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Evidenciação do impacto do estágio: i) a nível pessoal; ii) a nível institucional; iii) a nível

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.2. Evidenciação do impacto do estágio: i) a nível pessoal; ii) a nível institucional; iii) a nível

nível de conhecimento na área de Educação de Adultos e Intervenção Comunitária i) O contexto de estágio teve um forte impacto a nível pessoal. De modo a refletir criticamente em torno dos fatores que contribuíram para a sua pertinência, menciono um conjunto de competências sociais/afetivas, competências de organização e competências

técnicas, desenvolvidas e aprofundadas durante o processo de estágio.

Iniciado o processo investigativo/interventivo, através das reuniões com as voluntárias do projeto, o trabalho exigiu a reestruturação do plano de sessões que, embora não definitivo, sofreu alterações. O trabalho colaborativo desenvolvido a partir de então proporcionou, essencialmente, o crescimento da capacidade de trabalhar em equipa, compreendendo um público diferente daquele com quem era costume trabalhar. Concernente a este trabalho com as voluntárias, desenvolvi um processo constante de observação, atentando às particularidades, às necessidades, potencialidades e interesses de cada voluntária, por meio da partilha de conhecimentos, histórias e vivências. O espírito de interajuda entre a estagiária e as voluntárias foi um dos pontos fortes do trabalho. Sem a integração das voluntárias no trabalho, o projeto nunca teria alcançado esta dimensão.

O trabalho também não seria possível sem o envolvimento dos participantes do projeto, que colaboraram, ativamente, na sua estruturação. Desde o início que o trabalho foi desenvolvido com os participantes, através da criação de espaços pautados pela partilha de saberes e experiências. O vasto número de participantes e o crescimento das intervenções vieram exigir o aprofundamento das capacidades de observação e escuta. Considerando cada pessoa como um ser singular, portador de uma história de vida, tornei-me capaz de ir ao encontro de cada sujeito, (re)descobrindo capacidades de afabilidade e interajuda.

Inicialmente, senti-me receosa relativamente ao modo como abordar os participantes. Todavia, a recetividade e amabilidade deste público constituiu-se como o “pontapé de saída” para a construção de um ambiente agradável, onde todos os intervenientes puderam expor as suas opiniões, sendo que, rapidamente, o receio deu lugar a momentos de diálogo e convívio. O despoletar do espírito humanitário contribuiu para o desenvolvimento de um grupo no qual os participantes se sentiram parte ativa do mesmo, partilhando, muitas vezes, histórias e vivências de cariz mais emocional, reveladoras de determinadas fragilidades.

O trabalho desencadeou o crescer de capacidades organizativas e técnicas. Efetuando uma incessante avaliação crítica do meu trabalho, sinto que me poderia ter envolvido mais na instituição. A gestão de tempo foi um dos pontos fracos, pois o projeto exigiu uma atenção redobrada sobre o público-alvo, tendo em conta o número de pessoas envolvidas, como também a permanente pesquisa sobre os temas/locais das sessões. A par disso, a capacidade de autorreflexão crítica e analítica foi uma das principais aptidões conseguidas durante o trabalho investigativo/interventivo, que contribuiu para a melhoria das sessões/atividades, pois permitiu a

tomada de consciência de necessidades que foram aparecendo e possibilitou ir ao encontro de interesses vários.

A capacidade organizativa, percetível através da estruturação do plano de sessões, foi um dos pontos fortes, evidenciado, também, pelos participantes do projeto. A autonomia e o sentido de responsabilidade foram outras das capacidades que, em muitos casos, eram incógnitas. A intensa investigação de espaços históricos onde se poderiam desenvolver as sessões, a pesquisa de temas e a interligação com a animação sociocultural e a EAV, em apenas 2h semanais, revelaram um conjunto de aptidões pertinentes, como a polivalência, a ambição, o dinamismo e, essencialmente, a vontade de aprender. O interesse pelas várias áreas conferiu a vontade de “aprender a aprender” na busca permanente de experiências e saberes junto do público-alvo.

Nem sempre o processo de estágio foi tarefa fácil. Perante as adversidades que se foram assomando, principalmente a nível institucional, a capacidade crítica perante o “eu” e o “outro” possibilitaram a compreensão de situações que, no entanto, me afetaram emocional e profissionalmente. No seio de circunstâncias desfavoráveis, cresceram as amizades dentro do grande grupo que, independentemente das idades, me permitem afirmar que, hoje, tenho um novo grupo de amigos, com os quais desenvolvo múltiplas aptidões.

ii) Ao nível institucional, o ponto de destaque prendeu-se com o caráter complexo e abrangente do trabalho, respeitante à forte adesão por parte dos participantes, às áreas que abarcou, à forma como foi dinamizado e ao trabalho de equipa desenvolvido.

Este projeto constituiu-se como um “projeto teste”, que poderia surtir bons ou maus resultados. Apesar das limitações, os resultados foram excelentes ou, como nas palavras de alguns participantes, “projeto com muita qualidade”. Um projeto que começou do zero, exigindo pesquisas de raiz, englobou áreas nunca antes trabalhadas, reunindo o interesse de um vasto público. Sendo áreas que, normalmente, são abordadas em contexto escolar ou em formações para adultos recorrendo a lógicas escolarizadas, o trabalho utilizou formas dinâmicas, orientadas para o público adulto, socorrendo-se de instrumentos de animação sociocultural.

Apesar dos inúmeros apelos para a sua continuação, o projeto não prosseguirá. Todo o trabalho construído resume-se, agora, a um legado deixado à instituição, reunindo planificações de sessões/atividades, pesquisas bibliográficas e o Memorando de Aprendizagens.

crescente valorização da concetualização da educação enquanto processo que se estende durante toda a vida; o reconhecimento de diferentes áreas enquanto componentes da EAV; e, por último, a importância da componente reflexiva para o desenvolvimento holístico do ser humano.

O estágio requereu, primeiramente, a exploração de correntes teóricas, base para o desenvolvimento do trabalho e, por seu turno, para o conhecimento da área de especialização. Conceitos como a Educação ao Longo da Vida, a Educação de Adultos e a Intervenção Comunitária carecem de investigações e reflexões, nomeadamente a nível nacional. O “O Voluntariado no século XXI: um Projeto de Educação ao Longo da Vida” relembra pressupostos educativos que emergem para a (re)construção da educação, entre eles as CONFINTEAS, a Recomendação de Educação de Adultos (1976) e o Relatório “Learning to be” (Faure et al., 1972), nos quais vai aparecendo o ideário de educação enquanto processo que envolve diversas formas, contextos, áreas e expressões, na lógica da EAV.

Recordando pensadores como Ivan Ilich e Freinet, o trabalho apresentado pretendeu dar continuidade aos seus ideais, colocando em prática ações promotoras do desenvolvimento integral das pessoas, (re)aprendendo capacidades úteis para enfrentar e agir sobre as sociedades. A educação, à qual se exige a solução para os problemas que vão surgindo, precisa de restabelecer o seu verdadeiro ideal, que é o de ser ampla e complexa, ou, resumidamente, ser verdadeiramente educativa.

A complexidade que carateriza a área de especialização torna-a capaz de abranger, não só todas as áreas e contextos, como também todos os públicos (crianças, jovens, adultos e idosos). Aqui não se assomam, apenas, as áreas do conhecimento (história e a filosofia); importa frisar a pertinência atual da animação sociocultural, da educação para a cidadania e do voluntariado enquanto âmbitos que carecem de valor por parte das principais políticas atuais. O presente trabalho para além de tratar estes conceitos, também, através de reflexões, os aproxima da área de especialização.

A Educação de Adultos e Intervenção Comunitária, enquanto componente da EAV, visa a qualidade de vida de todas as pessoas, a vários níveis (pessoal, social, cultural e emancipatório). O trabalho apresentado testemunha a possibilidade da (re)construção integral de diferentes sujeitos, perante especificidades e singularidades. O projeto e o plano, a partir do estudo de assuntos vários que, aparentemente, não parecem ter qualquer vínculo com a área de

Se já abordamos o indeterminável valor da EAV e as áreas e contextos que abrange, resta agora reconhecer a pertinência da componente reflexiva, tanto para o desenvolvimento de todo o trabalho, como para o desenvolvimento holístico do ser humano. Para que o trabalho surtisse qualidade, o projeto envolveu, do início ao fim, um processo de autorreflexão crítica e fundamentada, realizada por todos os intervenientes.

Os métodos/técnicas de investigação/intervenção vieram enriquecer o trabalho, contribuindo para a evolução do conhecimento na área de especialização. À semelhança da diversidade do público e da particularidade das áreas do conhecimento, o trabalho recorreu a uma panóplia de métodos/técnicas de animação sociocultural, entre eles os debates

participativos, as visitas a locais, os eventos/convívios e passeios. A criação dos

métodos/técnicas de caráter mais «formativo», no que respeita, por exemplo, aos debates participativos e ao Memorando de Aprendizagens, constituíram-se como os principais instrumentos de desenvolvimento integral do público-alvo, tanto a nível pessoal, como a nível comunitário, social, cultural e emancipatório.

Apelando a uma maior autonomia, assim como à participação crítica, cívica e cultural, o trabalho envolveu a constante reflexão e tomada de consciência em torno de diferentes assuntos. Recordando a natureza do Memorando de Aprendizagens, processo avaliativo criado de raiz, os participantes refletiram acerca de diversas questões, foram capazes de estabelecer relações (exemplos: entre objetos e as próprias vivências), assim como de formular opiniões e críticas em torno de situações várias. Entre outros assuntos, conseguiram, autónoma e deliberadamente, partir para um processo permanente de autorreflexão crítica, consciencializando-se dos principais problemas (sociais, culturais, entre outros), apresentando soluções.

Os grandes desafios deste trabalho consistiram, essencialmente, na permanente atenção ao vasto público-alvo (participantes e voluntárias), nas respostas aos interesses/necessidades que iam aparecendo, assim como na compilação de um conjunto de instrumentos que, em apenas 2h semanais, não poderiam fugir das áreas centrais. Uma formação que se limitaria a 1h semanal deu lugar a um trabalho verdadeiramente educativo, opondo-se às atuais lógicas de formação/aprendizagem. Em suma, o trabalho ultrapassou as expectativas do grande grupo que, a partir da cooperação e aprendizagem mútua das quarenta e duas pessoas, concorreu para o desenvolvimento holístico dos seres humanos.