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pastagens e eucaliptocultura, que diminuiu a eficiência de estocagem nesse subsistema.

Além disso, indicativos do efeito das modificações destes elementos do sistema no escoamento podem ser observados nos tempos de residência das estações secas e chuvosa (Tabela 16). Os tempos de residência da estação seca são em geral menores que os da estação chuvosa, ou mesmo que os anuais, em decorrência do maior tempo para chegar a saturação do solo na estação seca, e portanto atingir o ponto em que há o escoamento da água. Mas, de modo geral, o comportamento desses tempos de residência são semelhantes aos anuais, havendo a diminuição gradual ao longo dos períodos em estudo, provavelmente em decorrência da substituição dos usos da terra tradicionais pelos modernos fomentados pela nova identidade regional.

Tabela 16 – Tempos Médios de Residência

Tempo de residência (dias) 1972-1974 1983-1985 1994-1996 2007-2009

Anual 3,5 3,2 2,7 2,1

Estação seca 3,8 3,0 2,7 2,6

Estação chuvosa 3,1 2,3 2,5 1,9

Os resultados indicam que, embora fortemente dependentes das precipitações, as vazões parecem sofrer efeito das modificações do uso da terra, corroborando com estudos anteriores em outras partes do país que tem relacionado a taxa de desflorestamento a resposta hidrológica. Exemplos podem ser encontrados na BH do alto do rio Claro (GO) onde Moragas (2005) conclui haver diminuição das vazões em decorrência das atividades antrópicas, no rio Ji-Paraná (AM) onde estudos de Linhares et al. (2005) e Linhares (2006) encontraram evidências que suportam que o desmatamento tem influído positivamente, ainda que de forma limitada, nas taxas de escoamento anual e mais tarde no Alto e Médio do Rio Teles (MT) onde Alcântara (2009), utilizando metodologia semelhante a de Linhares (2006) encontrou evidências ainda mais fortes para a relação entre desflorestamento e resposta hidrológica.

7. DINÂMICA DA QUALIDADE DA ÁGUA NA BHRS

Mesmo Bacias Hidrográficas com altas taxas pluviométricas distribuídas durante o ano, podem sofrer com a escassez de água. Isso ocorre quando os parâmetros físico-químicos da água não atendem aos padrões mínimos de potabilidade necessários para sustentação dos usos múltiplos dados a água pelas sociedades.

Além disso, a degradação dos recursos hídricos por causas naturais ou antrópicas versa-se em uma ameaça aos ecossistemas e comunidades que deles dependem. O problema é agravado no Brasil, onde 90% do esgoto doméstico e 70% do esgoto industrial é lançado nas águas superficiais (MILARÉ, 2007), na maior parte dos casos sem qualquer tratamento ou preocupação com os impactos relacionados a introdução de matéria e energia nestes sistemas. Além disso, as atividades mineradoras, agrícolas e pecuárias podem representar potenciais fontes de contaminação ao acelerar a erosão dos solos, sedimentos e rochas e introdução de patógenos e insumos.

Aceita-se que a qualidade da água é função do sistema antropo-físico que tem na bacia a sua célula básica. A resiliência deste sistema permite que ele absorva estresses de determinadas amplitudes pela ajustagem interna sem que haja ruptura de sua estabilidade e sem alterações significativas no output do sistema. Segundo Christofoletti (1979), embora permita a absorção de determinada magnitude de variação, o estado de estabilidade não é imutável e, quando um evento de entrada ultrapassa o limiar compatível com a organização do sistema este tenderá a se transformar, talvez permanentemente.

Além disso, o comportamento sistêmico da bacia implica que impactos atinjam suas funções como um todo e desta forma alterações introduzidas em dada parte da Bacia Hidrográfica afetem todo sistema, em especial à jusante dos eventos.

Afora os impactos ambientais aos ecossistemas existem custos sociais e econômicos associados à poluição dos recursos hídricos em decorrência de perdas agropecuárias, do aumento dos gastos com a potabilização da água, da perda de vidas humanas e do tratamento de doenças veiculadas pela água ou influenciadas pela falta dela (MOTA, 1996).

No Brasil as preocupações referentes a degradação da qualidade das águas superficiais entram na ordem do dia em decorrência dos crescentes impactos verificados na maior parte dos corpos hídricos brasileiros.

O estabelecimento de parâmetros de qualidade da água foi realizado pelas resoluções CONAMA n°20, de 18 de junho de 1986 (BRASIL, 1986b) e CONAMA nº357, de 17 de março de 2005, que classificaram as águas territoriais em doces (salinidade menor que 0,5%), salobras (salinidade entre 0,5% e 3%) e salinas (salinidade superior a 3%). Essas classes foram divididas em outras subclasses de acordo com suas características físico-químicas e com os usos prioritários dessas águas. Dessa forma, as águas doces foram divididas em 5 classes, sendo uma delas especial conforme pode ser visto no quadro 14.

Quadro 14 – Classificação das águas conforme os usos preponderantes

Classe Usos

Especial a) ao abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfecção. b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas. 1 a) ao abastecimento doméstico após tratamento simplificado;

b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho); d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao Solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película.

e) à criação natural e/ou intensiva (aquicultura) de espécies destinadas á alimentação humana.

2 a) ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional; b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à recreação de contato primário (esqui aquático, natação e mergulho); d) à irrigação de hortaliças e plantas frutíferas;

e) à criação natural e/ou intensiva (aquicultura) de espécies destinadas à alimentação humana.

3 a) ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional; b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c) à dessedentação de animais.

4 a) à navegação;

b) à harmonia paisagística; c) aos usos menos exigentes.

Fonte: Elaborado a partir de Brasil (2005)

Por falta de estudos e de uma classificação oficial, considera-se aqui as águas superficiais da BHRS como águas de classe 2, categorização apoiada na resolução Conama 357 e, em documentos oficiais, tais como o relatório síntese do Programa de Desenvolvimento Sustentável – APA Litoral Norte da Bahia (BAHIA,