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Evolução Geotectônica da Serra do Espinhaço Meridional

4. QUADRO NATURAL DA SERRA DO ESPINHAÇO MERIDIONAL

4.1. A Geologia Regional

4.1.1. Evolução Geotectônica da Serra do Espinhaço Meridional

Para Renger e Knauer (1995), os modelos evolutivos da Serra do Espinhaço Meridional são baseados em resultados geocronológicos, que tiveram grande influência dos trabalhos de Brito Neves et al. (1979). Aqueles autores apontam a seguinte cronologia: entre 2,8 e 2,6 Ga. teria ocorrido à formação do embasamento; de 2,1 a 2,0 Ga. a formação dos granitos; de 1,8 a 1,7 Ga. o início da individualização dos sítios de deposição do Espinhaço, de 1,7 a 1,3 Ga. o desenvolvimento da deposição cíclica do Supergrupo Espinhaço; entre 1,3 e 1,2 Ga., a principal fase de deformação e metamorfismo; de 1,2 a 1,0 Ga. o período pós-

43 tectônico mais marcante, com acentuado magmatismo básico, enquanto o início da individualização da Bacia Bambuí teria ocorrido entre 0,65 e 0,50 Ga. (Ciclo Brasiliano), com dobramento e metamorfismo das rochas do Supergrupo Espinhaço, afetando também as do Grupo Bambuí e cronocorrelatos.

De acordo com Dussin e Dussin (1995), durante o Mesoproterozóico, um sistema de forças em regime extensivo conduziu a um adelgaçamento da litosfera continental, que se traduziu nas partes superiores, pela ruptura e fraturamento da crosta frágil, desenvolvendo-se assim um processo de rift. Este fato resultou na formação da bacia na qual foram depositados os sedimentos que vieram a dar origem às rochas do Supergrupo Espinhaço.

Ainda no modelo proposto por Dussin e Dussin (1995), a fase rift ocorre aproximadamente a partir de 1,7 Ga. Desta forma, a sequência do Supergrupo Espinhaço, ou seja, o Grupo Diamantina viria a se caracterizar por um conjunto sequencial de sedimentos terrígenos típicos de ambientes fluviais entrelaçados, deltaíco e marinho pouco profundos.

Estas seriam, portanto, as feições litoestruturais das Formações basais São João da Chapada e Sopa-Brumadinho. Posteriormente, os sedimentos destas duas unidades geológicas foram recobertos por quartzitos de ambientes eólicos e marinho raso, que correspondem à Formação Galho do Miguel. Esta, por sua vez, forma a parte superior da sequência, que registraria o fim da instabilidade crustal nesse período. Dussin e Dussin (1995) consideram também que o vulcanismo teve início num estágio recente da bacia, tendo estado ativo durante a sedimentação das Formações São João da Chapada e Sopa Brumadinho.

Segundo esses autores (op.cit.), na fase pós-rift, o topo do Supergrupo Espinhaço, ou seja, o Grupo Conselheiro Mata, assinala condições gerais de tendência transgressiva em toda a bacia numa fase de estabilidade tectônica. Litologicamente, as formações superiores do Supergrupo Espinhaço são constituídas por uma sucessão de quartzitos, metassiltitos e filitos em alternância, sem registros vulcânicos sinsedimentar.

Por fim, Dussin e Dussin (1995) descrevem que, no final do Meso-Neoproterzóico, a tectônica Brasiliana foi responsável pelo fechamento da bacia. Numa primeira fase, a tectônica Brasiliana se traduziu numa deformação regional com zonas de cavalgamento e deformação menos intensa marcada por dobras abertas. Na segunda fase, a deformação é caracterizada por metamorfismo menos intenso e pela formação de dobras abertas associadas às clivagens das rochas. Após este evento de maior magnitude, a região voltaria a ser afetada somente no Cretáceo, entre 190 e 170 milhões de anos, com uma nova extensão crustal devido à abertura do Atlântico Sul e a fragmentação inicial do Gondwana.

44 Almeida Abreu (1995), por sua vez, propõe um processo evolutivo bem diferente em relação a esse modelo descrito. Ele divide o rifteamento em três fases: a primeira é marcada por registros sedimentares/vulcânicos e ambientes fluviais de leques aluviais, sedimentos lacustres e eólicos, e intensa atividade termal, evidenciada pelo vulcanismo.

A segunda fase é marcada por uma tectônica quiescente, instalando-se então uma larga e extensa bacia fluvial, típica de canais entrelaçados, onde foi depositada a Formação São João da Chapada, fato este, que reforça a ideia de período de estabilidade tectônica prolongado na região. Para Almeida Abreu (1995), este período é marcado por um clima úmido devido à pureza dos sedimentos encontrados nas rochas e pela presença de paleo- lateritas/bauxitas, representadas, hoje, pelos filitos hematíticos.

Segundo Almeida Abreu (1995), a terceira e última fase de extensão crustal do rift Espinhaço é marcada pela deposição das formações Sopa-Brumadinho e do Galho do Miguel. A retomada da extensão crustal parece associada ao forte aquecimento termal imposto à crosta continental que sustentou o rift Espinhaço.

O modelo de Dussin e Dussin (1995) constitui um dos vários modelos da evolução geológica da Serra do Espinhaço Meridional (RENGER &; KNAUER, 1995; ALMEIDA ABREU, 1995). Todos, no entanto, apresentam um ponto em comum: a ocorrência de atividades tectônicas relevantes apenas até o Neoproterozóico, sendo que deste período até os dias atuais haveria uma grande período de estabilidade.

Assim, as reativações neotectônicas identificadas na área por Saadi (1995), corresponderiam às atividades de caráter secundário. Para este autor (1995), existe um conjunto de feições morfotectônicas que atestariam a instabilidade tectônica em toda região durante o Cenozóico, e as evidências diretas seriam representadas pelos falhamentos neotectônicos analisados em várias partes da Serra do Espinhaço e suas áreas marginais.

Ele mapeou contatos tectônicos entre gnaisses alterados e sedimentos mostrando uma gradação de fácies de depósitos de encosta para fácies aluviais, sendo o conjunto fossilizado por cobertura coluvial. O contato é marcado por uma zona de cisalhamento caracterizada por inúmeros planos estriados.

Planos estriados foram também identificados por Rocha e Costa (2007) em blocos de gnaisses na Depressão de Gouveia. Estes foram identificados através do óxido de manganês que recobre blocos de gnaisses nas margens do córrego Gameleira. Tal fato indica que a formação dos óxidos é posterior à exposição do bloco rochoso na superfície, visto que o óxido de manganês é muito susceptível aos processos intempéricos.

45 Outra evidência da neotectônica é a presença de colúvio falhado na localidade de Guinda, observado por Karfunkel (Fig. 02). Elas indicam a presença de atividades neotectônicas recentes em diversas partes da Serra do Espinhaço Meridional, sendo extremamente importantes para o entendimento da dinâmica atual do relevo que será discutido posteriormente.

FIGURA 02 – Colúvio falhado

Fonte: Joachim Karfunkel