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Programas Especiais de Desenvolvimento do Nordeste e a Iniciativa

2.1 Programas e Políticas Públicas

2.1.3 Programas Especiais de Desenvolvimento do Nordeste e a Iniciativa

A estratégia política do Governo Federal na região Nordeste a partir da década de 1970 do último século era integrar essa região ao processo de desenvolvimento da economia nacional, através da implantação de programas de desenvolvimento. Nesse sentido, surgiram a partir de 1970 vários programas, entre eles, o Programa de Integração Nacional (PIN)4, o Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste (PROTERRA)5, o Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste (POLONORDESTE) e o Programa de Desenvolvimento da Agroindústria do Nordeste (PDAN), direcionados à expansão do capitalismo no país.

O Polonordeste, por exemplo, atuou em quarenta e seis áreas denominadas de Projetos de Desenvolvimento Rural Integrado (PDRIs). Sua estratégia era concentrar recursos e ações integradas em áreas potenciais, com a finalidade de promover o desenvolvimento da estrutura econômica e social. No caso do Piauí, foram contemplados nesse programa o Vale do Parnaíba (Delta do Parnaíba), o Vale do Gurgueia, o Vale do Fidalgo e as Fazendas Estaduais, com ênfase nas seguintes linhas de ação: sistema de posse e uso da terra, sistema de financiamento e promoção das atividades produtivas (crédito rural, assistência técnica e extensão rural etc.), sistema de comercialização da produção, infraestrutura econômica e social (construção de estradas vicinais, eletrificação, educação, saúde, etc.). Na verdade, não foi um programa direcionado à agricultura comercial, mas diante das condições difíceis dos pequenos produtores de acessar esses componentes, no final, ele veio beneficiar produtores que dispunham de maiores recursos (FUNDAÇÃO CEPRO, s.d).

4 Com o objetivo de promover uma rápida integração do Nordeste com a Amazônia e, destas, com o restante do país. Com absorção de 30% dos recursos do sistema de incentivos fiscais (34/18), realizou obras de infra- estrutura (construção das rodovias transamazônica, Cuibá-Santarém); procurou efetivar a colonização às margens dessas rodovias e intensificar a irrigação (PIMES, 1984).

Como parte dessa política de desenvolvimento e transformação da agricultura regional, o governo resolveu apoiar e atribuir à iniciativa privada um papel importante na economia regional. Através do I Plano Diretor6 da Superintendência de Desenvolvimento do

Nordeste (SUDENE), os investimentos privados foram estimulados através da criação dos incentivos fiscais e financeiros chamados 34/18, cujo objetivo era viabilizar a política de desenvolvimento agrícola regional nas diferentes linhas de ação: modernização, irrigação e colonização. A partir de 1974, o mecanismo 34/18 foi substituído pelo Fundo de Investimento do Nordeste (FINOR)7, com o objetivo de corrigir algumas distorções existentes na operação desse mecanismo, acompanhado do Fundo de Investimento Setorial (FISET).

Essa política de incentivos constituiu uma fonte importante para a ocupação da fronteira agrícola nordestina (Piauí, Maranhão, Bahia), baseada na grande propriedade. Entre 1965 e 1976, foram aprovados 574 projetos incentivados em todo o Nordeste e o Piauí teve participação de 9,6% (PIMES, 1984).

O processo de concessão dos incentivos foi apontado como responsável, em parte, pela elevação da área média das propriedades incentivadas, ao considerar o valor da terra como contrapartida na parte em que o proprietário se comprometia a investir. O que permitiu que as terras compradas a baixo preço e não cadastradas e/ou com cadastro desatualizado fossem recadastradas junto ao INCRA por um valor acima daquele existente. Assim, o proprietário despendia uma quantia pequena em dinheiro na parte do investimento que ele tinha obrigação de realizar.

6 Cobre o período 1961 a 1963.

7 Criado pelo Decreto-Lei n. 1.376 de 12/12/1974. Constituído de recursos aplicados em ações e debêntures e destinado a apoiar financeiramente empreendimentos instalados, e/ou que venham a se instalar na área de atuação da SUDENE. É administrado pelo Departamento de Gestão dos Fundos de Investimentos (DGFI), cuja função principal é definir prioridades, analisar, aprovar, fiscalizar os projetos e liberar os recursos incentivados. Os beneficiários desses incentivos são pessoas jurídicas, de todo o país, contribuintes do imposto de renda, tributadas com base no lucro real e interessadas em converter parte desse imposto em investimento (BNB, 2007).

No caso do Piauí, o baixo preço das terras no cerrado, dentre outras coisas, foi um grande atrativo ao seu uso produtivo; facilitado, sobretudo, pelos financiamentos do FINOR – Agropecuário. Isto permitiu acelerar o processo de ocupação dessa fronteira agrícola.

Já o Fiset8, Fundo de Investimento Setorial, foi um incentivo fiscal destinado ao

reflorestamento, inicialmente do eucalipto, visando atender a demanda do programa de substituição da importação de papel e celulose; substituído depois pela cultura do caju, pelo menos no Piauí. Esses incentivos foram responsáveis pela implantação de mais de quinhentos projetos da cajucultura em todo o Piauí, ao longo dos anos de 1970 e 1980. Cerca de 243 deles foram instalados no sudoeste piauiense, 162 em Ribeiro Gonçalves e 81 em Uruçuí, correspondendo a uma participação de 44% do total de projetos. Em período recente, foi constatado que a maioria desses projetos está com suas atividades paralisadas e outros foram abandonados. Uma possível explicação pode ter sido o baixo desempenho produtivo apresentado pelos municípios, aliado a pouca aptidão dos cerrados ao cultivo da cajucultura. De modo geral, existem evidências de que boa parte desses proprietários era beneficiada nas duas linhas de financiamentos, incorporando grandes áreas de terras (MONTEIRO, 2002).

Adicionalmente, o governo do Piauí, a partir da Legislação dos Incentivos Fiscais do Estado (Lei no 4.859 de 27 de agosto de 1996) resolveu oferecer benefícios fiscais a empresários que desejassem instalar indústrias e agroindústrias, visando o fortalecimento da economia desse Estado. Para isso, eles são dispensados do pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em até 100% para empreendimentos sem similar no Piauí, nos primeiros cinco anos; com reduções gradativas da taxa ao longo do tempo, chegando ao final do décimo ano a uma taxa de dispensa em torno de 30%. Para os empreendimentos com similares no Piauí, a dispensa desse imposto é inicialmente de 60%, chegando a uma taxa de 20% nos dois últimos anos. Esses incentivos são concedidos a um

prazo de dez a quinze anos. A soja veio a ser beneficiada com a implantação de uma fábrica de esmagamento na cidade de Uruçuí em 2001, mas só começou a funcionar em 2003.

Acrescentando a essa discussão, vale lembrar o Programa Corredor de Exportação Norte (PCEN) que faz parte de um conjunto de medidas adequadas ao fortalecimento do desenvolvimento da região do cerrado do Sudoeste Piauiense, sul do Maranhão, norte e sudeste do Tocantins. Através desse programa foi possível ampliar as oportunidades comerciais da produção de soja nessa região, criando vantagens competitivas no deslocamento dessa leguminosa para o mercado externo através do sistema multimodal de transporte (rodovia, ferrovia), no qual o escoamento e o embarque podem ser efetivados com menores custos de fretes e tarifas portuárias aos produtores e exportadores de soja dessa região.

Portanto, todos esses elementos reunidos a outras condições, como localização, abundância de recursos hídricos, mão-de-obra de baixo custo, embora pouco especializada e ampla oferta de terra, têm atraído, em boa medida, produtores e empresários de outras regiões do Brasil para a região dos cerrados nordestinos, particularmente para o Sudoeste do Piauí, juntamente com o Sul do Maranhão e Oeste da Bahia.