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2 OS DIREITOS DOS ANIMAIS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA À LUZ DA FILOSOFIA DO DIREITO E DA BIOÉTICA ANIMAL

2.2 EVOLUÇÃO DOS DIREITOS ANIMAIS NO BRASIL

Após um longo período de tempo, especificamente a partir do século XIX, os poucos direitos destinados aos animais passaram a ser repensados na esfera

jurídica brasileira, fomentando transformações gradualmente lentas. O primeiro resquício de documento destinado a oferecer aos animais algum tipo de proteção formulado em território brasileiro, se deu no município de São Paulo, quando em 06 de outubro de 1886 fora promulgado o Código de Posturas. A saber, a parte que se refere aos animais:

[...] art. 220: ‘É proibido a todo e qualquer cocheiro, condutor de carroça, pipa d’água, etc, maltratar os animais com castigos bárbaros e imoderados.

Esta disposição é igualmente aplicada aos ferradores. Os infratores sofrerão a multa de 10$, de cada vez que se der a infração” (LEVAI, 2004, p. 28).

Em 1924, fora promulgado o Decreto nº 16.590, que regulamentava a atividade das casas de diversões públicas no Brasil. Especificamente no seu artigo 5º, podemos verificar um dispositivo de caráter protetivo aos animais, em que se estabeleceu o seguinte: “Não será concedida licença para corridas de touros, garraios e novilhos, nem briga de gallos e canarios, ou quaesquer outras diversões desse genero, que causem soffrimento aos anitnaes.” (BRASIL, 1924). O dispositivo demonstra claramente a preocupação com o bem estar dos animais envolvidos em atos de exploração.

Dez anos depois, fora promulgado o Decreto nº 24.645 de 1934, conhecido como “Lei Áurea dos Animais”, um verdadeiro instrumento de proteção aos animais no território nacional, estabelecendo em seu artigo 1º, que “Todos os animais existentes no País são tutelados do Estado.” (BRASIL, 1934). Em seu artigo 3º, o Decreto regulamenta e tipifica as mais variadas formas de maus tratos aos animais (BRASIL, 1934). Em relação à aplicabilidade do Decreto, Mendes afirma que

[...] somente os artigos (ou parte deles) que estabelecem crimes e suas respectivas penas foram revogados implicitamente pelo art. 32 da Lei 9.605/1998. São estes os artigos 2º (caput113 e §§ 1º), 8º, 10, 11, 12 e 15.

Permanecendo em vigor os demais artigos, inclusive o §3º, do artigo 2º, como dispositivo orientado a tutelar a capacidade processual lato sensu dos animais não-humanos. (MENDES, 2018, p. 37).

Em 1943, o Decreto nº 5.894 é promulgado, instituindo o Código de Caça, categorizando no seu artigo 12, §1º, alíneas “a” e “b”, a conceituação de caçador profissional e caçador amador, ambos permitidos pelo Código em comento (BRASIL, 1943). Já em 1967, o Código de Caça é revogado, sendo substituído pela Lei 5.197 de 1967, que vigora até a atualidade. A lei em comento vem trazer dispositivos que

buscam proteger a fauna, proibindo a caça profissional que anteriormente era permitida, no seu artigo 2º (BRASIL, 1967). Já em 1979, é promulgada a normatização dos procedimentos para realização da vivissecção, pela Lei 6.638 de 1979, sendo revogada posteriormente pela Lei 11.794 de 2008, que vai regulamentar os procedimentos realizados em animais.

No ano de 1983, a Lei 7.173 é promulgada, estabelecendo disposições acerca do funcionamento dos chamados “Jardins Zoológicos”, que conforme a própria lei em seu artigo 1º, é “[...] qualquer coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semi-liberdade e expostos à visitação pública.” (BRASIL, 1983). A lei em comento atualmente está em vigor, porém não conta com nenhum dispositivo de caráter protetivo de direitos das espécies que se encontram naquela condição. Finalmente em 1988, temos a promulgação da atual Constituição Federal, que vai promover, em um dos seus artigos que será explorado oportunamente, a proteção constitucional do animal não humano, colocando os direitos animais em um patamar de proteção nunca antes visto.

Neste sentido, importante discorrer acerca da conceituação da palavra

“animal” ou “animal não-humano”, que difere consideravelmente de autor para autor.

De acordo com Locke, características como o capacidade de abstração e a apropriação de um conjunto de ideiais "[...] é o que marca uma distinção completa entre o homem e os animais." (LOCKE, 1986, p. 139, tradução nossa). Já o filósofo Peter Singer entende que "[...] alguns animais são seres racionais e autoconscientes, dotados de consciência de si enquanto entidades distintas que têm um passado e um futuro." (SINGER, 2002, p. 120).

Apesar dessa divergência de conceitos, o animal passou a ser tratado, num aspecto mundial, como um verdadeiro sujeito das relações jurídicas. No Brasil não seria diferente. Prova disto é o crescente aumento de ações que tramitam atualmente no judiciário de divórcios/dissoluções de união estável, cumuladas com pedido de guarda e tutela do animal de estimação da casa. Como exemplo, tem-se o julgamento do Recurso Especial nº 1.713.167, em que o Superior Tribunal de Justiça concedeu a uma das partes de uma ação de divórcio, o direito de visitas ao cachorro que conviveu com o casal.

No seu voto, o Ministro Luis Felipe Salomão, relator do Recurso Especial em comento, asseverou que

BRASIL. Tribunal Regional Federal (5. Região). Apelação cível nº 42.441-PE (94.05.01629-6). Apelante: Edilemos Mamede dos Santos e outros.

Apelada: Escola Técnica Federal de Pernambuco. Relator: Juiz Nereu Santos. Recife, 4 de março de 1997. Lex: jurisprudência do STJ e Tribunais Regionais Federais, São Paulo, v. 10, n. 103, p. 558-562, mar. 1998. Nessa medida, sendo desnecessária a aplicação por analogia do instituto da guarda compartilhada no caso concreto, em virtude de existir no ordenamento jurídico pátrio ditame legal atinente ao Direito das Coisas aplicação do instituto da copropriedade - para a solução da contenda, deve ser mantido o entendimento do Tribunal a quo que estabeleceu as diretrizes para esse exercício, bem delineando a Documento: 1717000 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2018 Página 43 de 9 Superior Tribunal de Justiça distribuição - qualitativa - dos comunheiros sobre o animal, conforme deliberado às fls. 164-165 do acórdão recorrido. Deve ser afastado, contudo, o tratamento dado por aquela Corte, alusivo ao instituto da guarda e do direito de visita no âmbito familiar, aplicando-se ao caso concreto o ditame da copropriedade e terminologia pertinente (uso, gozo, fruição e reivindicação). (BRASIL, 2018).

Apesar dessas pautas estarem sendo tratadas frequentemente, cabe ressaltar que não existe, até o presente momento, no ordenamento brasileiro, um procedimento próprio aplicável ao problema jurídico que busca regulamentar a guarda/visitação animal. Como o próprio julgado já menciona, o procedimento no caso aplicável a esta situação deve observar o instituto da copropriedade, este inserido no ramo do Direito das Coisas, situado no Código Civil (BRASIL, 2002).

Destarte, muito tem se falado hoje em família multiespécie, conceito relativamente novo incorporado no ramo do Direito de Família, especificamente nos tipos de família. A família multiespécie é aquela formada entre humanos e animais.

Neste contexto, o animal doméstico assume o posto de um legítimo membro da família, constando efetivamente no vínculo afetivo existente entre os membros daquela família. De acordo com Seguin e col., a família multiespécie

[...] é a formação do laço social onde se respeite a diferença e a condição de não humanos dos animais relativamente ao cuidado e ao carinho que os animais necessitam e sabem retribuir. Essa relação contribui para o bem estar das pessoas e dos animais que fazem parte dessa nova constituição familiar. (ARAÚJO; NETO; SÉGUIN, 2017, p. 44).

As decisões que versam sobre a guarda dos animais domésticos encontram fundamento na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, documento o qual o Brasil é signatário, este elaborado por uma comissão especial da UNESCO, em 15 de outubro de 1978, na cidade de Paris. Especialmente no art. 5º, que refere ser imprescindível a manutenção e continuidade do “estilo de vida” que o animal outrora tinha. A saber, o artigo dita que “a) Cada animal pertencente a uma espécie, que

vive habitualmente no ambiente do homem, tem o direito de viver e crescer segundo o ritmo e as condições de vida e de liberdade que são próprias de sua espécie.”

(UNESCO, 1978).

Em relação ao pagamento de alimentos para o animal de estimação do casal, Araújo e col. entendem como um extremismo e que tal ação não deve proceder, pois

“O que precisa ficar claro nesses novos laços sociais formados com os animais é que esmo com todo o afeto merecido, eles continuarão sendo não humanos, portanto, portadores de demandas diferentes das nossas.” (ARAÚJO; NETO;

SÉGUIN, 2017, p. 42). Partindo da premissa das autoras, percebe-se que alguns doutrinadores defendem a existência de limites quando se institui direitos que primordialmente seriam destinados à humanos em animais

Para os amantes dos animais que pensam em beneficiá-los com seus bens, uma solução viável seria instituir em seu testamento a doação, em todo ou em parte, a depender da situação jurídica, do patrimônio para ONG’s, que tem por finalidade a assistência aos animais. O que é perfeitamente cabível, vez que é autorizado pela legislação este tipo de doação, desde que seja observada a imposição do art. 1.789 do Código Civil, que institui que “havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.” (BRASIL, 2002). O autor da herança deve obrigatoriamente observar alguns preceitos legais impostos no momento em que proceder a destinação dos bens da sua herança a uma ONG, por exemplo.

Importante ressaltar a atuação das ONGs, que influenciam positivamente em uma mudança de paradigmas no direito dos animais no Brasil. Conforme Motta e Séguin, a primeira ONG destinada a promover a defesa dos animais, surgiu em 1895, sendo criada por Ignácio Wallace da Gama Cochrane, quando naquela época fora denunciado um ato de maus-tratos contra um cavalo na cidade de São Paulo, fundando-se assim a União Internacional Protetora dos Animais (MOTTA; SÉGUIN, 2017). As ONGs, denominadas categoricamente de “Terceiro Setor”, buscam a devida aplicação das leis que se destinam à proteção animal, como também a promoção de campanhas e eventos com a finalidade de conscientizar a população sobre os impactos causados pelo abandono e dos maus-tratos aos animais.

Motta e Séguin asseveram que “[...] o Terceiro Setor tem cobrado dos poderes públicos mais direitos aos animais e medidas eficazes na implantação de políticas públicas.” (MOTTA; SÉGUIN, 2017, p. 267). Deste modo, estes órgãos desempenham função complementar conjuntamente ao poder público, que é o

encarregado constitucionalmente por zelar, em parceria com a sociedade civil, por um meio ambiente conservado e harmonioso.

A proteção dos animais no Direito Brasileiro está consagrada na Constituição Federal de 1988, a primeira constituição no Brasil e a única no mundo a tratar sobre este tema. Referida proteção se encontra no Capítulo VI da Constituição, que contém disposições referentes ao meio ambiente. Neste capítulo, especificamente no art. 225, o documento menciona que

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988).

No que concerne aos animais, de acordo com o art. 225, §1º, inciso VII, da Constituição Federal de 1988 são vedadas as práticas que coloquem em risco as espécies e que provoquem, de algum modo, sofrimento aos animais (BRASIL, 1988). Neste ínterim, cabe ao Estado apropriar-se da figura de gestor da fauna e da flora para desenvolver políticas públicas adequadas, que visem a preservação do meio ambiente. Cumpre ressaltar que estas ainda estão se desenvolvendo gradativamente, visto que a preocupação ambiental tem aumentado ano após ano.

Aos poucos, nota-se, mesmo que de maneira ainda tímida, uma preocupação mais acentuada dos que influenciam na elaboração e operacionalização de políticas públicas, com a problemática ambiental. O que traduz, por um lado, reações frente ao agravamento de uma crise que não se pode mais ignorar e, por outro, a resposta às lutas e reivindicações da sociedade civil e do movimento ambientalista, atentos às possíveis conseqüências desta crise desde outrora. (BOETTGER et al., 2009, p. 19).

Recentemente, discussões em torno da causa animal passaram a ser tratadas no cenário legislativo. No ano de 2018, foi proposto o Projeto de Lei Complementar nº 27/2018, que tinha como objetivo alterar o Código Civil (Lei 10.406/2002), no que toca à classificação dos animais para o Direito Brasileiro. Tal projeto guardava a pretensão de modificar o status categórico dos animais, passando de “coisas”, para a condição de seres sencientes. Felizmente, a demanda legislativa prosperou, o Projeto foi aprovado e os animais hoje não são mais tratados pela Justiça brasileira como meramente objetos ou coisas.

A aprovação do Projeto em comento, no entanto, levou doutrinadores a levantar algumas indagações. Gonçalves preleciona que a

[...] aprovação do PL 27/2018 deve, obrigatoriamente, conduzir a uma nova interpretação da situação jurídica dos animais. Assim, mesmo não se verificando alterações legislativas posteriores, a aprovação do PL 27/2018 deve servir de base para uma modificação no modo como a academia, a doutrina e os tribunais encaram o enquadramento jurídico desses seres. Isto é, o PL 27/2018 pode ser o primeiro passo concreto, seguro e gradativo da ampliação de direitos dos animais, mas, para assegurar a sistematicidade da Ciência Jurídica em relação a este assunto, além do esforço de evolução da doutrina e da jurisprudência, é provável que sejam necessárias reformas legislativas nesse âmbito. (GONÇALVES, 2020, p. 25).

A autora refere que a aprovação deste Projeto é o primeiro passo para que grandes evoluções sejam feitas no futuro, dado que os direitos animais no Brasil ainda estão em fase de desenvolvimento.

Outro ponto importante a ser explorado são as infrações inseridas na Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei 3.688, de 1941). Tal codificação trata de delitos considerados como de menor potencial ofensivo, ou seja, que representam pouca relevância para a sociedade. Apesar disso, encontram-se aí inseridas algumas infrações referentes aos maus tratos animais. O art. 64 da referida lei cuida dos maus tratos e o trabalho excessivo imposto ao animal, realidade cruel que muitos animais que se encontram no Brasil estão sujeitos (BRASIL, 1941). Entretanto, sua aplicabilidade resta prejudicada, conforme Rosa, pois o referido artigo em comento

“[...] encontra-se tacitamente revogado pela Lei nº 9.605/98, uma vez que em seu art. 32 tratou de forma específica a conduta de maus tratos contra animais, aumentando a abrangência da norma penal.” (ROSA, 2017, p. 45). Trata-se neste caso da aplicação do princípio da especialidade, em que matéria especial passa a regular o que anteriormente era ditado por norma geral, de acordo com o art. 2º, §2º da LINDB (BRASIL, 1942).

Importante também tecer alguns comentários acerca da “Lei de Caça”.

Legalmente, a caça profissional, ou seja, aquela que tem finalidade lucrativa ou funcional, é proibida de ser praticada em território brasileiro, conforme o art. 2º da Lei 5.197 (BRASIL, 1967). Apesar do dispositivo resguardar minimamente os animais, a própria lei refere, no seu art. 6º, que “O Poder Público estimulará: a) a formação e o funcionamento de clubes e sociedades amadoristas de caça e de tiro ao vôo objetivando alcançar o espírito associativista para a prática desse esporte.”

(BRASIL, 1967). O ordenamento se refere à caça amadora como um esporte, normalizando a prática.

Entretanto, ressalta-se a existência do Projeto de Lei nº 6268/2016, de autoria do deputado Valdir Collato, que busca regulamentar a caça de animais silvestres. O Projeto institui a chamada “Política Nacional de Fauna”. No que toca à caça, indiretamente refere que a caça dar-se-á por autorização do poder público.

Art. 11. Cabe ao poder público impedir a introdução e promover ações que visem ao controle da fauna silvestre ou à erradicação das espécies exóticas consideradas nocivas à saúde pública, às atividades agropecuárias e correlatas e à integridade e diversidade biológica dos ecossistemas.

(SENADO FEDERAL, 2016).

Tal projeto, até o presente momento, ainda não foi votado. Ainda nesta seara, destaca-se a tentativa de incorporação do Projeto de Lei n° 3615, de 2019, proposto pelo Senador Marcos Rogério. Tal projeto tem a pretensão de instituir o Estatuto dos Colecionadores, Atiradores e Caçadores – CACs, regularizando a caça. Em seu art.

3º, tem-se que

Art. 3. É direito de todo cidadão brasileiro o exercício das atividades de colecionamento, de tiro desportivo e de caça, de acordo com o disposto nesta Lei e em seus regulamentos, vedada a sua prática por pessoa física ou jurídica que não se encontre devidamente registrada perante o Exército Brasileiro. (SENADO FEDERAL, 2019).

Com a aprovação do Projeto, a caça se tornará uma prática assegurada a todo cidadão que preencha requisitos específicos. Sua possível aprovação demonstra um retrocesso a causa pela luta dos direitos animais, visto que estimula a matança de espécies, o que é contrário aos princípios de movimentos de defesa aos direitos animais.

O Brasil ainda não dispõe de um código específico que trata sobre os direitos animais. O que se tem disponível atualmente em matéria de defesa dos animais é o código que trata dos Crimes Ambientais, Lei 9.605, de 1998 (BRASIL, 1998). No tocante aos animais, os crimes praticados contra os mesmos estão inseridos no Capítulo V da lei, especificamente na Seção I. Disposição importante encontra-se no artigo 32 da referida lei, que objetiva punir quem vá “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: [...].” (BRASIL, 1998). A pena, neste caso, é de detenção, de três meses a um ano, e multa, o que configura a mesma como uma infração de menor potencial

ofensivo, que deve ser processada e julgada pelo rito do Juizado Especial Criminal, conforme o que especifica no artigo 61 da Lei nº 9.099, de 1995 (BRASIL, 1995).

O termo “maus tratos” pode ser interpretado como os atos que atentem sobre as espécies, à integridade física e a exploração imoderada dos animais, causando sofrimento e, como consequência indireta, sua extinção. De acordo com Nassaro,

A expressão maus-tratos aos animais vem sendo utilizada comumente no Brasil como sinônimo de crueldade animal. Apesar de aparentemente não haver diferença conceitual, o Decreto Federal nº 24.645, de 1934 elegeu, no seu art. 3º, caput, os maus-tratos como o gênero, sendo o ato de abuso ou a crueldade uma das suas espécies. (NASSARO, 2016, p.40).

Os crimes praticados em detrimento da fauna brasileira encontram-se disciplinados desde o artigo 29 até o artigo 37 da Lei de Crimes Ambientais.

Referida lei, no seu artigo 14, alínea “m”, considera agravante de crimes ambientais o emprego de meios cruéis para abate ou captura de animais (BRASIL, 1998).

Analisando tal dispositivo sob a prisma da bioética animal, pode-se observar que a proteção dada neste artigo tutela minimamente os interesses animais. Isto porque, o inciso, de certa forma, sugere que a morte e a captura dos animais são práticas naturais que tendem a ocorrer no ciclo de vida dos mesmos.

Os princípios norteadores da Lei de Crimes Ambientais (BRASIL, 1998), no que toca a proteção destinada aos animais, são o da precaução, da prevenção e o da informação. Estes princípios refletem, respectivamente, o estimulo à proteção dos animais, a partir da criação de instrumentos legais no ordenamento para resguardar a integridade das espécies, principalmente as exóticas e em extinção; o dever institucional de fazer valer instrumentos que previnam eficazmente condutas degradatórias e consequentemente danos à fauna, e o desenvolvimento de ideais ambientais na coletividade (SOUZA, 2013), com a finalidade primordial de conservação do meio ambiente, conforme o art. 1º da Lei 9.795/1999, que trata da Educação Ambiental (BRASIL, 1999).

A Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei 9.795/1999, vem desempenhar um importante papel de provocar na sociedade, por meio de políticas públicas promovidas pelo Estado e órgãos encarregados de fomentar a defesa animal, a devida conscientização e alfabetização ambiental da população,

“[...] que é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo

educativo, em caráter formal e não-formal”, conforme o artigo 2º da Lei 9.795/1999 (BRASIL, 1999).

Apesar de não haver ainda um código que trata especificamente da proteção legislativa animal, observa-se a tentativa de instituí-lo por parte dos defensores dos direitos animais, estes representantes eleitos pelos cidadãos brasileiros, que buscam regulamentar os direitos animais a nível nacional. Exemplo disso é o Projeto de Lei do Senado n° 631, de 2015, proposto pelo Senador Marcelo Crivela.

O projeto tem fins genuinamente protetivos, buscando instituir no território brasileiro um estatuto completo de proteção, propondo a vedação de práticas danosas contra a vida dos animais, sem qualquer fim justificável.

Art. 4º Todos os animais em território nacional serão tutelados pelo Estado e possuem direito à existência em um contexto de equilíbrio biológico e ambiental, de acordo com a diversidade das espécies, raças e indivíduos.

§ 1º A integridade física e mental e o bem-estar dos animais são considerados interesse difuso, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de protegê-los e de promover ações que garantam o direito estabelecido no caput, além de coibir práticas contrárias a esta Lei;

(SENADO FEDERAL, 2015).

Observando o art. 4º, §1º, do referido PL, constata-se a adequação ao texto constitucional no que se refere aos animais, uma vez que, conforme o artigo 225 da Constituição, o Poder Público e a coletividade têm o encargo de zelar pelo bem estar dos animais e do meio ambiente (BRASIL, 1988).

Neste ínterim, importante ressaltar a incorporação de um parágrafo na Lei de Crimes Ambientais, promovido por meio da promulgação da Lei nº 14.064, de 29 de setembro de 2020, apelidada carinhosamente por “Lei Sansão”, que inseriu no artigo 32 citado anteriormente, uma agravante. O parágrafo institui que “§ 1º-A Quando se

Neste ínterim, importante ressaltar a incorporação de um parágrafo na Lei de Crimes Ambientais, promovido por meio da promulgação da Lei nº 14.064, de 29 de setembro de 2020, apelidada carinhosamente por “Lei Sansão”, que inseriu no artigo 32 citado anteriormente, uma agravante. O parágrafo institui que “§ 1º-A Quando se

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