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Exame físico e ortopédico

No documento Clínica e cirurgia de animais de companhia (páginas 39-41)

I. Revisão Bibliográfica

6. Diagnóstico

6.2. Exame físico e ortopédico

A avaliação do paciente deve ser iniciada pela realização de um exame físico, ou o mesmo pode ser realizado em combinação com o exame ortopédico. O primeiro objetivo do exame ortopédico é localizar o problema num membro específico e depois, se possível, numa região específica do membro. Esta informação é importante para direcionar o diagnóstico e selecionar os próximos exames complementares a realizar, por exemplo radiografias ou artrocentese, e o local para os realizar. A informação recolhida também serve de base, para no futuro, avaliar a existência de sucesso terapêutico (Kerwin, 2012).

As instalações onde é realizado o exame ortopédico devem apresentar características específicas. Deve tratar-se de uma divisão fechada, sem a presença de outros animais, onde existam o mínimo de potenciais esconderijos e o gato possa movimentar-se em liberdade com segurança (Kerwin, 2012; Rudd, 2019).

Regra geral, a ordem pela qual o exame é realizado não é importante, desde que seja sempre realizado de forma sistemática, consistente e estruturada, de forma a que todos os pontos importantes sejam avaliados e as alterações encontradas sejam registadas. A maior parte do exame ortopédico é realizado com o gato em estação e é recomendado que a zona suspeita de ser o foco de dor seja avaliada no final (Kerwin, 2012).

Antes de começar a avaliação deve-se colocar a transportadora no chão, com a porta aberta e aguarda alguns minutos. Se o gato se mantiver na transportadora, deve ser retirado com tranquilidade, removendo a peça superior da transportadora. Remover o felino pela porta frontal da transportadora pode ser desconfortável uma vez que é forçado para a saída através da tração dos membros anteriores. Depois de retirar o gato da transportadora esta deve ser afastada de forma a impedir que o gato volte a entrar. Se o felino se mostrar relutante em movimentar-se pela divisão, o uso de brinquedos pode ser útil, ainda assim, a personalidade e disposição do paciente podem determinar a sua cooperação durante o exame. Os felinos com dor crónica apresentam desconforto quando se encontram numa determinada posição durante um longo período de tempo, especialmente em superfícies rígidas. Deve ser disponibilizada

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uma cama ou manta, no chão ou na mesa de examinação, para que o paciente possa repousar com conforto (Kerwin, 2012; Rudd, 2019).

O exame ortopédico inicia-se pela avaliação da marcha. Nos gatos, a dor associada a OA pode ser avaliada através da realização de determinados exercícios. As atividades recomendadas passam por observar o andamento, encorajar o felino a saltar para cima e para baixo e criar uma pista de obstáculos. É ainda importante pedir ao tutor que traga brinquedos pois são úteis para estimular a realização de determinados testes e também para motivar gatos mais ansiosos (Kerwin, 2012; Innes, 2012). Este tipo de exercícios pode fornecer informações valiosas acerca da localização da lesão. Por exemplo, os gatos habitualmente saltam da mesa de examinação. Quando se mostram hesitantes em saltar, pode ser devido a dor articular, principalmente ao nível do cotovelo. Estes tipos de exercícios não devem ser forçados quando os gatos se mostram relutantes em o realizar, ainda assim observar a sua relutância em realizar determinadas atividades fornece informações importantes acerca da localização da lesão (Lascelles e Robertson, 2010). Nesta fase devemos também pesquisar por assimetrias entre os membros, alterações na capacidade de extensão ou flexão durante o andamento e em estação. Alterações na carga aplicada nos membros podem também ser verificadas nesta fase. Tendencialmente é aplicada menos carga no membro afetado, verificando-se, em caso de claudicação, a subida da cabeça quando este é apoiado. Quando existe afeção de um ou ambos os membros torácicos, é aplicada mais carga nos pélvicos e vice-versa (Kerwin, 2012; Rudd, 2019).

O passo seguinte é a palpação em estação. Durante a palpação o gato deve encarar a mesma direção que o médico veterinário. O gato deve ser sempre manipulado de forma a evitar sobrecarregar as articulações. Nesta etapa pretendemos pesquisar alterações ao nível da simetria dos membros (Kerwin, 2012; Rudd, 2019). Realiza-se a palpação das massas musculares dos membros torácicos e pélvicos, sendo que nos últimos deve proceder-se ao suporte do peso do gato, e palpação profunda dos ossos longos. A palpação da musculatura pode demonstrar sinais de dor, associados a stress por alterações biomecânicas, e fraqueza muscular. Muitas vezes também é possível detetar atrofia muscular do membro afetado e hipertrofia muscular de uma região consequentemente mais sobrecarregada. Simultaneamente as articulações dos membros devem ser palpadas e comparadas em termos de diâmetro, uma vez que em casos de OA pode estar presente uma tumefação da articulação associada a efusão articular ou espessamento da cápsula articular, ou ambos. Todas as articulações dos membros torácicos e pélvicos devem ser manipuladas, tendo especial atenção aos movimentos de flexão e extensão, abdução e adução. Alguns felinos toleram melhor este processo se o membro a avaliar estiver em suspensão. Durante a manipulação da articulação pode ser detetada uma menor amplitude de movimento, por restrição física ou como resposta à dor provocada. Esta restrição de movimentos frequentemente deve-se ao espessamento da cápsula articular e à formação de osteófitos (Todhunter e Johnston, 2002; Kerwin, 2012). Todo

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o processo de palpação e manipulação das articulações deve ser repetida com o gato em decúbito lateral. Esta posição permite a realização de alguns testes com maior facilidade, como por exemplo o teste da gaveta (para testar a integridade do ligamento cruzado cranial), o sinal de Ortolani (para avaliar a estabilidade da articulação coxofemoral e permite ainda realizar goniometria das articulações (Okumura e Fujinaga, 2000; Kerwin, 2012).

Tem sido verificada uma discordância entre achados radiográficos e ao nível do exame ortopédico em gatos com DDA (Klinck et al, 2012; Lascelles et al, 2012). Num estudo conduzido por Clarke e Bennett (2006), 34% das articulações em que foi detetada dor no exame ortopédico, não apresentavam sinais radiográficos de OA (Clarke e Bennett, 2006). Num outro estudo, em 55 articulações que apresentavam sinais radiográficos de OA, apenas 18 demonstraram dos à manipulação (Lascelles et al, 2007). Embora sinais radiográficos de DDA não possam ser diagnosticados, com certeza, através do exame ortopédico ou goniometria, a presença de dor, crepitação, efusão ou espessamento articular indicam uma maior probabilidade de existir DDA numa determinada articulação. A inexistência de achados pode indicar articulações normais a nível radiográfico. Ainda assim o exame ortopédico e a goniometria são ferramentas úteis no despiste de DDA (Lascelles et al, 2012).

No documento Clínica e cirurgia de animais de companhia (páginas 39-41)

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