• Nenhum resultado encontrado

2.2 O Cerrado do Piauí e a Expansão da Soja

2.2.3 Evolução da Soja no Piauí

A soja é uma cultura originária da Ásia, mas adaptou-se muito bem às diferentes

condições climáticas do Brasil e de outros países da América. Chegou à América do Sul no início do Século XX pelas mãos de imigrantes japoneses, mas só veio a ter importância econômica maior para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial, visando, inicialmente, ao suprimento da demanda de óleos vegetais. A partir dos anos de 1970, essa visão é modificada, em maior e/ou menor grau, devido ao fortalecimento da soja no mercado internacional.

No Piauí, a soja começou de forma incipiente no início dos anos de 1990. Nesse período, as culturas tradicionais que se destacavam eram arroz, feijão e milho, voltados para o consumo do mercado interno. A partir da metade dos anos noventa, a soja começou a se expandir gradualmente e, hoje, é considerada a cultura mais dinâmica dos cerrados piauienses. A área plantada de soja no Piauí, em 1990, correspondeu a 1560 hectares. Em 1996, foi elevada para 9586 hectares, o que representou um crescimento geométrico anual de 35,4%. Entre 2000 e 2004, o crescimento foi mais elevado, tendo a área crescido aproximadamente 41,3% (FIGURA 4).

0 100000 200000 300000 400000 500000 600000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Á re a (h a) Piauí

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal, 2008.

Figura 4 – Evolução da área plantada de soja no cerrado piauiense, período 1990 – 2007.

A soja vem se firmando a cada nova safra no cerrado do Piauí, mas a maioria dos produtores pratica a monocultura dessa lavoura. O emprego de duas ou mais cultivares de ciclos diferentes em uma mesma propriedade, principalmente nos médios e grandes empreendimentos, é um procedimento indicado por técnicos e especialistas da área. Além disso, chamam atenção para o manejo do plantio direto14, quando realizado incorretamente,

pode limitar o desenvolvimento da cultura. (EMBRAPA, 2006).

A frente de expansão e concentração da produção de soja está na Mesorregião do Sudoeste Piauiense. Entre 1996 e 2006, a produção de soja cresceu 37,5%, distribuída nas microrregiões do Alto Parnaíba Piauiense, Bertolínia e Alto Médio Gurgueia, em medida menor, nas microrregiões de Floriano e Chapadas do Extremo Sul Piauiense.

14 Envolve o uso de técnicas para produzir, preservando a qualidade ambiental, uma vez que ofereceos melhores resultados para o controle da erosão. Ele evita deixar o solo desprotegido parte do ano, evitando a sua compactação e, portanto, aumentando a quantidade de matéria orgânica no solo. Fundamenta-se na cobertura permanente do terreno através da rotação de culturas (EMBRAPA, 2006).

Na Tabela 3 é mostrada a evolução da produção e participação da soja nas três principais microrregiões produtoras, no período de 1996 a 2006. Em 1996, a soja foi produzida quase integralmente na microrregião do Alto Parnaíba Piauiense, onde o principal município produtor é Uruçuí. A partir de 1999, ela começa a se deslocar para as outras microrregiões, embora com menores participações relativas. Do ponto de vista geográfico, essas microrregiões são vizinhas e apresentam condições favoráveis de clima, solo e relevo semelhantes, facilitando a expansão da soja. Mas, a expressividade maior dessa expansão só veio ocorrer a partir de 2003.

É válido lembrar que, em 2006, os municípios de Uruçuí e Baixa Grande do Ribeiro foram os maiores produtores de soja do cerrado piauiense, produzindo 160.780 e 89.231 toneladas de soja, respectivamente. No entanto, essa produção foi menor que àquela verificada nos municípios de Barreiras, na Bahia, e Balsas, no Maranhão, que atingiram 1.653.000 e 246.468 toneladas de soja, respectivamente.

Tabela 3 – Evolução da produção e participação da soja nas microrregiões do Sudoeste Piauiense, período 1996 – 2006.

Microrregiões Alto Parnaíba

Piauiense Bertolínia Alto Médio Gurgueia Ano

Prod.(ton) Part.(%) Prod.(ton) Part.(%) Prod.(ton) Part.(%)

Sudoeste Piauiense (tonelada) 1996 22430 99,79 - - - - 22478 1997 35591 87,84 3418 8,44 607 1,50 40520 1998 46349 92,95 653 1,31 2862 5,74 49864 1999 70785 85,55 1578 1,91 10174 12,30 82741 2000 80996 80,22 6921 6,85 12796 12,67 100963 2001 94279 73,50 9908 7,73 23682 18,46 128255 2002 68914 75,73 6692 7,35 14651 16,10 90995 2003 201299 65,31 27392 8,89 79429 25,77 308225 2004 253119 65,20 25024 6,45 110050 28,35 388193 2005 367788 65,73 40297 7,20 151326 27,04 559527 2006 367774 67,64 33888 6,23 142028 26,12 543690

A mobilidade da soja na fronteira agrícola piauiense permitiu, em maior e/ou menor grau, diferencial de produtividade na região. Em 1996, Alto Parnaíba Piauiense apresentou produtividade média de 2.346 kg/ha, sendo a mais elevada. Já em 2005, essa posição foi ocupada pela microrregião do Alto Médio Gurgueia, cuja produtividade foi 2.973 kg/ha, considerada importante componente de competitividade dessa região, embora não sendo o único. Esses ganhos de produtividade podem estar associados, por um lado, à mudança na composição da produção da soja nessas microrregiões e, por outro, à tecnologia moderna desenvolvida para a região, através da pesquisa agrícola e, também, às condições climáticas favoráveis dos cerrados.

Analisando, de forma sucinta, o comportamento da soja, do arroz, do feijão e do milho produzidos nos cerrados piauienses, foi constatado aumento de produção somente para a soja, pelo menos no período 2000 a 2006. O arroz e o feijão apresentaram perda de produção: (5,43%) para o arroz e (0,13%) para o feijão. O arroz também teve uma perda de (5,4%) na área plantada, enquanto a soja, o milho e o feijão, aumentaram a área, em medida menor para o milho.

O bom desempenho dessas culturas depende, em parte, das condições dos mercados interno e externo. O arroz e o feijão, por exemplo, são não transacionáveis, considerados produtos básicos; então, a maior influência sobre os preços vai depender da relação entre oferta e demanda, além da alteração na renda. Representam os principais componentes da cesta básica de consumo da população piauiense. Já a soja e o milho são transacionáveis, por isso, recebem influência maior do mercado externo. Esse mercado parece não ter apresentado grandes problemas em período mais recente e tem sido aquecido pelos programas de biocombustível no mundo, o que contribui com a geração de expectativas de preços maiores na época do plantio, influenciando as decisões dos produtores.

Embora apresentando condições propícias de continuar crescendo em área, produção e produtividade, o desempenho da soja no cerrado piauiense ainda é relativamente modesto, quando comparado ao de outras regiões, mas pode ser fortalecido, através de maiores investimentos, uma vez que a soja constitui um importante produto gerador de divisas.