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2 INOVAÇÕES SOCIAIS EM PERSPECTIVA

2.1. Iniciativas de Inovação Social

2.1.2. Percursos das Iniciativas de IS

Tanto sob os enfoques da IS como processo quanto como resultado, considerados isoladamente ou sob uma perspectiva integrada, há que se discutir sobre as etapas de percurso da inovação social, que tem sido referenciados indiretamente em análises e quadros conceituais ou diretamente apresentados em modelos. Na IS como resultado, podem-se citar os trabalhos de Mulgan et al. (2007), Bacon et al. (2008), Assogba (2010), Schmitz et al. (2013); na IS como processo, as publicações de Tardif e Harrisson (2005), André e Abreu (2006), Rollin e Vincent (2007), Cajaiba-Santana (2014); e, também, sob as duas abordagens integradas, os trabalhos de Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010), BEPA (2010), João (2014) e Correia (2015).

Tardif e Harrisson (2005) mencionaram o processo de desenvolvimento da IS como dimensão para identificação de uma iniciativa de inovação social. O referencial apresentado pelos autores não destaca estágios de desenvolvimento da IS, entretanto apresenta atributos para as dimensões de análise propostas, baseando-se nas principais características das inovações: a) Dimensão Transformações, analisada em termos do contexto onde a IS é desenvolvida; b) Dimensão Caráter Inovador, descrita em termos da ação social que leva à formação de uma inovação; c) Dimensão Características da Inovação, relacionada ao tipo de inovação, sua abrangência e seus objetivos; d) Dimensão Atores Envolvidos, relacionada aos vários atores envolvidos no desenvolvimento e implementação de uma IS e e) Dimensão Processo de Desenvolvimento da IS, descrita em termos dos modos de coordenação, dos meios envolvidos e das restrições à sua implementação, devido às tensões entre os atores por conta de dificuldades inerentes a este processo.

Este modelo tem sido amplamente utilizado na literatura como norteador para diversas pesquisas, caracterizando-o como um trabalho seminal. Exemplos recentes de referência ao

modelo podem ser apontados nos trabalhos de Correia (2015) e Galvão (2016), que, a fim de compreender em maior profundidade as mudanças sociais que as IS têm potencial para promover, abordaram em seus trabalhos os papéis dos atores na IS; no trabalho de Lessa, Souza e Silva-Filho (2016), como uma forma de identificar o caso em estudo como uma iniciativa de inovação social e nos estudos de Maurer (2011) e Maurer e Silva (2014), como uma forma de assinalar os meios de implementar uma IS e apontar suas correspondentes restrições.

O delineamento do percurso trilhado por uma IS foi apresentado por meio de um formato geral com quatro etapas em estudos de Mulgan (2006) e Mulgan et al. (2007). Estas fases vão desde a criação da nova ideia, a partir do reconhecimento do problema (1ª fase), passando pelo teste desta nova ideia na prática, o que remete a uma etapa de desenvolvimento e protótipo (2ª fase), verificação do atributo de replicabilidade do protótipo obtido para outras realidades, com o objetivo de disseminação ampla da inovação na sociedade (3ª fase) e uma última fase (4ª), que seria uma espécie de melhoria contínua da inovação, agregando novos atributos a fim de atingir os objetivos inicialmente propostos.

Este modelo, focado na finalidade social da IS (resultado), representa o esforço de um trabalho com o objetivo central de aproximar grandes organizações financiadoras de inovadores sociais, através da identificação dos fatores de incentivo e restrições à evolução da IS. Apesar do seu pioneirismo, este trabalho apresenta as fases de forma superficial (JULIANI, 2015) e está mais focado na IS apoiada em algum tipo de produto ou serviço, bem como nas iniciativas de IS relacionadas a negócios de impacto social.

Em estudos posteriores, pesquisadores do NESTA, na Inglaterra, desenvolveram uma proposta denominada de modelo de ciclo de vida da inovação social (BACON et al., 2008), como uma forma de analisar e acompanhar a melhoria da qualidade de vida local (NESTA, 2008). O modelo emergiu a partir de uma análise de estudos de casos dentro e fora do Reino Unido, onde a IS esteve presente em mudanças sociais que ocorreram através de novas formas de atuação na governança pública. Uma das principais conclusões destes estudos de caso foi que as áreas locais puderam melhorar a sua capacidade inovadora, construindo as suas redes de colaboração, conectando as pessoas através das fronteiras organizacionais para compartilhar informações e ideias (BACON et al., 2008).

Considerando-se o conceito adotado para inovação social no modelo, em que a IS “refere-se a novas ideias (produtos, serviços e modelos) desenvolvidas para satisfazer necessidades sociais não satisfeitas” (BACON et al., 2008, p.13) e pelas dimensões apresentadas para a sua análise (liderança, capacidade organizacional e valor), entende-se que este modelo de Bacon et al. (2008) tem o foco em resultados, uma vez que não há alusões às

novas práticas sociais que eventualmente despontem ao longo do percurso da IS e que estejam vinculadas aos seus resultados.

Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010), em estudos posteriores ao de Mulgan et al. (2007) e Bacon et al. (2008), e utilizando-se de uma outra perspectiva para a configuração das etapas de uma IS, definem o percurso de uma iniciativa de IS em seis etapas, contemplando tanto a abordagem de processo quanto a de resultado, conforme a Figura 5, que apresenta o escopo de cada uma delas. Este modelo foi discutido em publicações posteriores (BEPA, 2010; CAULIER-GRICE et al., 2012; NICHOLLS et al., 2016) e criticado, de forma a aprofundá-lo.

Figura 5 – Processo de inovação social

Fonte: Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010, p.12)

Os quatro estágios iniciais do processo estão relacionados à geração de soluções, que envolve contribuições específicas das habilidades criativas para a identificação de oportunidades e o desenvolvimento de ideias e projetos, estando os dois últimos estágios relacionados à implementação das soluções e às estratégias utilizadas para expandí-las, a fim de ampliar seu impacto no contexto social (PULFORD; HACKET; DASTE, 2014).

A principal evolução do modelo de Mulgan et al. (2007) para o modelo de Murray; Caulier-Grice e Mulgan (2010), está principalmente no estabelecimento, no modelo mais recente, de uma etapa em que a iniciativa de IS, após sua fase de protótipo, passa a ser uma prática cotidiana (etapa de modelo). Os autores ressaltam que, no setor público, isso

Ponto de Partida Propostas Modelo Protótipos Mudança Escala 1 2 3 4 5 1

significaria, por exemplo, identificar orçamentos, equipes e outros recursos que venham a dar suporte à iniciativa de IS. Ou a definição do modelo econômico que irá sustentar o empreendimento que abrigará a iniciativa, entendendo-se que esta é uma das etapas mais difíceis deste processo: a iniciativa de IS sustentar-se financeiramente e continuar sendo aberta e colaborativa, ao passo que estas características, embora necessárias à continuidade da IS, podem representar conflito de interesses.

Outra crítica apresentada por Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010) à proposta de Mulgan et al. (2007) contempla a abrangência, no modelo mais recente, das iniciativas de IS que estão tanto vinculadas a produtos/serviços (solução tangível) quanto ao conhecimento dos atores envolvidos (solução intangível), o que significou uma ampliação do universo de iniciativas de IS consideradas no modelo. Esta diferença está expressa na quinta etapa do modelo, chamada de escala ou difusão, que caracteriza duas situações possíveis de disseminação da inovação: a difusão da inovação, referindo-se àquelas soluções que podem ser “exportadas” e a propagação da inovação, tratando-se da disponibilização de conhecimento através dos indivíduos e suas redes, ilustrando o que os autores consideram de “forma mais adaptativa e orgânica de crescimento” (MURRAY, CAULIER-GRICE; MULGAN, 2010, p.13). Outra etapa que não consta no modelo de Mulgan et al. (2007), mas que está incorporada a este, é o estágio de mudança sistêmica, que consiste na adoção de novas práticas sociais a partir da IS, com o objetivo de institucionalização.

Seguindo a mesma linha de entendimento do modelo de Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010), encontra-se o modelo proposto pelos pesquisadores do BEPA (2010), apresentado no Quadro 5, inclusive com similar definição das etapas, incluindo todo o processo de desenvolvimento de uma IS ao longo do tempo, que parte da IS ainda em processo de criação, possível teste e consolidação da inovação (denominada nesta tese como fase de geração e implementação), passando pelas etapas de disseminação e mudança sistêmica (denominadas nesta tese como fase de expansão) como solução implementada e depois seguindo os movimentos de sua desejável evolução, ao difundir o conhecimento, processo e/ou produto para outras localidades, com vistas à institucionalização.

Quadro 5 - A inovação social e suas etapas segundo BEPA (2010)

Etapas do Percurso Fase

Diagnóstico do Problema Geração e implementação

Geração de ideias para o problema identificado Projetos-piloto

Consolidação

Disseminação Expansão

Mudança sistêmica

Fonte: Elaboração própria, baseada nas etapas do modelo de BEPA (2010)

Os autores chamam à atenção, neste modelo, para as possibilidades de movimentos

bottom-up e top-down neste fluxo das iniciativas de IS. Inicialmente, imaginava-se que estas

iniciativas só ocorreriam de forma promissora numa abordagem bottom-up, ou seja, uma inovação que emergisse a partir da comunidade, onde os atores sociais estariam envolvidos em um processo de aprendizado coletivo (ESTENSORO, 2015). Esta visão vem sendo debatida, pois o movimento top-down também tem emergido em determinados ambientes, sendo desenvolvido por agentes externos (autoridades públicas, ONG’s, universidades, outros atores) na localidade onde será implementada a IS.

Iniciativas de IS que tenham sido provocadas a partir da implementação de políticas públicas, por exemplo, podem ser consideradas como movimento top-down. Neste caso, estas políticas criam marcos regulatórios com regras e incentivos. Porém, nem sempre os objetivos são cumpridos, sendo recomendado que as implementações top-down dessas políticas sejam aprimoradas através da abordagem bottom-up, no sentido de conhecer e ouvir os atores relevantes inseridos no processo (AZEVEDO; PEREIRA, 2013).

Quando uma iniciativa de IS ocorre em decorrência de uma política pública, pode-se encontrar que, apesar da IS ter sido implantada de forma top-down, ela teve que ser modificada ao longo do percurso de desenvolvimento e expansão através de adaptações promovidas pelos atores locais, configurando um movimento bottom-up para o processo (COSTA, 2016). E esta “mudança de direção” do movimento só pode ser possível graças à influência do meio sobre os atores (ANDRÉ; ABREU, 2006), criando as condições necessárias para que o comportamento dos atores esteja relacionado a criatividade, sensibilidade e receptividade, além de uma postura de risco favorável a inovações.

Com foco na participação dos atores no percurso das iniciativas de IS, Rollin e Vincent (2007) adotaram um modelo que os considera como protagonistas principais, principalmente através de sua participação e cooperação, em atividades de intercâmbio de conhecimentos e experiência.

A proposta destes autores apresenta quatro fases para o desenvolvimento da IS: (1) o surgimento, composto por duas subfases, a identificação do problema ou aspiração e o

desenvolvimento de uma estratégia inovadora que contribuirá para encontrar uma solução, desenvolvida por meio de criação, adaptação de uma ideia existente ou resultado de uma transferência de conhecimento que podem estar vinculados a novas abordagens e também a novos produtos e serviços; (2) experimentação, em que os atores ajustam a estratégia desenvolvida para melhor atender às necessidades expressadas pelos atores envolvidos, ressaltando-se que a fase experimental conduz os atores para a apropriação da nova abordagem, novo serviço ou novo produto; (3) propriedade, em que as novas estratégias estão sedimentadas em nível local e transportadas para um nível regional ou mais amplo, quando se pode falar em institucionalização da IS; (4) – aliança / transferência / divulgação, em que há a busca de novos atores que possam disseminar a IS, a efetiva transferência das soluções e a ampla divulgação da IS, para que possa ser difundida com maior espectro (ROLLIN, VINCENT, 2007).

Um ponto de atenção para este modelo está no entendimento dos autores sobre quando a IS passa a existir de fato, que acontece ao final da fase de elaboração, quando os atores assimilam de fato a nova estratégia através da sua utilização. E consideram que, só depois desta etapa é que se pode falar em inovação social apropriada pelos atores locais. Outro ponto de destaque para o modelo é o escopo da IS, que pode estar vinculado a conhecimento mas também a produtos e serviços, não sendo estes últimos uma prerrogativa dos modelos que possuam orientação a resultado.

Além disso, o modelo considera que a fase de mudança sistêmica viria teoricamente antes de sua difusão, o que não converge com os modelos de Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010), BEPA (2010), que têm na mudança sistêmica proporcionada pelas iniciativas de IS o ponto alto da sua trajetória. Porém, considerando que a trajetória das inovações obedecem a um percurso não linear (VAN DE VEN et al., 1999/2008; RODRIGUES, 2004; MACHADO; CARVALHO; HEINZMANN, 2012), estas diferenças são minimizadas, pois as fases destes modelos apresentados poderiam ser pensadas como espaços de sobreposição, porém com distintas culturas e atividades.

Aprofundando as discussões sobre o modelo de Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010), Caulier-Grice et al. (2012) pontuam sobre as interações entre os atores no processo de IS, também com o objetivo de melhorar a participação de grupos marginalizados da sociedade, criando novos tipos de relacionamentos sociais e formas de governança. A análise demonstra que as relações de poder podem ser invertidas neste processo, com alunos no papel de professores ou usuários agindo como produtores, por exemplo, criando novas funções para os beneficiários. Outro ponto de destaque para o processo da IS é o melhor aproveitamento de bens e recursos que poderiam ser desperdiçados, sub ou mal utilizados. Em alguns casos,

esses bens e recursos podem ser latentes (as habilidades das comunidades), intangíveis (finanças), ou físicos (espaços físicos). Ao descobrir estes recursos através do compartilhamento de ideias entre os atores envolvidos no percurso, eles podem ser melhor utilizados ou reaproveitados.

Ainda com ênfase no papel dos atores neste percurso, as iniciativas de IS podem proporcionar o desenvolvimento de novas capacidades nos beneficiários, permitindo-lhes satisfazer as suas necessidades em longo prazo, reforçando sua autoestima e promovendo empoderamento frente à sociedade (CAJAIBA-SANTANA, 2014; BORGES, 2017). Com foco no processo da IS, Cajaiba-Santana (2014), discute as relações entre atores e estrutura no percurso das iniciativas de IS, expondo também o seu entendimento sobre o caráter não linear do fluxo e define as iniciativas de inovação social enquanto elemento impulsionador para mudanças nas práticas sociais, destacando o processo de criação da IS através do protagonismo dos atores e da vulnerabilidade deste percurso a circunstâncias institucionais (CAJAIBA-SANTANA, 2014). Esta análise, de caráter sociológico, combina a perspectiva estrutural da inovação social, focada em estruturas sociais e organizações, com a perspectiva individualista do agente, focando em cada um dos atores e suas características como determinantes para a inovação social (VAN DER HAVE; RUBALCABA, 2016).

Também pela vertente sociológica sobre as inovações sociais encontra-se o trabalho de Assogba (2010), que propôs analisar a IS através de um quadro conceitual para análise sistêmica. Ao assumir que a IS é um sistema de ação social, o autor apresenta quatro subsistemas utilizados para a análise destas inovações, conforme apresentado no Quadro 6.

Quadro 6 – Subsistemas da inovação social

Subsistema Descrição

Político Contempla a criação de uma autoridade, a fim de definir os objetivos e metas do sistema e para identificar e mobilizar todos os recursos necessários para a sua realização, melhorando a participação dos grupos excluídos no processo de tomada de decisão

Econômico Contempla os recursos materiais e financeiros necessários para atender às necessidades sociais, observando-se que o nível de recursos é diretamente proporcional à probabilidade de satisfação destas necessidades

Social Contempla um processo de mobilização de uma pluralidade de atores sociais –

usuários, num grupo, e no outro, organizações e instituições, a fim de que a ação possa se sustentar, com vistas à coesão social e solidariedade na sociedade Cultural Contempla uma função de estabilidade normativa ou latência para fornecer a

motivação necessária para a ação sob a forma de normas, valores, modelos e ideologias, tendo como premissa o destaque para os valores humanos que devem ser transformados em práticas sociais

Esta proposta de Assogba (2010) refere-se ao percurso das iniciativas de IS como uma ação iniciada pelos atores sociais para trazer uma solução para um problema social, alterando as relações sociais e promovendo novas orientações culturais, com vistas à mudança social. Considerando-se que o quadro pode funcionar como um referencial metodológico para a coleta de dados (quantitativos e qualitativos) e análise dos mesmos, vale salientar que estes quatro subsistemas de ação social são como os tipos ideais do modelo weberiano, que servem como aparato metodológico de comparação com a realidade, a fim de se observar como a inovação social se comporta num determinado ambiente, no sentido de convergir ou não com seus subsistemas.

Ainda sobre o ambiente, numa perspectiva do contexto local onde as IS poderão ser desenvolvidas, André e Abreu (2006), em seu estudo sobre as condições que o meio proporciona às iniciativas de IS, pontuam que os ambientes criativos (também chamados “meios inovadores”) possuem três características principais: diversidade sociocultural ligada à abertura ao exterior; tolerância, à medida que permitem o risco de inovar; e a democraticidade, correspondente à participação ativa dos cidadãos. A diversidade é fundamental para inovar, pois ela une o meio local ao ambiente externo; a tolerância remete à exposição ao risco que é imprescindível para ultrapassar barreiras; e a participação de todos os atores é outro fator decisivo para implementar novas ações e atitudes que gerem mudanças (ANDRÉ; ABREU, 2006).

Assim, considerando-se as discussões teóricas realizadas até então sobre o percurso das iniciativas de IS e seus fatores de influência direta e indireta, apresenta-se o Quadro 7, com os principais aportes dos autores estudados.

Quadro 7 – Contribuições teóricas ao percurso da inovação social

Autor Principais Características

Tardif e Harrisson (2005)

IS como processo;

O processo e os atores são entendidos como dimensões de identificação para iniciativas de IS.

André e Abreu (2006)

IS como processo;

O percurso é estudado a partir do meio onde ocorre. Mulgan et al.

(2007)

IS como resultado;

IS vinculada a produtos e serviços;

IS relacionada a negócios de impacto social. Rollin e

Vincent (2007)

IS como processo;

IS vinculada a conhecimento, produtos e serviços;

A fase de institucionalização precede a fase de difusão da IS; Ênfase ao papel dos atores no processo de desenvolvimento. Bacon et al.

(2008)

IS como resultado;

IS vinculada a produtos e serviços; Visão linear do percurso;

Murray, Caulier-Grice, Mulgan (2010)

IS como resultado e como processo;

IS vinculada a conhecimento, produtos e serviços; Ênfase ao caráter não linear do percurso.

Assogba (2010)

IS como processo;

Ênfase nas condições ambientais para promoção da IS. BEPA (2010) IS como resultado e como processo;

Ênfase no desenvolvimento da IS como um todo; Ênfase nas análises top-down e bottom-up; Ênfase ao caráter não linear do percurso; Cajaiba-

Santana (2014)

IS como Processo;

Ênfase ao caráter não linear do percurso; Ênfase ao papel dos atores.

Fonte: Elaboração própria, a partir de revisão de literatura (2018)

Diante dos pontos apresentados nesta revisão e sintetizados neste quadro, entende-se que o percurso de uma IS é constituído de etapas (MULGAN, 2006, MULGAN et al., 2007; ROLLIN; VINCENT, 2007; MURRAY; CAULIER GRICE; MULGAN, 2010; BEPA, 2010; CAJAIBA-SANTANA, 2014), podendo culminar com a sua consolidação em uma comunidade ou território, podendo ainda difundir-se e/ou institucionalizar-se. A inovação é, portanto, uma dialética: há uma ruptura, ao mesmo tempo em que há o reforço das instituições, tornando-se um novo padrão que será, por sua vez, eventualmente desafiado (ASSOGBA, 2010). Vale ponderar que este quadro não tem a pretensão de ser determinante ou exclusivo, tendo sido desenvolvido com o objetivo de ampliar as possibilidades de análise das propostas relacionadas ao percurso das iniciativas de IS, que inclui etapas de geração, desenvolvimento e expansão destas iniciativas.

A partir deste entendimento e a fim de iniciar reflexões mais objetivas sobre o percurso de expansão das iniciativas de IS, há que se considerar as dimensões já apontadas na literatura como referencial de análise para as iniciativas de inovação social. O caráter multifacetado do conceito destas iniciativas tem suscitado a definição de dimensões sob diferentes perspectivas de análise, tendo sido apresentadas por autores diversos, como apontado no Quadro 8 (CORREIA, 2015).

Quadro 8 – Dimensões de análise da inovação social

Dimensões de análise da IS

Características Principais Referências Teóricas

Centradas no indivíduo

- Cooperação entre os indivíduos para criação, produção e difusão da IS; - Mediação individual e coletiva; - Rede de atores. - Lévesque (2002); - Cloutier (2003); - Rodrigues (2007); - Mulgan et al.(2007). Centradas nas organizações

- Novas formas de organização do trabalho; - Divisão das estruturas de poder;

- Empowerment.

- Lévesque (2002); - Cloutier (2003); - Rodrigues (2007); - Mulgan et al.(2007).

Centradas no meio

- Melhor condição de vida; - Transformação social; - Desenvolvimento territorial; - Mudanças de hábito de consumo.