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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3. Etapa 3 – Consulta a Especialistas na Rodada

Nesta etapa, foram enviados questionários e realizadas entrevistas com especialistas seniores em inovação social, a fim de validar a construção do Modelo Teórico proposto inicialmente na Etapa 2, ressaltando-se a voz dos sujeitos como essencial para a construção de indicadores, considerando a sua experiência no tema.

O questionário elaborado para a Rodada 1 foi enviado, juntamente com uma carta explicando sobre o teor da pesquisa, a um grupo de 46 pesquisadores em inovação social,

escolhidos dentre os líderes e vice-líderes de grupos de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em que o título e a linha de pesquisa do grupo contivessem a expressão “inovação social”, formando o grupo de especialistas para a Rodada 1. Esta seleção inicial configurou uma amostra não probabilística por julgamento, quando o pesquisador usa o seu julgamento para selecionar os membros da população que são boas fontes de informação precisa (GIL, 2010).

O questionário foi apresentado aos especialistas num formato semiestruturado (Apêndice A), abrangendo proposições baseadas nas descrições dos indicadores de elementos que podem influenciar na expansão de iniciativas de IS, desenvolvidos na Etapa 2 desta tese.

Ao considerar as descrições propostas para os indicadores, tanto de processo quanto de resultado, foram construídas proposições referentes a todos os 16 indicadores apresentados, de forma que cada especialista foi convidado a emitir suas opiniões, operacionalizadas por opções referentes ao grau de concordância, apresentado em uma escala Likert de 5 pontos: (1) discordância completa; (2) discordância; (3) nem discordância nem concordância; (4) concordância; (5) concordância completa. Além disso, em todas as proposições, foram disponibilizados espaços (de cunho opcional) para que fossem proferidos comentários adicionais sobre os pontos apontados nas proposições.

O questionário passou por um processo de pré-teste, tendo sido enviado a dois estudantes de doutorado em administração que estudavam inovação social em seus projetos de pesquisa, a fim de averiguar a adequação da ferramenta (foi disponibilizado por meio de acesso eletrônico, via plataforma Google Docs) e, também, sobre o nível de clareza das proposições. Este pré-teste resultou em alguns ajustes realizados no formato das assertivas e, desta forma, o questionário pôde ser enviado aos 46 especialistas.

Uma semana após o envio, foram expedidas, por meio da rede de pesquisadores

Research Gate e da rede de profissionais Linked In, mensagens de reforço ao pedido de

respostas ao questionário, juntamente com um novo envio do instrumento de coleta, apenas para o grupo ainda não respondente, que contava com 40 especialistas, visto que haviam sido recebidas, até o momento, 6 respostas. Após estas ações, foram recebidas mais 2 respostas, integrando um total parcial de 8 respostas.

Após 12 dias do primeiro envio, os especialistas do grupo que ainda não haviam respondido e que possuíam perfis disponíveis na rede social Facebook foram contatados por meio desta ferramenta para estimular o preenchimento e envio dos questionários ainda não respondidos. Com esta ação, o total de respostas sofreu um aporte de 9 respostas em três dias, configurando um total de 17 respostas num período de 16 dias desde o primeiro envio.

Dois últimos envios foram realizados sucessivamente nas duas semanas seguintes, com mensagens de reforço por meio do Facebook. Desta forma, o questionário foi respondido por 21 especialistas, obtendo-se um percentual de respostas de 45,7%, índice considerado superior ao esperado para pesquisas enviadas pela internet, que apresentam, em geral, um percentual de devolução da ordem de 25% (MARCONI; LAKATOS, 2005). Desta forma, entende-se que o contato por meio das redes sociais foi muito importante para que este percentual de devolução apresentasse um aporte significativo.

O grupo de respondentes relativo ao primeiro questionário aplicado contou com 21 especialistas, cujo perfil destes em relação à sua ocupação principal foi de 90,5% de professores e 9,5% de pesquisadores, sendo todos eles doutores. No tocante ao tipo de instituição a que estão vinculados, 85,7% estão lotados em universidades públicas, 9,5% estão nas universidades privadas e 4,8% em centros de pesquisa, confirmando o perfil acadêmico esperado para estes especialistas. A distribuição geográfica dos 21 respondentes da Rodada 1 está apresentada no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Distribuição geográfica dos respondentes do questionário da Rodada 1

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da pesquisa (2018)

Os respondentes estiveram concentrados em maior expressividade na Região Sudeste, com destaque para núcleos de pesquisas coordenados por professores e pesquisadores que trabalham em universidades e instituições de pesquisa no Sudeste. Em seguida, ambas as Regiões Sul e Nordeste com 24% e as Regiões Centro-Oeste e Norte com menores parcelas.

A seguir, o Quadro 13 apresenta os grupos de pesquisa aos quais estavam vinculados os 21 respondentes da Rodada 1, por região geográfica.

Quadro 13 - Grupos de pesquisa em inovação social, por região (especialistas Rodada 1)

Região Grupo de Pesquisa/Extensão

Centro-Oeste Informação, Conhecimento e Mudança Sociotécnica

Nordeste Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Gestão Social

Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Gestão Socioambiental (NIEGS) Grupo de Pesquisa em Inovação e Sustentabilidade (InoS)

Cultura, Ambiente e Sociedade: Linguagem e Design Social (CASLIDS) Grupo de Pesquisa em Inovação, Design e Sustentabilidade

Norte Grupo Interdisciplinar de Estudos Sociombientais e de Desenvolvimento de

Tecnologias Sociais

Sudeste Design para a Sustentabilidade e Inovaçao Social

Marketing para Inovação Social e Novas Formas de Produção e Consumo Excelência, Sustentabilidade e Inovação Social: Engenharia das Organizações Criativas e Soluções

Laboratório de Estudos sobre Gestão, Inovação e Sociedade (GIS)

Capacitação em Gestão Turística dos CVBx do Interior do Estado do Rio de Janeiro

Núcleo de Empreendedorismo Inovador (NEI) Design de Serviços e Inovação Social (DESIS) Grupo de Pesquisa e Extensão em Design Social

Núcleo de Investigação em Desenho Industrial e Afins (NIDIA)

Sul Inovação, Educação e Empreendedorismo Social

Design para a Sustentabilidade e Inovação Social

Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão Social, Inovação, Cultura e Religião Nucleo de Pesquisa e Extensão em Inovações Sociais na Esfera Pública (NISP) Grupo de Pesquisa em Inovação Social

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da pesquisa (2018)

A fim de validar o Modelo Teórico, foram realizadas oito entrevistas com uma amostra a partir dos 21 especialistas que responderam ao questionário, sempre de caráter semiestruturado, para confirmar a compreensão das respostas dadas nos questionários, analisadas por meio da moda, no que diz respeito às proposições e por meio de análise de conteúdo categorial no que diz respeito aos comentários (de cunho opcional) que puderam ser feitos após cada proposição. O objetivo deste tipo de entrevista foi compreender os significados que os entrevistados atribuíram às questões e situações relativas ao tema de interesse, sendo pertinentes quando o assunto é complexo e pouco pesquisado (GODOY; MATTOS, 2010), como é o caso da expansão de iniciativas de IS.

Ao realizar entrevistas semiestruturadas, concedeu-se espaço para discutir as dimensões de forma mais aberta, porém, neste caso, tendo sido os 16 indicadores para o Modelo Teórico da Expansão de Iniciativas de IS previamente elencados, como embasamento para os questionamentos, houve um maior direcionamento das falas entre entrevistadora e entrevistados, ainda assim permitindo uma total liberdade aos entrevistados para dissertarem sobre os tópicos dos indicadores em pauta.

Os convites para as entrevistas seguiram por meio de mensagens enviadas por e-mail para todos os 21 respondentes do questionário e também por meio das redes sociais (Facebook e Research Gate) e estas aconteceram num período de três semanas. A amostra selecionada para as entrevistas foi do tipo não-probabilística por conveniência, quando os elementos são selecionados segundo a conveniência do pesquisador (MATTAR, 2001). Assim, foram entrevistados, a partir dos 21 respondentes, os especialistas que proporcionaram informações de modo a atingir o ponto de saturação adequado para responder aos objetivos da pesquisa (PAIVA JÚNIOR; LEÃO; MELLO, 2011) totalizando oito especialistas entrevistados, perfazendo um percentual aproximado de 38% da amostra inicial.

Os especialistas em inovação social que foram entrevistados nesta primeira rodada de discussões apresentavam o seguinte perfil, conforme apontado no Quadro 14.

Quadro 14 – Perfil dos entrevistados da Rodada 1

Código do Entrevistado

Grupo de Pesquisa Instituição UF

E01_Rod1 InoS - Grupo de Pesquisa em Inovação

e Sustentabilidade

Universidade Federal do Ceará (UFCE)

CE

E02_Rod1 Excelência, Sustentabilidade e

Inovação Social: Engenharia das Organizações Criativas e Soluções

UFRJ RJ

E03_Rod1 Marketing para inovação social e

novas formas de produção e consumo

UFRJ RJ

E04_Rod1 Laboratório de Estudos sobre Gestão,

Inovação e Sociedade

UFRJ RJ

E05_Rod1 Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Gestão Social

Universidade Federal do Cariri (UFCA)

CE

E06_Rod1 Núcleo Interdisciplinar de Estudos em

Gestão Socioambiental

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

PB

E07_Rod1 Inovação, Educação e

Empreendedorismo Social

Universidade do Extremo Sul

Catarinense (UNESC) SC

E08_Rod1 Design para a Sustentabilidade e

Inovaçao Social

Universidade Federal de Uberlândia

MG

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados disponibilizados na Plataforma Lattes e no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (2018)

A realização de entrevistas semiestruturadas ocorreu de forma online. Isto porque o uso de pesquisa qualitativa na web está em expansão devido a algumas dificuldades práticas ou técnicas (FLICK, 2009), como o custo de viagens e a questão em relação à disponibilidade de tempo, que podem prejudicar a realização de entrevistas presenciais. A configuração operacional das entrevistas foi diferente para cada entrevistado, dependendo das condições de infraestrutura de que dispunham no momento agendado para a conversa. Uma visão geral dos meios utilizados para estas entrevistas está apresentada no Quadro 15.

Quadro 15 – Entrevistas realizadas na Rodada 1

Código do Entrevistado

Meio Utilizado para Realização da Entrevista

Duração da entrevista

E01_Rod1 Skype com vídeo 1 h

E02_Rod1 Messenger com vídeo 1 h

E03_Rod1 Skype com vídeo 1 h e 1 min

E04_Rod1 Skype com vídeo 39 min

E05_Rod1 Skype com vídeo 45 min

E06_Rod1 Skype com vídeo 34 min

E07_Rod1 Messenger com vídeo 30 min

E08_Rod1 Telefone 36 min

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da pesquisa (2018)

No que concerne aos pontos operacionais destacados nas conversas, deve-se ressaltar as vantagens das entrevistas realizadas por softwares que possibilitam este encontro virtual a um custo que é o mesmo de se manter um computador ou um celular com acesso a internet: nestes casos, foram utilizados programas como o Skype e também o Messenger, que possibilitaram as chamadas com vídeo para pesquisadores de todo o Brasil, o que seria inviável se os encontros para estas entrevistas tivessem que ser presenciais, por conta da demanda de tempo e de custo, que seriam excessivamente maiores.

Sobre as desvantagens deste processo, pode-se citar como principal o acesso muitas vezes falho à internet. É válido considerar ainda que este é um processo que também depende de um mínimo conhecimento tecnológico dos entrevistados (e também do entrevistador) para a utilização destas ferramentas, embora que não tenham ocorrido dificuldades na utilização destas nos momentos de realização das entrevistas.

As entrevistas iniciaram por uma explicação geral aos entrevistados sobre o contexto e os objetivos da pesquisa. A partir daí, foi explicada a análise proposta para a etapa de estudos de casos, por meio dos indicadores escolhidos, descritos em cada proposição do questionário. Depois desta apresentação inicial, foram discutidas as 16 proposições avaliadas no questionário, sendo os entrevistados estimulados a comentarem todas as proposições, mas principalmente as proposições apontadas como suscetíveis a mudanças pela maioria dos respondentes do questionário (respostas com grau de concordância diferente da opção de resposta “concordo totalmente”) e também por cada entrevistado em questão. Em ambos os casos, os entrevistados foram convidados a justificar (caso houvesse) as razões para as suas sugestões de ajustes nas proposições.

As entrevistas foram transcritas individualmente e reunidas num único texto para cada questão, contendo os relatos correspondentes à parte escrita dos questionários e as falas das entrevistas, de forma que a análise dos dados nesta etapa considerou a análise de conteúdo

(BARDIN, 2011). Assim, os textos foram divididos em codificações que correspondiam a cada um dos indicadores abordados nas questões, que puderam ser comparadas por meio das opiniões obtidas através das entrevistas. Além disto, houve espaço para codificação de outros temas relacionados e que emergiram das entrevistas, sendo estes códigos também utilizados para a análise.

Como suporte tecnológico para este processo de análise, foi utilizado o software NVivo versão 11, programa de apoio a análises qualitativas e que pôde operacionalizar todos os passos acima descritos através de suas funcionalidades de categorização de conteúdo. Um exemplo de categorização dos dados está na Figura 8, que ilustra a codificação da entrevista realizada com o Entrevistado 03.

Figura 8 - Codificação geral de entrevista na Rodada 1 (Entrevistado 03)

Neste caso, foram considerados como nós12 para análise todos os 16 indicadores apresentados no Modelo Teórico da Expansão de Iniciativas de IS e também os nós emergentes, a partir da entrevista.

Após a análise e discussão dos resultados dos questionários e das entrevistas, houve uma visita à teoria sobre inovação social para confirmar os ajustes propostos pelos especialistas da Rodada 1 e, a partir desta validação, foram realizados ajustes apropriados nas dimensões, categorias e indicadores do modelo. Estes resultados estão descritos no Capítulo 4, que trata dos resultados obtidos nas Etapas 3, 4 e 5.

Com os ajustes resultantes desta Etapa 3, pôde-se prosseguir com o fluxo da pesquisa na Etapa 4.