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A presença das facções criminosas nos estabelecimentos penais do Rio Grande do Sul

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

LUIS CASSIANO DE CAMARGO

A PRESENÇA DAS FACÇÕES CRIMINOSAS NOS ESTABELECIMENTOS PENAIS DO RIO GRANDE DO SUL

Três Passos (RS) 2019

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A PRESENÇA DAS FACÇÕES CRIMINOSAS NOS ESTABELECIMENTOS PENAIS DO RIO GRANDE DO SUL

Projeto de pesquisa da monografia final do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, apresentado como requisito parcial para a aprovação no componente curricular Metodologia da Pesquisa Jurídica. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Sergio Luiz Fernandes Pires

Três Passos (RS) 2019

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me proporcionar saúde, paciência e disposição durante todo o curso.

À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

Ào meu orientador Sergio Pires, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento.

Aos meus amigos que direta ou indiretamente me apoiaram nos momentos de angústias e que colaboram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado.

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“Cadeia? Guarda o que o sistema não quis. Esconde o que a novela não diz. Ratatatá! Sangue jorra como água” Racionais MC’s

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise sobre as principais facções criminosas brasileiras, mas em especial, as presentes no estado do Rio Grande do Sul, bem como destina-se a mostrar como se deu a formação dessas organizações criminosas e suas atividades desenvolvidas. Do mesmo modo, aborda a estrutura organizacional das referidas facões, os elementos que as caracterizam e as suas ações dentro e fora do sistema penitenciário gaucho. Esse trabalho traz uma breve análise sobre as origens das organizações criminosas no mundo e a existência de outras relevantes facções existentes no território brasileiro. Mostraremos as principais fontes de lucro do crime organizado e os crimes conexos praticados pelas facções. Afirmamos que a escolha do tema busca demonstrar a necessidade de medidas mais eficazes no combate ao crime organizado no Brasil. A ideia principal do trabalho é expor o poder bélico, econômico, e organizacional das principais facções gaúchas. No perpassar do presente trabalho, evidenciaremos os métodos e à evolução legislativa oferecida pelo Estado no combate a criminalidade organizada.

Palavras-Chave: Organizações criminosas. Crime organizado. Facções criminosa. Presidio Central. Rio Grande do Sul

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ABSTRACT

The present work of conclusion of course makes an analysis on the main Brazilian criminal factions, but especially those present in the state of Rio Grande do Sul, as well as aims to show how the formation of these criminal organizations and their developed activities occurred . In the same way, to approach the organizational structure of the said factions, the elements that characterize them and their actions inside and outside the gaucho penitentiary system. This work brings us a brief analysis of the origins of criminal organizations in the world and the existence of other relevant factions in the Brazilian territory. We will show the main sources of profit for organized crime and related crimes practiced by the factions. We affirm that the choice of theme seeks to demonstrate the need for more effective measures in the fight against organized crime in Brazil. The main idea of the work is to expose the military, economic, and organizational power of the main Gaucho factions. In the present work, we will show the methods and the legislative evolution offered by the State in the fight against organized crime.

Keywords: Criminal organizations. Organized crime. Criminal factions. Presidio Central. Rio Grande do Sul.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO……….……….09

1 ASPECTOS HISTÓRICOS E NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ACERCA DAS FACÇÕES CRIMINOSAS……… 11

1.1 Evolução histórica das facções criminosas no Brasil …………..………… 12

1.2 Principais características das organizações criminosas. ………..……… 14

1.3 Principais facções criminosas atuante dentro e fora dos presídios brasileiros. ……….. 17

1.3.1 Comando Vermelho – CV. ……… ……… 18

1.3.2 Primeiro Comando da Capita - PCC ……… ……….. 20

1.3.3 Familia do norte – FDN ………. 22

1.4 O estado no combate as facções ……… 23

1.4.1 Mecanismo de combate e prevenção ao crime organizado ………. 23

1.4.1.1 Grupos de força Tarefa ………. 24

1.4.1.2 Da ação controlada ………. 25

1.4.1.3 Da delação premiada ………. 25

1.4.1.4 Regime disciplinar diferenciado (RDD) ………. 26

1.4.1.5 Dos agentes infiltrados ……… 27

1.5 Avanço legislativo ……….. 28 1.5.1 Lei nº 9.034/95 ………. 28 1.5.2 Lei nº 10.217/01 ……….. 29 1.5.3 Convenção de Palermo ……….. 30 1.5.4 Lei nº 12.694/2012 ……….. 31 1.5.5 Lei nº 12.850/2013 ……….. 32

2 A PRESENÇA DAS FACÇÕES CRIMINOSAS NOS ESTABELECIMENTOS PENAIS DO RIO GRANDE DO SUL ………. 33

2.1 Evolução histórica das facções criminosas no Rio Grande do Sul ……. 33

2.2 Principais Facções gaúchas ……… 36

2.2.1 Falange Gaucha ………. 38 2.2.2 Os Mano ……….. 38 2.2.3 Os Brasas ……… 42 2.2.4 Os Abertos ……….. 44 2.2.5 Os Bala na Cara ………. 45 2.2.6 Os Anti-Bala ou V7 ………. 49

2.3 Interiorização das facções criminosas no Estado …………….………. 52

2.4 Presidio central, onde tudo começou ………. 55

CONCLUSÃO ... 59

REFERÊNCIAS ... 62

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise sobre as principais facções criminosas brasileiras, mas em especial, as presentes no estado do Rio Grande do Sul, bem como destina-se a mostrar como se deu a formação dessas organizações criminosas e suas atividades desenvolvidas.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando também as propostas legislativas em andamento, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo sobre essas organizações criminosas, revelar a importância sobre o tema, pois como se sabe, com a situação precária, os estabelecimentos penais brasileiros, acabam se tornando escritórios e escolas do crime.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma abordagem sobre o inicio das organizações criminosas no mundo, trazendo também os primeiros relatos referentes a esses grupos criminosos presente no Brasil. Passando pelas principais e mais poderosas facções presentes dentro e fora do sistema carcerário brasileiro. após, evidenciaremos os métodos e a evolução legislativa oferecida pelo Estado no combate a criminalidade organizada.

No segundo capítulo mostraremos de uma forma mais profundamente a história e a atuação do crime organizado no Estado do Rio Grande do Sul, revelando as principais facções presentes dentro e fora dos estabelecimentos penais gaúchos, seus líderes, bem como seus métodos de combate na buscas de novos territórios, o recrutamento de novos soldados do crime, a expansão do crime organizado para o interior, em especial a divisa com países vizinho, Uruguai e Argentina. E por ultimo, mas não menos importante, o Presidio Central, berço das facções criminosas do estado.

A partir desse estudo se verifica que as organizações criminosas estão presentes, em diversas camadas da sociedade, mas principalmente dentro dos

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presídios brasileiros, onde presos cometem os mesmos crimes os quais cometiam na rua, sem nenhuma interferência do Estado.

1. ASPECTOS HISTÓRICOS E NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ACERCA DAS FACÇÕES CRIMINOSAS

Os primeiros indícios que se tem no mundo sobre crime organizado vêm do século XIX na Itália, com as chamadas organizações mafiosas, mais conhecidas como máfia.

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Em sua obra o renomado professor italiano de historia contemporânea (LUPO, 2002, p. 14-15), traz que:

A primeira vez em que se teve por pronunciada a palavra “mafiosos” ocorreu no período entre “1862-1863, numa comédia popular de grande sucesso, intitulada justamente I mafiusi di la Vicaria¹, ambientada em 1854 entre camorristas detidos na cadeia de Palermo. Em abril 1865, é feita uma menção a ‘máfia, ou associação delinqüente’ num documento reservado assinado pelo prefeito de Palermo, Filippo Gualterio, e já em 1871 a lei de segurança pública refere-se a ‘ociosos, vagabundos, mafiosos e suspeitos em geral’.

Inicialmente cabe compreender a definição de facção criminosa, a qual é bastante abstrata, ou seja, é algo que está meramente baseada na interpretação de cada sujeito, sendo assim, há vários entendimentos acerca do que define facção criminosa.

Para (CLEMENTINO apud GUARACY MINGARDI), organização criminosa é:

Grupo de pessoas voltadas para atividades ilícitas e clandestinas que possui uma hierarquia própria e capaz de planejamento empresarial, que compreende a divisão do trabalho e o planejamento de lucros. Suas atividades se baseiam no uso da violência e da intimidação, tendo como fonte de lucros a venda de mercadorias ou serviços ilícitos, no que é protegido por setores do Estado. Tem como características distintas de qualquer outro grupo criminoso um sistema de clientela, a imposição da Lei do silêncio aos membros ou pessoas próximas e o controle pela força de determinada porção de território.

Ainda, de acordo com a “Convenção de Palermo”, de 15 de dezembro de 2000, facção criminosa é:

Grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material.

Na mesma seara, o STJ tem se utilizado da convenção para estabelecer nos seus julgados que:

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Capitulação da conduta no inciso VII do art. 1º da Lei nº 9.613/98, que não requer nenhum crime antecedente específico para efeito da configuração do crime de lavagem de dinheiro, bastando que seja praticado por organização criminosa, sendo esta disciplinada no art. 1º da Lei nº 9.034/95, com a redação dada pela Lei nº 10.217/2001, c.c. o Decreto Legislativo nº 231, de 29 de maio de 2003, que ratificou a Convenção das Nações unidas contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004. (STJ HC 77771 / SP 007/0041879-9 Órgão Julgador T5 - 30/05/2008).

1.1 Evolução histórica das facções criminosas no Brasil.

Nos anos de 1960, a urbanização do pais começou a crescer de forma considerável, devido ao êxodo rural, a população camponesa migrou para as grandes cidades em especial São Paulo – SP e Rio de Janeiro – RJ, em busca de melhores condições de vida, tratava-se de pessoas com escassas condições financeiras, e com pouca ou sem nenhuma condição profissional, a não ser o cultivo da terra. Parte destes trabalhadores rurais, ao longo da década seguinte, anos 70, conseguiram com muito esforço, melhora significativamente sua condição financeira, mas com a crise do petróleo no final da década e o estacionamento econômico nos anos seguintes, impossibilitaram que a outra parte também conseguisse.

Desse modo, com seguimento do abandono rural, agregado ao apoucamento da renda, ao desemprego e as limitadas condições de emprego, as regiões menos abastadas, as favelas e periferias não apenas cresceram, mas também se tornaram um local propício ao desenvolvimento do crime.

Isto é, com a grande pobreza presente, estes locais foram se tornando ignorados pelos seus governantes, deixando faltar elementos extremamente básicos para a vida digna de uma pessoa, como saúde, segurança, educação.

A nosso pensar, podemos encontrar muitos motivos, para que o crime organizado se tornasse tão fortemente enraizado em nosso país, mas dois fatores estão na maioria das explicações sobre a causa, em primeiro está a degradação dos valores morais, pois em um país onde autoridades que na teoria, deveriam dar o

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exemplo, fiscalizar e executar as leis, muitas vezes são acusadas de crimes graves. A partir disso podemos concluir que a segunda é a certeza de impunidade, pois os chefes dessas organizações criminosas possuem recursos suficientes para de alguma forma encontrar uma brecha, seja ela na legislação, que a muito tempo carece de uma reforma, ou até mesmo, subornando seus próprios julgadores.

Em virtude dessas considerações, podemos dizer que o crime organizado não está apenas relacionado ao tráfico de armas e drogas, pois o desvio de dinheiro público é uma das principais atividades do crime organizado em terras brasileiras.

Nesse sentido, se faz necessário abordar a origem e a formação do crime organizado dentro dos estabelecimentos carcerários brasileiros, segundo SILVA (2001) se deu:

na década de 70, na cidade de Ilha Grande – RJ, no Instituto Penal Cândido Mendes, o qual era denominado “Caldeirão do Diabo”, onde os detentos políticos, instigados por certas convicções de extrema esquerda, ficavam confinados com criminosos comuns, isto é, através desse contato com os demais prisioneiros e o aumento da criminalidade veio por ser doutrinada com formas de organização sobre determinados comportamentos, atitudes e formas de agir dos presos políticos.

Para GONÇALVEZ, 2006, o “crime organizado” se deu no Nordeste, movidos pelos famosos cangaceiros, para os quais se apresentavam como um grupo de pessoas armadas e que tinham como propósito saquear, realizar sequestros, roubos e demais atos infracionais..

Registre-se, ainda, que no Brasil a associação criminosa derivou do movimento conhecido como cangaço, cuja atuação deu-se no sertão do Nordeste, durante os séculos XIX e XX, como uma maneira de lutar contra as atitudes de jagunços e capangas dos grandes fazendeiros, além de contestar o coronelismo.

Como se depreende, é notável que tais definições se enquadram de forma correta do que realmente apresenta ser o crime organizado e as facções criminosas dentro do contexto atual do país, lembrando que possuem características importantes

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que abrangem aspectos tendentes à sociedade, à economia e à política, o que regulamentam sua área de atuação e formação no território brasileiro.

Consoante noção cediça, podemos perceber que esses grupos de pessoas estão crescendo de forma considerável e consequentemente vem ganhando notório poder dentro e fora dos estabelecimentos prisionais, resultando no aumento de crimes e da violência, bem como a supremacia dentro das casas prisionais. Nesse sentido, é sobremodo importante elucidar que, de acordo com (PORTO, 2008, p.73, apud CHRISTINO, 2002):

Muito embora em um primeiro momento descartássemos as condições prisionais como geradoras de tal organismo, somos forçados a reconhecer que efetivamente tal circunstância milita como elemento das mais decisivos para que o fenômeno se espalhe com rapidez e ganhe adeptos facilmente. Todos os líderes confirmam terem sofrido sevícias e maus-tratos diversos, note-se que foram ouvidos (neste aspecto em especial) separadamente e confirmam: espancamentos, redução de gêneros de limpeza ao mínimo, humilhações das mais diversas, exageros em punições, etc. Tudo criando um ambiente propício à recepção de um doutrinamento.

1.2 Principais características das organizações criminosas.

Nesta senda, é importante destacar as características que estão presentes e se destacam no meio das facções criminosas, apresentando traços semelhantes entre elas. Dessa forma, CONSERINO (2011, p. 12) nos ensina que uma característica essencial presente no crime organizado é a de que “não há organização criminosa sem estrutura hierárquica, sem ordem e subordinação entre seus integrantes”, ou seja, por trás de todas as facções sempre haverá uma certa hierarquia entre os seus membros, cabendo aos filiados respeitarem e cumprirem as ordens que lhe forem ordenadas.

Outra característica importante, a qual Silva (2003, p. 30), aborda em sua obra, diz respeito ao elevado poder de intimidação, que se dá por meio de ameaças ou violência, assim:

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A prevalência da “lei do silêncio” (a omertà das organizações mafiosas italianas)¹1, imposta aos seus membros e a pessoas estranhas à organização, é mantida com o emprego dos mais cruéis e variados meios de violência contra aqueles que ousam violá-la ou contra seus familiares, com a finalidade de intimidar outras iniciativas da mesma natureza.

Reforçando tal característica de violência, em sua obra, Ziegler (2003, p. 70) explica que a violência constitui o principal fator de promoção dentro de uma organização criminosa e cita o caso de Giovanni Brusca, conhecido como “o Porco, que se tornou boss da Cosa Nostra aos 29 anos de idade após os seguintes atos de “bravura”:

(...) “O dia 23 de maio de 1992 é um dia belíssimo: três automóveis blindados, transportando o Juiz Giovanni Falconi, sua mulher e seus guarda-costas percorrem a 160 Km/h a rodovia Messina – Palermo, ao longo do litoral, numa colina ao lado de uma ponte, Brusca e seus cumplices observam. De repente, os dedos de bruscas puxam a alavanca: lá embaixo, na estrada, uma formidável explosão projeta o comboio nos ares, fazendo em pedações Falcone, sua mulher e três jovens policiais”. (...) “Dois meses depois, o colega, amigo e sucessor de Falcone, o procurador Paulo Borsellino – carro blindado, guardas – visita sua mae em Palermo. Seu comboio é lançado aos ares por uma bomba, acionada por Buscas. Tampouco desta vez, há sobreviventes”. (...) “No atentado contra Falcone, um cumplice ajudara Brusca: Santino Di Matteo. Detido, Santino decide colaborar com a polícia. O porco, depois de mandar sequestrar o filho de Santino, Giuseppe,de 11 anos, estrangula-o com as próprias mãos e atira o corpo num banho de ácido.

Ademais, as organizações criminosas também se valem de ameaças diretas como afirma Mendroni (2015, p. 76) “o mafioso comparece ao estabelecimento comercial ou industrial e apenas adverte o responsável para que não ‘falte’ com a ‘divida’”.

Mendroni (2015, p. 76) também cita em sua obra as ameaças veladas com o seguinte trecho:

“já se constataram exemplos como a morte e algum bichinho de estimação (um gato enforcado, por exemplo), e colocado dentro da casa da vitima; telefonemas de advertência (‘cuidado’ ou ‘atenção’);

1 Vem do latim himilitas; “humildade”, é um termo da língua napolitana que define um código de honra de

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telefonemas com musicas fúnebres ou meramente com silêncio, ou com barulho do gatilho da arma; o envio de uma boneca dentro de uma caixa (representando um caixão); mensagens através de filhos das vitimas; faixas ou cartazes etc”.

Outra característica que tem relevância e que está presente no meio das facções criminosas é a corrupção, que como se nota, utilizam-se desse corrompimento a fim de garantir o seguimento dos seus métodos ilícitos, conforme assevera Conserino (2011, p.12):

Organizações criminosas possuem tentáculos e ramificações na Policia Militar, Civil, Federal, Poder Judiciário, Ministério Público, Poder Legislativo, Poder Executivo, Órgãos de fiscalização tributária etc. Corrompem para obter sentenças e pareceres favoráveis. Corrompem para, obter leis pusilânimes2 sem comprometimento com a defesa da sociedade. Corrompem para obter lenimento da fiscalização tributária e policial.

Oportuno se torna dizer, que uma das características que também estão presentes nas organizações criminosas é a lavagem de dinheiro, que segundo aponta Mendroni (2015, p.51):

O agente de lavagem mistura seus recursos ilícitos com os recursos legítimos de uma empresa verdadeira, e depois apresenta o volume total como sendo a receita proveniente da receita lícita da empresa. Utiliza-se desde logo os recursos obtidos ilegalmente na própria empresa com o pagamento de pessoal, compra de matéria prima etc.; De forma a dificultar o rastreamento.

Nessa esteira, podemos citar outra característica que está fortemente presente nas organizações criminosas, que é a infindável busca de lucro e poder econômico, isto é, toda organização criminosa tem suas funções voltadas ao conseguimento de lucros e poderes econômicos.

Inadequado seria esquecer também que as facções criminosas, desenvolvem dentro das comunidades onde estão estabelecidas, atividades com um caráter social,

2 Característica de algo ou alguém que demonstra pusilanimidade; que possui vulnerabilidade moral ou releva

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substituindo assim, a falta de amparo vinda do estado. Dessa forma, conseguem a empatia e consideração do povo local.

À guisa de exemplo podemos citar uma reportagem do site EXTRA, no qual a jornalista traz de forma bem clara a atuação de uma facção criminosa, em prol da comunidade local.

Uma piscina construída de forma irregular por traficantes há quatro anos na Praça Cotigi, um dos acessos ao Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, continua em pleno funcionamento, sem interferências da Prefeitura do Rio. A área de lazer passou a atrair tantos frequentadores que ganhou uma página numa rede social e um funk em sua homenagem, que a chama de “piscina do momento’’.E não é só. A piscina também recebeu melhorias, sendo ladrilhada. A construção foi denunciada pelo EXTRA em dezembro de 2014, ocasião em que a Polícia Civil passou a apurar o envolvimento do tráfico com as obras. A prefeitura foi notificada pela polícia sobre a piscina numa área pública e o próprio órgão confirmou se tratar de uma obra irregular. Mas nenhuma providência foi tomada pela administração municipal. No Juramento, a piscina virou o “point’’ da comunidade. Nas redes sociais, banhistas postam fotos no local. “Piscina do Juramento está cheiona”, escreveu um internauta, na última quinta-feira. Uma das imagens, que circula em redes sociais, mostra dois homens armados com fuzis na beira da piscina.

1.3 Principais facções criminosas atuante dentro e fora dos presídios brasileiros.

Cumpre obtemperar, todavia que o Departamento Penitenciário Brasileiro (Depen), não possui dados oficias sobre as facções brasileiras, sobre seus primórdios, seus territórios de atuação e operação. Mas de acordo com estudiosos do tema o brasil possui cerca de 30 facções criminosas de elevado poder dentro e fora dos presídios, mas segundo a Pastoral Carcerária, esses números não pertencem a real realidade do país.

Tenha-se presente, que a DW Brasil, realizou e divulgou uma pesquisa com o seguinte resultado:

A DW Brasil levantou as facções citadas em relatórios de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) e em mapeamentos mais recentes divulgados por estudiosos do tema, com base em cruzamentos de

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dados dos serviços de inteligência da Polícia Federal e secretarias de segurança pública estaduais. De acordo com esses dados, há pelo menos 83 organizações de presos no Brasil, a maioria com atuação estadual e local.

Convém notar, outrossim, que de todas as Facções Criminosas presente no território, a única que chegou e atua em todos os estados da federação, apesar de ter sua origem em São Paulo-SP, é o Primeiro Comando da Capital (PCC), já o Comando Vermelho (CV), primogênita no Brasil, e originária do estado do Rio de Janeiro-RJ, chegou e se afirmou em outros 14 estados brasileiros.

A partir disso, irei elencar as 3 principais facções criminosas brasileira, bem como mostrar um pouco da história de cada uma delas.

1.3.1 Comando Vermelho – CV

O comando vermelho, é a mais antiga facção criminosa existente no Brasil, e de acordo com Silva (2011), foi fruto de uma união entre presos políticos e presos comuns.

nasceu no Rio de Janeiro entre final dos anos 70 e começo de 80, no Instituto Penal Cândido Mendes, o qual era denominado “Caldeirão do Diabo”, onde os detentos políticos, instigados por certas convicções de extrema esquerda, ficavam confinados com criminosos comuns, isto é, através desse contato com os demais prisioneiros e o aumento da criminalidade veio por ser doutrinada com formas de organização sobre determinados comportamentos, atitudes e formas de agir dos presos políticos.

A par disso, Amorim (2011), em sua obra revela que a formação do Comando Vermelho seria resultante do descontentamento pela forma opressiva e desumana como os próprios presos naquele estabelecimento penal eram tratados pelos militares, uma vez que o acontecimento foi em pleno regime militar.

As grades têm a ferrugem das décadas. E muitos lugares ainda exibem cicatrizes das incontáveis rebeliões e incêndios. O Cândido Mendes tem segredos: mortes violentas, estupros, o preso contra o preso, a guarda contra todos. Porque essa é uma cadeia de muitos horrores. É a mais pobre de todo o sistema carcerário do Estado do

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Rio. Faltam comida, colchões, uniforme para os presos, cobertores para um inverno de ventos frios que vêm do mar. Faltam armas e munições para os soldados - e é comum que eles mesmos as comprem em caráter particular. Papel higiênico, aqui, é coisa que nunca se ouviu falar. A cadeia, construída para abrigar 540 presos, esta superlotada. Os 1.284 homens encarcerados ali no ano de 1979 se vestem como mendigos. Lutam por um prato extra de comida. Disputam a facadas um maço de cigarros ou uma “bagana”de maconha. Cocaína e armas de fogo podem ser a razão para um motim[…] (AMORIM, 2011, p. 50).

Em sua obra, (Porto, p. 99), traz que o comando vermelho se originou da seguinte forma:

Criado em 1920, o Presidio de ilha Grande destinava-se a presos idoso, em fase terminal de cumprimento de pena. A partir de 1960, o presidio se transforma em um depósito de presos, dividindo o mesmo espaço criminosos comuns e os denominados presos políticos. O estabelecimento, construído para abrigar 540 presos, em 1979, contava com 1.284 homens. O resultado óbvio: a convivência entre militantes de esquerda e criminosos, enfrentando um sistema penal desumano, acabou gerando o comando vermelho.

Principalmente ligada ao tráfico de drogas em grande quantidade, o Comando Vermelho pratica a ação seletiva, ou seja, age em 3 frentes, o tráfico de entorpecentes, contrabando de armas e sequestros.

Afirma (Porto, p. 101) sobre a principal forma de atuação do Comando Vermelho.

Nos últimos vinte anos, o Brasil tem sido utilizado como rota necessária da droga (cocaína e maconha) que é produzida na Colômbia, posteriormente distribuída na Europa e na África. Da Colômbia, geralmente o entorpecente passa pela Bolívia e ingressa no brasil através da divisa da cidade de Porto Suarez, ligada a cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. De lá, a droga segue por via aérea para as grandes capitais do país, ou através da Rodovia BR-262. Outra alternativa utilizada para o ingresso da droga no Brasil são as cidades de Tabatinga e Vila Bitencourt, na fronteira do Amazonas com a Colômbia, bem como a cidade brasileira de Benjamin Constant, na fronteira do Peru com o estado do Amazonas. O Comando Vermelho nesse cenário, exerce papel fundamental, já que reconhecidamente associado as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs), através de seu maior expoente, o fornecedor Luiz Fernando da Costa, o Fernadinho Beira-mar.

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Na segundo metade de 2002, a polícia paulista prendeu o que considera o estatuto do Comando Vermelho.

O CONSELHO DO

COMANDO VERMELHO ORGANIZAÇÃO FUNDADA EM 1979 NO PRESÍDIO DA ILHA GRANDE NO RJ COM O INTUITO DE COMBATE A OPRESSÃO LUTA PELO PROGRESSO E LIBERDADE POSSA A REGREDIR AS REGRAS CRUCIAIS PARA O BOM FUNCIONAMENTO DE NOSSA ORGANIZAÇÃO.

Art 1:No lema do princípio de paz , justiça e Liberdade , significa que o respeito de todas as lutas somos também de paz , porém jamais fugiremos das guerra quando ela se fizer necessária[…]

1.3.2 Primeiro Comando da Capital - PCC.

Nascida nos ano de 1993, o PCC, é a mais fortes e organizada facção criminosa do país, de acordo com (Porto, p. 86):

A facção criminosa denominada Primeiro Comando da Capital (PCC), nasceu na casa de Custódia e Tratamento “Dr. Arnaldo Amado Ferreira” de Taubaté, em agosto de 1993. Originalmente, O Primeiro Comando da Capital era o nome de um time de futebol que disputava o campeonato interno do presidio de Taubaté, na época estabelecimento apelidado de “piranhão” ou “masmorra”, por ser considerado o mais severo do sistema. Os detentos da Casa de Custódia tomavam banho de sol apenas uma hora por dia, ao lado de um pequeno grupo de encarcerados, no máximo dez. Todos permaneciam em celas individuais, sem visitas intimas. Consta que ao chegar a final do campeonato, o time Primeiro Comando da Capital, integrado pelos presos denominados fundadores José Marcio Felício, o Geleião, Cezar Augusto Roriz, O Cezinha, José Eduardo Moura da Silva, o Bandeijão, Idemir Carlos Ambrosio, o Sombra, dentre outros, resolveu em vez de jogar futebol, acertar as contas com dois integrantes do time adversário, resultando na morte destes presos. Deste ato, que tomou contorno de reivindicação contra as precárias condições do sistema prisional, se originou a facção criminosa. Ainda de acordo com (Porto, p. 88), o PPC teve seu apogeu no ano de 2011.

O apogeu desta facção criminosa adveio quando ocorreu a maior rebelião prisional da qual se tem notícias no mundo, a chamada “Megarrebelião”, em 18 de fevereiro de 2001, tal rebelião envolveu 29 presídios com ações simultâneas. O governo estima em 28 mil o número de rebelados reunidos pelo Primeiro Comando da Capital, em 19 municípios. Conforme sustentado pelo jornalista Alexandre Silva,

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para se ter uma ideia da dimensão do ato, a polícia civil de São Paulo, no mesmo dia era formada por 35 mil homens.

A par disso, estima-se que nos dias atuais, cerca de 15 mil integrantes fazem parte do PCC, apenas no estado de São Paulo, distribuídos em 117 unidades prisionais.

Como exposto anteriormente, o PCC não se limita apenas ao território paulista, com a transferência de seus líderes para outros estados, houve um crescimento e uma solidificação, de alianças, que resultaram em uma estrutura nacional, com isso passou por uma grande mudança ideológica, como afirma (Porto, p. 89).

A nova liderança do Primeiro Comando da Capital, hoje centrada na figura de Marcos Willians Camacho, o “Marcolla”, deu contornos políticos a organização criminosa, tendo inclusive plano de utilizar a nomenclatura inicial com outro significado, agora o “Partido da Comunidade Carcerária”. Essas lideranças agem como doutrinadores, citam Lamarca, Che Guevara e Mariguela com desenvoltura. Segundo levantamento realizado pela Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, “Marcolla” obteve acesso, nos últimos 11 anos, a mais de 2.000 livros.

No ano de 1997, o “estatuto do Primeiro Comando da Capital foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, por meio de um requerimento encaminhado pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa, a qual discutia as condições dos presídios paulistas, ficando assim conhecido por todos.

No ano de 2013, o periódico Estadão, com sede em São Paulo/SP, publicou um organograma completo, mostrando o quão a facção paulista é organizada, revelando sua hierarquia, estrutura e planejamento.

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Fonte: Estadão (2013).

1.3.3 Familia do norte – FDN.

Considerada por todos como a terceira maior força entre todas facções brasileiras, a Família do Norte ou FDN nasceu dentro dos estabelecimentos penais, do Norte brasileiro.

A Família é resultado da união de dois grandes traficantes, Gelson Lima Carnaúba, o Gê, e José Roberto Fernandes Barbosa, o Pertuba. Segundo a PF, após passarem uma temporada cumprindo pena em presídios federais, os dois retornaram para Manaus, em 2006, determinados a se estruturarem como uma facção criminosa. Embora seja aliada do CV, a FDN nunca aceitou ser subordinada a nenhuma outra organização. No inquérito que deu origem à La Muralla, os investigadores perceberam que o PCC estava “batizando” criminosos amazonenses de modo a aumentar a presença no Estado. Essa ação desagradou a FDN, que ordenou a morte de três traficantes ligados à facção paulista. À época, CV e PCC eram aliados e mantinham

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negócios juntos, e a FDN estava fragilizada pela Operação La Muralla. Cerca de um ano após iniciar a perseguição ao PCC, e agora com o apoio do CV, a FDN pôs em prática o plano de acabar com a facção paulista no Amazonas. (HISAYASU; SERAPIÃO; GRELLET, 2017).

Estima-se que esta facção possua treze mil membros aproximadamente, favorecida geograficamente, controla o comercio ilícito de drogas nos estados do norte do país e domina a rota de entrada de entorpecentes nas fronteiras com a Colombia, Peru, e Bolivia, tendo como seu principal Líder criminoso mais conhecido pela alcunha de "zé Roberto da compensa” (PUJOL, 2017).

1.4 O Estado no combate as facções.

É sobremodo importante assinalar que as facções criminosas são um dos problemas mais críticos e desafiadores a ser atacado pelo Estado, pelo fato de que todas as pessoas, independente da classe ou cor, são afetadas por ela.

Nao podendo mais fugir desse pesadelo que são as organizações criminosas, o Estado teve que dar uma resposta a sociedade, buscar formas de conter o avanço dessas empresas do mal, tiveram que buscar medidas, e desenvolver ações afim de apresentar uma dificuldade perante essas facções criminosas.

1.4.1 Mecanismo de combate e prevenção ao crime organizado.

Em linhas gerais, ficou claramente comprovado que o crime organizado se trata de um acontecimento universal, motivo qual faz com que o Estado, principal órgão no controle dessas organizações, crie diferentes meios no combate a esse seguimento.

1.4.1.1 Grupos de força-tarefa.

Guiada no padrão norte-americano na luta contra o crime organizado, o Brasil começou a utilizar a tática de grupos de força-tarefa, somando energia no combate as organizações criminosas.

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Mendroni (2002, p. 30-31) nos traz mais detalhadamente sobre como é esse modo, no combate ao crime organizado.

Força tarefa não é mais do que uma forca conjunta, união de esforços, uma reunião de grupo de trabalho que tem suas diretrizes preestabelecidas e organizadas, assim como o crime organizado, ela deve ser organizada. De forma a combater um problema pontual. Então, quando se constata dentro de uma determinada região um problema crônico de criminalidade, seja ele de corrupção, seja de entorpecentes ou de qualquer outro tipo de criminalidade, notadamente organizada, então nada mais é do que unir esforços entre os órgãos para que atuem na persecução criminal de forma a poder combater, estrategicamente, e unir esforços. Nos Estados Unidos, normalmente integram grupos de Força-Tarefa todas as Policias com atribuições locais e agências federais: a) as policias municipais; b) as policias do condado; c) as policias estaduais; d) e ainda as chamadas agências Federais, como FBI, DEA, US-Customs, US-Marshals, IRIS, etc. Estas ultimas, por terem maior poder legal e econômico, normalmente mantem a gerencia dos grupos integrantes […].

É importante esclarecer que a criação dos grupos de força-tarefa se dá de maneira formal, expressa, por meio de um acordo escrito, com inicio e fim determinado, podendo ser estendido ou até mesmo informal.(MENDRONI, 2002, p.31-32).

Nesse sentido, podemos citar ao longo dos anos inúmeras Forças-Tarefas no combate ao crime organizado, entre elas o Decreto Presidencial Nº 9.527, de 15 de outubro de 2018.

DECRETO Nº 9.527, de 15 de Outubro de 2018.

Cria a Força-Tarefa de Inteligência para o enfrentamento ao crime organizado do Brasil.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput , inciso VI, alínea “a”, da Constituição,

DECRETA :

Art. 1º Fica criada a Força-Tarefa de Inteligência para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil com as competências de analisar e compartilhar dados e de produzir relatórios de inteligência com vistas a subsidiar a elaboração de políticas públicas e a ação governamental no enfrentamento a organizações criminosas que afrontam o Estado brasileiro e as suas instituições.[…]

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1.4.1.2 Da ação controlada

Levando em conta outro importante mecanismo na guerra contra o crime organizado, a ação controlada tem a finalidade de aguardar a ocasião mais adequada para que as forças policiais atue na inibição ao crime organizado, valoroso método instituto pela Lei, nº 9.034/95 (MENDRONI, 2002, p. 63-64).

Contudo, a Lei n 9.034/95 foi revogada por meio da Lei nº 12.850/13, a qual trouxe mudança sobre esse importante mecanismo.

Art. 8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.

§ 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público. § 2º A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetuada. § 3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.

§ 4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação controlada.(BRASIL, Lei nº 12.850/2013).

1.4.1.3 Da delação premiada.

Predita no ordenamento jurídico brasileiro, é mais uma das formas de combate ao crime organizado.

Interessante se faz mostrar a definição sobre esse importante tema.

A delação premiada se consiste em um instrumento de prova pelo qual o investigado, denunciado ou ainda réu condenado, contribuem com a investigação ao prestar suas declarações, identificando os demais coautores participantes e revelando a estrutura hierárquica da organização criminosa prevendo futuras inflações penais, recuperando de forma total ou ainda parcial os frutos de delitos praticados em função da organização ou ainda a localização de

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eventual vitima , tudo isso a im de obter benefícios processuais. (GUSTAVO, 2015)

1.4.1.4 Regime disciplinar diferenciado (RDD).

Presente no brasil desde 2003, tendo como características principal, o isolamento do preso (provisório ou condenado), ou seja procura-se limitar, restringir a comunicação dele com com o mundo exterior, na forma de que o preso submetido a esse regime ficará em cela individual, seu banho de sol será de apenas duas horas diárias, sem contato com outros presos, não podendo se comunicar. O mesmo não vê televisão, não escuta rádio, ficando absolutamente isolado. Possui direito a duas visitas por semana.

Esse sistema possui dois modos de RDDs, o punitivo e o cautelar, o primeiro se enquadra aos presos que cometeram uma falta grave ou crime doloso e esse crime implique em subversão da ordem e coloque em risco o próprio estabelecimento penal ou a sociedade.

Ja no segundo, é quando o preso representa por si só um perigo acentuado a sociedade ou a ordem dentro do estabelecimento penal, isto é, por exemplo, quando o detento é considerado de alta periculosidade, ou quando há fundadas suspeitas de que o mesmo estava envolvido com o crime organizado.

Sobre o efeito dessa pena, Porto (2008, p. 66) traz o seguinte comentário.

O efeito prático do isolamento dos lideres de facção criminosas propiciado pelo regime disciplinar diferenciado foi devastador para a criminalidade organizada. Com a falta de contato com os lideres, importantes integrantes, alguns dele fundadores dessas facções, foram destituídos de seus comandos, causando a desestruturação destes grupos criminosos. Às criticas a rigidez deste regime não tardaram a aparecer. Sustentam alguns que o rigor no cumprimento da pena não ressocializa o preso, pelo contrario. A solução estaria no abrandamento do regime , na aplicação de sanções restritivas de direitos, de modo a propiciar ao sentenciado o cumprimento de sua privação de liberdade pelo menor período possível. Outros sustentam ainda que o regime disciplinar diferenciado fere os princípios da igualdade e proporcionalidade, ja que trata de forma desigual indivíduos sentenciados quantitativamente do mesmo modo. Por fim

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ainda sustentam que o regime disciplinar diferenciado nao é compatível com o principio da humanidade das penas.

Ainda sobre o RDD, podemos mencionar.

a) quando a prática de fato previsto como crime doloso ocasione a subversão da ordem ou disciplina interna; b)para presos nacionais ou estrangeiros que apresentem alto risco para a ordem e a segurança dos estabelecimentos penal ou a sociedade; c) para o acusado em que recaiam pesadas suspeitas de envolvimento ou participação a qualquer titulo, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. O novo regime inserido dentro do fechado, deve ser cumprido em total isolamento, devendo haver nos presídios equipamentos de bloqueio de comunicação por telefone celular e outros aparelhos, alem de detectores de metais para a submissão de qualquer pessoa que queira ingressar no estabelecimento, seja ocupante de cargo publico ou nao. O regime disciplinar diferenciado é, em tese, caracterizado pela pelo seguinte: a) duração máxima de 360 dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; b) recolhimento em cela individual; c) visitas semanais de duas pessoas, sem contar crianças, com duração de duas horas; d) direito de saída de cela para banho de sol por duas horas diárias.

Até o momento, pode-se concluir que o regime disciplinar tem demonstrado eficaz na luta contra o crime organizado no inteiro dos presídios, pois de certa forma, contribui, inclusive, no reconhecimento de chefe e membros de organizações criminosas (PORTO, 2008, p. 71).

1.4.1.5 Dos agentes infiltrados

Para que possamos entender melhor sobre o tema, (Feitoza 2009, p. 820) nos traz a seguinte definição sobre infiltração.

Infiltração é a introdução de agente público, dissimuladamente quanto à finalidade investigativa (provas e informações) e/ou operacional (“dado negado” ou de difícil acesso) em quadrilha, bando, organização criminosa ou associação criminosa ou, ainda, em determinadas hipóteses (como crimes de drogas), no âmbito social, profissional ou criminoso do suposto autor de crime, a fim de obter provas que possibilitem, eficazmente, prevenir, detectar, reprimir ou, enfim, combater a atividade criminosa deles.

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Oportuno se torna a dizer que, de acordo com (Mendroni 2002, p. 69-70), o método destinado a enfrentar as organizações criminosas “consiste basicamente em permitir a um agente da polícia ou de serviço de inteligência infiltrar-se no seio da organização criminosa, passando a integrá-lo como se criminoso fosse, na verdade como se um novo integrante fosse”.

1.5 Avanço legislativo

Com o avanço das organizações criminosas, vieram também as preocupações, pois, na legislação brasileira, não havia nada nada exclusivo a respeito quanto ao combate as facções criminosas, foi então que entrou a Lei. nº 9.035 de 95, tida como ponto de partida ao enfrentamento ao crime organizado.

Após a criação dessa Lei, viram que só ela não seria suficiente no combate as organizações criminosas, pois estas, evoluíam de forma muito rápido, foi então que começaram a criar novas leis, para que não tivesse uma defasagem muito grande entre os crimes cometidos, e o que se encontra nas leis brasileira.

1.5.1 Lei nº 9.034/95.

A referida lei trouxe técnicas investigativas no combate ao crime organizado, como se pode observar nos seus primeiros artigos, embora tenha sido revogada alguns anos depois de sua publicação. Da Definição de Ação Praticada por Organizações Criminosas e dos Meios Operacionais de Investigação e Prova

Art. 1º Esta lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versarem sobre crime resultante de ações de quadrilha ou bando.

Art. 1o Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo. (Redação dada pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)

Art 2º Em qualquer fase de persecução criminal que verse sobre ação praticada por organizações criminosas são permitidos, além dos já previstos na lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas:

Art. 2o Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de

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investigação e formação de provas: (Redação dada pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)

I - (Vetado).

II - a ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que se supõe ação praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz do ponto de vista da formação de provas e fornecimento de informações; III - o acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais.

IV – a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, e o seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial; (Inciso incluído pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)

V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada autorização judicial. (Inciso incluído pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)

Parágrafo único. A autorização judicial será estritamente sigilosa e permanecerá nesta condição enquanto perdurar a infiltração. (Parágrafo incluído pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001) (Brasil, Lei nº 9.034/95, 2019).

Contudo, apesar de sua importância histórica, o mencionado dispositivo legal, recebeu várias críticas, uma vez que não apresentou um conceito de organização criminosa, e provoca questionamentos, se a Lei seria direcionada somente a crimes praticados pelas quadrilhas ou bandos ou poderia ser aplicada no combate à criminalidade organizada (SANTOS, 2014).

1.5.2 Lei nº 10.217/01.

Até o inicio do mês de abril de 2001, a Lei nº 9.034/95 era a única norma que tratava a respeito de organização criminosas no Pais, contudo, no mesmo mês e ano, foi introduzida em nosso sistema normativo a Lei nº 10.217/01 - a qual alterou os primeiros artigos da antiga legislação, bem como, inseriu novos métodos de investigação , dispostos nos incisos IV e V, do art. 2º (GOMES, 2002).

Por outro lado, mesmo com a chegada da nova Legislação, esta ainda não oferecia uma definição de organização criminosa.

Art. 1o Os arts. 1o e 2o da Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995, passam a vigorar com as seguintes alterações:

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"Art. 1o Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo." (NR)

"Art. 2o Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas: (NR)

... IV – a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, e o seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial;

V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada autorização judicial.

Parágrafo único. A autorização judicial será estritamente sigilosa e permanecerá nesta condição enquanto perdurar a infiltração.”(BRASIL, Lei nº10.217/01, 2019).

1.5.3 Convenção de Palermo.

Por conta do progresso e do desenvolvimento das condutas criminosas, a (ONU) organizações das nações unidas publicou uma convenção norteada ao enfrentamento das organizações criminosas - a qual é mais conhecida por Convenção de Palermo, que apresenta meios de combate aos delitos cometidos, alem das divisas nacionais, cabendo as nações subscritoras criar mecanismos internos que possibilitem ações contra a criminalidade organizada. (SOUSA, 2015, p. 34).

Nessa continuidade, em sua obra “crime organizado e infiltração policial: parâmetros para validação da prova colhida no combate às organizações criminosas”, Mallon Sousa (2015, p. 15-16) nos apresenta mais sobre a convenção.

Justamente, em razão dessa nova roupagem da criminalidade contemporânea, os tipos penais então existentes nos mais diversos ordenamentos jurídicos e os meios tradicionais de obtenção de prova não são mais aptos à solução das mais variadas formas de lesão aos direitos do individuo, sem esquecer inúmeros prejuízos causados à coletividade. Nesse cenário desfavorável, no qual a macrocriminalidade ultrapassa as fronteiras dos diversos países do globo, a atuação ajustada das nações soberanas rumo ao combate efetivo do crime organizado é essencial, cujos esforços deveriam convergir senão para uma unificação de tratamento, ao menos para estabelecerem standards gerais de enfrentamento da questão, através dos tratados internacionais, para posteriormente, fazer a correspondente adequação na legislação interna de cada nação.

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Assim em um contexto sedento por respostas, após diversas rodadas de discussão na Organizações das Nações Unidas (ONU), na tentativa de se criar instrumentos habeis ao combate à criminalidade organizada, foram definidos alguns conceitos quanto ao fenômeno do crime organizado, bem como, estabelecidas medidas para serem utilizadas durante a instrução processual penal, denominada pela Convenção de Palermo como técnicas especiais deinvestigação. Criada no ano de 2000 e assinada por diversos países, inclusive o Brasil, porem, só adentrou no nosso ordenamento jurídico no ano de 2004, após se tornar signatário, através do Decreto nº 5.015/04 (MARTINS, 2018).

Desse modo, podemos dizer que a convenção de Palermo impulsionou uma politica, um pensamento no combate ao crime organizado.

1.5.4 Lei nº 12.694/2012.

Apenas no ano de 2012, com a entrada dessa Lei, o Brasil passou a a ter um definição legitíma sobre organização criminosa, ao usar o entendimento exposto na Convenção de Palermo. No entanto, como a convenção não possui procedência no sistema legislativo, o Supremo Tribunal Federal alegou inconstitucionalidade do tratado. Diante desse fato, o novo legislador editou a Lei nº 12.694/12 - primeira legislação a conceituar organização criminosa (KUIAWINSKI, 2018).

Além disso, a lei estabeleceu o processo e o julgamento colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por essa organização.

Art. 1º Em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente:

I - decretação de prisão ou de medidas assecuratórias;

II - concessão de liberdade provisória ou revogação de prisão; III - sentença;

IV - progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena; V - concessão de liberdade condicional;

VI - transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança máxima; e

VII - inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado. […]

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada

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e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional.

Apesar de trazer melhoras e mostrar inovações, deixou a desejar no sentido de expressar a discricionariedade do magistrado a quo, o qual pode deliberar pela constituição de colegiado para a realização de quaisquer ações processuais, uma vez que tal decisão é arriscada pois a decisão monocrática esta sujeita a falhas e vícios (ARAUJO, 2012, grifo nosso).

1.5.5 Lei nº 12.850/2013

Com a intuito de introduzir em nosso ordenamento jurídico uma noção concreta de organização criminosa, bem como, de dar novos meios à investigação criminal, nos meios de alcance de provas, delitos penais análogos e o procedimento criminal, a nova Lei trouxe mudança ao Código Penal, e aboliu expressamente a Lei nº 9.034/95.

Com essas mudanças, podemos dizer que a nova legislação trouxe a definição sobre organizações criminosas o que ocasionou algumas mudanças em relação a Lei editada no ano anterior sobre o mesmo tema, conforme se observa em seu primeiro dispositivo legal.

Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.

§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

Ao se analisar o conceito existente nas duas ultimas legislações, constatam-se as diferenças existentes entre ambas. A primeira esta relacionada à quantidade de participantes, pois enquanto na Lei nº 12.694/12 estava prevista a participação de três ou mais pessoas, na nova, estabeleceu o número de quatro ou mais pessoas, bem

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como alterou a nomenclatura de crime para infração penal, uma vez que essa ultima é mais ampla. Outra modificação se deu com relação a base da pena máxima, que ficou estabelecida em quatro anos, enquanto que na anterior, era acima desse número (MENDRONI, 2015, p. 14).

Com a publicação da Lei, ficou para trás o impasse referente ao conceito de organização criminosa. Nesse sentido, é importante descrever as características fundamentais dispostas pela nova Lei, as quais são fundamentais para conceituar organização criminosas, ou seja, o grande números de agentes; separação de tarefas; aquisição de qualquer tipo de vantagem; estrutura organizada; imprescindibilidade da prática de crimes cuja punição seja superior a 4 anos ou crimes de natureza transnacional, independente da pena abstrata imposta (SOUSA, 2015, p. 28).

2. A PRESENÇA DAS FACÇÕES CRIMINOSAS NOS ESTABELECIMENTOS PENAIS DO RIO GRANDE DO SUL

Hoje o Rio Grande do Sul vive uma grave crise carcerária, com a superlotação dos presídios, a péssima condição que o Estado proporciona aos seus apenados (esgotos a céu aberto, celas em situações sem nenhuma condição de higiene, sem ventilação, e com instalações elétricas e hidráulicas muito precárias), faz com que as organizações criminosas tomem conta dos estabelecimentos penais, e, a partir de uma detalhada análise da presença das facções criminosas, atuantes dentro e fora dos presídios gaúchos, irei expor nesse segundo capítulo quais as principais organizações criminosas que tomaram conta da criminalidade aqui no Estado.

2.1 Evolução histórica das facções criminosas no Rio Grande do Sul.

Inicialmente, pode-se dizer que o Estado do Rio Grande do Sul é um palco antigo para facções nativas. Foi no ano de 1987 que se teve noticia sobre a primeira organização criminosa gaúcha, denominada de Falange Gaúcha como aborda (Dornelles, 2008, p. 13)

Liderados pelos assaltantes de bancos Vico e pelo traficante carioca - comandante do tráfico de drogas no Morro da Cruz - nove

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presos se amotinaram no Instituto de Biotipologia Criminal (IBC), anexo ao Presidio Central, em Porto Alegre, em 1987, fazendo 31 reféns. No começo da rebelião, um agente penitenciário e um presidiário morreram em um tiroteio. Oito presos conseguiram fugir. O bando que escapou pretendia, a partir dali consolidar um organização criminosa idealizada no inicio daquela década, nos moldes da Falange Vermelha carioca - que acabou dividida entre Comando Vermelho e o Terceiro Comando - e Serpente Negra paulista. Seria uma espécie de federação de quadrilhas. Extraoficialmente, o grupo passou a ser chamado de Falange Gaucha.

A partir disso, com a doutrinação de criminosos pela então Falange Gaucha, foram surgindo outras novas organizações criminosas dentro dos presídios gaúchos, de modo que nos anos 90, nasceram três grupos no Rio Grande do Sul, conhecidos como, Os Manos, Os Abertos, e os Brasas, seguindo o mesmo conceito de outros grupos ja existentes nas penitenciarias brasileiras, sempre com a justificativa de que se organizavam na busca de uma melhorara nas condições carcerárias.Já nos anos 2000, surgiu outros dois grupos, que fugiam um pouco as características dos demais, sendo que pouco visavam as condições do cárcere, mas sim, apenas o lucro no comercio de ilícitos.

A maior e mais organizada facção brasileira também criou raizes no nosso Estado, segundo documentos preparados pelo Ministério Publico (MP) do Estado de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital - PCC também esta presente no estado gaúcho, segundo levantamento, possui, 729 simpatizantes, prova disso, esta em documentos, maioria deles manuscritos, encontrados e apreendidos, na Operação Echelon.

De acordo com Menezes (2018):

A Echelon foi deflagrada em junho pelas Policias Civis do país, a pedido do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Publico de Sao Paulo e abarcou 14 Estados, incluindo o Rio Grande do Sul. Em território gaúcho, foram presos dois criminosos que estariam organizando “células" do PCC: um em Canoas e outro em Caxias do Sul.

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Para se ter uma ideia, com a confirmação desses elementos pelo Ministério Publico paulista, podemos afirmar que em menos de cinco anos, esse grupo cresceu em mais de 10 vezes no Rio Grande do Sul, segundo dados da Polícia Civil gaúcha, em novembro de 2013, haviam mapeado e indiciado 61 suspeitos de ligação com a facção paulista.

Segundo coronel Mario Ikeda, comandante geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, com o número elevado de facções presentes nos estabelecimentos penais gaúcho, quem sofre é toda a população, "Essa disputa é por regiões, por pontos de tráfico de drogas. As facções ficam disputando para aumentar os seus pontos e seus lucros. Isso impacta em toda a sociedade, não só onde existe tráfico de drogas”.

O mesmo ainda afirma que "Nossa estratégia é de reprimir essas quadrilhas. Temos a consciência de que essas facções não vão acabar, porque o consumo da droga não reduz e é isso que dá o lucro para eles. Mas creio que vamos frear os homicídios”

Mario Souza, delegado de policia e diretor de investigação do Denarc/ RS afirma que a disputa entre esses grupos criminosos "É um confronto diferente do que costumamos encontrar em guerras do tráfico. Não é uma disputa por pontos, mas uma batalha para mostrar quem tem mais poder. A meta é atingir o rival e enfraquecê-lo.”

É sobremodo importante assinalar, que segundo dados da vara de execuções penais do estado, em 2018, a população carceraria gaúcha, ultrapassava os 40.000 presidiários, como se nota, o deficit é de aproximadamente 12.000 vagas, fazendo com que os presídios, que na verdade deveriam fornecer uma reabilitação ao agente que cometeu um fato delituoso, simplesmente acabam os tornando ainda mais perigosos, isto é, graduados no mundo do crime.

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Alexandre Pacheco, juiz substituto da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Porto Alegre, mostra sua preocupação com o aumento do número de preso e o inerte número de vagas, pensando em soluções alternativas para punir o aprisionado.

A gente se preocupa com o avanço no número de presos ao mesmo tempo em que não são disponibilizadas novas vagas no sistema. O aumento do déficit pode fazer com que sejam escolhidos presos para a concessão de prisão domiciliar, por exemplo. O Estado não tem condições econômicas para a construção constante de presídios e penitenciárias, então, é preciso buscar alternativas penais, como o uso de tornozeleiras eletrônicas.

No ano de 2017, mais precisamente no dia 14 de março, juízes das varas de execuções criminais do estado do Rio Grande do Sul, estiveram juntos para debater a elevada taxa de encarceramento, a escassez de vagas nos estabelecimentos penais, e a ineficiência da pena de prisão, e a partir disso, mostraram suas inquietações, com a grave crise, que está visivelmente presente no sistema penitenciário gaúcho, expondo suas preocupações em forma de uma carta.

Em um dos trechos dessas mensagens, podemos ver claramente o quão crítica se encontra a situação carcerária do Estado gaúcho.

"Os presídios do Estado, em maioria, estão superlotados, com taxas de ocupações de presos muito acima da capacidade de engenharia. Os efeitos da superlotação, somados à ineficiência do Estado, implicam não somente a violação de direitos das pessoas privadas de liberdade, mas também o fortalecimento das facções e o aumento da criminalidade e violência." Depois dessas noções preliminares, podemos dizer que está nítida a presença dessas organizações criminosas em solo gaúcho, por inúmeros motivos e fatores, os quais iremos abordar no próximo tópico, de uma forma mais completa, individualizado as principais facções gaúchas, seus líderes, seu territórios, e sua forma operacional entre outras características importantes.

2.2 Principais Facções gaúchas

Com o passar dos anos alguns grupos criminosos que anos atrás, foram de extrema importância para o desenvolvimento do crime organizado no Rio grande do

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Sul, foram perdendo espaço no cenário gaucho, até desaparecerem definitivamente, são eles, Falange Gaúcha e Os Brasas.

Já, ativos podemos citar quatro principais grupos criminosos, que têm sua principal região de atuação na grande Porto Alegre, onde, por exemplo, dos 83 bairros da capital gaúcha, 38 são dominados por facões criminosas, o que afeta a vida de cerca de 900.000 pessoas aproximadamente. Apenas no ano de 2016, as facções gaúchas tiveram participações em 75 % dos assassinatos naquela região, segundo uma pesquisa feita pela editoria de segurança do grupo RBS.

Mapa da Facçoes – Porto Alegre.

Fonte: Zero Hora

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Pioneira entre facções Estado, a Falange Gaúcha nasceu no fim da década de 80 e foi de extrema importância no contexto histórico do crime organizado no Rio Grande do Sul.

Em sua obra, (DORNELLES, 2008, p. 13) traz importantes considerações a respeito desse grupo criminoso, sustentando que foi a partir de um motim junto a um prédio anexo ao Presidio Central, no ano de 1897, que presos ao escaparem do Instituto de Biotipologia Criminal, formariam então uma espécie de federação de quadrilhas, passando a ser chamado de Falange Gaúcha.

Na sequência daquele motim, no entanto, motivados por rixas e intrigas, os integrantes da Falange passaram a disputar o poder. Em consequência disso, muitos foram mortos por encomenda. Diante disso, a facção foi se dividindo e por fim se acabando, sendo então formados novos grupos criminosos.

2.2.2 Os Manos

Nasceu dentro do presidio central, hoje cadeia pública de Porto Alegre, criada nos anos 90, com o mesmo propósito, de PCC e CV, de melhorar a condição do preso dentro dos estabelecimentos penais, teve ícones do crime gaúcho em sua frente, como o criminoso mais conhecido do estado, morto em 2005, Dilonei Francisco Melara, e Paulo Márcio da Silva Duarte, mais conhecido como Maradona.

Uma reportagem do jornal Zero Hora do dia 13/02/2016 nos apresenta dois breves relatos sobre o inicio da vida criminosa de Melara.

Agricultor durante a adolescência em São José do Ouro, Melara entrara para a vida do crime no fim dos anos 70, em Caxias do Sul. Em 1985, tornou-se famoso ao matar dois agentes penitenciários para resgatar um comparsa. Protagonizou a primeira fuga da Penitenciária de Charqueadas, até então inexpugnável.

Melara se tornou líder e símbolo da criminalidade entre os anos de 1994 e 1995, conseguindo unir os presos e formar a primeira facção gaúcha.

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As proezas criminosas de Melara não pararam por aí. Foi o primeiro a conseguir organizar os criminosos nas prisões gaúchas, com a criação da facção Os Manos. E foi nessa condição que ele liderou o maior motim do Estado, que culminou com a invasão do Hotel Plaza São Rafael, em 1994. Com o seu grupo mantendo a hegemonia nas prisões, Melara provocou uma rotina de mortes, revoltas e motins. Suas ações geraram reações como a entrega da administração do Presídio Central para a Brigada Militar, em 1995. Por tudo o que significou, Melara tornou-se emblemático dentro do sistema. Sua morte até hoje não foi desvendada. Mas ela foi decisiva para mudanças ocorridas a partir de então, inclusive para o crescimento do crime organizado, dentro e fora das prisões.

Já Paulo Marcio da Silva Duarte entrou para o mundo do crime no ano de 1997, com a prática de assaltos, no ano de 2004, ao trocar tiros com seu desafeto, em São Leopoldo, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, uma bala perdida atingiu e matou uma criança de quatros anos, foi então julgado e condenado a mais de 40 anos de prisão.

No ano de 2005 foi atribuída a ele a morte do então líder e criador da facção, a qual era membro. Melara foi morto, com requintes de crueldade, com múltiplos tiros disparados contra seu rosto em uma tranquila área rural no município de Dois Irmãos, distante cerca de 60 km de Porto Alegre, apesar da policia acreditar que Maradona foi o mandante do crime, o mesmo não foi indiciado por falta de provas.

De acordo com Dornelles (2017), a morte de Melara fez com que Maradona assumisse o controle da facção criminosa.

Com a morte de Melara, Maradona foi alçado ao comando da facção. Em 2006 e em 2011, preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), foi flagrado em escutas telefônicas ordenando assassinatos, comandando o tráfico, organizando lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

Referências

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