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2 OS DIREITOS DOS ANIMAIS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA À LUZ DA FILOSOFIA DO DIREITO E DA BIOÉTICA ANIMAL

2.3 REFLEXÕES ACERCA DA SITUAÇÃO LEGISLATIVA DOS DIREITOS ANIMAIS

Os animais ainda são vistos perante uma visão antropocêntrica, em que o homem se torna o principal ponto de observação, fazendo com que tudo ao seu redor seja explorado perante sua vontade (LEÃO, 2017). Entretanto esta visão vem

perdendo prestígio na atualidade, dado os avanços promovidos pela ciência que demonstraram a interdependência entre todos os organismos vivos do planeta.

Uma descoberta científica importante que acendeu a discussão sobre possíveis modificações nos direitos destinados aos animais foi o reconhecimento da consciência ou senciência nos animais pela Francis C Memorial Conference, realizada no Reino Unido no ano de 2012, que originou a declaração de Consciência da Universidade de Cambridge. Nesta declaração, foi exposto que “Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológico.” (UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, 2012).

Neste contexto, a bioética surge com o fim de propor discussões sobre a pauta da proteção que os animais devam receber pela sociedade e, consequentemente, pelo Direito. Inserido nisto, tem-se o surgimento da bioética de proteção, que pretende discutir preceitos referentes à proteção dos vulneráveis, que conforme Schramm, são aqueles excluídos do campo de discussão de merecimento de direitos (SCHRAMM, 2008).

Além destas importantes descobertas científicas referentes à neurologia animal, cumuladas com a discussão bioética referente à proteção aos animais, destaca-se a importante contribuição da Filosofia, mais especificamente da Filosofia do Direito, que também vai propor uma discussão ético-filosófica sobre o desenvolvimento dos direitos dos animais e a razão pela qual os direitos de caráter protetivos encontram inúmeros entraves para prosperar eficientemente na esfera legislativa.

Os direitos animais, que incluem-se na esfera de proteção constitucional destinada ao meio ambiente, especificamente no art. 225, inciso VII, da Constituição Federal de 1988, que diz respeito à fauna, (BRASIL, 1988), por expressarem a necessidade de proteção e preservação, estabelecendo uma analogia com o próprio instrumento constitucional, poderiam ser entendidos como direitos fundamentais. De acordo com o Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Antonio Herman de Vasconcelos e Benjamin, “[...] direitos fundamentais são aqueles protegidos pela Constituição ou por tratados internacionais, assegurando ao indivíduo ou a grupos de indivíduos uma garantia subjetiva ou pessoal.” (BENJAMIN, 2005, p. 20).

Destarte, poderiam ser inseridos no extenso art. 5º da Lei Maior, em razão da lógica

protecionista/garantista dos bens jurídicos que a Constituição Federal de 1988 busca tutelar.

Conforme o jurista Nicolao Dino de Castro e Costa Neto, "O direito ao meio ambiente caracteriza-se como um corolário do direito à vida." (CASTRO NETO, 2003, p.11). Isto porque o direito ao meio ambiente se traduz na ótica da Constituição Federal de 1988 como um direito de caráter difuso, vez que a sua preservação e exploração dizem respeito a todos que o usem e se beneficiem das suas vantagens.

O Ministro Alexandre de Moraes entende que os direitos atinentes ao meio ambiente estariam na esfera de proteção da chamada terceira geração de direitos.

[...] modernamente, protege-se, constitucionalmente, como direitos de terceira geração os chamados direitos de solidariedade ou fraternidade, que englobam o direito a um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, ao progresso, à paz, à autodeterminação dos povos e a outros direitos difusos, que são, no dizer de José Marcelo Vigliar, os interesses de grupos menos determinados de pessoas, sendo que entre elas não há vínculo jurídico ou fático muito preciso. (MORAES, 2019, p. 29).

De acordo com os ensinamentos acima expostos de Alexandre de Moraes, esta categoria de direitos humanos denominada como de solidariedade e fraternidade, condiz com a mútua colaboração de todos que habitam o planeta e que podem promover a defesa do meio ambiente para que os outros direitos também sejam efetivamente promovidos, pois um meio ambiente desequilibrado afeta muito mais do que somente florestas, fauna e flora, mas a qualidade de vida da sociedade em geral.

Neste segmento, Júlia Pereira e Rafael de Campos Velho entendem que

Tais direitos constituem uma verdadeira condição para que a vida possa continuar nesse planeta. Não se trata mais de direitos de alguns menos favorecidos frente aos detentores do poder, como observado nas primeiras gerações, e, sim, de direitos inerentes a todos, sem os quais a vida não poderá prosseguir no mundo. (PEREIRA; DE CAMPOS VELHO; 2007, n.p).

Já o jurista Paulo Bonavides, pesquisador das gerações de direitos fundamentais no Brasil, entende que a quarta geração de direitos se traduz em uma categoria inovadora de direitos fundamentais. Conforme o autor

São direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade

aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência.

(BONAVIDES, 2011, p. 571).

Estariam inseridos nessa geração ideais como: a democracia, o pluralismo e o direito à informação (BONAVIDES, 2007). De acordo com Marina de Marco “[...]

verifica-se que a Quarta Geração de Direitos é uma nova espécie de direitos, onde estes ainda são núcleos de constantes discussões.” (MARCO, 2006, p. 52). Em um dos desdobramentos desta geração de direitos, encontra-se a engenharia genética.

A engenharia genética visa proteger a mantença das mais variadas espécies, estando contidos neste meio os direitos animais. Conforme Carvalho, engenharia genética “[...] são as recombinações e manipulações dos genes que consistem na reprodução, reformulação, criação e restituição de animais e vegetais.”

(CARVALHO, 2019, n.p). É nesta fase que a globalização se intensifica, buscando a evolução da humanidade em pontos poucos explorados no passado histórico.

Neste sentido, a Constituição Federal de 1988, apesar de mencionar expressamente a salvaguarda à fauna no seu art. 225, §1º, inciso VII (BRASIL, 1988), aborda de maneira ínfima a sua proteção, o que leva a alguns questionamentos, pois a Constituição em comento é considerada por doutrinadores a mais completa até hoje promulgada. Padilha refere que

A atual Constituição é, acima de tudo, uma carta de esperança por dias melhores. Abarca direitos nunca antes tratados em textos constitucionais anteriores, é a carta mais completa da história no tocante aos direitos individuais, coletivos e sociais [...]. (PADILHA, 2020, p. 27).

Porém, sob a ótica dos direitos animais, verifica-se a existência de somente um inciso que busca resguardar a fauna, o que leva a indagações se somente este, no meio de tantos outros, seria suficiente a provocar uma conscientização coletiva a respeito do assunto.

Apesar de todo o entusiasmo positivo depositado nas gerações do futuro, as delegacias, especializadas ou não, recebem por dia inúmeras denúncias de maus tratos, abando e abusos. A justificativa poderia ser traduzida na premissa de que ainda vigora na sociedade um aspecto antropocêntrico em detrimento aos animais, estes servindo, primordialmente, para satisfazer determinadas necessidades do homem, que ocuparia a posição central no meio ambiente, fazendo com que os animais sejam vistos como objetos (CARDOSO, 2013). Esta ideia faz com que um

padrão de comportamento que preza pela ignorância venha a reverberar até os tempos atuais, fazendo com que alguns indivíduos acreditem fervorosamente que animais sequer sejam merecedores de direitos.

Para a modificação deste cenário, mostra-se necessário uma mudança de paradigma, mediante a ampla divulgação de políticas públicas que visem a conscientização da sociedade. Boettger refere que

Enfatizando as novas ou recorrentes demandas, percebe-se que o meio ambiente ou, mais especificamente, as problemáticas ambientais têm sido objeto da agenda pública no momento de formulação, implementação e gerenciamento de políticas públicas. A crise ambiental fez com que a sociedade se mobilizasse, exigindo – dos poderes constituídos – respostas mitigadoras e propulsoras de um novo modelo societário. (BOETTGER, 2009, p. 06).

Em relação as penas aplicadas a quem pratica crimes contra a integridade física do animal, verifica-se que não são proporcionais à gravidade do delito, se comparadas às penas que são conferidas a quem atenta sob a vida humana. As sanções aplicadas são irrisórias, fazendo com que os infratores não deem a devida atenção às penalidades impostas, fazendo com que o direito animal seja visto como de menor importância. Almeida afirma que

Atualmente a utilização do Direito Penal para garantir a proteção efetiva do meio ambiente se torna cada vez mais necessária, pois as penalidades decorrentes dos maus tratos contra animais não são suficientes para dar fim a tal prática, visto que as normas que tratam deste tema apresentam pena extremamente irrisória em contrassensos ao caráter ilícito do fato (ALMEIDA, 2011, p. 38).

Deste modo, deixa-se de se estabelecer o temor social, que geralmente permeia o imaginário coletivo quando se pensa no cometimento de alguma uma infração. Essa característica é definida pelo Direito Penal na obra de Nucci, em que o mesmo assevera que a pena deve conter caráter preventivo, que se desdobra em aspectos positivos e negativos, sendo que esta última característica traduz a ideia de que “[...] a pena concretizada fortalece o poder intimidativo estatal, representando alerta a toda a sociedade, destinatária da norma penal.” (NUCCI, 2020, p. 06).

Prova disto é o art. 32 da Lei de Crimes Ambientais, que busca punir quem abusa, mutila e fere animais, com a pena de detenção, de 3 meses a um ano (BRASIL, 1998). Se este crime fosse praticado em desfavor de pessoas, em um

caso concreto, poderia ser equiparado ao crime de tortura, este tipificado no art. 1º, inciso I, da Lei de Tortura (BRASIL, 1997), que contém pena de reclusão, de dois a oito anos, configurando-se em um crime de alto potencial ofensivo. Os dois crimes acima citados são praticados por motivo torpe e fútil, sem qualquer justificativa plausível e invadem a esfera particular do indivíduo/animal. De acordo com Prado,

O motivo fútil e o motivo torpe são circunstâncias agravantes que determinam maior gravidade da culpabilidade. [...] Motivo fútil é aquele insignificante, flagrantemente desproporcional ou inadequado se cotejado com a ação ou a omissão do agente. Torpe é o motivo abjeto, indigno e desprezível, que repugna ao mais elementar sentimento ético. (PRADO, 2014, p. 430).

A tortura, por interpretação do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, equipara-se à crime hediondo (BRASIL, 1990), o que demanda uma atenção especial do ordenamento em relação às penas aplicáveis. A sua prática é repudiada pela sociedade por uma série de fatores, sejam eles históricos, culturais ou morais.

Ocorre que, a tortura e matança imoderada praticada em animais não alcança o mesmo grau de atormentamento social do que quando é realizada em humanos.

Essa ideia encontra fundamento na relativização que os direitos animais têm perante a sociedade e no fato de animais serem habitualmente consumidos por boa parte da população. Conforme Shaw, estas atrocidades se concretizam com o auxílio da mídia e de um marketing bem articulado, que dissocia a imagem dos animais das carnes vendidas no mercado para evitar o desconforto na hora de consumi-las (SHAW, 2019).

Neste ínterim, destaca-se o papel de formadores de opinião e principalmente de filósofos que tratam sobre o tema. Os filósofos estudados no primeiro capítulo deste trabalho que discutem em suas obras o alcance e pertinência dos direitos animais na contemporaneidade defendem pontos semelhantes no que diz respeito ao tratamento digno que os animais devam receber em razão de suas particularidades.

Para Peter Singer, em sua obra “Libertação Animal”, os direitos animais representam pouca valia para a sociedade, pois os animais são frequentemente vistos como inferiores, fazendo com que seus direitos sejam relativizados, ocasionando o chamado “especismo” (SINGER, 2010).

Singer faz menção aos dolorosos testes realizados em animais, que claramente demonstram como os animais são vistos como inferiores, dado que são submetidos a experimentos que degradam significativamente sua integridade física e psicológica. Sobre esses testes comumente realizados em animais pela indústria farmacêutica e em experimentos científicos, Singer afirma que

Se mil seres humanos fossem obrigados a sujeitar-se ao tipo de testes aplicados aos animais para avaliar a toxicidade de produtos domésticos assistiria-se certamente a um tumulto nacional. A utilização de milhões de animais para este fim deveria originar pelo menos igual reação, especialmente uma vez que este sofrimento é desnecessário e poderia ser facilmente cessado, se assim o desejássemos. (SINGER, 2010, p. 165).

No Brasil, os testes são regulamentados pela Lei nº 11.794/2008, conhecida como “Lei Arouca”, que em seus dispositivos classifica indiretamente os animais utilizados em testes como “[...] coisas manipuláveis e descartáveis, o que fica evidente na terminologia utilizada sempre atrelada ao uso e benefício que se faça e tenha.” (ALVIM, 2010, p. 230). Mais uma vez, os animais são valorados de acordo com o benefício que podem ofertar aos humanos.

Singer também trata de maneira ostensiva em sua obra o princípio da igual consideração, que deveria ser posto em um viés prático, inserindo os animais na comunidade moral, pois é nela que os direitos podem ser efetivamente pensados e posteriormente inseridos no ordenamento (SINGER, 2010). Percebe-se por vezes a apresentação do argumento por parte de pessoas contrárias aos direitos animais, de que animais não seriam sujeitos de direitos em razão de não ostentarem capacidade plena de interação com os humanos, principalmente. Seguindo esta lógica, seria coerente afirmar posições bárbaras, como de que

Os recém-nascidos, os comatosos, aqueles com sérios problemas neurológicos e os que têm suas capacidades racionais debilitadas não são sujeitos de direitos e de deveres morais: assim como os animais, são incapazes de comportamento recíproco. Consequentemente, os seres não humanos e os seres humanos não racionais são excluídos da distribuição da justiça (OLIVEIRA, 2011, n.p).

Apesar da obra “Libertação Animal” ter sido lançada em 1975, quando ainda não existia inúmeros congressos e convenções sobre o bem estar animal, como existe atualmente, o autor faz menção ao termo “senciência”, referindo que ela irá limitar o sofrimento justificável aos animais e que esta seria a “justificação moral”

para que, por si só, não fosse infligido sofrimento desnecessário aos animais (SINGER, 2010).

Singer atribui a desqualificação da causa animal à sociedade industrializada, que normaliza os milhões de abates que acontecem todos os dias. Entretanto, ressalta que “[...] se registaram alguns progressos. Atualmente, a maior parte dos animais encontra-se inconsciente no momento do abate, o que quer dizer, em teoria, que morre de forma indolor.” (SINGER, 2010, p. 118). No Brasil, pode-se destacar neste sentido a Instrução Normativa SDA - 3, de 17/01/2000, que diz respeito ao procedimento denominado “abate humanitário” realizado em animais de açougue, que conforme a própria IN caracteriza, são “[...] mamíferos (bovídeos, equídeos, suínos, ovinos, caprinos e coelhos) e aves domésticas, bem como os animais silvestres criados em cativeiro, sacrificados em estabelecimentos sob inspeção veterinária.” (SÃO PAULO, 2000, n.p). Assim, percebe-se claramente a diferenciação dada entre os próprios animais, sendo que alguns são elegidos como

“domésticos”, demandando proteção especial, e outros são "de açougue”, de modo que sua existência se resume ao abate que terão no futuro.

Em uma de suas conclusões, Singer expõe sua visão sobre a efetiva concretização dos direitos animais, referindo que, para que estes direitos passem a ser tratados como de igual importância a pautas como o racismo, violência contra mulher e demais temas emergentes do Direito, seria necessário “[...] romper radicalmente com mais de dois mil anos de pensamento ocidental relativo aos animais.” (SINGER, 2010, p. 160). O pensamento ocidental milenar a que se refere diz respeito, mais uma vez, as ideias de cunho antropocêntricas, em que o homem estaria situado no topo da “Grande Cadeia dos Seres” e os animais e demais seres vulneráveis abaixo, prestando-se a servir os homens (GRANT, 2011).

Para Francione em sua obra “Introdução aos Direitos Animais”, culturalmente, os animais domésticos são privilegiados em seu tratamento, pois seus donos os consideram como membros da família (FRANCIONE, 2013). Neste sentido, podemos citar a crescente disseminação nos lares brasileiros da família multiespécie, que é conceituada por Araújo, Neto e Séguin como “[...] a formação do laço social onde se respeite a diferença e a condição de não humanos dos animais relativamente ao cuidado e ao carinho que os animais necessitam e sabem retribuir.”

(ARAÚJO; NETO; SÉGUIN, 2017, p. 44).

A família multiespécie é um conceito relativamente recente e que diz respeito aos laços afetivos existentes entre humanos e animais, que vem crescendo cada dia mais (CARDIN; VIEIRA, 2017). Destarte, os animais classificados como domésticos passam a ocupar uma posição diferente dos demais, o que pode ser apontado como um ponto que pode gerar possíveis mudanças no direito a fim de ampliar a proteção a este grupo específico de animais domésticos.

O autor também trata do princípio do tratamento humanitário, tecendo apontamentos sobre o fracasso da aplicação do mesmo em razão da constante categorização do animal como propriedade. Em relação ao princípio, Francione afirma que “[...] se a proibição contra o sofrimento desnecessário tiver algum significado, é moral e legalmente errado infligir sofrimento aos animais para o nosso mero divertimento ou prazer.” (FRANCIONE, 2013, p. 26).

Como exemplo de atividades que visam o mero divertimento e que exploram os animais, podemos citar as apresentações circenses que envolvem animais.

Cumpre ressaltar que apresentações do gênero são tipificadas pelo art. 3º do Decreto nº 24.645, de julho de 1934, que no seu inciso XXX, categorizou “[...] Arrojar aves e outros animais nas caças e espetáculos exibidos para tirar sorte ou realizar acrobacias;” como maus tratos (BRASIL, 1934). O inciso em questão indica algum resquício de evolução no sentido da proteção desses animais que outrora eram submetidos à condições degradantes.

Em relação aos direitos animais propriamente ditos, o autor argumenta que é necessário refletir sobre a proibição do sofrimento animal, do mesmo modo como a proibição do sofrimento humano é pensado, propondo, nesta seara, uma posição abolicionista. De acordo com os preceitos do autor, somente pondo-se em prática anseios abolicionistas é que poderíamos discutir de maneira efetiva a elaboração e aplicabilidade dos direitos animais, já que direitos relativos não tem plena eficácia (FRANCIONE, 2013). Francione também discorre sobre a influência da teoria de propriedade elaborada por Locke e como esta influenciou no sistema de direitos, dado que os animais eram caracterizados como propriedade. Com isso, desenvolveu-se a ideia de que

O proprietário tem direito à posse física exclusiva do animal, ao uso do animal para ganho econômico ou outros ganhos, e o direito de fazer contratos com relação ao animal ou para usar o animal como garantia para um empréstimo. (FRANCIONE, 2013, p. 121).

Esta ideia pensada no século passado por Locke, de animais sendo considerados como propriedade, tem ligação direta com o descaso histórico na promoção efetiva de direitos protetivos destinados aos animais.

Para o filósofo Tom Regan, em sua obra “Jaulas Vazias” os animais que comumente servem como alimento e fonte de lucro são percebidos de modo indiferente pela sociedade, pois são considerados como animais “de consumo”, ocasionando a chamada “máquina biológica”, que diz respeito à criação e abate em massa desses animais (REGAN, 2006).

Como o próprio título de sua obra em comento já refere, Regan é defensor da ideia de esvaziar e posteriormente extinguir as “jaulas”, que aprisionam e tolhem a liberdade dos animais. As jaulas a que se refere diz respeito às privações e agressões impostas aos animais pelos humanos. Regan assevera que “[...] somente quando todas as jaulas e todos os tanques estiverem vazios - somente quando todos os animais que "apresentam números" estiverem livres - é que haverá justiça.

Nós realmente somos extremistas quanto a esse problema.” (REGAN, 2006, p. 172).

O autor defende argumentos de caráter abolicionistas, que são vistos por muitos como radicalismo ou até mesmo uma utopia encontra falhas para ser perfectibilizada em um plano prático.

Neste ínterim, destaca a atuação dos defensores dos animais, que exercem papel fundamental na promoção dos direitos protecionistas animais (REGAN, 2006).

Mediante o papel exercido pelos defensores e ativistas animais é que a causa animal poderá alcançar maior visibilidade nas mídias e nos espaços sociais, o que, consequentemente, culmina em discussões e possíveis mudanças de paradigmas nesses direitos.

Ainda sobre a questão do ativismo, destaca-se um importante movimento abolicionista animal, que é o movimento vegano. O movimento vegano

[...] parte do princípio da emancipação dos animais da exploração pelo homem, ou seja, a ideia central do veganismo prega o fim da utilização de animais, seja para alimentação, como commodities, meio de trabalho, caça, bem como por quaisquer outros modos que envolvam a exploração da vida animal pelo homem. (VEGAN SOCIETY, 2017).

O referido movimento, que teve sua primeira difusão no Brasil realizada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, em meados de 1896, mostra-se atualmente como

uma mobilização abolicionista que vem crescendo e conquistando adeptos devido à sua disseminação de ideias pelas redes sociais e meios de informação transnacionais (AMARANTE; CAVALHEIRO; VERDU, 2018).

A ideia de abolicionismo das práticas costumeiras de explorações de animais

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