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2. Enquadramento teórico

2.3 O Basquetebol em cadeira de rodas

2.3.1 Perspetiva sociohistórica Portugal

O debutar do BCR em Portugal perpassa-se de contornos muito semelhantes ao aparecimento da modalidade a nível internacional. Arredado de uma participação ativa na II Guerra Mundial, Portugal desperta vinte anos mais tarde para a realidade massificada da deficiência, com o decorrer da Guerra Colonial, um flagelo que durou treze anos. Atribui-se ao Hospital Ortopédico de Sant’Ana, na Parede, Cascais, e ao Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, o pioneirismo na promoção da modalidade para lesionados vertebro-medulares, amputados e indivíduos com outras patologias, maioritariamente contraídas, em qualquer um dos casos, no conflito do Ultramar (Sousa e APD Sintra, 2013. Responsáveis por estes centros visitaram, em 1955, o Hospital de Stoke Mandeville, onde viram de perto o trabalho de Ludwig Guttmann com quem estagiaram e, a partir de então, introduziram a prática do BCR nestes centros de reabilitação (Arruda, 2006, Carvalho, 2004, Sousa et al., 2013).

Em 1972, dá-se a primeira e única participação da Seleção Portuguesa de BCR nos Jogos Paralímpicos de Heidelberg, na Alemanha, e, no ano seguinte, Portugal entra nos Jogos de Stoke Mandeville, para não mais disputar qualquer competição internacional até 1994 (Sousa e APD Sintra, 2009).

No pós 25 de Abril, assiste-se ao crescimento do associativismo desportivo e emerge o conceito de “desporto para todos” em Portugal (Conselho da Europa, 1988). Prova disso mesmo é a criação do Secretariado Nacional de Reabilitação (atual Instituto Nacional de Reabilitação – INR) e a criação de um setor dedicado ao desporto para pessoas com deficiência na

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divisão de recreação da Direção Geral dos Desportos (atual Instituto Português do Desporto e da Juventude – IPDJ) (Silva, 1992). Em 1988, Portugal dá outro passo de gigante para a evolução do desporto para pessoas com deficiência, com a fundação da Federação Portuguesa de Desporto para deficientes (FPDD) (Sousa et al., 2013).

Nos anos 90, em 1995, é criada a Associação Nacional de Desporto para deficientes motores (ANDDEMOT), organismo responsável pelo BCR. Precisamente nesta década, na época de 1991/1992, realiza-se o primeiro Campeonato Nacional de BCR, conquistado pelo Grupo Desportivo de Deficientes (GDD) de Alcoitão, enquanto em 1993 a FPDD dinamiza as primeiras ações de formação de árbitros e classificadores, tendo-se em 1994 assistido ao 1º Curso Nacional de Treinadores e Árbitros de BCR (Sousa e APD Sintra, 2009).

A APD Sintra perfila-se como a força dominante do BCR nacional, como atesta o palmarés com 12 campeonatos em 22 edições, 11 Taças de Portugal em 21 jogadas e 13 Supertaças num total de 20. O conjunto sintrense foi também o único a atuar nas competições europeias, mais concretamente, na Taça André Vergauwen por sete ocasiões. Convém porém mencionar que as primeiras quatro edições do campeonato foram vencidas pelo GDD Alcoitão e entre 1999/2000 e 2002/2003, a APD Lisboa logrou o tetra campeonato, numa altura em que começava a sobressair o nome de Hugo Lourenço, meu futuro colega no CP Mideba. Depois desse interregno, a APD Sintra recuperou o estatuto de líder incontestado até ser “desfeiteada” pela APD Leiria, corria a época desportiva 2008/2009. Em 2012/2013, o norte conhece o seu primeiro campeão, com a APD Braga a arrecadar não só o campeonato, como a Taça de Portugal.2

Relativamente à participação de elementos do sexo feminino, o BCR português sofre de uma profunda desigualdade de género. Contrariamente ao

2 A informação citada a partir da época 2011/2012 decorre exclusivamente do conhecimento e experiência pessoal dos autores, não estando reunida em nenhum suporte oficial.

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que se constata em Espanha, nunca se criaram equipas exclusivamente femininas e as poucas jogadoras existentes integram os conjuntos masculinos.

Ao nível de seleção, o interregno de participação termina em 1994, como referido anteriormente, altura em que sob o nome “Team Lisboa”, Portugal ganha experiência ao disputar a Taça André Vergauwen, competição oficial de clubes. Em 1996, já enquanto Seleção Nacional, Portugal participa no Campeonato da Europa B, na Eslovénia.O ponto alto da história lusa regista- se em 2007, com a vitória do Campeonato da Europa C, e a subsequente disputa, por duas ocasiões, da Divisão B (Sousa, APD Sintra, 2009). De registar ainda o feito de, em 2003, Hugo Lourenço, atleta dos quadros da APD Lisboa, se ter tornado no primeiro jogador português profissional, ao ser contratado pela equipa da 1ª divisão espanhola CP Mideba, abrindo portas para que outros seguissem os seus passos, casos de Pedro Gonçalves, Cláudio Batista e, na temporada 2013/2014, Márcio Dias, Filipe Carneiro e Pedro Bártolo. Nesta época desportiva, o campeonato português estruturou-se em duas divisões devido ao nível modesto e à falta de viabilidade financeira das equipas CD Os Especiais e GDR A Joanita. A primeira divisão tinha apenas cinco clubes – APD Paredes, APD Braga, GDD Alcoitão, APD Sintra e APD Lisboa - e a segunda quatro, CD Os Especiais, GDR A Joanita e as “equipas B” da APD Sintra e APD Lisboa.

Importa referir que a parca informação existente em Portugal e nos registados da ANDDEMOT, que tutela o BCR no país, motivou que parte do exposto se baseie na minha experiência pessoal enquanto jogador e seguidor atento da modalidade.

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