• Nenhum resultado encontrado

Para abordar as origens e evoluções históricas sobre os contratos, convém buscar seu conteúdo. De acordo com Venosa (2013, grifo do autor), ‘’a palavra contractus significa unir, contrair. Não era o único termo utilizado no Direito Romano para finalidades semelhantes. Convenção, de conventio, provém de cum venire, vir junto. E pacto provém de pacis si, estar de acordo’’.

Os contratos são frutos do Direito Romano e principal fonte de obrigações, ou seja, podendo ser traduzida como prestação do que foi acordado, sob pena do infrator ser acometido a punições (sanções jurídicas). (ANNONI, 2012)

Na mesma linha de pensamento:

No Direito Romano primitivo, os contratos, como todos os atos jurídicos tinham caráter rigoroso e sacramental. As formas deviam ser obedecidas ainda que não expressassem exatamente a vontade das partes. Na época da Lei das XII Tábuas, a intenção das partes estava materializada nas palavras corretamente pronunciadas. (VENOSA, 2013, p. 382)

Quanto as noções de obrigações e os meios para assegurar cumprimento, Anonni (2012, p. 24) faz a seguinte afirmação, ‘’os romanos já se preocupavam em determinar o nascimento das obrigações, atribuindo aos contratos, bem como ao delito, sua devida origem’’.

Com a queda do domínio romano e a chegada do período da alta Idade Média, se estabelece o Direito Germânico. Venosa (2013, p. 383) se manifesta sobre o assunto, ‘’o Direito Germânico é um direito menos avançado que o Direito Romano, estando dominado pelo simbolismo. Para se obrigar, há necessidade de um ritual. Esse procedimento simbólico conserva-se até a alta Idade Média”.

O Direito Francês foi a primeira codificação moderna, com o Código Napoleônico. Almeida (2012) afirma que o código francês procurou harmonizar o direito romano, e foi considerado o código da burguesia, ou seja, por ter atendido

aos interesses e aspirações desta classe. A intenção do código francês foi elaborar um código impessoal, para ser aplicado sem distinção de classe, e sem limite de tempo. E o autor continua, ‘’funda-se nos princípios individualistas da liberdade contratual, na propriedade como direito absoluto, e na responsabilidade civil fundada na culpa provada pelo lesado”. (ALMEIDA, 2012).

Neste mesmo sentido:

Na Idade Média, o encontro do direito romano com o direito alemão levou a diversas alterações no modo de ver e pensar os contratos, inserindo-se princípios e tipos contratuais até então não existentes naqueles. Foi, contudo, apenas nos séculos XVII e XVIII, por meio da influência da escola do direito natural, que a concepção voluntarista do direito fundamental a nova teoria dos contratos, inserindo a manifestação da vontade, ou seja, a efetiva participação das partes na celebração dos acordos. (COSTA, 1998 apud ANNONI, 2012, p.24)

O contrato que conhecemos hoje, é fruto do jusnaturalismo11 e do

surgimento do capitalismo, visto que, nos períodos anteriores, os indivíduos eram determinados pelos grupos em que estavam inseridos e pela função que exercia dentro desses grupos. Deste modo, o nascimento do capitalismo, o indivíduo passa a ser determinado por sua vontade autônoma, e os contratos passam ser os meios mais utilizados para valer essas vontades. (ALMEIDA, 2012)

A partir disso, Annoni (2012) complementa que o liberalismo econômico e o individualismo político da época, criam-se condições para que os contratos possam ser um acordo celebrado entre partes iguais, ou seja, que são livres para decidir seus compromissos e a forma do cumprimento.

Almeida (2012) faz a seguinte reflexão a respeito:

No contexto do direito contratual, a principal ideia traçada nesse período era a da liberdade de contratar. O sujeito era livre para escolher contratar ou não contratar, escolher o seu parceiro contratual, além de estabelecer o conteúdo desse contrato. Não era dado ao Estado impor a parte um determinado tipo de contrato ou a contratar com determinado parceiro contratual. O Estado se limitava a fazer valer as vontades livremente

11

Segundo Vanin (2015), ‘’a Corrente do Jusnaturalismo defende que o direito é independente da vontade humana, ele existe antes mesmo do homem e acima das leis do homem, para os jusnaturalistas o direito é algo natural e tem como pressupostos os valores do ser humano, e busca sempre um ideal de justiça. [...] A concepção jusnaturalista foi o resultado de transformações econômicas e sociais que impuseram mudanças na concepção de poder do Estado, que passou a ser compreendido como uma instituição criada através do consentimento dos indivíduos através do contrato social”.

estabelecidas. Assim, a intervenção estatal só ocorreria em caso de descumprimento contratual para fazer valer aquela vontade estabelecida no contrato, ou caso um contrato que se perfizesse por uma vontade viciada (vícios do consentimento) caso em que o Estado interviria por não haver vontade livremente estabelecida. [...]

Assim, o contrato, nessa época, passou ser um acordo de vontades, mas também representava garantia para os burgueses e classe proprietária. Segundo Annoni (2012, p. 25):

Vale destacarmos também que a revolução comercial burguesa elevou a importância do contrato, que passou a representar a garantia de pagamento futuro pelo produto ou serviço já prestado. Isso implica dizer que as relações comerciais que até então se resolviam imediatamente, seja pela troca direta de produtos e/ou serviços (escambo), seja pela troca de produtos e/ou serviços por moedas, podem se estender no tempo, o que gerou a possibilidade, trazida pelo contrato, de produtos e/ou serviços serem dados em garantia, ou ainda, que o pagamento possa ser adiado, parcelado ou contratado para data futura.

Esse era o cenário pós-revolução francesa e americana, sustentados pelos princípios da liberdade, igualdade e propriedade. Com isso, consequentemente, houve o fortalecimento do direito privado, como também, o direito dos contratos. (ANNONI, 2012)

Segundo Almeida (2012), ‘’o Código Civil Alemão foi concebido na época como o mais progressivo, passando a ser adotado como fonte de inspiração para os países que ainda não haviam elaborado o seu código civil tirando, assim, a exclusividade até então mantido pelo Código de Napoleão”.

A autora Góes (2012, p. 2) faz as seguintes considerações sobre o Código Civil Alemão:

a) Foi editado quase um século após o código francês, mas também se apresenta como um instrumento da burguesia, do capitalismo. Destaca a autonomia da vontade das partes.

b) Houve uma evolução dos conceitos técnicos relacionados ao Direito dos Contratos. Classifica-se o contrato como uma subespécie do negócio jurídico.

c) Estabelece regras para os contratos em geral e para cada espécie de contrato (Exemplo: compra e venda, locação...), aplicadas ao negócio jurídico em geral.

d) Na concepção alemã, recepcionada pela legislação brasileira, o contrato não transfere, por si só, a propriedade. Continua sendo um instrumento para a realização dessa transferência, mas não a concretiza de maneira autônoma.

Já no início do século XX, tendo o Brasil experimentado profundas mudanças sociais com as várias leis abolicionistas, com o surgimento de uma classe burguesa ainda tímida face ao grande poderio ostentado pelos Coronéis, vislumbrou-se o início de um movimento de Codificação no Brasil, desta vez com a influência do Código de Napoleão e do Código Civil Alemão, o BGB (BürgerlichesGesetzbuch), embora a tradição oitocentista oligárquica atenuasse os ideais liberais praticados na Europa. (PEDRO, 2011)

Desse modo, ‘’o sistema brasileiro compreende o contrato como uma espécie de negócio jurídico. Todo contrato é um negócio jurídico, mas nem todo negócio jurídico será um contrato”. (GÓES, 2012, p. 2). Portanto, é através desses sistemas que o Brasil adota no código de 1918 e o Código Civil de 2002.

Feita a abordagem histórica sobre os contratos, passaremos às características especificas contratuais, que vêm a ser uma parte importante deste trabalho de conclusão de curso.

Documentos relacionados