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Evolução histórica das facções criminosas no Rio Grande do Sul

Inicialmente, pode-se dizer que o Estado do Rio Grande do Sul é um palco antigo para facções nativas. Foi no ano de 1987 que se teve noticia sobre a primeira organização criminosa gaúcha, denominada de Falange Gaúcha como aborda (Dornelles, 2008, p. 13)

Liderados pelos assaltantes de bancos Vico e pelo traficante carioca - comandante do tráfico de drogas no Morro da Cruz - nove

presos se amotinaram no Instituto de Biotipologia Criminal (IBC), anexo ao Presidio Central, em Porto Alegre, em 1987, fazendo 31 reféns. No começo da rebelião, um agente penitenciário e um presidiário morreram em um tiroteio. Oito presos conseguiram fugir. O bando que escapou pretendia, a partir dali consolidar um organização criminosa idealizada no inicio daquela década, nos moldes da Falange Vermelha carioca - que acabou dividida entre Comando Vermelho e o Terceiro Comando - e Serpente Negra paulista. Seria uma espécie de federação de quadrilhas. Extraoficialmente, o grupo passou a ser chamado de Falange Gaucha.

A partir disso, com a doutrinação de criminosos pela então Falange Gaucha, foram surgindo outras novas organizações criminosas dentro dos presídios gaúchos, de modo que nos anos 90, nasceram três grupos no Rio Grande do Sul, conhecidos como, Os Manos, Os Abertos, e os Brasas, seguindo o mesmo conceito de outros grupos ja existentes nas penitenciarias brasileiras, sempre com a justificativa de que se organizavam na busca de uma melhorara nas condições carcerárias.Já nos anos 2000, surgiu outros dois grupos, que fugiam um pouco as características dos demais, sendo que pouco visavam as condições do cárcere, mas sim, apenas o lucro no comercio de ilícitos.

A maior e mais organizada facção brasileira também criou raizes no nosso Estado, segundo documentos preparados pelo Ministério Publico (MP) do Estado de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital - PCC também esta presente no estado gaúcho, segundo levantamento, possui, 729 simpatizantes, prova disso, esta em documentos, maioria deles manuscritos, encontrados e apreendidos, na Operação Echelon.

De acordo com Menezes (2018):

A Echelon foi deflagrada em junho pelas Policias Civis do país, a pedido do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Publico de Sao Paulo e abarcou 14 Estados, incluindo o Rio Grande do Sul. Em território gaúcho, foram presos dois criminosos que estariam organizando “células" do PCC: um em Canoas e outro em Caxias do Sul.

Para se ter uma ideia, com a confirmação desses elementos pelo Ministério Publico paulista, podemos afirmar que em menos de cinco anos, esse grupo cresceu em mais de 10 vezes no Rio Grande do Sul, segundo dados da Polícia Civil gaúcha, em novembro de 2013, haviam mapeado e indiciado 61 suspeitos de ligação com a facção paulista.

Segundo coronel Mario Ikeda, comandante geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, com o número elevado de facções presentes nos estabelecimentos penais gaúcho, quem sofre é toda a população, "Essa disputa é por regiões, por pontos de tráfico de drogas. As facções ficam disputando para aumentar os seus pontos e seus lucros. Isso impacta em toda a sociedade, não só onde existe tráfico de drogas”.

O mesmo ainda afirma que "Nossa estratégia é de reprimir essas quadrilhas. Temos a consciência de que essas facções não vão acabar, porque o consumo da droga não reduz e é isso que dá o lucro para eles. Mas creio que vamos frear os homicídios”

Mario Souza, delegado de policia e diretor de investigação do Denarc/ RS afirma que a disputa entre esses grupos criminosos "É um confronto diferente do que costumamos encontrar em guerras do tráfico. Não é uma disputa por pontos, mas uma batalha para mostrar quem tem mais poder. A meta é atingir o rival e enfraquecê-lo.”

É sobremodo importante assinalar, que segundo dados da vara de execuções penais do estado, em 2018, a população carceraria gaúcha, ultrapassava os 40.000 presidiários, como se nota, o deficit é de aproximadamente 12.000 vagas, fazendo com que os presídios, que na verdade deveriam fornecer uma reabilitação ao agente que cometeu um fato delituoso, simplesmente acabam os tornando ainda mais perigosos, isto é, graduados no mundo do crime.

Alexandre Pacheco, juiz substituto da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Porto Alegre, mostra sua preocupação com o aumento do número de preso e o inerte número de vagas, pensando em soluções alternativas para punir o aprisionado.

A gente se preocupa com o avanço no número de presos ao mesmo tempo em que não são disponibilizadas novas vagas no sistema. O aumento do déficit pode fazer com que sejam escolhidos presos para a concessão de prisão domiciliar, por exemplo. O Estado não tem condições econômicas para a construção constante de presídios e penitenciárias, então, é preciso buscar alternativas penais, como o uso de tornozeleiras eletrônicas.

No ano de 2017, mais precisamente no dia 14 de março, juízes das varas de execuções criminais do estado do Rio Grande do Sul, estiveram juntos para debater a elevada taxa de encarceramento, a escassez de vagas nos estabelecimentos penais, e a ineficiência da pena de prisão, e a partir disso, mostraram suas inquietações, com a grave crise, que está visivelmente presente no sistema penitenciário gaúcho, expondo suas preocupações em forma de uma carta.

Em um dos trechos dessas mensagens, podemos ver claramente o quão crítica se encontra a situação carcerária do Estado gaúcho.

"Os presídios do Estado, em maioria, estão superlotados, com taxas de ocupações de presos muito acima da capacidade de engenharia. Os efeitos da superlotação, somados à ineficiência do Estado, implicam não somente a violação de direitos das pessoas privadas de liberdade, mas também o fortalecimento das facções e o aumento da criminalidade e violência." Depois dessas noções preliminares, podemos dizer que está nítida a presença dessas organizações criminosas em solo gaúcho, por inúmeros motivos e fatores, os quais iremos abordar no próximo tópico, de uma forma mais completa, individualizado as principais facções gaúchas, seus líderes, seu territórios, e sua forma operacional entre outras características importantes.

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