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EVOLUÇÃO HISTÓRICO-LEGISLATIVA DOS EXAMES EM CONTEXTO

CAPÍTULO 3. QUADRO HISTÓRICO E LEGISLATIVO DA AVALIAÇÃO NO

3.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICO-LEGISLATIVA DOS EXAMES EM CONTEXTO

O desenvolvimento e evolução que tem ocorrido mais recentemente no sistema

educativo português está claramente vinculado à alteração de regime politico em 1974 e pelas consequências que o restaurar da democracia e o posterior processo histórico provocaram nos mais variados setores da vida social. Em 1976, com a Constituição da República Portuguesa foram introduzidos novos princípios orientadores da política educativa portuguesa, a reforma Veiga Simão tornou-se perfeitamente desfasada, que representava o último regime jurídico da educação durante a vigência do Estado Novo. Desta forma e no culminar de dez anos de debate intenso, surge a 14 de Outubro de 1986, a Lei nº 46/86 – Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE). Em termos avaliativos assistiu-se à introdução das provas específicas para acesso ao ensino superior e à instituição da realização de provas globais e/ou exames nacionais. A LBSE marcou a transformação na qual está alicerçada e se desenvolve muito do que é atualmente os contornos em termos de educação em Portugal.

Em toda a história subjacente ao ensino e às políticas educativas, existe um denominador comum que detém uma importância preponderante, os exames. Desde há pelo menos 2500 anos que parece ser conhecido a existência da realização de exames,

nomeadamente na China. Estes funcionavam como mecanismo de seleção de militares e funcionários públicos. Na Europa terão sido os jesuítas a inserir os exames no séc. XVI. Já nos Estados Unidos, após se ter iniciado a sua utilização em Boston, em 1845, foram introduzidos em 1883, também como modo de seleção de funcionários governativos (Kellaghan & Madaus, 2003). Voltando à Europa, no séc. XIX, foram as universidades a desempenhar um papel de relevo, na utilização em massa dos exames, como forma de seleção dos seus alunos. Foi o que acabou por acontecer na Alemanha, França e Reino Unido.

Keeves (1994) e Kellaghan e Madaus (2003) referem que, neste momento, em quase todos os países do mundo existe um determinado sistema de exames. Destacam ainda, que estão a ser inseridos exames no final do ensino secundário, em países que não detinham um historial de utilização de exames, como é o caso de muitos países da antiga União Soviética e da Europa Oriental.

Em Portugal, segundo Fernandes (2005) é de principal importância o ano de 1836, que marca a criação e instalação dos liceus, tendo como suporte um plano sistematizado dos contornos curriculares, pedagógicos e administrativos, dos estudos secundários. Em 1860, através do regulamento geral dos liceus, passou a existir, em todo o país, um ensino secundário baseado em fundamentos uniformes, pese embora os exames não o fossem, uma vez que os seus conteúdos eram definidos pelos Conselhos dos liceus. Havia, portanto, entre os liceus, várias diferenças ao nível dos processos e critérios de avaliação utilizados (Adão, 1982).

A reforma de João Franco e Jaime Moniz (1895-1905) vem ―apaziguar‖ alguma desorientação que entretanto a educação enfrentava, no final do século XIX. Essa reforma fez com que surgisse regulamentação para o funcionamento do ensino secundário, concretamente no que diz respeito aos exames, embora não existisse ainda um sistema de exames nacionais único e direcionado para todos os alunos (Fernandes, 2005).

Um sistema de exames nacionais uniforme é instaurado em 1930, através do Decreto- Lei 18884 de 27 de Setembro de 1930, onde formalmente é entendida uma avaliação externa correta e rigorosa, onde se instituiu o regime de anonimato dos alunos, a diminuição da ponderação das provas orais, a separação de funções entre professor e examinador e conceção de provas com uma orientação mais vincada para a avaliação da inteligência em detrimento da resultante da memória (Fernandes, 2005).

Em 1944 abandona-se o regime criado em 1930, em virtude de ter havido suspeição sobre os professores com a instituição do anonimato dos alunos e com o apagamento dos professores em todo o processo (Nóvoa, 2005) e ainda pelo excessivo número de reprovações, que, inclusivamente, superou, pela primeira vez, o número de aprovações, no ano letivo de 1940/41 (Ó, 2003).

Durante quase todo o período do Estado Novo, os exames do ensino primário eram de cariz local, sendo os seus conteúdos elaborados por inspetores de distrito e enviados aos presidentes de júri, de forma cuidadosa, em sobrescritos lacrados e posteriormente remetidos para a delegação escolar de cada concelho (Mónica, 1978). Nessa altura, os exames tinham como funções: o controlo; a certificação da escolaridade obrigatória e a seleção efetuada na admissão ao ensino secundário. Desta forma Mónica (1978) refere que:

os exames agiam como um dos mais importantes instrumentos de controlo das autoridades sobre o conteúdo escolar, E, de facto, revelavam-se eficazes, visto dependerem deles não apenas o futuro dos alunos, como as carreiras dos professores. Nem o professor mais progressivo podia esquecer que a sua competência seria avaliada pelo número de alunos que ‗apresentasse‘ com êxito a exame. (p.330)

Em 1947, surge o Decreto-Lei nº 36507 de 17 de Setembro, que promulga uma nova reforma do ensino liceal, onde estão previstos pressupostos que tentam assegurar condições inequívocas de justiça e igualdade entre todos os alunos que realizarem exames do ensino liceal. Ficou igualmente estabelecido um sistema de exames nacionais iguais e de cariz obrigatório assente no anonimato da correção, a uniformização do currículo e uma estandartização da administração (Fernandes, 2005). Basicamente, na sua essência, este sistema de exames vigorou durante quase 30 anos, tendo sido mantido até 1974. Nesse ano, o sistema de exames foi extinto e abolido, como refere Fernandes (2005):

As características essenciais deste sistema perduraram até ao início do regime democrático, altura em que o processo de transformação do sistema educativo acabou por conduzir à abolição dos exames. (p.103)

Durante quase vinte anos, no sistema educativo português não existiram exames nem qualquer outro tipo de avaliação externa. Assim e depois desse interregno, na década de 90 e mais concretamente em 1993, foram instituídos pelo Ministério da Educação, exames nacionais no término do ensino secundário, através do Despacho Normativo nº 338/93. As funções consagradas aos exames nacionais seriam as de certificação e seleção no acesso ao ensino superior.

Em relação ao ensino básico, os exames nacionais apenas foram instituídos em 2002 e somente para as disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa a realizar no final do 9º ano de escolaridade. Esses pressupostos ficaram previstos através do Decreto-Lei nº209/2002 mas essa disposição legal somente ficou regulamentada e possibilitando a sua efetiva concretização através do Despacho Normativo nº1/2005.

3.2 O Ensino Secundário no Sistema Educativo Português

O seguinte quadro sintetiza de que forma está organizado o ensino secundário no Sistema Educativo Português:

Quadro 3.1. Organização do Ensino Secundário no Sistema Educativo português1

Tipo de Curso Ano de escolaridade Idade

Científico-humanísticos Tecnológicos Artísticos especializados

Profissionais

10.º, 11.º, 12.º 15-18 anos

Os alunos para poderem aceder a qualquer curso do ensino secundário devem ter terminado com sucesso a escolaridade obrigatória (9ºano) ou possuir qualquer habilitação equivalente devidamente reconhecida.

Como podemos constatar através do quadro 3.1., o ensino secundário está organizado segundo formas diferenciadas, orientadas quer para o prosseguimento de estudos quer para o mundo do trabalho. O currículo dos cursos de nível secundário tem um referencial de três anos letivos (10º, 11º e 12º ano de escolaridade) e compreende quatro tipos de cursos:

- Científico-humanísticos; - Tecnológicos;

- Artísticos especializados; - Profissionais.

Os cursos científico-humanísticos estão vocacionados para o prosseguimento de estudos de nível superior. Os cursos tecnológicos são direcionados a alunos que desejam entrar no mercado de trabalho, permitindo, igualmente, caso assim o entendam, o prosseguimento de estudos em cursos tecnológicos especializados ou no ensino superior. Os cursos artísticos especializados, visam possibilitar uma efetiva formação artística especializada nas áreas de artes visuais, audiovisuais, dança e música, permitindo dessa forma a entrada no mundo do trabalho ou, igualmente, o prosseguimento de estudos em cursos pós - secundários não superiores ou, ainda, no ensino superior. Por fim, os cursos profissionais são destinados a

1 Segundo o Decreto-Lei nº 74/2004, de 26 de Março, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº

24/2006, de 6 de Fevereiro, e pelo Decreto-Lei nº 272/2007, de 26 de Julho, retificado pela Declaração de Rectificação nº84/2007, de 21 de Setembro.

proporcionar a entrada no mundo do trabalho, fornecendo também o prosseguimento de estudos em cursos pós - secundários não superiores ou no ensino superior. Estes cursos encontram-se organizados por módulos em diferentes áreas de formação. Como já foi abordado no capítulo 2, para que os alunos possam concluir qualquer curso de nível secundário, estão sujeitos a uma avaliação sumativa interna e para além dessa avaliação, os alunos dos cursos científico- humanísticos são também submetidos a uma avaliação sumativa externa, através da realização de exames nacionais, em determinadas disciplinas previstas na lei e que foi focado no capítulo anterior. Aos alunos que tenham completado o ensino secundário é atribuído um diploma de estudos secundários enquanto que os cursos tecnológicos, artísticos especializados e profissionais conferem aos alunos um diploma de qualificação profissional de nível 3.