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CAPÍTULO 2 O BRASIL NA ORDEM ECONÔMICA GLOBALIZADA: A

2.3 A evolução da pauta exportadora brasileira e os espaços de destinos das exportações

Partindo-se da constatação do crescimento verificado na pauta exportadora brasileira, dos gêneros básicos e dos semimanufaturados, no decorrer da década de 2000, cabe analisar-se a composição da referida pauta.

Assim, com base na figura 4, pode-se observar a evolução de sete itens, quais sejam, complexo soja, carnes, produtos florestais, café, complexo sucroalcooleiro, couros e cereais, os quais são considerados commodities, e, portanto, produtos do chamado agronegócio.83 Conforme o banco de dados da Agrostat (2016), tais itens classificam-se entre os dez principais produtos exportados pelo país, de 1997 a 2015.84

No início do período em tela, o “complexo soja” (soja em grãos, farelo e óleo de soja) já despontava como o principal item de exportação, com 23,8%, permanecendo assim ao longo de todos os anos subsequentes, à exceção de 1999 e de 2000 (quando atingiu 18,3% e 20,3%), sendo superado por uma pequena diferença percentual, pelo item “produtos florestais” (com 18,8% e 21,4% das exportações). A importância assumida pela soja e derivados na pauta exportadora pode ser verificada pelo crescimento quase que ininterrupto, a partir do ano 2000, com pequenas oscilações, atingindo os maiores picos em 2003 e 2009 (em torno de 26%), 2012 (com 27%), e em 2014, quando alcança 32,4% do total.

O item “produtos florestais”, por sua vez, após ocupar, como já mencionado, o primeiro lugar por dois anos consecutivos, manteve-se em segundo lugar até 2004, declinando, a partir

83Segundo classificação da Agrostat/Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). 84Conforme o banco de dados da Agrostat (MAPA, 2016), há ainda outros três produtos do agronegócio – fumo, sucos e fibras têxteis - que tiveram destaque nos primeiros anos do período abordado (1997 a 2015), os quais porém, declinaram após meados da década de 2000, não atingindo mais que 2,4% de participação em 2015.

do ano seguinte, para a terceira colocação. Em 2009, passou a classificar-se como o quarto principal produto, voltando a ocupar a terceira posição em 2015, com 11,7% do total.

Fonte dos dados: Agrostat/(MAPA, 2016). (adaptado)

O referido item, ao declinar para a terceira posição, em meados dos anos 2000, cedeu lugar para o segmento “carnes”, o qual alcançou 18,7%, tornando-se o segundo mais importante produto de exportação. Tal posição foi mantida em todos os anos seguintes, excetuando-se 2010 e 2011, quando foi superado pelo setor “sucroalcooleiro”.

Este último teria tido maior participação somente nos anos citados (em torno de 18%), declinando sucessivamente, ficando em quarto lugar em 2015, correspondendo a 9,6% de participação. Às exportações de “café” couberam o quinto lugar, registrando, em média, na maior parte dos anos, entre 6% e 7%. Quanto ao item “cereais”, embora tenha apresentado pequena participação até 2006 (1,4%), veio a ampliá-la a partir de então, classificando-se, pois, em sexta colocação. Já em relação ao segmento de “couros”, o mesmo teve uma participação mais expressiva até por volta de 2005 (em torno de 7% a 9%), diminuindo, especialmente após 2008, perfazendo em 2015, cerca de 3% das exportações. (FIGURA4). Mediante a análise da pauta exportadora que caracteriza a economia brasileira desde o início do presente século, constata-se uma perda de participação de produtos tradicionais como o café, o qual teria se mantido como o principal produto até meados dos anos 1960, quando correspondeu a 53% das exportações (BAER, 2009, p. 280). Por outro lado, a soja e derivados - nos dizeres do citado

COMPLEXO SOJA CARNES COMPLEXO SUCROALCOOLEIRO CAFÉ PRODUTOS FLORESTAIS COUROS, PRODUTOS DE COURO E PELETERIA CEREAIS, FARINHAS E PREPARAÇÕES

autor, um “produto primário-não tradicional”, introduzida na pauta de exportação na década de 1970 – revela-se como o principal item de exportação do agronegócio.

Por outro lado, se considerar-se os produtos do agronegócio junto aos demais itens da pauta exportadora, verifica-se, com base em dados referentes ao período de janeiro a março de 2014 (MIDIC, 2015), que o principal produto de exportação brasileiro consiste em “minérios de ferro e seus concentrados”, correspondendo a 14,25% do total; em segundo lugar tem-se a “soja”, com 9,18% de participação; em terceiro, aparece o item “óleos brutos de petróleo”, com 5,81%; em quarta colocação classifica-se o “açúcar de cana em bruto”, com 3,40%; os itens “carne de frango” e “carne de bovino”, ocupam, respectivamente, quinta e sexta posição no “ranking” das exportações, com 2,97% e 2,71%; e ainda, em sétimo lugar, tem-se a celulose, com 2,49%. (FIGURA 5).85

Figura 5 - Principais produtos de exportação – Brasil - janeiro a março de 2014

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MIDIC, 2015). Elaborado pela autora

Quanto aos “demais produtos”, 23,54% deles abrangem “farelo e resíduos da extração de óleo de soja” (2,27%), “café cru em grão “(2,24%), “milho em grãos” (1,83), “óleos combustíveis” (1,75%), “automóveis de passageiros” (1,56%), “couros e peles” (1,41%), “ferro-ligas” (1,39%), “partes e peças para veículos, automóveis e tratores” (1,33%), “produtos semimanufaturados de ferro ou aços”(1,30%), “motores para veículos, automóveis e suas

85Entretanto, considerando-se produtos do agronegócio junto aos demais itens da pauta exportadora no período de 2000 a 2014, verifica-se que as exportações do complexo soja prevaleceram na maior parte dos anos. 14,25 9,18 5,81 3,4 2,97 2,71 2,49 59,18

MINÉRIOS DE FERRO E SEUS CONCENTRADOS

SOJA, MESMO TRITURADA

ÓLEOS BRUTOS DE PETRÓLEO AÇÚCAR DE CANA EM BRUTO CARNE DE FRANGO CARNE DE BOVINO CELULOSE DEMAIS PRODUTOS

partes” (1,14%), aviões (1,13%), e outros itens, cuja participação no total exportado não atinge 1%. Por outro lado, há ainda 35,64% restantes, os quais não são especificados pelo banco de dados.

Os dados disponibilizados pelo MDIC também permitem a análise do destino das exportações brasileiras por produtos, no período de janeiro a março de 2014. Desta forma, mediante a figura 6, constata-se que, dentre os produtos que apresentam maior participação na pauta exportadora, a China constitui-se no principal mercado para quatro deles, quais sejam, “minérios de ferro e seus concentrados” (7,02%), “soja, mesmo triturada” (7,59%), “açúcar de cana em bruto” (0,42%), em igual proporção a Bangladesh, e “celulose” (0,76%). Além destes, no que se refere ao item “óleos brutos de petróleo”, o terceiro principal produto exportado, a China constitui-se no seu segundo maior comprador (1,33% do total), sendo superada somente pelos Estados Unidos (1,46%), o que significa uma diferença de apenas 0,13%). Também em relação à carne de frango, a China aparece entre os principais compradores, ocupando o terceiro lugar, juntamente com Hong Kong.

Além da China, Hong Kong e Bangladesh, outros países asiáticos que também constituem-se em destino das principais exportações são Japão (segundo maior comprador de minérios de ferro e também de carne de frango), Coréia do Sul (minérios de ferro), Tailândia (soja), Índia (óleos brutos de petróleo), Árabia Saudita (maior importadora de carne de frango), Rússia (principal mercado de carne bovina) e Irã. Outros países que se destacam como compradores das principais commodities brasileiras são, no que concerne aos itens “minérios de ferro” e “soja”, Holanda e Espanha (este somente soja), de “óleos brutos de petróleo”, Estados Unidos e Chile, além de “açúcar de cana em bruto” para Argélia e Egito, “carne de bovino” para Venezuela e também Hong Kong, e quanto à “celulose”, além dos Estados Unidos, como já mencionado, Holanda e Itália. (FIGURA 6).

Desta forma, observa-se que o continente asiático congrega o maior número de países de destino das exportações de commodities oriundas do Brasil, totalizando nove países. É no mercado asiático que produtos como “minérios de ferro e seus concentrados”, “soja”, “carne de frango” e “carne bovina” têm uma maior demanda. Por outro lado, os Estados Unidos ainda se mantém como um importante mercado para alguns dos produtos brasileiros, assim como países europeus (como Holanda, Espanha, Itália e Rússia), latino-americanos (Venezuela e Chile) e africanos (Argélia e Egito) também são importantes compradores de commodities nacionais.

Figura 6 - Principais produtos e países de destino das exportações brasileiras janeiro a março de 2014

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC, 2015). Elaborado pela autora

14,25 7,02 1,25 0,78 0,74 4,46 9,18 7,59 0,35 0,23 0,23 0,78 5,81 1,46 1,33 0,87 0,53 1,62 3,4 0,42 0,42 0,33 0,28 1,95 2,97 0,59 0,42 0,22 0,22 1,52 2,71 0,51 0,5 0,38 0,32 1 2,49 0,76 0,5 0,46 0,29 0,48 0 3 6 9 12 15

MINÉRIOS DE FERRO E SEUS CONC. China Japão Coréia do Sul Holanda Outros países SOJA, MESMO TRITURADA China Espanha Tailândia Holanda Outros países ÓLEOS BRUTOS DE PETRÓLEO Estados Unidos China Índia

Chile Outros países AÇÚCAR DE CANA EM BRUTO China Bangladesh Argélia Egito Outros países CARNE DE FRANGO Arábia Saudita Japão China Hong Kong Outros países CARNE DE BOVINO Rússia Hong Kong Venezuela Irã Outros países CELULOSE China Estados Unidos Holanda Itália Outros países %

A respeito do comércio no contexto dos BRICS86, verifica-se que a Índia é um importante mercado de “óleos brutos de petróleo” (terceiro produto de exportação brasileiro), ao mesmo tempo em que a Rússia se destaca como principal comprador de carne bovina. Entretanto, como demonstrou-se, é para o mercado chinês que se destinam a maior parte das exportações brasileiras.

Os membros dos BRICS têm estreitado as relações comerciais entre si e, no caso do Brasil, com todos os outros quatro pertencentes ao grupo, especialmente com a China, que será abordada no próximo tópico.