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2. Enquadramento teórico

2.2 Evolução do desporto paralímpico

Sob o signo da coragem, determinação, inspiração e igualdade, harmonizados pelo lema “Spirit in Motion” (Legg e Steadward, 2011), o IPC revolucionou o desporto para pessoas com deficiência e, mais do que isso, cultivou a noção entre o público do potencial e capacidade de conquista dos atletas com deficiência (Blauwet e Willick, 2012). A este respeito, Legg e Steadward (2011) definem quatro fases para balizar o crescimento do paralimpismo: burgeoning awareness – sensibilização -, rise to prominence – ascensão à proeminência -, rise to prominence II – ascensão à proeminência II - e transcendence – transcendência.

A etapa inaugural corresponde à herança de Stoke Mandeville que, embora imensa, consignava o desporto para pessoas com deficiência como cláusula exclusiva dos que padeciam de uma lesão vertebro-medular, esquecendo todos os outros tipos de deficiência. O caráter incipiente a nível organizativo e de mentalidade ressaltava, ficando à tona quando, em 1968, os Jogos não se puderam realizar na cidade do México, anfitriã dos seus homólogos Olímpicos, porque as autoridades daquele país temiam que os atletas com lesões vertebro-medulares não sobrevivessem às altas altitudes, além das condições de acolhimento não serem as mais apropriadas.

Esta fase caraterizou-se pela resposta do Governo Britânico às mudanças favoráveis na esperança e qualidade de vida das pessoas com lesões vertebro-medulares, através da abertura do Spinal Injuries Centre, em Stoke Mandeville. Com a introdução do desporto, otimizou-se a capacidade de recuperação dos pacientes e transformou-se por completo o olhar sobre a deficiência (Legg e Steadward, 2011).

Segue-se “Rise to Proeminence”, apontando-se como momento de viragem os Jogos Paralímpicos de 1972, em Heidelberg, na Alemanha, nos quais se dá a primeira participação de uma comitiva portuguesa. No entanto, são os Jogos de Toronto 1976 a ditar alterações mais perenes. Nesta data amplia-se o leque de tipos de deficiência, com a admissão de atletas amputados e pessoas com deficiência visual. 1976 marca também o começo dos Jogos Paralímpicos de Inverno, estreados em O ̈rnsko ̈ldsvik, na Suécia.

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Em 1980, um avanço e um revés: ingressam os atletas com paralisia cerebral, mas a União Soviética recusa receber os Paralímpicos, celebrizando- se a frase de um oficial soviético “There are no invalids in the USSR!” (Philips, 2009).

Mas a década de 80, que enceta a terceira fase “Rise to Prominence II”, significou muito mais para o desporto paralímpico, assumindo-se como um período reformador: “o desporto para pessoas com deficiência começava a ser visto como mais do que um simples instrumento médico para o processo de reabilitação. Estes [em referência a Terry Fox e Rick Hansen] eram atletas de elite” (Legg e Steadward, 2011, p. 1104). Ambos os atletas acima mencionados tiveram um grande impacto na perceção dos desportistas com deficiência.

Terry Fox tentou atravessar o Canadá, depois de sofrer a amputação de uma perna em consequência de um cancro, atraindo os media em larga escala. Hoje, continua a realizar-se uma maratona, em sua homenagem, com o objetivo de recolher fundos para a investigação sobre o cancro, e a Fundação Terry Fox constitui-se como o maior angariador à escala global para o efeito. Por seu turno, Rick Hansen, atleta em cadeira de rodas, procurou “imitar” a façanha ao tentar correr o equivalente à circunferência terrestre em dois anos. Da jornada odisseica, resultaram fundos que permitiram erigir uma fundação responsável por uma multitude de atividades desportivas, recreativas e de investigação sobre lesões vertebro-medulares.

Os Jogos Paralímpicos de 1988, na Coreia do Sul, representam uma clivagem, positiva, rompendo decididamente com o arquétipo de desporto para pessoas com deficiência voltado para a valorização restrita da atividade física como meio de reabilitação, para se trilhar os Paralímpicos da era moderna, de atletas de elite. De salientar a importância dos Jogos, na sociedade coreana, noutros domínios da vida da pessoa com deficiência, pois 6 meses após o certame, de 90 000 indivíduos com deficiência, os registos passam a indicar 500 000. Some-se o facto de que desde Seul 88, os Jogos Paralímpicos e Olímpicos foram acolhidos pela mesma cidade, assim como se tornaram totalmente acessíveis, algo que se tornou vinculativo a partir de 2000. Neste período, dá-se a consumação de uns Jogos universais, plenamente inclusivos,

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em 1996, Atlanta, com a integração da deficiência intelectual no calendário paralímpico.

Não obstante, relatam-se como efeitos indesejados a primazia concedida àqueles com lesões menos severas e, por isso, tidos como mais atléticos; e o aumento do uso de substâncias e estratégias ilícitas para a obtenção de melhor rendimento.

Chegamos, por fim, a “Transcendence”, estado contemporâneo do Paralimpismo, onde se discute com fervor questões como a classificação funcional dos atletas que, embora inequivocamente cunhada de avanço, persegue ferramentas mais fidedignas no processo de avaliação e debate-se com o problema do sistema em curso poder penalizar aqueles que otimizem a sua funcionalidade através do treino (Howe e Jones, 2006).

Porquê “Transcendência”? Porque os Paralímpicos alcançaram o estatuto de fenómeno de massa e o nível ascendeu meteoricamente, a ponto de Oscar Pistorius, velocista bi-amputado, ter sido autorizado a competir nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, desembocando a sua participação em debate aceso, e preocupação, sobre o estatuto dos Paralímpicos, remetidos para segundo plano. Tanni Grey-Thompson, ex-velocista paralímpica, foi uma das atletas que expressou inquietação com o facto, temendo que os Paralímpicos se tornem nas “finais B” dos Olímpicos (Tanni Grey-Thompson, Guardian, 17 May, 2008); e, sobretudo, porque a reputação do desporto para pessoas com deficiência descolou (Legg e Steadward, 2011).

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