-PM e do CFO-BM.

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