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3ª Etapa: Pós Campo e Análise Laboratoriais

DOS RESULTADOS

6.4. Dados Geoquímicos da Água

6.4.1. O Elemento Cálcio

O percentual relativamente elevado de cálcio na estação úmida (Tabs. 01 e 02) quando comparada com a estação seca, no Espinhaço Meridional dominado por litologias basicamente quartzíticas, aparentemente decorre também do fato de, principalmente na bacia do Rio Pardo Grande, serem encontradas lentes de carbonatos, associadas, sobretudo, às FormaçõesGalho do Miguel e Rio Pardo Grande, como mapeado por Fogaça e Scholl (1979). Estas Formações, por possuírem muitas fraturas, apresentam alta porosidade e permeabilidade, e favorecem a ação da água e a dissolução deste elemento, que eventualmente é disponibilizado na água dos córregos e rios.

Assim é que, em todas as bacias analisadas foram observados teores elevados de cálcio na estação úmida, (Tabela 01 e Gráfico 19). Os valores mais elevados, de 26 mg/l foram encontrados no Córrego intermitente, localizado próximo à estrada que dá acesso para Conselheiro Mata, a aproximadamente 5 km da rodovia BR 259, e de 24 mg/l no alto curso do Rio Pardo Grande. Mas as tabelas 01 e 02 demonstram a existência de outros valores significativos de 18mg/l, também encontrados no Ribeirão do Inferno, de 14,0 mg/l no córrego Olaria, 10,0 mg/l no médio curso do Ribeirão das Varas e no alto curso do Rio Paraúna, de 9,0 mg/l na foz do Ribeirão Pinheiro, e de 7,0 mg/l no baixo curso de Rio Pardo Grande.

Os valores de cálcio abaixo de 1mg/l na estação úmida correspondem aos medidos na depressão de Gouveia com exceção do Rio Paraúna com 10,0mg/l e 3,4 mg/l no alto e baixo curso, respectivamente e na foz do Ribeirão de Areia com 5,0mg/l (Tab 01).

Valores mais elevados de cálcio (Tab 01) encontrados na Depressão de Gouveia, em especial no alto e baixo curso do Rio Paraúna e na foz do Ribeirão de Areia, podem, no entanto, ser atribuídos à produção agrícola realizada nesses locais, sendo comum a correção da acidez do solo com a adição de calcário. Essa explicação é reforçada pelo fato de que nos demais pontos os valores de cálcio são inexpressivos em toda a depressão de Gouveia.

Na estação seca todos os valores de cálcio encontram-se abaixo de 1mg/l com exceção do Rio Pardo Grande alto curso com 1,0mg/l e no Ribeirão do Chiqueiro com 1,2mg/l (Gráfico 19).

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GRÁFICO 19 – Perda de Cálcio na Estação Seca e Úmida (fevereiro e agosto de 2009)

Perda de Cálcio na Estação Seca e Úmida

0 5 10 15 20 25 30 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 Pontos de Coleta m g/ L Estação Seca Estação Úmida

A Depressão de Gouveia foi a única região que apresentou menos de 1,0mg/l de cálcio na estação úmida (Tab. 01) Tal fato pode ser explicado por se tratar de uma área que se encontra muito dissecada, o que significa que a perda de cálcio está associada aos índices de erosão da área, conforme também reportado por Augustin (1995). A taxas de perda erosão erosiva apontados por Portilho (2003), indicaram uma saída de 10t/ha, enquanto para Barbosa (2004), as taxas encontradas foram 38t/ha. Para ela, essa taxa apesar de ser alta, representa apenas 50% do total medido.

A erosão, de acordo com Heimsath et al. (2010), é fator primordial para o aumento do intemperismo de tal forma que, quanto maior a dissecação, mais intensa será a lixiviação. Nesse sentido, é de se esperar encontrar uma lixiviação intensa que acompanha taxas também elevadas de erosão, como medidas pelos autores acima citados para a área.

Também é preciso considerar que as rochas que compõe o embasamento geológico da Depressão de Gouveia apresentam um alto grau de intemperismo (AUGUSTIN, 1995), levando a supor que esse elemento há muito já foi retirado do sistema. Segundo Augustin (1999), isto vem ocorrendo há, no mínimo, 45 milhões de anos, tempo ao longo do qual a lixiviação vem atuando, fazendo com que o ambiente torne-se cada vez mais pobre em bases.

O cálcio nesta área assim como em outras regiões tropicais quentes e úmidas no restante da Terra, é lixiviado rapidamente. Os processos de intemperismo, portanto, ocorrem ao longo do tempo e, segundo Heantjens e Blecker (1970, apud KUKAL, 1990), inclui três fases. O primeiro estágio, chamado de arenização, é um processo essencialmente mecânico, que levaria cerca de 5.000 anos para se completar.

O segundo estágio, chamando de intemperismo imaturo, teria predominância do intemperismo químico, e levaria em torno de 5.000 a 20.000 para se desenvolver, pois nesta fase, as bases já se encontram bastante lixiviadas. A última fase, chamada de ferrolitização, é um estágio marcado pelo enriquecimento do ferro e alumínio, além da lixiviação da sílica,

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para a qual seriam necessários mais de 20.000 anos. Tomando por base que a depressão teria sido aberta nos últimos 45 milhões de anos, como visto acima, este tempo seria totalmente suficiente para a retirada quase total das bases.

Também, Summerfield (1991) ao analisar os sólidos totais dissolvidos em diversas partes do globo, mostra que em todas as regiões onde o pH é abaixo de 9, a solubilidade do cálcio é elevada. Locais com pH entre 6,0 e 6,5 o índice de solubilidade é de 600 partes por milhão (ppm), indicando, assim, que quanto menor o pH maior será a solubilidade do cálcio. Os dados pH dos solos estudados (Gráficos 01 a 18), encontram-se todos abaixo de 6, colaborando para a perda do cálcio.

Baixas concentrações de cálcio são comumente reportadas por pesquisadores em outras regiões tropicais quentes e úmidas (OLLIER, 1975; MILLOT, 1977; FANIRAN& JEJE, 1983; THOMAS 1994; KRONBERG, 2010, entre outros). Nelas, observa-se também uma grande dissolução dos calcários como, por exemplo, observado por Mohr e Baren (1954, apud KUKAL, 1990), nas lavas vulcânicas na ilha de Krakatoa na República da Indonésia. Estes autores mostraram que a lava fresca continha cálcio correspondente a 2,87% do total mineral da lava e, após 45 anos, este percentual decaiu para 0,45%.

Hissink (1938, apud KUKAL, 1990) ao analisar as lamas marinhas verificou que estas contem aproximadamente 10% de carbonatos de cálcio, e constatou por testes experimentais que, em 300 anos, este percentual decaiu completamente. Tais dados acima indicam a alta solubilidade do cálcio, e explica a baixa concentração deste elemento na Depressão de Gouveia.

Salgado e Valadão (2003), ao analisar as bacias do córrego do Rio Grande e o Ribeirão de Areia na Depressão de Gouveia, quantificaram baixos teores de cálcio com valores entre 0,71 mg/l a 0,05 mg/l na água de rios, ribeirões e córregos, mostrando o quanto esta Depressão é esvaziada do ponto de vista químico.