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Delimitações do Trabalho

2. Inclusão Digital – Do Extermínio à Inclusão

2.2. Evolução da Educação Especial

A história da humanidade, no tocante à forma como se consideram e integram os deficientes, passou por diferentes estágios que vão desde as sociedades primitivas, onde predominava a exclusão e o extermínio, passando pela sociedade judaica cristã, onde prevaleciam atitudes assistencialistas até o ideal da inclusão e de uma sociedade para todos. Estas fases não se sucedem de forma cronológica, pois elas ainda coexistem em maior ou menor grau nas diversas sociedades.

Amaral(1994) resume as atitudes em relação aos deficientes, caracterizando-as como:

Ataque, isto é, extermínio, eliminação de indivíduos deficientes.

Ou através da fuga, caracterizada pelas atitudes assistencialistas, porém preconceituosas de rejeição que podem ser visualizadas na forma de abandono direto ou indireto, quando não se investe amor, energia, dedicação nem tempo para a superação ou abrandamento das limitações ou de negação onde se retira do deficiente a possibilidade de superação, mascarando a realidade e superprotegendo o indivíduo. E finalmente a fase de aceitação que todos possuímos talentos e limitações, a compreensão e aceitação das diferenças.

2.2.1. Fase de Extermínio

Esta fase, apesar de cruel e desumana, ainda coexiste em diversas sociedades.

Desde a antigüidade a loucura, a velhice, bem como qualquer tipo de deficiência oscilou entre dois pólos bem contraditórios: ou era sinal da presença dos deuses ou dos demônios. No passado, a sociedade desenvolveu quase sempre obstáculos à integração das pessoas deficientes. Nas sociedades primitivas, uma das principais características dos povos estava no nomadismo, sendo que o atendimento de suas necessidades estava totalmente na

pesca e a coleta. Em virtude da característica cíclica da natureza, totalmente fora de controle dos homens, eles eram obrigados a constantes deslocamentos, razão pela qual era necessário que cada um se bastasse por si e ainda colaborasse com os outros. Evidentemente, alguém que não se enquadrava no padrão social de normalidade, acabava sendo um empecilho, um peso morto, abandonado, sem que isso causasse culpa. Seria uma espécie de "Seleção Natural" (Fonseca, 1989). Somente com a evolução das sociedades e das condições de vida, pode- se pensar em solidariedade e amor ao próximo, que foram responsáveis, em parte, pela nossa ―humanização‖.

Na Antigüidade, a sociedade grega, com sua estrutura social onde os escravos garantiam a infra-estrutura necessária para que os homens livres praticassem o ócio, definido por Platão como: " estar livre da necessidade de estar ocupado". Isto possibilitou ao homem pensar de forma sistematizada, e influenciou a sociedade ocidental. Na medida em que os gregos se dedicavam predominantemente às guerras, valorizando a ginástica, a dança, a estética, a perfeição do corpo, a beleza e a força acabaram por transformar-se num grande ideal. Se, ao nascer, uma criança apresentasse qualquer manifestação que pudesse atentar contra este ideal, sofriam atitudes que iam do abandono nas florestas, para morrerem devoradas por animais ou por inanição, no caso de Atenas ou ao aniquilamento nos desfiladeiros, como era o caso de Esparta (Bianchetti, 1998).

Coerentemente com esse sistema, Platão chegou a afirmar: "As mulheres dos nossos militares são pertença da comunidade, assim como os seus filhos, e nenhum pai conhecerá o seu filho e nenhuma criança os seus pais. Funcionários preparados tomarão conta dos filhos dos bons pais, colocando-os em certas enfermarias de educação, mais os filhos dos inferiores, quando surjam deficientes ou deformados, serão postos fora, num lugar misterioso e desconhecido, onde deverão permanecer". (Fonseca, 1989).

Em relação aos deficientes visuais, a presença da luz sempre esteve associada a situações favoráveis, a acontecimentos felizes e à inteligência, ao passo que a ausência dela às trevas, ao sinistro, ao mal. Nas sociedades primitivas supunha-se que a luz brotasse de dentro para fora e que as pessoas cegas não fossem capazes de produzi-la, firmando um vínculo entre a cegueira e poderes malignos. (Dall' Aqua, 2002)

2.2.1. Fase do Assistencialismo

Com a difusão do Cristianismo, aparentemente encerrava-se a fase em que os indivíduos eram eliminados e tem início um período onde eles eram vistos como filhos de Deus e, como um dos princípios do Cristianismo é o amor incondicional ao próximo, esses indivíduos passaram a ser protegidos, acolhidos normalmente junto a paróquias, mediante pequenos serviços. (Dall' Aqua, 2002).

Surgiu então uma mentalidade que suportou a deficiência, desde que uma aura mística circundasse aqueles que dedicavam sua vida a assistência a esse seguimento da população e desde que as pessoas deficientes ficassem convenientemente confinadas em guetos ou instituições. A fase assistencialista foi baseada nas premissas de proteção e repulsa, solidamente plantada no terreno da caridade religiosa (Amaral,1994). No entanto, o apedrejamento ou morte nas fogueiras da Inquisição das pessoas deficientes que eram consideradas como possuídas pelo demônio, eram fatos comuns e aceitos pelos demais.

A própria religião, com toda a sua força cultural, ao colocar o homem como " imagem e semelhança de Deus", ser perfeito, colocavam os deficientes a margem da condição humana. Por outro lado o consenso pessimista de que a condição do deficiente é imutável, levou a omissão completa da sociedade em relação a serviços educacionais para atender às necessidades desta parcela da população (Mazzota, 2001)

O próprio Cristianismo, representado pela Igreja Católica, religião dominante na Europa da Idade Média tinha dois posicionamentos bem distintos sobre as pessoas com deficiência:

Num primeiro posicionamento, explicavam que a existência de cegos, mudos, loucos, paralíticos e leprosos decorria da visão, que eles eram instrumentos de Deus para alertar os homens sobre comportamentos pecaminosos ou para dar-lhes a oportunidade de fazer caridade. Assim "a desgraça de uns, proporcionava meios para a salvação de outros". Essa postura pode ser vista em diversos trechos da Bíblia, como por exemplo, quando um dos discípulos pergunta a Jesus quem havia atentado contra os mandamentos para que o cego nascesse com aquele pecado. Eis sua resposta: ―Nem ele pecou, nem

seus pais, mas foi assim para que se manifestassem nele as obras de Deus" (João 9:3). Segundo os ensinamentos contidos na Bíblia, dos 22 milagres com curas e exorcismo creditados a Jesus, oito referiam-se à cura, surdos, mudos e gagos, sendo que os outros se referiam a paralisias e possessões. (Bianchetti, 1998)

Em outra perspectiva, o corpo era o "templo da alma" e, se esse estava corrompido era tachado de oficina do diabo, sendo sinônimas de pecado, cujas curas sugeridas iam desde jejuns, abstinência, autoflagelação e, principalmente a fogueira.

No século XVIII, as noções a respeito da deficiência estavam ligadas, ou seja, atreladas ao misticismo, ao ocultismo, não havendo nenhuma base científica para o desenvolvimento do conhecimento sobre a deficiência. O fatalismo teológico, aliado à superstição e ao medo eram os grandes dilemas da Idade Média perante as pessoas consideradas anormais, caracterizando a oscilação dos comportamentos.

Já no século XIX e princípio do século XX, foi utilizada a esterilização como método para evitar a reprodução desses "seres imperfeitos" e aconteceu, em plena época do nazismo hitleriano, a aniquilação pura e simples das pessoas com deficiência, que não correspondiam à " pureza" da raça ariana. Paralelamente a estas atitudes extremas de aniquilamento, o isolamento desses indivíduos em grandes asilos eram as atitudes preponderantes.

As investigações sobre este período da história mostram que, até o final do século XIX, diversas expressões eram utilizadas para referir-se ao indivíduo com alguma necessidade especial como "incapacitado", "aleijado", "doido", "inválido", "imperfeito", "demoníaco", etc. Vale ressaltar que a ignorância da população, associada ao medo e ao preconceito, bem como à falta de conhecimento e investigação científica contribuiu para esses indivíduos permanecessem marginalizados, discriminados e, até mesmo fossem exterminados (Gilvan Milhomem, 2002)