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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MACHADO DE ASSIS FACULDADES INTEGRADAS MACHADO DE ASSIS CURSO DE DIREITO CAROLINA DELEY DE MIRANDA

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FACULDADES INTEGRADAS MACHADO DE ASSIS CURSO DE DIREITO

CAROLINA DELEY DE MIRANDA

DIREITO DOS ANIMAIS NO BRASIL: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS SOB A LUZ DA BIOÉTICA E DA FILOSOFIA DO DIREITO

TRABALHO DE CURSO

Santa Rosa

2020

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CAROLINA DELEY DE MIRANDA

DIREITO DOS ANIMAIS NO BRASIL: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS SOB A LUZ DA BIOÉTICA E DA FILOSOFIA DO DIREITO

TRABALHO DE CURSO

Monografia apresentada às Faculdades Integradas Machado de Assis, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Me. Jeremyas Machado Silva

Santa Rosa

2020

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CAROLINA DELEY DE MIRANDA

DIREITO DOS ANIMAIS NO BRASIL: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS SOB A LUZ DA BIOÉTICA E DA FILOSOFIA DO DIREITO

TRABALHO DE CURSO

Monografia apresentada às Faculdades Integradas Machado de Assis, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Banca Examinadora

Prof. Me. Jeremyas Machado Silva – Orientador

Prof.ª Me. Raquel Luciene Sawitzki Callegaro

Prof.ª Dr.ª Sinara Camera

Santa Rosa, 08 de dezembro de 2020.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a toda

comunidade acadêmica que estuda os

direitos animais.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Ademir e Ieda, e a minha avó Rosa, que é minha segunda mãe, pois sempre estiveram ao meu lado, apoiando-me ao longo de toda a minha trajetória acadêmica e pessoal.

Agradeço também ao meu orientador Jeremyas, por aceitar conduzir o meu trabalho de pesquisa e por ser sempre prudente em seu trabalho, prestando a mim todo o apoio necessário.

A todos os professores da FEMA

com quem pude conviver e ser aluna, que

com seus ensinamentos contribuíram

para a minha formação pessoal e

academica, transformando-me em uma

pessoa melhor, dia após dia.

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A mais bela função da humanidade é a de administrar a justiça.

Voltaire

(7)

RESUMO

O tema do presente trabalho versa sobre os direitos dos animais no Brasil, com a pesquisa voltada às perspectivas da Bioética de proteção animal e da Filosofia do Direito, no que se refere aos direitos animais. O objetivo geral do trabalho consiste em compreender se os direitos dos animais no Brasil de caráter protetivo estão evoluindo de modo correspondente às descobertas científicas e às reflexões propostas pela Bioética de proteção animal e pela Filosofia do Direito. A delimitação temática focalizou a análise do desenvolvimento histórico dos direitos dos animais no Brasil até o período contemporâneo, investigando em conjunto teorias filosóficas e concepções da Bioética referentes a estes direitos. A pergunta que norteou a pesquisa consistiu em compreender se a evolução dos direitos dos animais de caráter protetivo está acompanhando as descobertas científicas, as reflexões propostas pela Bioética de proteção animal e o pensamento de filósofos contemporâneos que discutem o tema. O trabalho tem como objetivos específicos estudar da obra de 03 filósofos que tratam sobre a temática dos direitos dos animais à nível global, complementando estas reflexões com análises de pensadores brasileiros; traçar uma pequena linha do tempo para demonstrar o tratamento que os animais recebiam desde o período pré-histórico até a contemporaneidade; analisar o desenvolvimento histórico dos direitos dos animais no Brasil, especialmente os de caráter protetivos, desde o século XIX até o tempo presente e propor reflexões sobre o ordenamento, fazendo um cotejo com as reflexões filosóficas propostas pela Filosofia do Direito e a Bioética de proteção animal. Para alcançar os objetivos propostos, a pesquisa foi caracterizada como teórica, com tratamento qualitativo dos dados. No plano de análise de interpretação dos dados, foi utilizado o método dedutivo. O trabalho dividiu-se em dois capítulos, sendo que o primeiro capítulo subdividiu-se em 03 seções, em que fora analisada em cada uma delas, respectivamente, a obra “Libertação Animal”, de Peter Singer; “Introdução aos Direitos Animais”, de Gary Francione, e “Jaulas Vazias”, de Tom Regan. O segundo e último capítulo foi subdividido em 03 seções, sendo que na primeira seção, construiu-se uma breve linha do tempo acerca do tratamento que os animais já receberam na história da humanidade; na segunda seção, foi realizada uma análise dos direitos destinados aos animais existentes no ordenamento jurídico brasileiro, e por fim, na última subseção, realizou-se um uma reflexão englobando o ordenamento jurídico brasileiro, as ideias dos filósofos citados no primeiro capítulo e as reflexões trazidas pela Bioética de proteção animal. Na conclusão, constatou-se que os direitos dos animais de caráter protecionista no Brasil estão evoluindo gradualmente, e que, apesar das descobertas científicas que provaram a senciência animal, das contribuições reflexivas da Filosofia do Direito e da Bioética de Proteção, a promoção efetiva desses direitos ainda se desenvolve de maneira deficitária, tendo em vista a combinação de fatores sociais, econômicos e financeiros que são negativos ao ao avanço da causa animal em âmbito legislativo.

Palavras-chave: Direitos dos Animais; Bioética de Proteção animal; Filosofia do

Direito; Senciência.

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ABSTRACT

The theme of this paper is about animal rights in Brazil, with research focused on the perspectives of Bioethics of animal protection and Philosophy of Law, with regard to animal rights. The general objective of the paper is to understand if the animal rights in Brazil of a protective feature are evolving in a way corresponding to the scientific discoveries and the reflections proposed by the Bioethics of animal protection and the Philosophy of Law. The thematic delimitation focused on the analysis of the historical development of animal rights in Brazil until the contemporary period, jointly investigating philosophical theories and concepts of Bioethics regarding these rights.

The question that guided the research was to understand if the evolution of animal rights of a protective feature is following scientific discoveries, the reflections proposed by Bioethics of animal protection and the tought of contemporary philosophers who discuss the theme. The paper has as specific objectives to study the literary work of 03 philosophers who deal with the theme of animal rights at a global level, complementing these reflections with analyzes by Brazilian thinkers;

draw a small timeline to demonstrate the treatment that animals received from prehistory times to contemporary times; to analyze the historical development of animal rights in Brazil, especially those of a protective feature, from the 19th century to the present time and to propose reflections on the organization, making a comparison with the philosophical reflections proposed by the Philosophy of Law and Bioethics of animal protection. To achieve the proposed objectives, the research was characterized as theoretical, with qualitative treatment of the data. In the data interpretation analysis plan, the deductive method was used. The paper was divided into two chapters, and the first chapter was subdivided into 03 sections, in which the was analyzed in each of them, respectively, the work “Animal Liberation”, by Peter Singer; “Introduction to Animal Rights”, by Gary Francione, and “Empty Cages”, by Tom Regan. The second and last chapter was subdivided into 03 sections, and in the first section, a brief timeline was built on the treatment that animals have received in the history of mankind; in the second section, an analysis of the rights for animals existing in the Brazilian legal system was carried out, and finally, in the last subsection, a reflection was carried out encompassing the Brazilian legal system, the ideas of the philosophers mentioned in the first chapter and the reflections brought by Bioethics of animal protection. In conclusion, it was found that the rights of protectionist animals in Brazil are gradually evolving, and that, despite the scientific discoveries that proved animal sentience, the reflective contributions of the Philosophy of Law and Bioethics of Protection, the effective promotion of these rights still develop in a deficient way, considering the combination of social, economic and financial factors that are negative to the advancement of the animal cause in the legislative scope.

Keywords: Animal Rights; Bioethics of Animal Protection; Philosophy of Law;

Sentience.

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LISTA DE ABREVIAÇÕES, SÍGLAS E SÍMBOLOS.

Art. – Artigo

CONCEA - Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal FAEPA – Federação de Agricultura e Pecuária do Estado da Paraíba FEMA – Fundação Educacional Machado de Assis

LINDB – Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro nº – número

p. – Página

SBA – Sistema Brasileiro do Agronegócio

SMAMS – Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade SEDA – Secretaria Especial dos Direitos Animais

§ – Parágrafo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1 FILOSOFIA DO DIREITO E A BIOÉTICA DE PROTEÇÃO ANIMAL ... 13 1.1 LIBERTAÇÃO ANIMAL: UMA ANÁLISE DO FILÓSOFO PETER SINGER ... 15 1.2 INTRODUÇÃO AOS DIREITOS ANIMAIS: UMA ANÁLISE DO FILÓSOFO GARY FRANCIONE ... 23 1.3 JAULAS VAZIAS: UMA ANÁLISE DO FILÓSOFO TOM REGAN ... 30 2 OS DIREITOS DOS ANIMAIS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA À LUZ DA FILOSOFIA DO DIREITO E DA BIOÉTICA ANIMAL ... 36 2.1 BREVE HISTÓRICO DO TRATAMENTO DOS ANIMAIS ... 37 2.2 EVOLUÇÃO DOS DIREITOS ANIMAIS NO BRASIL ... 41 2.3 REFLEXÕES ACERCA DA SITUAÇÃO LEGISLATIVA DOS DIREITOS ANIMAIS ... 59 CONCLUSÃO ... 73

REFERÊNCIAS ... 77

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INTRODUÇÃO

Os direitos dos animais, numa perspectiva global, mas principalmente nacional, ainda encontram-se em fase de desenvolvimento primário. Isto porque, até o início do século XIX, sequer se discutiam estes direitos, pois os animais eram percebidos como coisas ou objetos, ficando à mercê do tratamento arbitrário humano, que por vezes, historicamente falando, fora cruel e violento.

O Brasil, país que conta com uma das maiores biodiversidades do planeta, está cada vez mais promovendo promovendo avanços na proteção dos animais.

Prova disso foi a instituição da devida proteção ao meio ambiente e da fauna por parte da coletividade e do Poder Público, tornando isto um dever constitucional, dada a importância da correta preservação do meio ambiente e da conservação das mais variadas espécies animais.

A evolução dos direitos animais se dá na modernidade de modo gradativo, tornando-se a pauta um alvo constante de discussões promovidas pela coletividade, ativistas ambientais e também pelos pensadores e filósofos contemporâneos que discutem o alcance jurídico dos direitos dos animais. Conjuntamente a estas discussões de caráter filosófico, a comunidade científica que estuda os animais contribuiu positivamente com suas descobertas científicas para oferecer uma base precisa de informações sobre o sistema neurológico dos animais, concluindo que os mesmos são seres sencientes, ou seja, sentem fome, frio, dor como os humanos e que, por isso, seus direitos básicos de não serem tratados como coisas deveriam ser repensados.

A justificativa de escolha do tema a ser estudado neste trabalho se relaciona

diretamente com a relevância que lhe tem sido atribuída pela sociedade

contemporânea, que passa a tratar desta pauta frequentemente, dada a importância

que um meio ambiente devidamente conservado tem, representando um direito

fundamental do homem. Movimentos que pregam de alguma maneira a abstenção

do uso dos animais como o veganismo e o vegetarianismo têm conquistado cada

vez mais adeptos, o que acaba por fomentar a luta pela instituição de direitos

animais protetivos. Reconhecido o fator que comprova que o animal tem a mesma

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capacidade de sofrer como os humanos, negar seus direitos significa negligenciar a causa e nosso compromisso de zelar por um meio ambiente sadio, que interliga tudo e todos. Na atualidade, já se fala em oferecer aos animais uma codificação robusta, que realmente assegure direitos protetivos, o que representa um avanço significativo para o Direito e demonstra a relevância da pauta.

Deste modo, este trabalho tem por objetivo geral analisar o desenvolvimento dos direitos de caráter protetivo destinados aos animais no Brasil, baseando-se no estudo da evolução histórica das leis que de algum modo buscaram salvaguardar a vida animal, analisando também doutrinas e bibliografias que tratam a respeito do tema dos direitos dos animais no Brasil numa perspectiva jurídica e filosófica.

Os objetivos específicos dividiram-se em 04, em que se propôs analisar as teorias de 03 filósofos que estudam os direitos animais em uma perspectiva mundial, quais sejam: Peter Singer, Gary Francione e Tom Regan; traçar uma pequena linha do tempo para demonstrar o tratamento que os animais recebiam do período pré- histórico até a contemporaneidade; analisar o desenvolvimento histórico dos direitos destinados aos animais no Brasil, especialmente os de caráter protetivos, desde o século XIX até o tempo presente e propor um cotejo entre os direitos, as contribuições da Filosofia do Direito e da Bioética de proteção animal, no que pertine à temática dos direitos animais.

A partir destas considerações, visa-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: a evolução dos direitos dos animais de caráter protetivo está acompanhando as descobertas científicas e as reflexões propostas pela Bioética de proteção animal e o pensamento de filósofos contemporâneos que discutem o tema?

Em relação à metodologia, este trabalho desenvolve-se mediante uma pesquisa de natureza teórica, em que será realizada a reconstrução de teorias e dados já existentes. Se caracteriza também como uma pesquisa qualitativa pois será realizada a análise a partir de impressões já publicadas. Tal pesquisa também se identifica como exploratória pois aproxima o pesquisador do tema a ser tratado. A coleta de dados se deu por meio do exame de documentação indireta tal como leis infraconstitucionais, Constituição Federal, doutrinas, jurisprudência e bibliografias que tratam sobre o tema.

No primeiro capítulo, propõe-se uma analise dos reflexos da Filosofia do

Direito e da Bioética de proteção animal. O capítulo se desenvolverá em três seções,

sendo que a primeira trata sobre a obra “Libertação Animal”, de Peter Singer; na

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segunda seção, é investigada a obra “Introdução aos Direitos Animais”, de Gary Francione e por fim, na terceira seção, analisa-se a obra “Jaulas Vazias”, de Tom Regan, complementando as três sessões com contribuições de pensadores brasileiros sobre o assunto.

No segundo capítulo e último capítulo, que conta com 03 seções, realizar-se- á, na primeira seção, uma breve análise sobre o histórico de como os animais eram tratados na pré-história, na antiguidade, no período medieval, na modernidade e por fim, na contemporaneidade, realizando uma comparação de como o tratamento apresenta-se nos dias de hoje. Na segunda sessão, será tratada e evolução dos direitos dos animais no contexto nacional, analisando as legislações revogadas, as em vigor e as que se pretende instituir, tecendo apontamentos referentes à legislação protetiva destinada aos animais no território nacional, no estado do Rio Grande do Sul e no Município de Santa Rosa. E na terceira e última seção, far-se-á uma reflexão sobre o ordenamento jurídico brasileiro, à luz da Bioética da proteção e da Filosofia do Direito.

.

(14)

1 FILOSOFIA DO DIREITO E A BIOÉTICA DE PROTEÇÃO ANIMAL

As normas jurídicas estão em constante mudança e evoluem de acordo com os anseios e as transformações políticas, econonômicas e culturais que ocorrem nas sociedades contemporâneas, sobretudo, as mudanças ocasionadas pelas descobertas científicas e o emprego de tecnologias que demudam o que antes era pensando e perpetrado. No que toca aos Direitos dos Animais, a sua evolução está ocorrendo de forma gradual, contando profundamente com as contribuições da neurociência, que recentemente reconheceu cientificamente a senciência dos animais, que, conforme Eleanor Boyle

[...] envolve a capacidade para a emoção e dor, independentemente da experiência ser cognitivamente sofisticada. A senciência requer, portanto, as estruturas, redes e sistemas neurais necessários para registrar estímulos e reagir a eles como agráveis ou não. (apud LEÃO, 2017, p. 02).

Marco importante desta evolução se deu na publicação da Declaração de Consciência elaborada pela Universidade de Cambridge, no ano de 2012. Na referida Declaração, concluiu-se que

[...] o peso das evidências indica que humanos não são os únicos a possuir as estruturas neurológicas que geram consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e pássaros e muitas outras criaturas, incluindo polvos, possuem tais estruturas. (UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, 2012, n.p).

Com isso, as mudanças começaram a ser pensadas e promovidas em legislações de diversos países, contando com a influência de debates levantados por filósofos que estudam e refletem sobre os direitos animais. Assim, é possível afirmar que presentemente as descobertas científicas conjeturadas pela Filosofia do Direito realizam um cotejo entre o Direito contemporâneo e a moral. Neste viés, os direitos dos animais são percebidos e elencados pela Filosofia e pelo Direito, contudo, amarrados pela decorrência da ética que apetece revisar a moral e criticar as tradições vigentes nas sociedades de modo a transformá-las de modo progressista.

No campo da Filosofia, podemos perceber que alguns pensadores que

estudam os direitos animais têm contribuído qualitativamente para formar a opinião

de juristas e da sociedade em relação à temática dos direitos dos animais. Gary

(15)

Francione, em sua obra “Introdução aos Direitos Animais”, defende a ideia da abolição das práticas costumeiras de exploração dos animais para que os direitos sejam efetivamente concretizados, afirmando que esta abolição seria possível de ser concretizada se o chamado princípio da igual consideração fosse aplicado nas relações de tratamento entre humanos e animais (FRANCIONE, 2013).

Tom Regan, autor da obra “Jaulas Vazias”, afirma que a pauta dos direitos animais deve ser tratada como tema de igual importância a outros temas relevantes, como por exemplo, o analfabetismo, pois na maioria das vezes, os direitos animais são colocados em segundo plano, gerando a chamada “negligência perpétua” da causa animal (REGAN, 2006).

E Peter Singer, na obra “Libertação Animal”, afirma que o chamado

“especismo” está fortemente presente nas relações entre humanos e animais, pois a moral é constantemente relativizada quando se trata de direitos animais. O autor refere que, para evitar a ocorrência de atitudes especistas, é necessário considerar a igual valoração de todas as vidas, sejam elas humanas ou animais, evitando a hipocrisia no momento da aplicação dos direitos (SINGER, 2010).

Neste intérim, a Filosofia do Direito vem desempenhar um importante papel na busca do desenvolvimento dos direitos, neste caso, especificamente direitos destinados aos animais não humanos, propondo uma discussão sobre a relação entre o Direito, a justiça, a igualdade e a liberdade, buscando a reformulação pontual das normas, tendo em vista a constante transformação da sociedade. De acordo com Ricardo Castilho, a Filosofia do Direito

[...] como pensamento jurídico mais abstrato e geral, deve buscar as causas e motivações das ações e do pensamento humano, refletindo a respeito das modificações desejáveis da realidade, de tal forma que se realizem, em cada um dos campos do Direito, as adaptações necessárias para tanto.

(CASTILHO, 2017, p. 24).

Para amarrar as concepções apresentadas na introdução deste capítulo a

propósito do desenvolvimento científico-tecnológico e a Filosofia do Direito, leva-se

em consideração, a bioética de proteção aos animais. O conceito de bioética é

amplo, contudo, neste trabalho, pretedende-se utilizá-lo como um elemento

balizador entre o Direito e a Filosofia. Segundo Vilardo, a bioética significa o

nascimento de uma “[...] forte preocupação ecológica e com a sobrevivência dos

animais não humanos, em razão do avanço das ciências e da tecnologia.”

(16)

(VILARDO, 2017, p. 98).

Desta forma, o seguinte capítulo tratará sobre as reflexões da Filosofia no Direito contemporâneo, no que se relaciona aos direitos dos animais, especialmente nos direitos de caráter protetivo. O presente capítulo é subdividido em 03 seções, sendo que na seção 1.1 tratar-se-à sobre a obra “Libertação Animal”, do filósofo Peter Singer; na seção 1.2 tratar-se-à sobre a obra “Introdução aos Direitos Animais”, de Gary Francione, e na seção 1.3, será analisada a obra “Jaulas Vazias”, do filósofo Tom Regan, trazendo, em conjunto, reflexões de pensadores brasileiros que discorrem sobre a temática.

1.1 LIBERTAÇÃO ANIMAL: UMA ANÁLISE DO FILÓSOFO PETER SINGER

Os produtos de origem animal, sejam os destinados para alimentação, vestuário ou para outros fins, quando adquiridos e consumidos, causam um impacto expressivo na vida dos animais. O fato de animais serem mortos diariamente, sob a justificativa de os mesmos não ostentarem igual condição de seres humanos, gerou uma densa discussão provida por Peter Singer

1

na obra “Libertação Animal”. A premissa básica apresentada pelo autor é a racionalização do homem frente as questões da causa animal, tendo em vista o sofrimento seletivo que reverbera nas relações entre humanos e animais não humanos (SINGER, 2010). Além disso, Singer refere que,

Entre os fatores que dificultam o despontar da preocupação pública relativamente aos animais, talvez o mais difícil de ultrapassar seja o pressuposto de que "os seres humanos vêm em primeiro lugar" e que qualquer problema relativo a animais não pode ser comparado, enquanto questão moral ou política grave, com os problemas dos seres humanos.

(SINGER, 2010, p. 164).

O autor explica que a origem de todo este tratamento seletivo com os animais se dá logo na infância humana, quando as crianças são forçadas a ingerir carne sem que a elas seja explicado o que é e de onde procede este alimento (SINGER, 2010).

Entretanto, ao mesmo tempo em que se banaliza o consumo da carne, os maus tratos aos animais domésticos são considerados atitudes repugnantes. Isto se caracteriza, pois “A afeição da criança pelos animais é dirigida para os animais que

1

Peter Singer é filósofo, nascido na cidade de Melbourne, Austrália, em 06 de julho de 1946.

(17)

não são comidos: cães, gatos e outros animais de companhia. Estes são os animais que a criança urbana ou suburbana terá mais hipóteses de ver.” (SINGER, 2010, p.

161).

Os animais domésticos passaram a ostentar uma condição privilegiada em desfavor dos demais, assumindo por vezes o posto de membro da família, vindo a originar a chamada “família multiespécie”, que, conforme Araújo, é a composta por humanos e animais (ARAÚJO; NETO; SÉGUIN, 2017), o que acabou gerando uma ressignificação nos direitos. Em relação aos animais domésticos, a posição adotada por Luciane de Araújo alude que:

Se passarem a pertencer ao registro simbólico, deixam os pets de se situarem no nível natural para integrarem, de modo importante, a esfera cultural, lugar de incidência da existência sociocultural e suas implicações na ordem do Direito, dos valores e sentidos. Assim, é legítimo que sejam pensados como sujeitos de direitos, de afetos e dos efeitos das significantizações da linguagem. (ARAÚJO; NETO; SÉGUIN, 2017, p. 40).

Apesar do grande apreço da população por gatos e cachorros, e por uma maior proteção oferecida a eles, os mesmos diariamente são vítimas de maus tratos em seus próprios lares, por seus próprios tutores. Sérgio Lima explica que

[...] muito dessa tortura é uma inexplicável diversão macabra que se utiliza de animais de rua e por vezes até mesmo dos próprios animais domésticos.

E isso vem de anos de uma mentalidade que entende os animais como coisas, brinquedos ou experimentos. É um caminho fácil para se impor alguma espécie de superioridade e dominação sobre uma criatura que jamais teria paridade de armas pelas razões mais evidentes. (LIMA, 2017, p. 117).

Singer faz menção a duas linhas de raciocínio que frequentemente são abordadas quando falamos da relação dos animais com a dor. De acordo com o filósofo, não se poderia estabelecer parâmetros relativos ao estudo de consciência dos animais, dado que estes não se expressam por uma linguagem propriamente dita (SINGER, 2010). Nesta seara, importante conceituar o termo “senciência”, que conforme Andrade e Zambam, é

[...] critério adotado pela ética animal –, identifica os sujeitos de direito –

sem a falibilidade do critério da norma válida (Kelsen) e da autonomia moral

(Kant) –, abarcando nessa categoria jurídica todos os seres humanos e

todos os animais sencientes, o que implica no reconhecimento, para todos

eles, do direito à vida, à liberdade e à integridade física e psíquica – ainda

que não conferidos ou (até mesmo) negados pela lei. (ANDRADE;

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ZAMBAM, 2016, p. 164).

Assim, as ideias defendidas por Singer deduzem que a senciência, que é fator presente e reconhecido cientificamente nos animais, pouco importa para determinarmos a que nível os animais sentem dor, dado que os mesmos não se expressam em palavras e sentenças.

Já o segundo argumento que relaciona a dor com a linguagem, refere “[...]

que a melhor prova que podemos ter de que as outras criaturas sentem dor é elas dizerem-nos que assim é.” (SINGER, 2010, p. 28). Esta linha argumentativa atem-se a buscar a obtenção de uma prova concreta do sofrimento animal. Entretanto, sabemos que os sentimentos, tanto humanos quanto animais, podem ser manifestados muito além do que somente pelas palavras, mas por mudanças de comportamento, gestos, barulhos, etc. Isto tudo pode ser comprovado perante uma análise puramente empírica.

Desta forma, Singer conclui que “[...] não existem razões válidas, científicas ou filosóficas, para negar que os animais sentem dor. Se não duvidamos de que os outros humanos sentem dor, não devemos duvidar de que os outros animais também a sentem.” (SINGER, 2010, p. 29). Se a dúvida que o autor refere ainda assim persistir, estaríamos claramente adotando comportamentos especistas, que são contrários ao movimento da Libertação Animal, tendo em vista que estes comportamentos inferiorizam o gênero animal em detrimento dos humanos.

A sustentação dos argumentos apresentados por Singer, encontram-se no princípio básico da igualdade, em que o autor assevera que

A extensão do princípio básico da igualdade de um grupo a outro não implica que devamos tratar ambos os grupos exatamente da mesma forma, ou conceder os mesmos direitos aos dois grupos, uma vez que isso depende da natureza dos membros dos grupos. O princípio básico da igualdade não requer um tratamento igual ou idêntico; requer consideração igual. A consideração igual para com os diferentes seres pode conduzir a tratamento diferente e a direitos diferentes. (SINGER, 2010, p. 20).

A argumentação apresentada por Singer é de que o tratamento deve ser respeitoso com todas espécies e que os direitos deverão ser pensados e posteriormente elaborados com base nesse princípio, conjuntamente com a observação da particularidade de características existentes nos animais.

Corroborando com esse pensamento, Araújo tece alguns comentários e argumenta

(19)

que “por mais que os homens tentem se impor à natureza e seus animais, mesmo sabendo ser parte de tudo isso, não conseguem negar em termos vivenciais e suas significantizações necessárias, invitáveis e essencialmente constituinte do humano.”

(ARAÚJO; NETO; SÉGUIN, 2017, p. 41).

Outro fator que Singer também considera influenciar na formação intelectual das pessoas no que diz respeito ao tratamento dos animais, é a influência das mídias e do papel que os veículos de comunicação desempenham em nossas vidas.

De acordo com o autor, a televisão se atêm a transmitir programas e documentários que detalham a vida selvagem, ou seja, de animais que não sejam de “consumo”, deixando de mostrar a verdadeira situação caótica de animais como porcos e vacas quando se encontram em granjas e cativeiros (SINGER, 2010).

Singer sustenta que

Mesmo as pessoas que têm consciência de que a quinta familiar tradicional foi dominada pelos grandes interesses económicos e que se realizam experiências duvidosas nos laboratórios, agarram-se a uma crença vaga, recusando-se a aceitar que as condições sejam assim tão más, pois, se o fossem, o governo ou as sociedades para o bem-estar dos animais já teriam feito algo em relação a isso. (SINGER, 2010, p. 163).

Desta forma, assevera que comportamentos especistas se dão primordialmente em razão da ignorância que permeia o pensamento da sociedade em relação aos animais.

O autor utiliza-se várias vezes no livro do termo “especismo” para designar as ações consumadas pelo homem que são revestidas de preconceito em detrimento às espécies “hierarquicamente” inferiores a ele (neste caso, os animais). De acordo com Singer, especismo “[...] é um preconceito ou atitude de favorecimento dos interesses dos membros de uma espécie em detrimento dos interesses dos membros de outras espécies.” (SINGER, 2010, p. 23). A comparação que o filósofo faz com o que vivenciamos na humanidade são os episódios que envolvem racismo e sexismo, os quais inferiorizam determinados grupos de pessoas.

Ainda em relação ao especismo, sabe-se que, no Brasil, algumas espécies animais sofrem excessivos maus tratos e outras recebem uma maior proteção, como gatos e cachorros. Isto poderia ser traduzido em um especismo entre espécies.

Manifestações culturais cruéis praticadas em desfavor de alguns animais muitas

vezes são normalizadas, como a vaquejada, o rodeio e a rinha de galo, de modo que

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a população venha a carregar esse traço cultural por gerações. Alessandra Aprá afirma que “É importante destruir a aura de normalidade de atos de crueldade para com os animais, evitando que eles virem “hábitos” e, como tal, se justifiquem disfarçados de manifestações culturais.” (APRÁ, 2017, p. 151).

Outra premissa que desclassifica e acaba por inferiorizar a importância da causa animal, conforme Singer, são os argumentos contrários ao movimento da Libertação Animal, estes idealizados por filósofos da contemporaneidade (SINGER, 2010). Como indica o autor, os filósofos, “Afirmaram que, para ter direitos, um ser tem de ser autônomo, ou membro de uma comunidade, ou ter a capacidade de respeitar os direitos dos outros, ou possuir algum sentido de justiça.” (SINGER, 2010, p. 24). Com base nessa premissa percebe-se que os animais, por estes autores, nunca serão reconhecidos legitimamente como sujeitos de direito, o que representa um retrocesso para a causa animal.

Cumpre destacar que o movimento da Libertação Animal referido por Singer em sua obra, de acordo com Ferrigno,

[...] representa hoje o nome de um movimento global vegetariano. A obra homônima fora uma denúncia contra os abusos de animais utilizados, por exemplo, como alimento ou como cobaias de experimentos científicos.

Baseada em reflexões éticas e em princípios filosóficos do utilitarismo, tornou-se referência dentro de uma causa política que aos poucos se formava.” (FERRIGNO, 2012, p. 59-60).

Deste modo, podemos observar que o movimento se originou da obra em comento e que exerce importante papel na formação do pensamento crítico da sociedade, sendo a obra citada em pensamentos filosóficos contemporâneos, sentenças judiciais, etc.

O desenvolvimento das civilizações, entretanto, deve muito aos animais. O abatimento do animal, por exemplo, vem sendo repensado por especialistas da área, a fim de que o ato seja realizado de forma menos indolor possível. Entretanto, a prática banal de reprodução e criação animal em massa para fins de comercialização, demonstra o pouco apreço dos homens aos animais. Para Singer,

“Sejam quais forem as possibilidades puramente teóricas de morte indolor, a morte de animais para consumo levada a cabo em grande escala não é e nunca foi indolor.” (SINGER, 2010, p. 158).

O autor destaca que a luta pela causa animal não deve considerar

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isoladamente o ato do abatimento em si, seus métodos e percepções, mas deve considerar, conjuntamente com esses fatores, a vida desperdiçada deste animal. O filósofo traz reflexões referente à realidade de que boa parte da população ainda considera o animal como mero objeto para alcançar determinados fins, e de que o abate faz parte do ciclo de vida natural daquele ser. Singer faz algumas explanações neste sentido, referindo que

Algumas pessoas perguntam-se se os animais serão abatidos de forma indolor, e qualquer pessoa que tenha já seguido uma camioneta de gado numa estrada saberá provavelmente que os animais são transportados em condições extremamente más; mas não muitas suspeitam de que o transporte e o abate são algo mais do que a conclusão breve e inevitável de uma vida de tranquilidade e satisfação, uma vida que contém os prazeres naturais da existência animal sem as adversidades que os animais selvagens têm de enfrentar na sua luta pela sobrevivência. (SINGER, 2010, p. 83).

Naturalmente, com a evolução da tecnologia, a produção de derivados animais aumentou e tornou estes produtos, devido ao crescimento da demanda, mais acessíveis à população, fomentando ainda mais o consumo. Em contrapartida, a larga escala de criação desses animais, acentuou ainda mais o problema do descaso com a causa animal. O autor da obra assevera em sua tese que “O uso e abuso dos animais criados para servir de comida excede em grande medida - tendo em conta a quantidade espantosa de animais envolvidos - qualquer outra forma de maus tratos.” (SINGER, 2010, p. 82).

Com o consumo exacerbado de derivados animais, especialmente das carnes, a indústria acaba por criar “eufemismos verbais” que tem por objetivo mascarar a realidade da matança cruel que acontece nas granjas e grandes centros de abate. Tais eufemismos vem na forma de selos, estampando a embalagem do produto (SINGER, 2010). Deste modo, o selo embeleza e se torna um atrativo para o consumidor. Termos como “carne sustentável”, “alimento orgânico” ou “abate humanitário” são provas dessa tendência que a indústria vem tentando incorporar aos produtos. Conforme o site O Globo,

A pecuária ética também envolve o bem-estar animal. Além de não serem confinados, os bois são abatidos sem excesso de crueldade, com uma pistola de ar comprimido que faz o animal consciência antes de a dor chegar ao cérebro. A técnica não só traz menos sofrimento como melhora a qualidade do produto, já que o estresse pode deixar a carne mole e aguada.

No caso do selo de orgânico, o consumidor ganha a garantia de que

(22)

agrotóxicos não vão se infiltrar no seu churrasco. (LEITÃO, 2018).

Analisando o trecho da reportagem, pode-se concluir que o uso desses selos estão intimamente ligados com a qualidade da carne, e não com o bem estar animal.

O abate “limpo” ou “consciente” diz respeito a uma suposta preocupação com uma morte indolor, o que por vezes encarece o preço da mercadoria.

Nesse sentido, Alessandra Aprá faz apontamentos sobre essa tendência de compra sustentável, asseverando que

[...] um público consumidor com maior poder aquisitivo e preocupação em relação aos animais, além de se preocupar com sua própria saúde, busca se alimentar de animais que não receberam hormônios e antibióticos e que foram, comprovadamente – por renomadas certificadoras, inclusive – tratados com homeopatia e com todo o cuidado para evitar o sofrimento animal. Assim, ainda que por questões gastronômicas e para atender a paladares mais exigentes, a tendência é que as técnicas de abete mudem para uma morte sem sofrimento do animal, se é que isto seja possível, e de forma respeitosa. (APRÁ, 2017, p. 158-159).

Singer também faz críticas incisivas à indústria, que por sua vez explora de forma indiscriminada os animais, sob a premissa de os mesmos serem indispensáveis à sobrevivência humana (SINGER, 2010). Refere também que a indústria contribui para que os direitos desses animais não sejam positivados, levando em conta as pressões exercidas por empresários detentores de poder econômico frente aos órgãos legislativos.

Comparativamente, a redução do sofrimento dos animais às mãos dos humanos seria relativamente fácil de conseguir, se os humanos estivessem determinados a isso. De qualquer modo, a ideia de que "os humanos vêm em primeiro lugar" constitui geralmente um retexto para não se fazer nada quer em relação aos animais não humanos quer em relação aos próprios animais humanos, não se impondo como verdadeira escolha entre alternativas incompatíveis. (SINGER, 2010, p. 165).

Embora saibamos da existência de várias organizações que visam defender o bem estar animal, de acordo com Singer, o fracasso dessas instituições se deu quando o radicalismo defensivo das mesmas foi silenciado, de modo que se

Estabeleceram contatos próximos com membros do governo, assim como

com empresários e cientistas. Tentaram utilizar estes contatos na melhoria

das condições de vida dos animais e conseguiram a introdução de algumas

pequenas modificações; mas, ao mesmo tempo, os contatos com aqueles

cujos interesses fundamentais residiam na utilização de animais como

comida ou para fins de investigação suavizou a crítica radical à exploração

(23)

dos animais que tinha inspirado os fundadores. (SINGER, 2010, p. 163).

Percebe-se aí que existe um conflito de interesses entre o poder público e grandes investidores, com os ferrenhos defensores animais que buscam mudanças drásticas no sistema jurídico de seu país.

Em nível de Brasil, Sérgio Lima preleciona que “o cidadão brasileiro passou a perceber de forma palpável que alguns direitos se enquadravam em uma terceira dimensão, pois não diziam respeito estritamente às liberdades individuais e sociais.”

(LIMA, 2017, p. 123). A partir disso, criou-se uma lógica ambientalista de perceber os direitos, implicando em algumas alterações na percepção protetiva dos direitos animais, promovendo mudanças positivas. Como exemplo, pode-se citar a novíssima alteração promovida pela “Lei Sansão” (Lei nº 14.064/2020) que ofereceu uma proteção especial a cães e gatos, inserindo essa alteração no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (BRASIL, 1998).

No contexto de organizações e entidades que tem por objetivo a luta pelos direitos animais, podemos destacar no contexto brasileiro uma organização independente chamada Instituto Nina Rosa. O instituto iniciou suas atividades no ano 2000 e buscou, durante os seus anos de atividade, promover à sociedade brasileira, ideais protecionistas, veganistas, buscando demonstrar, através de documentários como “A carne é fraca”, a realidade existente por trás de um pedaço de carne, os desdobramentos do abate animal e o tratamento recebido pelos mesmos nas granjas e fazendas de criação. Conforme Ferrigno, o documentário “[...]

é um dos grandes conversores de pessoas ao vegetarianismo – um documentário que inclui cenas de matadouros e falas de especialistas nas áreas de direito, ética e meio ambiente.” (FERRIGNO, 2012, p. 104).

Embora o autor reconheça que existem problemas tão graves ou até piores

que a ignorância da sociedade perante as causas animais como a fome, a pobreza e

o racismo, sustenta que a situação dos animais se dá perante o conflito que existe

entre humanos e não humanos, sendo que “[...] a redução do sofrimento dos animais

às mãos dos humanos seria relativamente fácil de conseguir, se os humanos

estivessem determinados a isso.” (SINGER, 2010, p. 165). Desta forma, argumenta-

se a falta de interesse da população em buscar uma mudança de paradigma nessa

seara, reverberando, mais uma vez, comportamentos de caráter especistas, em que

se argumenta a superioridade de humanos perante os animais.

(24)

1.2 INTRODUÇÃO AOS DIREITOS ANIMAIS: UMA ANÁLISE DO FILÓSOFO GARY FRANCIONE

Gary Francione

2

, autor da obra “Introdução aos Direitos Animais”, introduz nos primeiros capítulos de seu livro, a ideia de cunho moral defendida pelos homens, que diz respeito a quais são os seres merecedores de direitos, relatando que existe uma “confusão” no que concerne a essas ideias. A este tipo de atitude, ele atribui a expressão “esquizofrenia moral”, que seria basicamente a dissonância entre conceitos morais aplicados sob não humanos. O autor afirma que

Se estamos sendo sinceros quando dizemos que consideramos os animais com interesses moralmente significativos, então realmente não temos escolha: estamos semelhantemente comprometidos com a abolição da exploração animal, e não meramente com a regulação dessa exploração.

(FRANCIONE, 2013, p. 33).

Isto tudo se deve a uma herança histórica que, conforme asseverado pelo autor, se originou antes mesmo do século XIX, momento em que a “[...] cultura ocidental não reconhecia, de modo geral, que os seres humanos tivessem qualquer obrigação moral para com os animais.” (FRANCIONE, 2013, p. 49). Sendo assim, os animais eram identificados pela sociedade daquela época como seres desprovidos de qualquer tratamento humanitário e igualitário perante os homens.

Ainda em relação à esquizofrenia moral, Vilardo faz menção a um argumento contraditório que subsiste em nossa sociedade, que se dá na falta de discernimento lógico presente nos animais, e que isso implicaria negativamente na busca de seus direitos. O autor assevera que

Certamente os animais não humanos não terão condições de sair de seu estado de vulneração e desenvolver competências para sua defesa autônoma como os seres humanos. Entretanto, a humanidade não despreza humanos que não tenham esta capacidade e considera ser moralmente correto proteger os humanos incapazes de atuar autonomamente, como as pessoas com deficiência mental. (VILARDO, 2017, p. 99-100).

Como prova do pensamento arcaico de existia em tempos primórdios, Francione cita o pensador René Descartes, que sustentava a falta de consciência e

2

Gary Francione é filósofo, nascido nos Estado Unidos, em 29 de maio de 1954.

(25)

alma dos animais O filósofo entendia que qualquer manifestação do animal perante um experimento doloroso poderia ser igualmente comparado com o som que uma máquina emitia quando não funciona corretamente. Seu entendimento vai de encontro com o reconhecimento da senciência animal, vez que compara um animal com um objeto inanimado (FRANCIONE, 2013).

Francione também faz referência ao filósofo Immanuel Kant, que, apesar de reconhecer a senciência animal, opôs resistência à ideia de que poderiam ser colocadas em prática atitudes que implicariam em oferecer ao animal um tratamento de caráter moral, olvidando a crença de que animais são considerados como meios (FRANCIONE, 2013). Os filósofos citados têm seus ideais repercutidos até os dias de hoje na nossa sociedade, dada a importância das suas contribuições oferecidas à coletividade que vivia naquela época.

O autor também aborda em sua tese a exploração animal e como ela é vista pelas pessoas. A utilização de animais para realização de testes, por exemplo, que é uma prática comumente empregada pela indústria, demonstra-se desnecessária, vista do ponto de utilidade, pois os testes deveriam ser realizados em humanos em razão da inconfiabilidade dos seus resultados quando realizados em animais, ainda que demonstrado algum tipo de viabilidade. Francione afirma que mudanças estão ocorrendo, de modo que “[...] os tribunais estejam, gradualmente, começando a reconhecer que os testes em animais não podem fornecer uma defesa contra a responsabilidade porque os resultados são irrelevantes para os humanos.”

(FRANCIONE, 2013, p. 111). Contudo, o que ainda sustenta essa prática é o poder de articulação e a influência que a indústria química e farmacêutica têm sob o governo, sob a justificava controversa de buscar a cura para as enfermidades (FRANCIONE, 2013).

Nesse sentido, a Juíza de Direito e Doutora em Bioética, Maria Aglaé Vilardo, assevera que:

Diante dos benefícios para a humanidade, é difícil renunciar às pesquisas

com animais não humanos, pois salvam inúmeras vidas e reduzem o

sofrimento de nós humanos, como também dos animais não humanos. O

conflito está entre esta afirmação e o fato de que muitos dos animais não

humanos utilizados em pesquisas ficarão doentes, sofrerão com dor e

provavelmente irão morrer em virtude das pesquisas e não importa se as

condições das pesquisas forem as melhores possíveis, pois sofrimento, dor

e morte estarão sempre presentes. (VILARDO, 2017, p. 96).

(26)

Francione também explicita em sua obra a ideia de que humanos e animais não humanos não estão no mesmo patamar de igualdade de direitos, tendo em vista que frequentemente os animais são categorizados como propriedade até mesmo pelo Direito (FRANCIONE, 2013). Com base nesta reconhecida desigualdade, os humanos permitem-se usar indiscriminadamente dos benefícios que os animais possam auferir, pois “Como os animais são mera propriedade, geralmente temos permissão para ignorar seus interesses e para infligir-lhes a mais horrenda dor, sofrimento ou morte, quando esta atitude é economicamente viável para nós.”

(FRANCIONE, 2013, p. 27-28). Assim, ao realizar-se a leitura e a comparação das obras dos referidos filósofos, destaca-se que as conclusões expostas por Francione em relação aos direitos dos animais são análogas às defendias por Regan, sobretudo, em sua obra “Jaulas Vazias”. Tom Regan também é considerado um autor “abolicionista” da causa animal, pois que, o filósofo denuncia os maus tratos e defende a libertação irrestrita de todas as criaturas vivas frente à indústria capitalista de um modo geral.

Contudo, a sociedade de consumo e os grandes detentores do poder econômico, é que irão determinar as regras sociais e jurídicas e influenciar politicamente na concepção das leis de proteção aos animais não humanos, assentando uma vultosa desigualdade de direitos entre animais humanos e não humanos. Referente a esta desigualdade frente as leis, Levai preleciona que

“Submetidos à tirania humana do ter e do poder – imposta por uma lógica civilista – os animais transformam-se em bens móveis, a Moral sucumbe e o Direito torna-se injusto.” (LEVAI, 1997, p. 140).

Em relação aos direitos animais, para que a causa animal prospere e alcance

seus objetivos, principalmente na esfera legislativa, é necessário haver uma

mudança na concepção de propriedade exercida sob os animais como o homem

sendo o seu proprietário. Isto porque, conforme Francione, existem no mínimo 5

razões que justificam o fracasso das leis que buscam a proteção animal, quais

sejam: a isenção que as leis promovem para a exploração institucionalizada; a

interpretação dos Tribunais que tendem a aplicar isenções para o uso indiscriminado

dos animais; a dificuldade em demonstrar a real intenção do réu quando o mesmo

maltrata um animal; a presunção que decorre da lei, de modo que entende-se que o

réu não infringe sofrimento desnecessário ao animal em razão da perda de seu valor

econômico e por fim, a falta de efetividade das leis de proteção da integridade e bem

(27)

estar dos animais (FRANCIONE, 2013).

Neste ínterim, Vilardo entende que a bioética deve contribuir na busca de direitos com caráter protecionista, em conjunto com o Estado para:

[...] criar leis protetivas e fiscalizar sua aplicação. Ao estender a bioética da proteção para os animais não humanos, esta cumpre uma das suas principais tarefas que é “refletir sobre a problemática da sobrevivência do mundo vital e da qualidade de vida de seus integrantes, presentes e futuros.” Portanto, alcança, da mesma forma, os seres humanos, cumprindo amplo papel. (VILARDO, 2017, p.99).

Apesar de todas suas indagações problemáticas, o autor propõe uma possível solução a esses problemas, que seria a aplicação do princípio do tratamento humanitário nas relações humanas. Tal princípio refere que os animais, racionais ou não, devem ter como base dos seus ideais a premissa de tratarem seres de outras espécies como semelhantes, excluindo a ideia de espécies dominadas e dominantes, reconhecendo suas particularidades. Em sua tese, Francione afirma que

Em suma, o princípio do tratamento humanitário, que a maioria de nós já aceita, incorpora, lógica e historicamente, o princípio da igual consideração.

Ele assume que os animais e os humanos podem não ser “o mesmo” ou

“iguais” em todos os aspectos, mas que são semelhantes em ao menos um aspecto [...], os animais e os humanos são sencientes, e, portanto, têm interesses semelhantes em não sofrer. (FRANCIONE, 2013, p. 164).

O princípio supracitado foi desenvolvido a partir da análise de um conjunto de teorias formuladas pelo filósofo londrino Jeremy Bentham. O mesmo afirmava que, reconhecido a característica senciente dos animais, esta por si só serviria para que humanos estabelecessem obrigações morais para com os animais (FRANCIONE, 2013).

Entretanto, Francione expõe em seu livro que, apesar do princípio do tratamento humanitário estar sendo frequentemente observado e aplicado às relações humanas com animais, ainda persiste majoritariamente o interesse dos proprietários em prejuízo aos animais. O autor complementa o raciocínio, asseverando que “Não há realmente nenhuma escolha a ser feita entre o interesse do humano e o interesse do animal, porque a escolha já está predeterminada pelo status de propriedade do animal.” (FRANCIONE, 2013, p. 28).

Por sua eficácia restar comprometida, o autor faz menção a possível

(28)

aplicabilidade do princípio da igual consideração, que, como a própria nomenclatura faz alusão, consiste no tratamento equânime tanto dos interesses humanos, quanto dos animais, considerando novamente o fator determinante da senciência, que é facilmente identificado nas duas espécies (FRANCIONE, 2013). Tal princípio, ao contrário do princípio do tratamento humanitário, tem caráter abolicionista, que por vezes é considerado como utópico, tendo em vista implicar em mudanças radicais.

Traçando um paralelo entre as teorias de filósofos como Descartes, Kant e Bentham, verifica-se uma evolução gradual de ideias, no que se relaciona aos direitos animais. Cumpre destacar que essa evolução é positiva, uma vez que a característica da senciência, elemento chave que deve nortear a relação entre humanos e animais, estabelecendo leis e consequentemente direitos para ofertar proteção foi devidamente reconhecido, e, conforme Francione, tal reconhecimento

"marcou um pronunciado rompimento com uma tradição cultural que sempre considerara os animais como coisas moralmente significativos.” (FRANCIONE, 2013, p. 54).

No quinto capítulo de sua obra, o autor se propõe a explorar em quatro linhas distintas as possíveis razões que humanos, mesmo com toda a evolução das civilizações, insistem em negar aos animais direitos básicos de respeitabilidade. A primeira razão se desenvolve pela teoria elaborada pelo filósofo René Descartes, que contribuiu para a formação de outros filósofos, como R. G. Frey. Frey afirma que, embora seja reconhecido pela comunidade científica que animais detenham sentimentos e percepções sobre o ambiente, os mesmos nunca conseguirão ter seus direitos resguardados e concretizados pois são incapazes de exprimir claramente seus desejos (FRANCIONE, 2013).

Na segunda razão, o autor traz como ponto de discussão as influências que a religião desempenhou, especialmente na cultura ocidental, no tratamento que hoje oferecemos aos animais. O autor discorre sobre os ideais deixados à civilização pelo filósofo John Locke, que formulou diversas premissas referentes ao instituto da propriedade privada. A propriedade privada, de acordo com Locke, diz respeito à ideia bíblica situada em Gênesis, de que o homem exerce controle sobre todas as coisas ao seu redor (FRANCIONE, 2013). Locke entendia que a permissão concedida por Deus para que o homem explorasse suas “criaturas inferiores”, traduzia-se na “[...] permissão divina para exercitar a dominação sobre eles.”

(FRANCIONE, 2013, p. 193).

(29)

Sendo assim, não há que se falar em obrigações morais ou instituição de direitos em favor dos animais, tendo a vista a condição que a eles lhe é atribuída.

Francione também faz menção ao tratamento degradante oferecido pelo Velho Testamento em relação aos animais, dado que, ainda encontra-se na atualidade pessoas que utilizam desse documento para justificar o tratamento inferior dos animais. O autor defende a refutação deste argumento, tendo em vista que o Velho Testamento previa a normalização de atrocidades como a escravidão, que geralmente não é bem vista mesmo por pessoas que afirmam persistir a inferioridade animal (FRANCIONE, 2013).

Francione utiliza deste exemplo para explicar a razão pela qual a tese anteriormente citada deva ser rejeitada. Por que devemos adotar a ideia bíblica contida no Velho Testamento de que animais são inferiores, sendo que o mesmo instrumento que afirma isso, também refere que a escravatura é natural, ou pior, consequência inevitável? A sociedade rejeita a escravidão, ainda que a prática esteja “tipificada” no Livro Sagrado. O autor transfere a responsabilidade a quem invoca essa premissa em explicar qual a razão de aplicar tamanha subjetividade quando se trata de direitos animais (FRANCIONE, 2013).

A terceira tese apresenta os animais na condição de inferiores naturais.

Referida inferioridade se dá, basicamente, pela falta de algumas pontuais características humanas em animais, e que com base nesta ausência de características, os animais serviriam apenas como meio para alcançar determinados fins (FRANCIONE, 2013). Como prova da existência deste pensamento na comunidade filosófica, Francione faz alusão às ideias de Aristóteles, que tinha uma visão de mundo antropocêntrica, tendo em vista algumas das suas declarações, como “[...] os animais existem para o homem.” (apud FRANCIONE, 2013, p. 199).

O que se assemelha a posição de Aristóteles na atualidade é o movimento denominado humanista, que implica em um culto exagerado à figura do homem, como explica o filósofo Yuval Harari em sua obra Homo Deus. Harari explica aos seus leitores o porquê de algumas pessoas acharem que os homens são de alguma forma “superiores” aos animais, asseverando que

Em si mesmas, as experiências humanas não são superiores às dos lobos ou elefantes. Cada bit de dados é tão bom num caso como no outro.

Contudo, um humano pode escrever um poema sobre sua experiência e

postá-lo on-line, enriquecendo com isso o sistema global de processamento

de dados. Isso confere valor a seus bits. Um lobo não é capaz de fazer isso.

(30)

Daí que todas as experiências do lobo — por mais profundas e complexas que possam ser — resultam inúteis. Não é de admirar que nos ocupemos tanto em converter nossas experiências em dados. Não é uma questão de tendência ou moda. É uma questão de sobrevivência. (HARARI, 2016, p.

342).

Logo, Harari atribui a percepção de inferioridade dos animais que algumas pessoas têm devido ao fato de estarmos vinculados ao que se propaga nas mídias, seja a informação falsa ou não.

Francione também faz menção as contribuições deixadas por Charles Darwin.

O naturalista afirmava em sua tese que “A diferença entre a capacidade mental do homem e dos animais superiores, por grande que seja, é certamente uma diferença de grau e não de tipo.” (apud FRANCIONE, 2013, p. 201). Ou seja, conforme este pensamento, animais e humanos estariam na mesma condição, ainda que disponham de características distintas.

Em seu quarto e último ponto de explanação, Francione tece apontamentos sobre o valor inerente atribuído aos animais na contemporaneidade. O autor argumenta que, embora existam diferenças entre homens e animais, existem também diferenças significativas entre pessoas, mas que este fator por si só não é justificável para considerar os diferentes como recursos, como acontece comumente com os animais (FRANCIONE, 2013).

Para que ocorra a valoração dos seres vivos, igual para igual, faz-se necessária a análise de duas bases fatoriais. A primeira seria a base lógica, que amplia a valoração inerente de todo e qualquer ser vivo, a fim de que os mesmos sejam tratados de maneira correspondente. Já a base factual pode ser entendida como o valor que cada ser vivo dá a si mesmo, sendo indiferente a percepção dos demais (FRANCIONE, 2013). A análise conjunta destas duas bases nos permite compreender que o fato de cada ser ter suas peculiaridades, por si só, bastaria para servir como mecanismo de defesa natural.

Com relação às leis destinadas ao bem estar animal, o autor referencia

alguns documentos importantes de proteção aos animais que existem no mundo,

destacando que a maioria desses instrumentos são de natureza penal, o que

considera como ponto positivo, vez que a promulgação de leis penais evidenciam a

importância da matéria (FRANCIONE, 2013). Fazendo uma comparação com o

sistema pátrio, podemos citar a Lei de Crimes Ambientais (BRASIL, 1998), que é o

instrumento base que regula os crimes praticados em detrimento do bem estar

(31)

animal, tendo em vista que, até o presente momento não dispomos de uma codificação especial que visa oferecer proteção e a devida regulação das práticas de exploração e abuso aos animais.

No último capítulo da obra em comento, Francione deixa claro seu posicionamento acerca da proteção dos animais: para ele, o abolicionismo seria a prática mais adequada e coerente a ser adotada. Isto porque, considera que

[...] se reconhecermos que os animais têm o direito básico de não ser coisas, então deveremos parar de pensar neles como nossa propriedade, nossos recursos. Devemos parar de fabricar conflitos em que nós colocamos os animais na nossa casa em chamas hipotética porque nós consideramos nossa propriedade e depois ficamos fazendo de conta que perguntamos seriamente se devemos preferir os interesses deles aos dos humanos. (FRANCIONE, 2013, p. 263).

Conforme Franklin, “Introdução aos Direitos Animais é um apelo persuasivo ao princípio da igual consideração e, assim, uma valiosa adição à literatura dos direitos animais.” (FRANKLIN, 2005, p. 29). Cumpre destacar que a obra de Francione foi duramente criticada quanto aos conceitos que o autor dissemina e outros que cria de próprio punho, gerando discussões no campo da filosofia, do direito, como também no campo da medicina veterinária.

1.3 JAULAS VAZIAS: UMA ANÁLISE DO FILÓSOFO TOM REGAN

Tom Regan

3

, autor da obra “Jaulas Vazias”, que se auto intitula como

“abolicionista”, propõe aos seus leitores a extinção das práticas costumeiras de exploração dos animais. Estas práticas, em geral, resultam em restrição à liberdade dos animais. Regan refere que

Quando se trata de como os humanos exploram os animais, o reconhecimento de seus direitos requer abolição, não reforma. Ser bondoso com os animais não é suficiente. Evitar a crueldade não é suficiente.

Independentemente de os explorarmos para nossa alimentação, abrigo, diversão ou aprendizado, a verdade dos direitos animais requer jaulas vazias, e não jaulas mais espaçosas. (REGAN, 2006, p. 12).

O autor sustenta que, para os objetivos da causa animal serem alcançados, é necessária a completa modificação nos ideais da sociedade, que, por vezes,

3

Tom Regan foi filósofo, nascido em Pittsburgh, Pensilvânia, EUA, em 28 de novembro de 1938,

falecendo dia 17 de fevereiro de 2017.

(32)

relativiza sua visão sobre os direitos destes seres (REGAN, 2006).

Regan explica em sua tese as possíveis razões pelas quais a causa animal por vezes é vista como inferior às outras de igual complexidade. Seu primeiro ponto baseia-se na chamada “inverdade dos rótulos”, referindo que os opositores de direitos animais confundem as expressões “extremistas” com “extremismo”, classificando erroneamente os defensores dos direitos animais (REGAN, 2006). Os

“DDA’s” (Defensores dos Direitos Animais), estariam sendo classificados como

“extremistas” no sentido de fazer tudo para alcançar os seus objetivos, até mesmo proferindo agressões físicas aos seus opositores. No entanto, conforme assevera Regan, o extremismo atribuído aos Defensores é correto, se for relacionado com

“[...] à natureza incondicional daquilo em que as pessoas acreditam.” (REGAN, 2006, p. 13). Os defensores acreditam em uma igual consideração de interesses entre humanos e animais.

Outro ponto que é citado na obra e que é relacionado com a falta de visibilidade da causa de defesa dos direitos animais, é o papel que a mídia desempenha na vida dos telespectadores, já que é considerado um poderoso instrumento formador de opinião. De acordo com Regan, “Notícias sobre direitos animais que não sejam sensacionalistas não "sangram" suficientemente para o gosto da mídia.” (REGAN, 2006, p. 14). O autor denuncia o caráter sensacionalista que prevalece nas notícias que são exibidas referente aos direitos animais, e que, desta forma, podem comprometer a credibilidade do movimento.

O autor desenvolveu em sua tese um debate acerca dos conceitos que a sociedade manifesta acerca dos “direitos morais”, que são destinados tanto aos homens, quanto aos animais. Estes direitos, em teoria, deveriam funcionar como mecanismos naturais de defesa dos seres vivos, a fim de impedir comportamentos violentos praticados por terceiros, que podem vir a cercear sua liberdade e sua integridade física/psíquica (REGAN, 2006).

Regan atribui os direitos morais para os indivíduos possuidores da característica “sujeitos-de-uma-vida”. Para Regan, são detentores desta característica “[...] todos os aproximadamente seis bilhões de nós, independentemente de onde vivamos, da idade que tenhamos, de nossa raça, sexo, classe, crenças religiosas e políticas, nível de inteligência, e daí por diante [...].”

(REGAN, 2006, p. 61). Referida expressão diz respeito à individualidade de cada ser

vivo, na particularidade existente no modo de vida de cada ser. Partindo deste

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