• Nenhum resultado encontrado

3.6 A N OVA R ETÓRICA D O C APITAL E O P ROBLEMA D O C ONVENCIMENTO Sobre a definição e as mudanças sofridas nesta retórica da publicidade é possível realizar-

CONSCIENTIZAÇÃO NO BRASIL

3.6 A N OVA R ETÓRICA D O C APITAL E O P ROBLEMA D O C ONVENCIMENTO Sobre a definição e as mudanças sofridas nesta retórica da publicidade é possível realizar-

se diversas análises, cuja solidez dependem essencialmente de uma análise que associe estas mudanças no discurso ao contexto histórico em que ocorreram. Nesta avaliação é possível perceber, por exemplo um fortalecimento da pressão exercida pela sociedade, sempre sondada por pesquisas de opinião, sobre o capital e, especificamente sobre a publicidade como a própria voz deste capital. Na medida em que as portas do neoliberalismo foram sendo

abertas, em meados do governo Collor, aprofundando-se este processo no governo Fernando Henrique, o que era um sonho de todos, refletido em esperança de oportunidade e liberdade de consumo, tornou-se pouco a pouco uma frustração, pois as promessas constantemente realimentadas e renovadas pela retórica publicitária não se concretizavam.

Neste contexto de frustração cada vez maior, percebeu-se uma mudança comportamental do consumidor que aos poucos perdia as esperanças em relação às promessas reiteradas constantemente pela voz do capital, a publicidade. Conseguintemente esta foi obrigada a adequar seu discurso a este cidadão mais consciente dos seus direitos de consumidor.

A autora da recente obra A Nova Retórica do Capital (2010), Maria Eduarda Rocha, valida este argumento através de uma pesquisa ampla e consistente que afirma que a mudança no âmbito da consciência do consumidor motivou a construção de um novo discurso, de uma nova retórica. É essa mudança que também vai ser responsável pelo surgimento de uma Constituição mais democrática que, mesmo com todos os problemas, trouxe mudanças e evidenciou a correlação de forças entre movimentos sociais e capital e em alguns casos impôs limites às extravagâncias deste último. É nesta Constituição, por exemplo, que se conseguiu pela primeira vez impor limites reais à publicidade, antes sujeita apenas à auto- regulamentação do Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (CONAR). Citamos por exemplo o 4º parágrafo do Artigo 220 da Constituição:

Art. 220, § 4º - A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas,

agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)

E isso já dita ao setor uma nova forma de lidar com o público, que passa a ser “ouvido” e

corporificado num novo e (sempre) complexo conceito de “opinião pública”. Mas, para especuladores do capital, exploradores de mercado, empresas de capital aberto ainda é fácil lidar mercadologicamente com uma sociedade na qual os princípios de cidadania ainda são embrionários, ou ainda não estão difundidos e devidamente assentados no campo psicossocial. O estudo da cidadania não faz parte do cotidiano do brasileiro, em nenhum momento de sua vida, seja este de que classe social for. Importante ressaltar que o conceito de cidadania dificilmente pode ser compreendido de forma autodidata, sem uma mediação eficiente que lhe apresente e lhe ajude a construir entendimento sobre este conceito prático.

Cidadania é um conceito social, construído socialmente, mas como um conceito que tenta significar uma vivência, uma prática, uma conduta, seu aprendizado está necessariamente subordinado à convivência e apesar disso a idéia de cidadania ainda será sempre uma construção, uma noção aproximada, pois ninguém se sente enquanto sociedade, o que se percebem são as consequências sociais de ações individuais que geralmente desencadeiam reações em um pequeno círculo de convivência, mas dessa percepção até a noção complexa de cidadania e sua pluralidade de variáveis envolvidas dista uma considerável extensão de aprendizados e percepções sutis e complexas.

As crianças são um público que tem amplo acesso às tematizações da mídia. Neste caso, a televisão é vista com ênfase, devido à facilidade de acesso aos seus conteúdos e devido a este veículo apresentar riscos potenciais que por sua vez ainda não são devidamente reconhecidos pela sociedade e isso consequentemente se reflete em imprudências midiáticas socialmente legitimadas que atingem diretamente aos jovens e crianças.

Ao contrário de diversos países, no Brasil ainda é fraca a fiscalização que garantiria o cumprimento das leis vigentes. Somando-se a isso a falta de incentivos governamentais e privados para a criação de órgãos/associações sociais fiscalizadoras, a falta de iniciativas de conscientização social e a ação por vezes paliativa dos órgãos auto-reguladores, como o CONAR. Têm-se um panorama de fragilidade e de liberalismo retoricamente camuflado. Existem leis (antiquíssimas no caso brasileiro), existem organizações regulamentadoras, mas não existe efetividade e fiscalização, porém isso é muito bem mascarado, convenientemente esquecido palas agendas midiáticas.

Outro pilar frágil, desta vez vindo da sociedade, é a cobrança social por reconhecimento e reprodução das temáticas levantadas pela mídia, das marcas aos jogos, dos desenhos às danças e das novelas aos seus personagens, a criança e o jovem são frequentemente incentivados a reproduzirem as prescrições, jargões e expressões (verbais, corporais, comportamentais) assimilados a partir dos conteúdos midiáticos. Visualiza-se, portanto, um contexto onde se pode caracterizar um tipo de chantagem ideológica e social que pressiona as consciências infantis a reproduzir modelos, estereótipos, estilos, etc.

Neste ponto é importantíssimo abordar a fragilidade relativa da consciência infantil frente às mensagens e agendamentos midiáticos e o acesso desregulamentado das mídias pelas crianças. Poder-se-ia argumentar com facilidade que a regulamentação não pode ultrapassar a autonomia dos pais neste processo educativo e de seleção. Porém pode-se dizer com certa segurança que os pais, professores e adultos em geral também revelam em certa medida um analfabetismo midiático que preocupa à primeira vista.

É imprescindível que se criem organizações não governamentais que venham de iniciativas cidadãs e se posicionem como responsáveis pela fiscalização das mídias e, principalmente atuem no campo da conscientização de crianças e adultos, em escolas públicas, em comunidades carentes, sobre a influência das mídias, sobre o consumo de informações jornalísticas como o consumo de recortes da realidade e não a realidade em si, sobre as técnicas de edição e montagem, seus recursos e limitações, sobre o dever das redes em beneficiar a sociedade como exigência pela utilização do espaço (público) espectral cedido por concessões públicas aos veículos midiáticos, espaço que pertence a todos e deveria naturalmente ser utilizado com mais prudência.

3.7-F

OGO

C

ONTRA

F

OGO NO COMBATE

A

O

A

BUSO

D

AS

M

ÍDIAS

OE

XEMPLO