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“É o reconhecimento da possibilidade de exclusão por determinados fatos que rompem o nexo de causalidade entre o fato gerador e o dano, a exemplo da culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro e força maior.”318

São as denominadas causas excludentes – incluindo também a cláusula de não indenizar – que serão apreciadas na perspectiva da responsabilização do empregador diante de danos causados por acidentes do trabalho.319

3.3.1 Fato Exclusivo da Vítima

“A exclusiva atuação culposa da vítima tem também o condão de quebrar o nexo de causalidade, eximindo o agente da responsabilidade civil.”320

Segundo Brandão321:

Relativamente ao contrato de trabalho, é a atitude do empregado que faz desaparecer o elemento de ligação entre o dano que lhe foi propiciado e o fato que o originou, supostamente atribuído à pessoa do empregador, como ocorre, por exemplo, com o ato proposital de desativar, sem o conhecimento do empregador, mecanismo de proteção existente em máquina desfibradora de sisal, destinado a impedir a lesão nas mãos, mas que torna a produção mais lenta, impedindo ganhos maiores, para os que percebem salário por hora. Neste sentido:

EMENTA: ACIDENTE DE TRABALHO. CULPA EXCLUSIVA DO TRABALHADOR. INDENIZAÇÕES INDEVIDAS. Nos casos de excludente do nexo causal, como é o caso da culpa exclusiva da vítima, o dano sofrido pelo trabalhador não tem origem em ação ou omissão voluntária do empregador (responsabilidade subjetiva), nem no risco pelo normal exercício da atividade (responsabilidade objetiva), razão pela qual não se pode imputar ao empregador o dever de indenizar. Processo: Nº 05124-2008-028-12-00-7. Juíza Sandra Marcia Wambier - Publicado no TRT12/DOE em 16-08-2010.

318 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. p. 254. 319 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. p. 254. 320 GAGLIANO, Pablo Stoze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil:

responsabilidade civil. p. 114.

Observando, ainda, por oportuno, que “a circunstância excludente somente se faz presente quando resultar demonstrado que foi apenas e tão somente da vítima o ato que gerou o dano; em havendo culpas concorrentes, cada uma delas será avaliada pelo juiz”.

Quanto à culpa concorrente:

EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO. CULPA CONCORRENTE. DIREITO À INDENIZAÇÃO. A culpa concorrente ou recíproca, que se caracterizam quando a conduta do empregado contribui para o acidente de trabalho, não exclui a responsabilidade civil do empregador. Contudo, quando demonstrada nos autos, determina a redução do montante indenizatório, conforme o disposto no art. 945 do Código Civil, segundo o qual, "se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano". Processo: Nº 01169-2008-025-12-00-3. Juíza Lília Leonor Abreu - Publicado no TRT12/DOE em 19-04-2010.

Por óbvio, necessário se faz a prova inequívoca quanto à conduta do empregado que tenha contribuído para a ocorrência do infortúnio.

3.3.2 Fato Exclusivo de Terceiro

“Interessa saber se o comportamento de um terceiro – que não seja o agente do dano e a vítima – rompe o nexo causal, excluindo a responsabilidade civil.”322

Brandão323 assinala que:

A hipótese versada diz respeito ao ato de terceiro que seja causa única e exclusiva do evento gerador do dano, o qual equivale ao “caso fortuito ou força maior, por ser causa estranha à conduta do agente aparente, imprevisível e inevitável” e faz desaparecer a relação de causalidade necessária para a configuração do dever de reparação a unir o dano àquele a quem se busca imputá-lo.

Venosa324 por sua vez adverte:

322 GAGLIANO, Pablo Stoze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil:

responsabilidade civil. p. 116.

323 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. p. 256. 324 VENOSA, Sílvio de Salvo. Responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 48.

A questão é tormentosa na jurisprudência, e o juiz, por vezes, vê-se perante uma situação de difícil solução. Não temos um texto expresso de lei que nos conduza a um entendimento pacífico. Na maioria das vezes, os magistrados decidem por equidade, embora não o digam.

Cita-se como exemplo pelos autores, a Súmula 187 do Supremo Tribunal Federal no sentido de que: “A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é ilidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva”.

3.3.3 Caso Fortuito e Força Maior

No ensinamento de Diniz325:

O caso fortuito e a força maior se caracterizam pela presença de dois requisitos: o objetivo, que se configura na inevitabilidade do evento, e o subjetivo, que é a ausência de culpa na produção do acontecimento. [...] Na força maior, ou Act of God [...], conhece-se a causa que dá origem ao evento, pois se trata de um fato da natureza, como, por ex., raio que provoca incêndio [...]. No caso fortuito o acidente que gera o dano advém de [...] causa desconhecida, como o cabo elétrico aéreo que se rompe e cai sobre fios telefônicos, causando incêndio [...].

Rodrigues326 considera a mais importante das causas excludentes, por afastar “a relação de causa e efeito entre o ato do agente, que diretamente provocou o prejuízo, e o dano experimentado pela vítima” e observa a excessiva severidade dos tribunais para admitir o caso fortuito como exonerador da responsabilidade.

3.3.4 Cláusula de Não Indenizar

É cláusula que cabe somente na responsabilidade civil contratual, pois se refere a “convenção por meio dos quais as partes excluem o dever de indenizar, em caso de inadimplemento da obrigação” que “só deve ser admitida quando as partes envolvidas guardarem entre si uma relação de igualdade,

325 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. p. 112-113.

326 RODRIGUES, Sílvio. In: BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do

de forma que a exclusão do direito à reparação não traduza renúncia da parte economicamente mais fraca.327

No Direito laboral, tal aplicação é de logo afastada, diante do princípio da proteção, que considera inválida a renúncia prévia de direitos pelo empregado à possível reparação de danos que lhe fossem causados pelo empregador.328

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