• Nenhum resultado encontrado

Implicações dos Efeitos: área, rendimento e localização

4.3 Aspectos Econômicos, Sociais e Ambientais

4.3.1 Aspectos Econômicos

4.3.1.2 Implicações dos Efeitos: área, rendimento e localização

Os resultados do modelo Shift-Share permitem apenas a descrição sucinta desses efeitos. Mas, intuitivamente, torna-se interessante analisar possíveis implicações econômicas, sociais e ambientais.

O efeito área, em termos de expansão e/ou substituição, pode ter repercussão no nível de emprego (direto e indireto), na renda e no meio ambiente.

O efeito expansão da área para culturas tradicionais (arroz, feijão, mandioca, etc.), por exemplo, pode tornar expressivo o número de empregos diretos, porque se trata de culturas típicas da agricultura familiar, nas quais o fator mão-de-obra é absorvido em maior frequência. Nesse caso, havendo aumento da área, é possível uma garantia de renda mínima à população mais pobre, que precisa sobreviver através do seu trabalho pouco especializado.

Por outro lado, quando o efeito expansão da área é observado em culturas comerciais (caso da soja), é possível haver notáveis aumentos da criação indireta de empregos, devido à existência da maior interligação das atividades dependentes da cadeia (com supridores de insumos, serviços e pelo dispêndio da renda através do consumo). Caso a cultura seja toda exportada, agrega menor valor e cria menos emprego. Mas, se ela induz à implantação de agroindústrias, então, a movimentação de pessoas e o volume de recursos impulsionam o comércio e os serviços, fazendo surgir hotéis, lojas, bares, restaurantes e outros serviços; fluindo melhor a renda na região.

Por contraste, a existência do efeito expansão da área, para atender ao aumento da produção agrícola, pode trazer consequência danosa ao meio ambiente, através da substituição da vegetação nativa. A diminuição da vegetação nativa tem implicações sobre a biodiversidade, através da redução de espécies vegetais e animais; comprometendo a manutenção dos estoques genéticos. Caso o avanço da área seja muito grande, em relação à área total existente, as suas implicações devem ser maiores sobre a biodiversidade, devido a maior quantidade de árvores retiradas. Mas, se ela avança a uma fração pequena, talvez não comprometa muito o bioma, devido à modesta alteração do ambiente natural.

Com relação ao efeito rendimento (aumento de produtividade), as suas implicações sobre a capacidade de geração de emprego e da renda podem estar associadas, em parte, ao perfil tecnológico das diversas culturas. A elevação da produtividade pode favorecer maiores investimentos e melhoria tecnológica, pela maior rentabilidade gerada.

No caso das culturas comerciais, o efeito rendimento pode conduzir ao maior uso de tratores, plantadeiras, colheitadeiras e outros equipamentos de natureza mecânica. O uso dessas tecnologias aumenta a produtividade da mão-de-obra por unidade de área cultivada, mas limita, em geral, a absorção de mão-de-obra direta, devido à necessidade de reduzir custos de produção. Com menores custos de produção, é possível manter e/ou ampliar a competitividade da cultura no mercado internacional sendo, portanto, perfeitamente viável do ponto de vista econômico.

O aumento da produtividade pode trazer de um lado, uma garantia de maior renda, de outro, pode resultar em preocupação ambiental. A garantia de renda pode ser vista pelo uso de tecnologia que resulte em maior produtividade da terra, por exemplo, o uso de fertilizantes sintéticos, de corretivos, etc. Esse tipo de tecnologia aumenta a produção por unidade de área cultivada, uma vez que o solo pode ser mais bem cuidado, trabalhado e cultivado. Para os pequenos produtores, essa tecnologia é perfeitamente favorável, uma vez que permite usar a terra de maneira mais intensiva e racional.

Por outro lado, o uso mais intensivo da terra, através da maior utilização de fertilizantes químicos e corretivos, na agricultura comercial e/ou familiar, pode ter reflexo sobre o meio ambiente. No período chuvoso, por exemplo, esses produtos químicos podem ser carreados pela chuva para o leito dos rios, riachos e represas, conduzindo à morte de peixes, anfíbios e plantas; reduzindo a biodiversidade aquática. Caso a propriedade esteja localizada próxima aos cursos d’água e situada em áreas marginais, com topografia muito inclinada, é possível que esse problema ocorra. Do contrário, talvez não se registrem grandes preocupações.

Para o efeito localização geográfica, as suas implicações podem ser percebidas pela redistribuição da área total cultivada de uma cultura em uma região.

Essa redistribuição pode estar associada a possíveis vantagens comparativas entre regiões, estados e/ou municípios, devido às características naturais de cada localidade; incluindo a temperatura, a precipitação, a topografia, o solo, a época do cultivo e outros elementos determinantes, em parte, da capacidade produtiva das lavouras.

Quando a cultura é deslocada, de uma região para outra, em decorrência dessas vantagens, é possível haver perspectiva de maior rentabilidade, devido à boa adaptação da cultura. Nesse caso, o aproveitamento de áreas férteis e bem localizadas geograficamente em relação ao mercado consumidor, pode conduzir a uma maior produção. Primeiro, pelo aumento da produtividade; segundo, pela redução dos custos de transação.

Ao deslocar-se de uma região para outra, a cultura precisa de mão-de-obra no preparo do solo, na semeadura e na colheita. No caso de culturas comerciais, a absorção de mão-de-obra talvez seja menor, pois essas fases são conduzidas com o uso da mecanização, porém, cresce a necessidade de mecânicos, operadores de máquinas, etc. Já as culturas semimecanizadas e/ou não mecanizadas, absorvem maiores quantidades de mão-de-obra em determinada fase e/ou em todas elas. De certa forma, o mercado de trabalho passa a ser reorganizado para atender a nova demanda por mão-de-obra.

Por outro lado, o deslocamento da cultura, entre diferentes localidades, pode se dar a um maior e/ou menor custo ambiental, através da retirada (parcial e/ou total) de árvores, para atender às necessidades da produção agrícola.