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VALIDADE E FIABILIDADE DOS EXAMES NACIONAIS DO ENSINO

CAPÍTULO 3. QUADRO HISTÓRICO E LEGISLATIVO DA AVALIAÇÃO NO

3.4. VALIDADE E FIABILIDADE DOS EXAMES NACIONAIS DO ENSINO

O impacto que a realização de exames tem em diversas vertentes alerta para a necessidade de se colocarem algumas questões pertinentes, que devem ser consideradas e sujeitas a análise, como é o caso da validade e da fiabilidade dos exames nacionais do ensino secundário.

Segundo Fernandes (2005) quer a validade como a fiabilidade são para a avaliação, duas das suas principais características. A validade de um qualquer instrumento verifica-se se o mesmo avalia realmente tudo para o qual foi concebido. Caso contrário ele poderá induzir em erro e as conclusões que se retiram do mesmo serem completamente defraudadas. Este autor apresenta os tipos de validade mais importantes referentes a testes, que constam do quadro 3.3.

Quadro 3.3. Tipos de validade principais de testes3

A validade de conteúdo é a mais referida na literatura. Vários autores apresentam o conceito de validade interligado ao conceito unitário em que a validade de um teste está sujeitas às analises e interpretações que são efetuadas aos resultados e quais são as consequências subjacentes aos mesmos. (Gipps, 1994; Gronlund & Linn, 1990; Messick, 1995).

Fernandes (2005) revela a sua admiração por este tema considerando-o de extrema importância e que deveria ser sujeita a uma ampla reflexão e discussão. Nesse âmbito, este autor refere que:

a validade de um teste, ou de um exame, não deve estar apenas directamente relacionada com o teste em si mesmo, ou com os resultados que produz, mas também com a interpretação e utilização que se faz desses resultados e com as consequências das decisões avaliativas. Ou seja, é a introdução das questões de natureza ética e social na elaboração de um conceito que era apenas considerado do ponto de vista estritamente psicométrico. (Fernandes, 2005, p.114)

No que diz respeito à fiabilidade, um intrumento é fiável se os seus resultados forem consistentes e sólidos em situações replicáveis e que se podem repetir interpoladamente. Assim, para se verificar a fiabilidade de um teste ou exame terá de se efetuar a quantificação do desempenho dos examinandos, se se mantém estável e se eles efetuaram o exame em situações distintas em tempo e espaço. Quando nos exames está extremamente vincada a função de

Tipo de validade Descrição

Validade de previsão De que forma um teste é de facto um bom registo de futuros desempenhos de quem o resolveu.

Validade de conteúdo De que forma um teste detém uma assinalável amostra dos conteúdos fundamentais dos domínios previamente ensinados e dos quais se pretende ser objeto de avaliação.

Validade concorrente De que forma se correlacionam os resultados de um teste com os de outro teste ou outro qualquer tipo de avaliação das mesmas aprendizagens.

Validade de critério De que forma um teste possibilita, em relação a um determinado critério, fazer uma previsão do desempenho.

Validade de contructo De que forma um teste consegue efetuar uma aferição consentânea do constructo, da competência subjacente que está sujeita a avaliação ou possibilita a verificação se um teste está alicerçado em alguma teoria psicológica ou educativa coerente.

seleção a sua importância é bastante relevante. No nosso país essa função está bastante marcada, uma vez que os exames têm a função de selecionar os alunos que irão frequentar o ensino superior, para o caso particular dos alunos do 11º e 12º anos. Fernandes (2005) sobre este conceito alerta para a questão da replicação, referindo que:

É por isso que se afirma que a principal questão é a da replicação. Ou seja, se, na sequência de um dado exame e de uma resultante selecção de candidatos, tiver lugar uma mesma replicação desse mesmo exame, põe-se a questão de saber se os candidatos seleccionados se mantêm os mesmos, ou não. Se sim, então o exame é considerado fiável e, em última análise, justo e equilibrado, tratando, com equidade, todos os candidatos. Se não, então temos um problema sério, pois o exame permite que a selecção de candidatos ao ensino superior possa estar dependente de outros factores que não os conhecimentos ou as reais aprendizagens adquiridas pelos candidatos. (p.114)

Existem muitos fatores que podem influenciar a fiabilidade de um exame. Kellaghan e Madaus (2003) fazem referência a quatro desses fatores:

1- Os alunos terem a possibilidade de obter resultados diferentes em momentos de resolução distintos;

2- Influência que condições externas ao exame podem ter nos resultados dos alunos; 3- Os resultados dos alunos serem distintos, devido à variação que existe nas questões que

têm que resolver;

4- Existir uma variação substancial nas correções dos exames efetuadas por corretores diferentes, nomeadamente em questões cuja natureza é mais aberta e que implicam uma maior subjetividade.

Para que estes e outros fatores não afetem a fiabilidade de um exame, devem ser tidas em conta algumas situações, tais como a uniformização, explicitação e devida clarificação dos critérios de correção a serem aplicados no exame. Deste forma, existe uma tentativa de limitar, o máximo possível, o surgimento de contradições e equívocos e fomentar a moderação de todos detalhes processuais a serem realizados pelos corretores, para que os exames sejam corrigidos, de uma forma, o mais uniforme possível e que por conseguinte não coloque em causa a sua fiabilidade (Fernandes, 2005). Este autor aponta, inclusivamente, alguns dos procedimentos, ultimamente, realizados em Portugal, aquando do processo de correção dos exames nacionais do ensino secundário, em reuniões de aferição de estratégias uniformes a dotar, realizadas sob a moderação de um professor supervisor, promovidas pelo Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) e que junta os professores envolvidos nesse processo. Fernandes (2005) sustenta então que:

Para diminuir, ou mesmo anular, estas ameaças à fiabilidade dos exames, o que normalmente se faz é estandardizar as condições de administração, detalhar e clarificar tanto quanto possível os critérios de correção, livrando-os de quaisquer ambiguidades, e moderar os procedimentos dos correctores para assegurar que os critérios e os padrões de correcção sejam uniformes. É também usual apresentar provas corrigidas, aos correctores, em que constam as explicações para as pontuações que se atribuem. (p. 114)